Algumas palavras

Queridos Poetas e Administração!

Boa noite!

Vem Livro novo por aqui. Mas não é poesia, não?

Mais um filho. Já está na editora.

Gostaria de dividir essa alegria com vocês.

O nome de meu livro: “Pode acreditar, aconteceu comigo”!

Vão algumas palavrinhas para vocês entenderem.

 

Nós, portadores de necessidades especiais, passamos pela vida e enfrentamos situações que de uma maneira ou de outra acabam nos trazendo desconforto. Por falta de informação ou mesmo por falta de habilidade para enfrentar o desconhecido, alguns pais ou cuidadores não estão preparados para identificar as nossas necessidades.

Muita coisa mudou nessas últimas décadas, mas mesmo assim muitas coisas precisam ser vistas.

Nasci no ano de 1953, quando quase ninguém estava preparado para nos receber. Ou nos superprotegiam e nos escondiam dentro de casa ou éramos levados para o mundo dos “normais” sem nenhuma preparação.

Mas, somos, na maioria, inteligentes, persistentes e tremendamente teimosos. Gostamos de desafios, embora às vezes saiamos machucados física e emocionalmente.

Foi pensando em tudo isso, que resolvi escrever esse pequeno livro. Nele coloco fatos que, na época, foram muito difíceis de enfrentar, mas que agora, relembrando dou muitas risadas das situações.

Assim é esse meu livro. Fatos tremendamente ruins, contados de maneira engraçada. 

 

Aqui vai uma pequena amostra:

Quebrei o pote

 

Nasci no ano de 1953. Ao nascer, um susto... Traumatismo no parto. Conclusão: lesão cerebral, uma deficiência neurológica. Nessa época, as coisas eram difíceis para os portadores de necessidades especiais. Não havia tratamento no interior, nem nas grandes cidades e muitas crianças morriam sem atendimento. Por isso, eu sempre estava para morrer. Diziam que eu iria morrer quando nasci depois adiaram minha morte para quando eu tivesse a primeira menstruação e por aí seguiam as profecias. Não morri ao nascer. Bati o pé e não fui!

Nos meados da década de 60, eu já com 12 para 13 anos via minhas amigas todas já mocinhas. Elas viviam cochichando uma para a outra que já tinha “quebrado o pote”. Este era o termo usado na época. Comecei a ficar desesperada, pois meu fim estava próximo. Ia bater a “cachuleta”. Não tinha o que fazer. O jeito era esperar.

Em um domingo, com a casa cheia de visitas, eu fui ao banheiro e vi minha saia branca toda suja de sangue. Sentei no vaso sanitário e fechei os olhos. Parecia que morrer de olhos fechados era melhor. Esperei por uns dez minutos e nada. Abri os olhos e estava vivinha. Não deu outra... Saí correndo – do meu jeito e no meu ritmo –, pelo meio da sala gritando: – Eu não morri, eu não morri, eu não morri, estou viva, sou mulher... – Minhas tias e meus primos olharam espantados enquanto minha mãe, muito envergonhada correu comigo para o banheiro. Ela ficou muito brava e eu toda feliz. Não estava nem aí... Só sabia falar que estava viva.

Minha mãe explicou tudo e disse que não era pra falar com ninguém sobre o acontecido. Pobre coitada! Voltou para a sala de cabeça baixa e morrendo de vergonha. Enquanto isso eu já estava lá na rua cantando feliz e contando para toda a vizinhança. No dia seguinte, todos já sabiam que a filha do Luizinho tinha “quebrada o pote” e estava viva.

Hoje, quando me lembro deste caso, em meio aos risos, fico imaginando como a inocência e os tabus colocam pimenta em nossas atitudes diárias...

                                                                                

E é isso. Espero que a Administração deixe publicar

Beijos para todos.

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Comentários

  • Obrigada, Fiore!

  • Querida Sandra, é um prazer ler um trecho de seu livro que já é um sucesso, tenho certeza. 

    Parabéns!!! Seus escritos são de uma maestria e sensibilidade que muito me encanta... 

    3654109?profile=RESIZE_1024x1024

    • Obrigada, Angelica!

      Pela visita e pelo comentário incentivador.

      Fico feliz que você gostou.

      Mais um filho que vem nascendo, certezas e incertezas surgem,  pois

      não sabemos como ele vai se desenvolver.

      Um incentivo assim, nos deixa mais tranquilo. Uma boa semana para você.

      Beijos poéticos.

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