CINZAS
Se nosso desejo negar quem fomos,
A verdade nos abrasará as córneas
De onde lava correrá sobre o amor.
Calcinado, ele se espalhará no ar,
Altares e deuses pulverizados
Em meio a densas nuvens de rancor.
Nem sobrarão promessas ressequidas
Pela temperatura dos olhares
– Tudo que seríamos para sempre
Cremado com certezas provisórias.
Mas, entre arquiteturas de saudades,
Serei morada da sua lembrança.
E, de quando em vez, virá a essa casa
Para ver deposto em salas e quartos,
Amortalhando móveis e objetos,
O sentimento reduzido a pó,
Que também cobrirá o vazio das horas
Em que ficará olhando as paredes.
(E. Rofatto)
Comentários
Grato, Cristina! Para nossa sorte, muitos dos nossos desejos vêm construir castelos onde guardamos as melhores lembranças - e nenhuma que seja verdadeiramente boa torna-se cinzas.As melhores sempre continuarão luminosas! Gostei da sua visão mais otimista e concordo, plenamente com ela. que, na sua maioria, pelo menos, nossos desejos se realizem!
Grato, Safira! Reiterar a sua sintonia com o texto pode ser uma repetição de elogio já feito, mas é tão sincera que vale a pena repetir: você captura em imagem um contexto das palavras que sempre vem enriquecer o escrito!
Só venho somar os meus respeitos e reconhecer sua arquimilionária inspiração. Congratulações pelo primor e excelência do seu escrito.
Grato, Sam! A generosidade do seu comentário certamente reafirma a pessoa que você é: um amigo que não economiza palavras de estímulo - pelo que tenho muito a lhe agradecer.