Desastre pedagógico

A escola, devagar e na contramão, bateu de frente com a realidade universal. Muitos pularam antes do choque, mas não conseguiram evitar o pior. Os professores de Língua Portuguesa e de Matemática, privilegiados com assento no banco da frente, estão muito machucados. O professor de Português enrolou a Língua e faz análise e orações para não morrer. 

O titular de Matemática, por frações, escapou. Agora, mastiga raiz quadrada e equações. Menos de 50% das visitas (alunos) conseguem entender o que se fala e, desse jeito, pelos sintomas, não vai escapar das quatro operações.
Numa curva mais fechada, perderam-se os professores de História, de Geografia e de Ciências. Na queda, sofreram amnésia. Os estudantes aflitos gritam, pedindo informações atuais e eles só resmungam coisas do século passado, não enxergam as mudanças que se processam, velozmente.
O acidentado professor de Inglês, ainda muito assustado, olha de um lado para outro, procurando o "to be" e o "to have", amigos inseparáveis. Meio tonto, jura que viu o datashow, o laptop, o tablet, o vídeo e o televisor, recursos próprios para as aulas. Acordou, era febre alta, estava apenas variando, coitado.
Os professores de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) não conseguem ainda ficar de pé. Diretores, coordenadores, especialistas da educação, visitam os colegas, com sorriso amarelo, sem graça, porque não têm recursos para o tratamento que o mal exige.Os computadores estão lá, sim.Só isto, mais nada.
A escola precisa de grande reforma mecânica. Os faróis dirigentes devem ser trocados por outros mais possantes. A visão está péssima. Os pneus da coordenação, gastos de rodar pra lá e pra cá, procurando coerência, precisam ser substituídos para continuar a procura.
Os professores, após um período tão grande de imobilização, expõem gravíssimo raquitismo. O desastre atingiu a toda esta geração e alta mesmo os doentes não terão, a curto prazo. Todavia, a escola, enfermo principal, indicou ao povo tratamento na rede particular, até que todos sintam a importância da restauração do direito constitucional de se implantar a educação de ótima qualidade e o "ensino gratuito e obrigatório". 

Ivone Boechat

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Comentários

  • 3583241?profile=original

  • Ivone, do jeito que a tecnologia está sendo instaurada no mundo, daqui um tempo, os professores serão substituídos pelo computador.
    Texto muito bom! Bjs

  • Situação lamentável! Sou professora, no entanto estou fora de sala de aula. Atualmente, em meu trabalho, fizemos um cadastro de famílias e para espanto de todos, talvez mais de oitenta por cento das pessoas não terminaram a 5ª série antiga, não trabalham. o quê fazer?! Quem falhou, eles? O sistema? O professor ou os pais? Acredito que seja um conjunto de tudo, falhamos. Agora onde começou a falha, não posso julgar ninguém. Infelizmente, muitas pessoas de classes sociais distintas vivem nos dias de hoje com a cultura que recebeu dos antepassados, melhor dizendo em nada evoluíram e a vida continua na passividade e comodidade do que foi e é. A educação está sim na UTI e, talvez, precise de uma nova fórmula para reinventá-la. Abraços!

  • Sou professora da Rede Pública de Ensino Municipal e, esta questão do não acompanhamento prático da evolução tecnológica, não se aplica a todos, existem professores que estão antenados com as mudanças, mas necessitam de condições básicas para efetuar um trabalho conectado com a realidade dentro da escola, para além das discussões, observa-se, hoje, jovens e adolescentes, completamente vazios, desinteressados e desmotivados de qualquer assunto fora das redes sociais, ou do visor de seu celular, etc. Penso que ainda precisamos analisar esses prós e contras que permeiam a educação, porque faz tempo que se discute educação de qualidade e esta continua na UTI, e não tem previsão para sair do coma profundo.

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