INSÔNIA

INSÔNIA

Cai o véu da noite
Sobre o dorso do dia
Que fecha seus olhos
E se aconchega à cova do tempo.
Asas de meditação e silêncio
Fecham-se sobre os telhados das casas.
Veludos de tons enlutados
Vestem as formas do austero arvoredo
Agora que estrelas são velas acesas
Na procissão do vasto negro
Por um lajedo de saudade
Num quadrante  que dá em lugar nenhum.
(Quem no centro cruza as mãos sobre o peito?)

Repuxo pesadas cortinas.

Volto-me para a meia-luz deste quarto,
Baía banhada de águas plácidas.
Um estático argonauta entre ondas de fumaça,
Sem caçar carneiros de ouro,
É o que sou nesta noite igual às demais.
Um Jasão queimando minutos como cigarros
Enquanto arde a vontade de que eles voltem
Para serem todos contados de novo,
Um a um, a mão pousando sobre a lã de luz,
Cada qual carregado dos sonhos inteiros. 
Aqueles que deixaram em fiapos
Quando vararam as cercas
Do meu sono, onde pastavam.

(E. Rofatto)

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Respostas

  • A sensibilidade do poeta é percebida quando os olhos vão além da leitura e contemplam as cenas que se desenrolam através das linhas do poema. Belíssimo! Bjs

  • Lindo!

    Parabéns, Rofatto.´Ler seu poema e como fechar os olhos e ir vendo

    o cair da noite, o céu escurecendo, as pesadas cortinas se fechando,

    dá para ver até os carneirinhos contados e recontados pulando a cerca do sono.

    Como é lindo podermos viver o poema, quando bem elaborado.

    É muita emoção. Ler você é uma honra. Um sonho em uma noite bem dormida,

    apesar da insônia. Obrigada por tão belo presente. Um beijão bem grande em seu coração.

    • Grato, Sandrinha! É muito bom quando o leitor fica satisfeito da leitura e visualiza as imagens que plasmamos em palavras! Uma honra é ter um comentário assim, tão caprichado!

  • 3653877?profile=original

    • Grato, Edith! PARABÉNS POR MAIS ESTE TALENTO! Ficou perfeita a sua ilustração do meu texto: expor o anseio do meu sujeito lírico por meio de uma imagem, que é a antítese da realidade que enfrenta, trouxe valorização e intensificação do drama que o oprime! Só tenho a lhe agradecer! Muito!

  • Lindíssima inspiração. Até vi os carneiros fugindo pela cerca furada.

    Meus aplausos.

    Parabéns!

    • Grato, Edith! Quando me diz que consegue ver a mensagem do texto, faz-me um agrado: este é o  desafio que me coloco quando escrevo!

  • Muito bom, parabéns. 

    • Grato, Gilnei! Ter um cantinho aqui na Casa é um privilégio: podemos receber visitantes distintos, como você, que chegam nos oferecendo cortesias e gentilezas!

  • Cumprimentos pelas belíssimas edificações literárias. Meus parabéns pelo conjunto da obra.

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