Pecamos
no dia em que,
Sem aliança no dedo, sem a benção do padre,
Nos amamos.
Cometemos o mais feliz pecado
Mas Deus não se importa com isso
Há muita fome e ódio no mundo
Para Ele ficar ocupado!
Assis Silva
Poemeto
O tempo é teu amigo
Só te fazes bem!
Galgas, a cada dia, estupendos
degraus na escada infinita
da imaculada beleza.
Assis Silva
Falência
Estou falido
de caras feias
e semblante entristecido.
Falido de negatividades,
palavras maldizentes
e de meias verdades.
Jamais pensei que a falência
pudesse ser boa, nada estressante
e com uma leve essência.
Assis Silva
Um homem queria voar,
só não voava por falta de asas.
Deram-lhe asas.
Mesmo tendo as asas, queria voar,
Só não voava por falta de coragem.
Deram-lhe coragem.
Com as asas e a coragem, queria voar,
Só não voava por falta de tempo.
Deram-lhe tempo.
O homem que tinha asas, coragem e tempo, queria voar;
Mas nem com tudo isso voava, mesmo querendo.
Um galo o observou e disse: “Deus dá a carne a quem não tem dente”.
E o sonho do galo era voar.
ASSIS SILVA
Pode ser fácil usar o porquê
Basta saber para quê:
Se for perguntar
Querendo com ele iniciar
Coloque separado:
— Por que está calado?
Se com ele quiseres responder
Coloque juntinho: — porque quero morrer.
Se ainda quiseres perguntar,
Mas no início não quiseres “botar”
Coloque no fim bem acentuado
E mais uma vez separado:
— Morrer, mas por quê?
Se ainda quiseres responder
Dar a razão do morrer
Junte novamente, sem perder o acento:
— Não sei o porquê, mas sinto-me como vento.
Assis Silva
Há uma saudade em mim de algo que ainda vai acontecer
uma saudade que está no futuro — que loucura!
Das férias e da viagem que ainda vou fazer:
Do sorriso do pai, do abraço acolhedor da mãe que cura.
E ainda que o algo da saudade não aconteça como espero
mesmo assim, ainda sentirei saudade como se tivesse vivido.
Também sinto saudades das coisas que quero,
que gostaria que tivessem acontecido!
Assis Silva
— Por que você está triste? — Quis saber a mãe.
— Porque o Zé brigou comigo e gosto muito dele — Respondeu Joana.
— O porquê que ele brigou, você deve saber.
— Deve ser devido eu ter brigado antes...
— E você, brigou com ele por quê?
— Pensando bem, ele ficou calado durante toda a briga. Coitado do Zé, levando a culpa por seu silêncio!
— Não estou entendendo... — disse franzindo a testa.
— Na verdade, eu queria brigar e o instiguei, mas ele nada falou, isso me deixou com bastante raiva, talvez por isso estou pondo a culpa nele. Pobre zé! — Levantou-se entre lágrimas e foi pedir perdão.
Assis Silva
Eu te pergunto, Deus:
Onde há crime em fugir da guerra,
da miséria, buscar uma vida mais
digna em outras distantes terras?
São homens, mulheres, crianças;
famílias, seres humanos sofridos
cheios esperanças, de sonhos
muitas vezes feridos...
Assis Silva
Vou escrever um poema sem sentido
e dele fazer uma música sem melodia
sobre um amor que pensei ter tido
fruto da loucura não feita um dia.
Ele será assim: vi duas lagartas dialogando
escutei bem a reclamação de uma:
“quero ser bela, ter asas e sair voando”.
Uma borboleta passava sem atenção nenhuma.
“um dia você será tão ou mais bela...”
— Replicou a outra apontando a borboleta —
”...e sairá radiando beleza como aquela,
mas tenha calma, tem coisa que não se ganha em roleta”.
Disse ainda a sonhadora:
“que bom seria, se não tivesse o cásulo
tempo de reclusão, solidão desesperadora
e fosse logo para a glória, sem tempo nulo”.
“não há tempo nulo”, disse a outra.
“E para quê tanta transformação?”
quis ainda saber a sonhadora douta
procurando asas em seu corpo em vão.
Elas ficaram sem a reposta
na verdade, nem sei se tem.
É fácil querer o que se gosta
dificil é fazer o mesmo caminho também.
E o poema sem sentido que me pus a escrever
foi querer de alguém o bálsamo do amor
mas não queria esforço algum fazer
assim como o tempo gasto sem dispor.