Posts de FRANCISCO JOSÉ TÁVORA (162)

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HERÁCLITO

 

 

Disse o filósofo Heráclito

Na  sábia e antiga Grécia

O homem é muito instável

Muda a todo o momento

É uma sina insofismável

 

Pra melhor explicação

de seu sábio vaticínio

Com muita convicção

Adotou  linda metáfora

Comparando o homem  ao rio

 

Um homem não atravessa

duas vezes  o mesmo rio

Pois depois da  travessia

o homem  não será o mesmo

e mui diverso  será o rio

 F J TÁVORA

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ESTAR SÓ

 

 

Entendo que a solidão não seja, de todo, algo ruim

Há aspectos positivos em se estar só

Permite uma introspecção

Quem sabe uma catarse

Há ainda outra saída, esta mágica

Apesar de só, abandonado, distante

Pode-se, num átimo, sonhar acordado

E fazer presente a ausência

De alguém  que se quer próximo

Espantar de vez a saudade e a nostalgia

 

De outra parte a solidão pode ser letal

Quando acomete almas sofridas

De amores não correspondidos

Neste caso pouco ou nada há o que fazer

Senão o que sugerem os poetas

Expressar a realidade das almas sofridas

Na forma de  candentes poesias

F J TÁVORA

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SINGULAR

SINGULAR

 

"Milorde acho que teremos chuva,

ao que responde o Lorde:

Acho que não, meu caro Watson.

Eu terei a minha e você terá a sua chuva"

 

É assim a existência humana

Cada um com seu mundo particular

O que faz as pessoas convergirem?

Será compartilharem semelhanças?

Afinidades em seus desejos e vontades?

 Ou será somarem diferenças, complementaridades

Que se ajustam aos enredos do destino

Que faz convergir ou divergir  os caminhos

Será um conjunto perfeito ?

Ou um mero jogo de dados

O acaso dos encontros

 

Infelizmente não há respostas

Um chuva, um oceano

 Uma lua, um sol, um universo

Só meu, só seu ou de todos

Ou quiçá de ninguém

Um amor.............ah com o amor é diferente

Amor exige fidelidade, exclusividade

O amor é egoísta, não divisível

Ao contrário do mundo que é plural

O amor é exclusivo, é singular

 

F J TÁVORA

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IMORTALIDADE

 

O tempo não passa

Nós é que passamos

O tempo continua  imóvel no seu lugar

O tempo da construção da necrópole de Gizé

O tempo do nascimento de Cristo

Não mudaram, nós é que deles nos afastamos

 

O tempo tem influências contraditórias

Pode ser algoz ou aliado

É punição para quem perdeu a capacidade de sonhar

É bálsamo para curar as dores da alma

Dependendo do sofrimento, nem sempre é assim

Nem o tempo de toda uma vida é suficiente

Para que a dor encontre o seu lugar

 

Os deuses, por serem atemporais, não têm pressa

Para eles tudo é ontem, hoje e amanhã

Criaram o tempo e nos condenaram a viver dentro dele

Fizeram do tempo  nosso cárcere

Entretanto, uma vez escravos do amor

Do tempo nos libertamos e enganamos os deuses

Fazendo os segundos se eternizarem

E assim segue o homem, sempre escravo

Ora do tempo, ora de seus amores

 

O homem em seu efêmero tempo de vida

Dividiu o tempo em presente, passado e futuro

O presente o que é

Breve momento

Que passa mais  rápido

Que um fugaz pensamento

E logo se une ao passado

 

Passado que reside na memória

Que gera lembranças

Que viram saudades quando agradáveis

Ou esquecimentos quando sofridas

E o futuro?

É não mais que uma miragem

Quando dele nos aproximamos

Logo vira presente e jamais será  alcançado

 

O homem criou o calendário e o relógio

Há registro de tempo em quase tudo

No pulso das pessoas

No forno de micro ondas

No telefone celular

No painel dos automóveis

Além das torres das igrejas

 

O tempo mede a duração da vida

Que para os céticos tem começo e fim

Termina como começa

Antes nada havia e nada haverá depois

Já os crédulos vaticinam

Que ela não finda com a morte

Mas em um divino vicejar

 

Sem começo ou fim

Sem fim ou começo

Para uns o paraíso das almas

Para outros uma prisão perpétua

Tudo muito comportado

Numa auspiciosa imortalidade

Dentro de uma desejada  eternidade

 

Um paraíso cheio de tédio

Sem o luar dos amantes

Sem amores, paixões e entregas

Sem sonhos, sem devaneios

Sem alegrias, sem tristezas

Sem sentimentos

Sem as miragens do futuro

Sem as saudades do passado

 

 F J TÁVORA

 

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BARCO À DERIVA

 

Sou um barco à deriva, sem rumo

Ao capricho dos ventos, uivantes

Ao som do marulhar das ondas, errantes

A navegar intrépido por mares, bravios

Na imensidão do oceano, de minhas desventuras

À procura de abrigo em um porto, seguro

 

F J TÁVORA

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SINA

 

A morte é a certeza

Mais indesejada da vida

Ela chega para todos

É o mais divino dos castigos

Até o filho de Deus

Uma vez tornado homem

Não conseguiu escapar

Da sina da humanidade

Antes de subir aos céus

Morreu pra ressuscitar

 

F J TÁVORA

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QUE BOM SERIA

 

Até quando me bastará

Conhecer tua alma

Traduzida em lindos versos

A cantar a vida que passa

 

Que bom seria  ouvir

O timbre de tua voz

A cantarolar bela canção

A declamar lindos versos

E encantar meu coração

 

Que bom seria constatar

O brilho de teu olhar

A silhueta de teu corpo

Ávido por se entregar

Aos meus carinhos e afagos

Sem medo de se apaixonar

 

Que bom seria caminhar

Com minhas mãos atrevidas

Sobre o teu lindo corpo

Passear meus lábios candentes

Sorver com avidez os teus fluidos

Espreitar o teu rosto ardente

 

Gostaria de ser o vento

Pra seguir o teu caminho

Virar um redemoinho

Envolver suavemente teu corpo

Acariciar teu lindo rosto

 

Sinto um amor desmedido

Um desejo, uma vontade

De sempre estar junto a ti

Viver indeléveis momentos

Seguir minha sina contigo

 

F J TÁVORA

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CANTINHO

 

Sou o poeta da solidão

Talvez o último dos românticos

A cantar as desventuras da vida

Reverberar os desencantos da alma

As tristezas do coração

 

Confesso a você, caro leitor

As razões de meu sofrer

O amor que em mim se instalou

Mas ao fim não prosperou

Mais doído não poderia ter sido

Um relicário de tristezas

O fim do que sequer começou

 

Estou solto neste  mundo

Não tenho onde  ficar

Não sei  pra onde ir

O que me resta fazer

Encontrar alguém que me acolha

Me abrace e me dê seu carinho

Divida nem que seja um cantinho

Pra expulsar de uma vez por todas

A solidão que ocupa meu ninho

F J TÁVORA

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PERSONAGENS

 

 As personagens que crio

Na prosa e na poesia

Eu o faço ao meu talante

Nelas insiro defeitos

E  virtudes que desejo

São minhas as criações

Tudo posso e tudo faço

Isento de qualquer embaraço

As obrigo a  obedecer

Não lhes permito escolher

Elas fazem o meu querer

Não lhes cedo muito espaço

 Mas apesar de mandão

Não deixo de me render

Aos desvãos do coração

 

F J TÁVORA

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IRONIA

 

Ele  está quase atingindo a idade

Em que os velhos rejuvenescem

E voltam a ser criança

Balbuciando palavras sem nexo

Absorto em seus solilóquios

Não entendendo o que lhes  é dito

Necessitando de terceiros

Pra cuidar de seus afazeres

A trocar as suas vestes

Aparar o seu cabelo

Desbastar as sobrancelhas

Desaprender a andar

A não ser que tenha a ajuda

De alguém a lhe apoiar

Não se trata de um recomeço

Pois a perspectiva é atroz

Não é o fim do começo

Mas começo do fim

 

F J TÁVORA

 

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AGOURO

 

Não temo agouro, presságio

Venha ele de onde vier

Até de pássaro aziago

Como um temido caboré

 

Sou cético, incrédulo

Das coisas sobrenaturais

De fantasma de outro mundo

De alma penada, até

 

De uma imortalidade

Que não tem começo nem fim

Da eternidade

Que não acaba assim

 

Um mundo sem devaneios

Sem vontades, sem desejos

Sem maldade ou piedade

Sem amor, sem amizade

 

Um mundo cheio de medos

Ameaças a não mais poder

Uma covardia dos deuses

Para nos fazer sofrer

 

F J TÁVORA

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A PESTE

 

 

Um tétrico cenário de médicos de faces mascaradas

Um circo inusitado de políticos de faces deslavadas

Milhares de cadáveres sem face,  rosto ou identidade

Que logo viram estatísticas na frieza dos números

Em uma guerra sem armas e sem inimigos visíveis

Onde os velhos sucumbem e só os jovens sobrevivem

 

F J TÁVORA

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QUARENTENA

 

Antes da hora não é hora

Depois da hora não é hora

Ora, a hora é na hora

Um tempo é de plantar

Há um outro pra colher

Quem é tíbio pode esperar

Quem tem coragem faz acontecer

Mas, às vezes a hora não chega

A hora demora

A hora não passa

Outras vezes, e não poucas

Já está é passando da hora

O que fazer nessas horas

Quando o desespero chega

E uma sensação de abandono

Se instala em teu peito

 

Acelera o passo

Ousa, arrisca

Apressa o tempo

Sem medo de sentir saudade

Enfrenta o destino

Sai das lembranças  do passado

Entra nas saudades do esquecimento

Abre a porta da rua

Foge para o desconhecido

Adquire coragem para o enfrentamento

Desafia o ente virulento

 

F J TÁVORA

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TEMOR

 

 Não temo a morte

Apenas desejo que ela

Não me chegue dolorosa

Na penumbra de um leito de hospital

Com agulhas e  tubos

sob o lençol

Mas antes, às claras, generosa

No raiar de um lindo sol

 

F J TÁVORA

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AMBIGUIDADES

 

 

Viajando em instigante fantasia

Quem sabe caro leitor

Sou apenas um bardo de poucas letras

Que na ânsia de escrever belos versos

Acabo por colocar vírgulas nos locais errados

As  promessas e  recados  que parecem cifrados

Podem ser fruto de uma  alma  cristalina

A  imprecisão e indecisão podem decorrer

Da falta de percepção da realidade

De alguém mergulhado eu um mundo imaginário

Daí tanta anfibologia em meus  escritos

Revelando ambiguidades de meus pensamentos

Ou  inseguranças de meus sentimentos

 

F J TÁVORA

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AGONIA

 

Lembranças me perseguem

como fantasmas do passado

a habitar meus pensamentos

a instigar ressentimentos

e alimentar os meus tormentos

 

Quando jovem fui escravo

de incendiadas paixões

Os amores  desvaneceram

Supliciaram  minha  alma

inefáveis desilusões

 

Um fardo de sentimentos

dominou meu coração

com a solidão a testemunhar

um sofrer, um desalento

como um fantasma que se  abriga

no silêncio de meus sofrimentos

 

A vida é a encenação

de uma peça de teatro

Não importa quanto dure

Um dia o sonho se esvai

Uma hora a cortina cai

 

Sou  dela  prisioneiro

Encarcerado do tempo

Para dele me livrar

e  liberdade  ganhar

da  morte apenas dependo

 

 F J TÁVORA

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AMORES

 

Alguns amores foram e deixaram de ser

Findaram ao longo da existência

Outros, contrariamente

Permaneceram sem nunca terem sido

Nasceram de uma utopia

Como fantasias de uma mente insana

Ou  paixão de um coração carente

Há um preço a se pagar por eles

De tão recalcitrantes parecem verdadeiros

Embora há muito deixaram de ser sonho

E desde então viraram pesadelo

 

F J TÁVORA

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CRISTAL DE LUZ

 

Sou  como  um límpido cristal

Transparente aos teus encantos

Invadido e enfeitiçado

Pelo brilho de teu canto

Que  enleva o meu espírito

Alumia  minha alma

Escrava de teus sortilégios

Ainda sem alforria

Da mais divina e bela luz

De tua doce poesia

 

F J TÁVORA

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SOFRIMENTO

 

 

 

Quanto maior a ferida da alma

Mais recatada deve ser

a expressão da sua dor

O sofrimento exige pudor

Não deve ser devassado

Exposto, publicisado

Deve ser mitigado

Na quietude da solidão

Só o poeta tem a prerrogativa

De externar com seu lirismo

a sofrência, a frustração

 

F J TÁVORA

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CPP