Posts de Fernanda R-Mesquita (29)

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Neve

Imaculada neve, leve como uma pena,
absoluta alvura, mil cristais todos juntinhos,
cheia de graça cai nesta tarde serena,
reluzente véu que se estende pelos caminhos.

Neve atrevida adiantando o anoitecer,
vai caindo, beijando esta e aquela face, a sorrir,
expõe-se bela para toda a gente ver
igual a dama que sabe seduzir.

Bailarina que desce girando lentamente,
tecedeira de algodão que encanta
o sol que, por vezes, descontraidamente
se deita sobre a imensa colcha branca.

Fernanda R-Mesquita

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Procura

Hoje o chão que piso queima, arde!
O céu que me cobre pesa, troveja!
Peço à noite que não tarde,
para que a minha tristeza não se veja!

O mundo que enfrento é um labirinto,
onde sou um soldado que a guerra enfrenta.
Se fujo, há algo que me persegue... eu sinto,
se fico, sinto a fragilidade que me sustenta!

Alguma coisa os meus olhos procuram,
algo sem malícia ou fingimento,
mas encontram sentimentos que pouco duram,
ou se ficam, tornam-se um tormento!

Sinto a solidão que me rodeia,
que me acompanha, acorda e adormece.
Por vezes é liberdade, outras a cadeia,
mas raro a vida que eu procuro e não acontece!

 

Fernanda R-Mesquita

 

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Pintura

Deixei-me apaixonada, descansar...
como o rosto pintado numa tela, belo instante;
sobre o teu colo disposta a amar,
escrava dos teus dedos... delirante!

Sou como o pano pronto a colorir, vaporoso...
Que se estende e submete à pintura,
onde tu hábil pintor, virtuoso,
juntas os nossos corpos... aquarela pura!

E depois dos nossos instintos cansados,
descansas os dedos, iguais a pincéis suados...
E eu plácida, no teu peito, descontraída...

Que pintura real! Que plenitude! Que beleza!
Que deixa num quadro a virtude, a certeza
de que o amor é o plasma da vida!


Fernanda R-Mesquita

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Guerreia

Guerreia no porto onde se batem as tuas tristezas,
aprende a coragem no rio que nas margens traz
a bravura de um guerreiro que luta por certezas
e que deseja desaguar na foz, onde mora a paz!

Resiste ao desespero de querer desistir,
resiste à guerra das sombras de vida sombria,
foge de onde te roubam a liberdade de sorrir,
liberta-te para a luz que traz a harmonia!

Rasga de ti o medo do mundo e na vida avança,
vive na certeza... quem quer, sempre alcança
mesmo que saibas que o medo, por vezes voltará...

Deixa que te contagie o mundo da alegria
ainda que alguém te diga ser fantasia.
Se compreenderes a vida... o sol não tardará!

 

Fernanda R-Mesquita

 

em « O canto da coruja »

 

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ASSOBIOS FELIZES AO AMANHECER

Uma coruja vigia,
folhas secas estalam
sob umas botas ainda frias
de um ser madrugador
que num ritual tranquilo
lança um assobio libertador.

O vento devagarinho
lança à árvore o rumor
que pelo caminho
há um camponês madrugador,
que entoa com prazer
assobios felizes ao amanhecer.

O camponês, com a mão,
retira migalhas de pão
do bolso remendado
do sobretudo usado,
e oferece ao passarinho
que se espreguiça no ninho
pipilando com alegria
ao homem que assobia.

Numa janela quadrada
uma nuvem dança encantada
à criança que de ouvido sonolento
escuta o vento
que prolonga com prazer
os felizes assobios do avô ao amanhecer...

 

Fernanda R-Mesquita

Voz de Irene Coimbra

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A chuva

«Pinga, pinga levezinho,
cai a chuva sem um ai»
-canta feliz o passarinho,
à chuvinha que cai.

E num pingo transparente,
responde a chuva ao passarinho:
- Para um lugar mais quente,
voa, voa e faz o teu ninho!

Cai na árvore, o pinguinho,
quer nela descansar
e refrescá-la devagarinho
para a árvore não secar.

E a flor que até então
vivia com tanto calor,
escuta e sente a canção
que a chuva canta com amor:

-Pingo a pingo, devagarinho,
sem saber quantos pingos são,
vou regando com carinho
a terra seca pelo Verão.

Pingo a pingo, devagarinho...

 

poema e ilusrações de
Fernanda R-Mesquita

Voz de Irene Coimbra - produtora do programa, revista e antologias Ponto & Vírgula

Para almas saudavelmente infantis

 

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Lágrimas

 

Gotinhas húmidas e transparentes
queimam o meu rosto cansado!
Mas não são lume!
São lágrimas fortes e quentes,
são um grito silenciado
num silencioso queixume.

São um livro fechado
tão quase depois de o abrir,
são o poema inacabado
que a meio quis partir.

E nessa lágrima transparente,
nesse silencioso queixume,
morreu o sorriso inocente
numa gotinha quente
que queima sem ser lume!

 

Fernanda R-Mesquita

 

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Quase nada

 

 A quase nada é ao que reduzes
o que tenho para te dar,
porque também quase nada,
é como me fazes sentir
quando fico de olhar vago
mas ouvido atento,
escutando os teus grandes méritos
que a quase nada,
reduzem alguma virtude que eu possa ter!

Fernanda R-Mesquita

 

 

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Perfeito sentido

 

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Uma sábia pomba que o seu voo para
para na tua mão alegremente pousar
como se pousasse numa árvore rara
onde uma rara luz espera o despertar.

Orientada por um perfeito sentido
atraída pelo que ninguém vê, pousa
no ser, que ainda num mundo dividido
desconhece que nela vive... repousa
uma sábia pomba.

Momento banal, há-de alguém achar
mas é o universo a querer mostrar
a luz incansável que ao teu lado caminha.
Ainda que tristezas te toquem o coração
dentro de ti mora a pomba que se aninha
igual à que se aninhou na tua mão;
uma sábia pomba

Fernanda R-Mesquita

 

 

 

 

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Poderoso gigante

 

Dentro de mim há um gigante,
tão grande
e ninguém o vê!
Por vezes esconde-se,
por vezes cresce, cresce...
Tantas são as vezes que se ergue
e arrebata a angústia, destruindo-a
num gesto tão poderoso quanto ele.
Com a sua mão enorme esmaga
infinitos pesadelos.
Só pode mesmo ser um gigante,
este poderoso poder
de vencer
as poderosas pedras,
as desmedidas barreiras
que surgem das avalanches
traiçoeiras e inesperadas
da vida!
E quando eu penso
que o meu escudo protector
submergiu comigo,
emerge nesta forma de gigante
que ninguém vê,
nem por vezes eu,
mas que nunca deixou de estar
dentro de mim!

Fernanda R-Mesquita

 

Foto ( KINGSWAY MALL Edmonton Alberta- 2011 )

poema no livro ´´ A barca dos sentidos ``

 

 

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Rosa fria- I

A boca que outrora o amor apregoava
passou de um aparente belo botão de rosa
a uma agressiva e malquista rosa brava
mostrando-se manipuladora e mentirosa.

Reencarnou a velha e desconfortante teimosia
possuída por um apetite voraz por discutir
maltratando com a boca, outrora doce, agora fria
o amor que ao mundo, apregoava sentir.

Mas e do outro lado, quem existia?
Silencioso, cabisbaixo o que sentia?
Quem se deixava atingir por tanto furor?

Alguém que pensou que amar
é deixar-se atingir, é deixar-se usar
por uma rosa brava que desconhece o amor!

Fernanda R-Mesquita

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HORUS CULTULITERARTE

Chegou a primavera! Quero partilhar o excelente trabalho de Inês Nabais. Imagino o tempo necessário para divulgar o trabalho de autores. 

Clique no link para conhecer a revista dela, on-line:

https://issuu.com/edicoeshorus7/docs/hc

(foto: a ilha de Victoria. faz parte do Arquipélago Ártico Canadense e situa-se nos Territórios do Noroeste e de Nunavut. É a nona maior ilha do mundo. Foto tirada em Julho-2016.

Um bom fim de semana para todos!

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Ao imaginar que tu existes

Poema na revista Horus Cultuliterarte .

O link da Casa dos poetas e da poesia está lá, assim como o coloco em todas as antologias em que participo, ebooks e livros que edito. Bem hajam pela forma como divulgam poesia. Trago-vos no coração ainda que o tempo não sobre para vir aqui tanto quanto eu gostaria. Abraço para todos!

https://issuu.com/edicoeshorus7/docs/horus_51424726939c36

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Desculpe, não quero ser desagradável

Na revista Ponto & Vírgula- Maio-Junho
Ano 4. edição 27

Uma esbelta jovem de longos e escuros cabelos, que lhe emolduravam o rosto de pele clara e suave. Os olhos ligeiramente maquilhados; lápis e rímel preto. O casaco de malha azul, comprido e sem mangas deixava ver a curta camisa preta, a tocar o cós das calças de ganga azul, revelando a elegante cintura. Um belo rosto aliado a um estilo simples de vestir. No entanto, os movimentos caprichosos do corpo, denunciavam a convicta expressão: ´´ tudo posso, em tudo mando``, quebrando um pouco a beleza do seu próprio retrato. Virgínia entrou no café, acompanhada pelo seu pai. Alberto, de cinquenta e nove anos, bem conservados e com ar de quem usufruía de uma vida estável, pediu um café para ele e um café e um gelado para a filha. Esperou no balcão pelos respectivos pedidos e ele próprio serviu a filha, já sentada numa mesa. Quase de imediato a jovem levantou-se:

- Desculpe, pode colocar mais água no café?- perguntou ela à empregada.
A empregada sorriu e assim fez.
Uns cinco minutos depois dirigiu-se de novo ao balcão:
- Desculpe, não quero ser desagradável, mas pode deitar um pouco de café no meu gelado? Está gelado demais.
A empregada sorriu e assim fez.
- Vamos para uma mesa lá fora- disse a rapariga para o pai, sem se sentar. Voltou-se de novo para a empregada e como quem dá uma ordem e não como quem pede, disse:
- Desculpe, mas precisamos de um chapéu para uma das mesas da esplanada.
- Mas hoje está um pouco de vento. Penso que, lá fora, não está muito agradável.
- Não vê o sol que faz? Que desperdício ficar aqui dentro. Quero apanhar um pouco de sol.
Na esplanada, sentados frente a frente, o pai bebia o café e a filha falava. Apenas falava ela. Nos olhos do orgulhoso pai, viviam as histórias contadas pelo amor paternal. O epílogo de todas essas histórias era sempre o mesmo: a sua princesinha era perfeita. Depois de uns curtos dez minutos, eles entraram de novo no café.
- Desculpe, não quero ser desagradável, mas está um vento insuportável lá fora. Melhor será ir buscar o chapéu. Ah, mas antes que vá, poderia dar-me mais uma bola de gelado? Entretanto, este ficou demasiado liquido.
-Desculpe, terá que pagar mais uma colher de gelado- respondeu a empregada, engolindo o estado de cansaço, provocado pela situação.
- O quê? Que atrevimento! Então dá-me um gelado quase congelado, mas que afinal não deveria estar tão consistente assim, porque rapidamente derreteu, e atreve-se a cobrar-me mais uma colher?
A empregada, preplexa, olhou para o patrão à procura de auxílio. Poderia dar-lhe mais uma colher de gelado ou não? Com um movimento de consentimento, o patrão autorizou que a empregada servisse a cliente, exatamente como ela exigia. ´´O cliente tem sempre razão, mesmo aquele que não quer ser desagradável``, foi a frase silenciosa, trocada através do olhar, entre patrão e empregada. Esta, com um sorriso que parecia o mais natural do mundo, assumindo a culpa, desculpou-se e educadamente garantiu:
- Esta situação desagradável não voltará a acontecer.
- Não faz mal. Eu sou muito compreensiva. Está desculpada- respondeu Virgínia, sem reparar na ironia contida no pedido de desculpas.


Fernanda R. Mesquita

( Casos reais em tempos modernos )

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Partilho convosco o meu artigo na revista Ponto & Vírgula, da qual sou colaboradora.

No link seguinte pode assistir ao programa Ponto & Vírgula, sobre Ride the Wind Ranch:http://www.paixaoporribeirao.com.br/programa/ponto-e-virgula/samira-braga-no-programa-ponto-virgula-01-04-2016/

Pode visitar o site do rancho aqui:

Ride the Wind Ranch

         A duzentos e dezoito quilómetros de Edmonton, no centro-oeste de Alberta, Canadá, na confluência dos rios Clearwater e North Saskatchewan e com uma longa história que vem desde o século XVIII, fica situada a pequena cidade Rocky Mountain House. Ela serve de marco na mudança, não apenas da estrada mas de toda a paisagem que nos conduz em direção ao Ride the Wind Ranch. Funciona como um filtro, esvaziando-nos da poluição sonora e de toda a correria do dia a dia, a estrada de gravilha que rompe léguas e léguas da frondosa e extensa floresta. 
Vinte e um quilômetro depois de Rocky Mountain House,  surge a indicação; ´´Ride the Wind Ranch``. Quanta vida palpita protegida por toda aquela extensão de árvores! Do lado esquerdo os grous-canadianos convivem em paz com os bois. Do lado direito, dois coelhinhos brincam livremente. Paramos ao lado da casa. No cimo das curtas escadas de madeira, à porta de entrada, surge Kathy Rissi que acolhe-nos calorosamente. 
      Depois de dizermos olá à nossa cabine, vamos até ao alpendre do escritório do Sheriff, onde nos espera uma churrasqueira ao ar livre. Enquanto os alimentos libertam os seus aromas, alguns cervos olham-nos curiosos, e sobre as nossas cabeças as irrequietas andorinhas batem energicamente as longas asas. 

             Saboreamos o jantar enquanto o sol vai dourando as copas das árvores. Devagarinho vai deixando o céu, meio violeta, meio alaranjado. Sem pressa chega a noite. E a lua é o lampião para que as magníficas silhuetas dos cavalos, lentamente e graciosamente, se misturem nas sombras.

  Dez da noite e nós descansamos na confortável cama da cabine, onde a Internet e a televisão não ocupam espaço. Pela mão do silêncio, a quieta noite anima a nossa imaginação infantil; rimos e cochichamos histórias imaginando-nos crianças assustadas.
São dez da manhã e enquanto degustamos o pequeno almoço preparado por Kathy, as palavras fluem. Kathy explica o que os  movera, a ela e ao marido, a sair da Suíça: mais espaço, silêncio, contacto com a terra e com a vida animal. Conta-nos uma história engraçada:
``- Um verão, o nosso gado pastava nas nossas terras, do outro lado da estrada. Como o  pasto é muito grande, com algumas partes dentro da floresta, nem sempre eu os conseguia ver. A um dado momento o telefone tocou. Era um vizinho a informar-nos que vira o nosso gado a uma milha daqui. Eu e Marty selamos os cavalos, e durante meia hora, cavalgamos pela floresta pública. Um tempo depois, já na estrada de cascalho, encontramos um outro vizinho de carro que nos informou que vira os nossos animais. Quando os encontramos, eles já estavam perto de casa. Eles caminharam quase em círculo, cerca de seis milhas, através da floresta espessa. Foi comovente sentir como eles encontraram o nosso lar.´´
  Hora de dizer adeus aos gentis cavalos que nos cercam amistosamente. Faço amizade com ´´Night``. Ele segue-me e pede carícias. Kathy explica:
- Ele nasceu no nosso rancho, há oito anos. Seu pai é o cavalo preto e branco Mescalero e sua mãe é a égua preta, Dakota. Temos um livro, enviado pela própria autora, Lucia St.Clair Robson, que fala sobre os índios Comanche e há um cavalo chamado ´´Night``. O livro tem o nome do nosso rancho e está muito bem escrito.
      Entramos no carro. Um último olhar.  Kathy, a gentil anfitriã, vai ficando para trás. Imagino-a a cuidar da sua família com a paz e o amor que a ampla paisagem, que entra pelas janelas da casa, lhe oferece. Talvez na magnífica varanda lendo um livro ou simplesmente descansando, ou ainda, cavalgando livre pelos prados e florestas. Eu vou entrando numa outra sociedade, barulhenta e surda, prometendo a mim mesma que voltarei e trarei comigo a revista Ponto & Vírgula que fará parte da biblioteca do rancho, onde a escrita em língua portuguesa, esperará por outros hóspedes que gostem e saibam ler em português.
Para além do fantástico silêncio podemos caminhar, cavalgar, nadar ou andar de barco pelos lagos, apreciando toda a vida selvagem. No entanto, para além da beleza do lugar, há a essência encantadora desta família que que nos faz voltar e voltar...

Fernanda R. Mesquita
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Instante fugaz

 

E porque a hora é cansaço;
o passo é pensativo
e a estrada é lenta.
A natureza num sublime saber
dedilha nas cordas do vento
secando o suor e acalmando as veias
do homem e do animal,
que em silêncio
e de passo pensativo
pela estrada lenta
vivem
os detalhes do retorno ao lar
como quem agarra a vida
na hora do descanso...
É o instante fugaz
entre a labuta cumprida
e a que está por cumprir.

 

Fernanda R. Mesquita

 

 

 


(ilustrado por mim, pintado a acrílico)

 

 

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Mil e um, mil e um, mil e um...

Dentro de cada um de nós
há um passarinho pronto a voar.
Temos mil e um, mil e um, mil e um....
Eu ouço asas batendo alegria,
tristeza, desapontamento,
lágrimas, sorrisos, amor!
Que festa! É o hino da liberdade
no paraíso da poesia,
nas asas dos poetas que batem
mil e uma vez, mil e uma vez, mil e uma vez...

Fernanda R. Mesquita

(em tom  de  brincadeira)

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CPP