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Colégio Estadual Padre Vieira

Sentava na primeira fila, mas nunca na primeira carteira

uma mistura do desejo de aprender, com o medo de errar;

distante, meu colega do coração, o Françoar, um paraibano,

feio, aos meus olhos, mas com um doce coração de amigo,

quando ele, por algum motivo não ia à escola, eu também não ia,

vivia este instante como um ritual, Françoar passava lá em casa

e ínhamos, eu e ele, correndo até à escola.

 

Momentos marcantes, e entediantes, nesta tarefa de aprender,

ler e escrever, eram angustiantes, pois  percebia que muito eu não sabia,

mas tinha que aprender, e ninguém me dizia que eu iria um dia...

não fazia sentido ( A)  ser de Ada, a fada das histórias da cartilha,

se Adalberto, Ailson, eram meus amigos da infância, uma eterna confusão.

Graças a minha amiga poetisa Cecília Meireles, eu consegui desvendar

os mistérios das eternas lições, nas poesias da coletânea Ou isto ou aquilo.

 

Quanto ao Françoar, meu amigo, que estudou comigo até à antiga oitava série

foi embora, para sua Paraíba, e lá, infelizmente faleceu num acidente,

porém, para mim, ele já era mortal, pois nunca enviou uma mensagem , 

o tempo foi se despedindo e nos afastando aos poucos, amizade escolar.

 

O que aprendi de fato, é que conhecer não significa ser amigos,

que aprender, não é coisa do outro mundo, mas ensinar, é mágica,

pois, foi de tanto escutar , as poesias  de cecília, que qprendi,

não apenas o código, também a poesia presente na vida.

 

Gilcelia Santos Ressurreição

 

 

 

 

 

 

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Um lugar unilateral

Crianças , aguardavam o carro alegórico

músicas e instrumentos

campanhas lançadas na década de setenta

em defesa de  candidatos,

uma família fazia oposição a outra

uma que defendia a ARENA, hoje dissolvida

em meio a tantos partidos

e a outra família vizinha, o MDB

 

Pouco importava 

para aquela criançada

que saia atrás do carro

gritando ao som dos jingles 

quem ia ganhar ou perder

as eleições municipais,

queria pular, dançar,

comemorar a vida de criança

Não podia ir muito longe

da  esquina

a criançada retornava

cada uma para suas casas,

afinal, o iniciar da noite

trazia os requícios

da ditadura militar

ninguém podia sair depois das 19:00 horas.

 

A contradição no mesmo espaço

numa rua com casas diversas

e características opostas

já representava as marcas

da política capitalista da sociedade

o conforto de um lar iluminado

com luminárias finas

abajus nos cantos da sala

banheiro em uma ante sala

ai de quem sentasse

naquele sofá da sala,

pois até o chão

brilhava, pela cêra incolor, que dava ao piso

o brilho, graças ao esforço dos braços

de uma das filhas e a enceradeira

coisa de rico na época

 

Em contraposição

a outra casa

tinha um banheiro

sem piso

um buraco como vaso

envolta cimento, dando a forma

ao acento, que não permitia

ninguém sentar

fazia as necessidades, de cócoras

uma balança, feita com uma madeira e corda

no meio da sala

o único objeto daquela sala

enfim, já não precisa descrever

mais detalhes do cenário

o universo unilateral

de quem dominava

de quem detinha o poder

dividia direitinho

quem cada um era

 

Mas, não se analisava 

a falha no sistema econômico

alimentado pela poítica

que não permitia

que o pobre, chegasse ao topo

daquela unidade burguesa

naquela rua, onde praticamente

todas as casas, tinham

as marcas da pobreza

em suas entranhas

Gilcelia Santos Ressurreição

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Brincadeiras fim de tarde

A menina caricatura de um menino traquino

corria pelo campo sem boneca nas mãos

seu brinquedo preferido

o jogo de gudes

ela ganhava

ela perdia

mas não desapontava

quem de longe

observava

as jogadas

da menina,

que sem blusa

e calça curta

parecia mesmo , um menino

 

Bela desculpa ela usava

"observar o irmão"

que jogava bola

com os amigos;

e ela,

jogava gude

com os amigos do irmão

 

O irmão enraivado

querendo que ela fosse embora

chamava a menina de Maria Homem

mas a menina, pirracenta

ficava,  jogava e gritava,

era uma profissional nas jogadas

ganhava mais que perdia

bolso pesado por causa das gudes

depois de muito chatear o irmão

corria e xingava o pobre coitado,

ele corria  atrás dela

enquanto a menina

pernas longas, alcançava a estrada

que a levava até à sua casa

como um trem 

 

A mãe agoniada

sempre colocava de castigo

a menina e o menino

 mas, não adiantava

o menino pouco depois , fugia

a menina, adormecia

aos pés do banco de madeira

que servia como suporte

para mãe

usado como ponto do castigo.

 

Castigo que não ensinava

pois no outro dia

a menina mais uma vez

fazia tudo igualzinho

e o irmão, tadinho

virava piada entre os amigos

que sempre diziam:

olha ela ai , olha ela ai, rsrsrsr

 

 

 

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Manhã ensolarada, ameaças de chuvas ao longe

uma sexta feira da paixão, mas ela , a menina,

nada entendia, apenas queria a liberdade ao seu alcance

corria, catava flores, enfeitava a vida, e aguardava ansiosa,

a hora do almoço, para ganhar aquele prato quentinho,

com caruru, vatapá, peixe, frigideira e refrigerante,

tudo uma delícia!!!

 

Mesas pequenas espalhadas, naquele salão comprido

guardava a lembrança daquelas crianças que até á quinta-feira

ali estudavam, algumas, deixavam as marcas escritas nas cadeiras,

os livros paraceiam curiosos, olhavam a menina saboreando 

a ceia da paixão de Cristo, mãos sujas, olhar traquino, alguns se indignavam,

a menina, não ligava para as normas de etiqueta que neles existiam

era uma menina, traquina, valente, vencia as regras e seguia,

tagarela, apontava para os livros que a reclamavam e dizia:

Gosto de Arabela que abre a janela, de Carolina que abre a cortina,

de Maria que olha e sorrindo sempre diz- Bom-dia!!!

Não importava para a menina, se existia a mais bela, 

se existia a mais sábia, apenas que existia, Maria,

a expressão do seu jeito também de ser, com seu ar risonho,

sempre dizia a todos que encontrava, BOM-DIA!

e como Maria, era conhecida, como a menina do riso fácil

 

Após o almoço, a menina lavava as mãos do jeio que queria

dentes não escovava, pois naqueles anos remotos

da década que nascera e ainda crescera, aprendeu que,

escovava os dentes quando acordava, para ficar com a boca cheirosa

e à noite, para a barata não roer a boca.

 

Assim, vencia a sexta-feira da paixão, apaixonada pela vida de criança

que traquinando vivia.

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O arranjo na cabeça da menina

A menina magra , cabelos curtos  e encaracolados

vermelha por conta do sol escaldante, disparava

difícil era alcançar, seu corpo leve, pernas longas

seguia uma reta, depois perpendiculava e reta

mais uma vez, num contentamento de menina.

 

Seu propósito da manhã dominical já havia

realizado defronte á igreja, compras de doces

chiclete ping-pong, cocada com goiaba e atum

ir à igreja partcipar da missa, não era objetivo 

quem ordenava era a sua mãe, beata assídua

reconhecida na comunidade cristã da região.

 

Percebeu , que muitas meninas, e meninos,

enfileirados e enfileirdas, iam até o padre

na hora da eucaristia, e recebiam dele

uma pequena  rodela muito fina,

feita de pão ázimo, que é consagrada

durante a missa e oferecida aos fiéis na comunhão.

Tomada pelo desejo, não da hóstia, mas de ter aqueles

belos arranjos, decorando os penteados das meninas

fruto da herança após a Primeira Comunhão,  ela, 

a menina, resolveu se dedicar ao Catecismo

era tão pequena, que o padre que realizou a confissão

achou que ainda não sabia ler e escrever, enganou-se

a menina era esperta demais, para ser impedida

por causa de uma leitura, que ele a colocou à prova.

 

Gilcelia Santos Ressurreição

 

 

 

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Cozido na casa de boneca

 

  1. A mãe conhecia a filha, 
  2. nos pensamentos e palavras

Sabia que  quando acordava aos domimgos


tudo era voltado para as brincadeiras

Sabia muito bem que ela estudava
durante a semana;
pois todos os seus passos
eram bem conhecidos pela mãe

Antes mesmo que a filha
falasse o que queria,,
por conhecer inteiramente, 

enchia sua sacolinha de mimos infantis
e pondo a mão sobre a cabeça dizia

O conhecimento é maravilhoso demais
e está ao seu alcance
mas sei, é hora de brincar

Para onde irá, também sei 
e jamais iria fugir sem me falar

Se eu te chamar, venha logo

se eu não chamar, venha antes do almoço

 

Embora sei que irá brincar

de fazer comida para as bonecas

com suas amigas
mas , sei que será apenas um lanche..

Mesmo que  digam que pode demorar
me prometa

estará aqui ao meio dia

Verá que aqui é seu lar

que lá tem mais espaço

mas na hora do almoço

devemos nos encontrar

Deus criou você

dentro do meu ventre

para ser obediente

Enquanto cuido e  louvo 
podes brincar

Deus está tomando conta de você

 

 

És preciosa para mim e para Deus.

A menina, atenciosa e educada

cuidava para não encher a barriga

daquele coziddo de boneca

feito no terreno ao lado da casa da sua melhor amiga

as panelas de barro, aquecidas no fogo

feito de pedaços de pau

cozinhavam as verduras com carne

o arroz branco

e muitas vezes até o feijão.

Após o almoço de boneca

lavavam todos os utensílios

e cada um ia para suas casas

usufluir do carinho do lar

junto a família.

Gilcelia Santos Ressurreição

.

 

 
 
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Brincando no jardim

A suave manhã se erguia

a pequenina ave

na flor singela

pousava

e com maestria

bailava em cada pétala.

 

Tudo em  volta  hoje é saudade

a lembrança

ainda  arde a pele

daquela menina sentada

naquele jardim

brincando de plantar.

 

As margaridas rocheadas

junto as rosas quase douradas

de tão amareladas

despertam lágrimas

em seu olhar

 

Beijos de frade

rosas meninas

angélicas

cravos

crisântemos

embelezavam aquele lugar

onde a menina brincava

molhava as plantas do jardim

todo fim de tarde.

 

A alegria da menina

aos poucos foi ganhando

outros ares

buscando outros lugares

fora da estação das flores

e o seu riso já não é mais o mesmo

sem aquelas flores

sem a sua vida

na fase criança

onde a vida era um palco

aguardando a menina

para dançar.

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CPP