Genoveva e Clementino
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- Clementinuuuuuuuuuuu, meu véio!! Ondi qui tu táaaaaaaaaaaa!? Gritava Genoveva a procura do marido que sumiu no meio da noite. Saiu correndo da cama, sem eira nem beira.
Clementino estava na “toalete”. Uma casinha, lá no meio do mato, onde havia uma fossa bem funda, coberta por uma tábua com um buraco bem no meio por onde faziam suas necessidades. Estava todo concentrado lendo uma folha de jornal que depois serviria para limpar o bumbum.
De repente, cai com o bumbum no buraco quando a portinhola se abre e a cabeça de Genoveva aparece pelo vão.
- Vixi Maria muiéeeeeeee!! Qui qui cê tá fazendu aí? Quasi qui mi mélo todu!!! Grita Clementino, com o bumbum preso no buraco, o coração aos pulos pelo susto.
- Uai! Vim vê ondi tu tava! Cê saiu correndu da cama sô! Inté parecia qui viu assumbração!!!
- Tu tá doida sô!! Só vim na casinha pra mode fazê as necessidadis!! Vixi, nem podi mais cagá im paiz que a muié veim atrais. Arría! Dexa eu queto aqui qui agora vô tê qui começa o rituar tudu dinovo! Fala Clementino, expulsando Genoveva da casinha, tentando se soltar do buraco.
- Rituar!! Era só o qui fartava!! Pra que rituar? É só sentá e cagá ora pois! Cada coisa qui mi apareci!! Saiu Genoveva falando com seus botões.
Maria Angélica de Oliveira
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Diante dos olhares perplexos a cena se descortina em METAFÍSICO desfecho.
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Tudo se transmuta, o véu se rasga, o sentimento torna-se COGNOSCÍVEL.
Nada mais permanecerá na imutável certeza do viver
Que antes era sofrível, alma que beirava a demência por enganos.
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A plenitude do amor transborda pelos beijos há muito desejados
Diante da CONFIDÊNCIA das almas amantes, à espera do outro
Anseios apaixonados e acalentados no imo do ser, crescente.
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A dor se esvai, os sonhos se engrandecem, vencem a FINITUDE da morte.
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Maria Angélica de Oliveira – 17/10/18
Desafio Poético