Devagar...
Ao cair da noite, a alegria enfim...
Sua presença é um bálsamo de alento,
Suas palavras são mensagens de conforto,
A um coração ferido e em tormentos...
Aos poucos vencestes as duras barreiras
Erguidas por quem não quer ilusão
Entrastes de mansinho, pelas beiras
Trouxestes novo sentido a esse coração...
Devagar, dia a dia...sem pressa, sem medo
Aparas os espinhos... faz surgir a rosa
Um caminho novo surge no momento
Em que vi em seus olhos o amor que oferta
Devagar, dia a dia, sem rima sem verso
Porque no amor é assim: sem pressa sem medo...
Maria Angélica de Oliveira - 18/01/17
“Frô” do maracujá
Todos os dias tenho surpresas maravilhosas. Trabalho com duas vozinhas
que são duas figuras ímpares. Maria tem 86 anos e Zélia 90 anos.
Maria passa o dia a cantar a mesma musiquinha como se fosse a primeira vez.
Adora declamar um poema; deste que vos falo agora.
Sabe aquelas palavras chicletes, que grudam e não saem de forma alguma de sua mente?
Pois é!!! Assim é Maria com sua “Frô” do maracujá!!!
Sem mais nem menos, no meio da conversa, no banho, andando na rua...
quando menos se espera lá vem Maria a declamar sua “Frô” do maracujá.
E tem um detalhe, ela tem Mal de Alzheimer e sua declamação é perfeita em todas as suas nuances e entonações!!!!
Tantas vezes fez Maria que decidi gravar e aqui transcrever para vocês a grata surpresa
destes belíssimos versos, que descobri ser de um grande poeta chamado Catulo da Paixão Cearense.
" Frô"do Maracujá
Encontrando-me com um sertanejo,
Perto de um pé de maracujá,
Eu lhe perguntei:
Diga-me caro sertanejo,
Porque razão nasce branca e roxa,
A flor do maracujá?
Ah, pois então eu lhi conto,
A estória que ouvi contá,
A razão pro que nasci branca i roxa,
A frô do maracujá.
Maracujá já foi branco,
Eu posso inté lhe ajurá,
Mais branco qui caridadi,
Mais brando do que o luá.
Quando a frô brotava nele,
Lá pros cunfim do sertão,
Maracujá parecia,
Um ninho de argodão.
Mais um dia, há muito tempo,
Num meis que inté num mi alembro,
Si foi maio, si foi junho,
Si foi janeiro ou dezembro.
Nosso sinhô Jesus Cristo,
Foi condenado a morrê,
Numa cruis crucificado,
Longe daqui como o quê,
Pregaro cristo a martelo,
E ao vê tamanha crueza,
A natureza inteirinha,
Pois-se a chorá di tristeza.
Chorava us campu,
As foia, as ribeira,
Sabiá tamém chorava,
Nos gaio a laranjera,
E havia junto da cruis,
Um pé de maracujá,
Carregadinho de frô,
Aos pé de nosso sinhô.
I o sangue de Jesus Cristo,
Sangui pisado de dô,
Nus pé du maracujá,
Tingia todas as frô,
Eis aqui seu moço,
A estória que eu vi contá,
A razão proque nasce branca i roxa,
A frô do maracujá
(Catulo da Paixão Cearense)
Maria Angélica de Oliveira – 22/01/17
In Lig@ dos 7
Desventuras
Encontro de almas
Amor irreal, sem tom
Um abraço caloroso
Encontro as escuras
Corações feridos
Em busca de amor
Jogo de boliche
Brincadeira de crianças
Tristezas esquecidas
Por um breve momento de alegria
Lua de mel, hoje só fel
Distância que sufoca
Entristece, enfranquece
Corpos suados, saciados
Despedida que machuca
Olhar perdido, ao longe
Busca a pessoa amada
So resta o vazio, a dor
De conhecer o puro amor
Que vaga sozinho
Imergido em solidão
Em meio a multidao
Hoje, so desalento
Desta alma que ama
Melhor o esquecimento
A uma vida de tormentos
Sem toque, sem carinho
Somente lembranças…
Maria Angélica de Oliveira - 27/11/16
Versos e notas...
De verso em verso sigo a rima,
Das trilhas que permeiam a sina,
Dos caminhos de minha breve vida...
De nota em nota, sigo a melodia...
Trilha sonora de um amor cigano
Que busca a entonação certa da magia...
Do verso rimo o amor que grita!
Da nota embalo o amor que geme!
Composições inspiradas em tema lúdico
Que na sintonia dos acordes, se ilude...
São versos que surgem do afago...
São notas trazidas pelo vento...
A laurear o beijo doce do amado
Que, na lembrança, traz à alma alento...
Maria Angélica de Oliveira 18/01/17
" Nem toda arte é bonita de se ver mas é necessária para fazer a diferença." Maria Angélica de Oliveira
Banal...
Hoje, ao ler uma reportagem num jornal local, deparei - me com uma
foto ao mesmo tempo triste, mas lamentavelmente real.
Nesta foto, o corpo de uma mulher estendido no chão, rodeada de curiosos.
A mesma havia sido assassinada, no meio da rua,na frente da filha,
que estava ali, desolada, olhando a mãe morta.
O que mais me entristece e choca é a banalização do fato.
Qualquer um chega e tira uma foto, isso quando não faz uma self!!
Ninguém quer saber da dor refletida no rosto da filha.
Ninguém se preocupa em preservar a dignidade da vítima,
ali exposta,como uma atração de circo dos horrores.
Esta foto foi utilizada para “ilustrar” a reportagem do
crescente número de homicídios na cidade.
E ainda temos que engolir, garganta abaixo, sem dó nem piedade,
o empurra-empurra das autoridades que não querem arcar com
o ônus da incompetência pela falta de segurança.
Infelizmente, neste circo todo, quem sofre é a família, mais ainda a filha,
que é obrigada a ver estampada a foto de sua mãe morta,
jogada como um trapo sujo no meio da avenida.
Assim é a triste realidade em que somos obrigados a viver,
reféns de um país sem justiça e omisso... banal...
Maria Angélica de Oliveira – 15/01/17
Chuva...
Da janela observo os pingos da chuva que caem amenizando o calor da terra...
Carros que passam apressados...Pessoas que correm, tentando em vão se esconderem...
O vento balança os galhos sedentos das árvores num bailado cadenciado, ora fraco, ora forte
Aos poucos a água forma um pequeno rio a molhar os pés dos distraídos e desavisados....
Todos se movimentam, buscam um lugar seguro...como formigas a buscar abrigo...
Nem percebem o rosto que os observa da janela do prédio logo em frente...
Embora note a agitação, minha mente viaja a buscar lembranças de outro dia de chuva...
Das brincadeiras, tal qual crianças, no boliche...risos soltos, livres enfim...
Da cabeça recostada no peito do homem amado...a ouvir o bater cadenciado de seu coração
Tal qual o bailado do vento com a chuva...que movimenta as flores coloridas...
Momentos únicos em que eram uno.... Que o que importava era o amor mútuo
Que ali se consumou como num sonho, digno do mais belo conto de fadas...
Não há tristeza ... nem pesar... Somente a certeza de que é amada
Tanto quanto ama, apesar da separação imposta pela vida....
Sinto minha alma viajar, ao encontro do amado...
Indo depositar um beijo meigo na face serena e meiga, num afago...
A chuva cessa, da mesma forma que começou, o bailar do vento atinge seu ápice...
Pessoas surgem de esconderijos, iniciando assim mais um ciclo perene....
Afasto-me da janela... no rosto, um sorriso...
Por sentir, na brisa suave, o beijo correspondido do homem amado....
Maria Angélica de Oliveira – 09/01/17
Quarto vazio...
.
Ao chegar em casa, o silêncio impera, massacra
O olhar vaga pelos cômodos vazios, móveis frios
Tua presença já não mais me espreita, nem espera
Tudo é escuro, triste, cinzento... sinto calafrios...
.
Lembranças intensas a invadir minha mente
Como um filme a passar em telas brancas
Momentos únicos de um amor mui ardente
Que num dia mágico acenou com esperanças
.
Agora, só resta o triste lamento, triste pesar
De um amor que se foi, nunca há de voltar...
Dor que não dilui, nocauteia, eterno sofrimento...
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E aqui eis-me a vigiar o tempo, a esperar
O momento certo para te encontrar e te amar...
No fim da madrugada, fria e silenciosa, te procuro...
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Maria Angélica de Oliveira – 10/11/16
Desafio Edith – Soneto sobre tema:
“ No fim da madrugada te procuro”