Posts de Paolo Lim (77)

Classificar por

DESABAFO III

O reflexo na vitrine, intima.
Coincidência ou sina ?
Visões espelhadas da sociedade opaca
que discrimina, critica, boicota e paga,
pelo conforto do corpo, da imagem rala,
fechando caminhos, cuspindo na cara,
negando o óbvio que a miséria escancara
e o marginal atrapalha.

Joias roubadas, milionário ladrão,
manchetes sangrentas, um pedaço de pão,
o craque malhado, o politico lambão,
o pastor suspeito, que ganhou eleição,
no hospital baratas e corpos ao chão,
dividas rolando, olhem o "caveirão" !

Meu espaço privativo é parco.
Não preciso de mais, não.
Aliás, não precisamos...
Demais são os enganos
da política e da religião
que a sociedade aplaude,
toma como molde
e mete os pés pelas mãos.

Tudo depende da escolha -
como uisque ou cachaça de rolha -
no fim é a mesma trolha...

Ninguém sobrevive incólume,
não há bom ou ruim,
rico ou pobre,
numa sociedade chinfrim,
que destila filosofias
que descem pelos ralos das pias
e vão para o esgoto comum.

                                                          Paolo Lim

Saiba mais…

AS QUATRO PAREDES

A vida brilha. Mil bocas brotam.
Não quero dormir na noite maravilha.
Olho para o que fui, mesmo não sendo,
imagino sua face, seu disfarce.
Não quero mágoas que transpassem
ou atrapalhem minha trilha.

Trago o universo no peito.
Pranto e pena que espanta tanto,
espalhados no meu leito 
sobre o lençol de linho branco
a espera do que deve ser feito.

Inúmeras fagulhas que viram centelhas,
crescem, avolumam-se em chamas vermelhas 
 rugindo nos espelhos da cristaleira.

Ouço gritos divinos, vindos
d'onde o vazio espia
acentuando desatinos
como se nada sabia.

As quatro paredes apertam
neste quarto, meu hibernal deserto,
ouço o que o universo envia.

Estou cansado de mim. Serei outro -
embora saiba inútil, o esforço -,
buscarei estrelas cadentes,
caídas, carentes.
As oferecerei meus versos dementes.
As tirarei da solidão silente.
Lhes cantarei uma universal canção.

A vida brilha, cega e envolve.
Quero de volta meu pequeno pássaro,
A inspiração do primeiro verso,
Meu sorriso puro.
Anda, devolve.

                                      Paolo Lim

Saiba mais…

MAIS QUADRINHAS QUADRADAS

I

Não pensem que sou maluco.
Estou apenas ocupado
em conseguir o que curto
neste mundo destrambelhado.

II

A raiva passa,
angústia se supera,
dinheiro pinta,
mas saudade é fera...

III

Se você me chamar de louco,
é claro que vou sorrir.
Tenho consciência, um pouco,
de até onde posso ir.

                                                                       Paolo Lim

Saiba mais…

FEBRES

Febre amarela, azul, cor de rosa;
Febre da palha, do feno, poderosa.
Frio no corpo, arrepio d'alma.
- Maleitas comuns, tenha calma.

Germens e micróbios,
indivíduos microscópicos,
hospedeiros tópicos,
presente dos trópicos.

Inimigos mortais,
epidemias naturais
ciclos sazonais
de vítimas fatais.

Absolutamente naturais...

                                                                                  Paolo Lim

Saiba mais…

PERGUNTA

O que houve foi que não ouviu.
Apenas viu o que houvera
ouvido e havido sido
nos idos que ouviu.

Confusão com fusão
e inclusão de som
e visão. Conclusão:
- Pura empulhação.

Tenho ou não tenho razão ?

                                               Paolo Lim

Saiba mais…

JUNTO E MISTURADO

Após o passo, o espaço,
o passado registrado,
o futuro avistado,
o presente caminhado,
instado num compasso,
em frente, ao largo.

O tempo presente
que passa urgente,
nos deixando tementes
de acharmos de repente -
"aqui tá frio, aqui tá quente" -
aquilo que se presente.

O andar da carruagem,
as paradas de viajem,
temporais e estiagens,
amores e sacanagens,
roupas sujas nas bagagens,
descanso nas estalagens,
saudades de outras paragens.

Eita vida em movimento,
que consome paisagens e tempo,
alegrias, surpresas e lamentos,
mães amamentando rebentos,
pisos duros, caracaxentos, 
comidas boas e excrementos,
tudo à hora e num só momento.

                                                       Paolo Lim

Saiba mais…

CONSELHO À AMIGA

Exiba as forças que lhe cabem,
reze os credos que lhe agradem,
suba nos saltos, cresça,
bote o mundo às avessas,
proclame seus atributos,
não economize insultos,
diga o que lhe der na telha,
fabrique o mel, seja abelha,
pique em sua defesa,
mantenha a chama acesa,
provoque com belo decote,
exponha as pernas, seu forte,
rebole sem preconceitos,
exija seus inteiros direitos,
não há porque ser inibida,
nem tampouco diminuída,
se é dona do grande mistério 
e do corpo que gera vida.

                                                Paolo Lim

Saiba mais…

DÉJÀ VU

O que desejava, não se cumpriu...
Nada demais para quem,
na lida da vida,
cheia de idas e vindas,
alegrias e dores infindas,
comprovadamente arguiu.

O que sonhei, se esvaiu...
Nada diferente para quem
nas noites de lua,
formosa e nua,
andou pela rua
e viu o que viu.

O que senti, refluiu...
Nada especial para quem
no seu eu mais profundo,
tem as dores do mundo,
a visão do imundo
que um dia intuiu.

                                                          Paolo Lim

Saiba mais…

RIMADO FUNDAMENTAL

O que eu quero, você tem.
Tenho o que você quer também.
Nossos quereres nos convém.
Bom compartilha-los com alguém
que os buscam além...

E esse encaixe formidável,
além de lindo, recomendável,
faz surgir o encontro saudável,
específico, inigualável,
dum grande amor inevitável.

                                                                                      Paolo Lim

Saiba mais…

RECADO

Essa mudez sombria
que ascende do seio da multidão,
ofusca ao dia a alegria,
expõe melancolias,
trafega na contramão.

O povo está preocupado,
apreensivo, desconfiado;
Sem explicações
do que foi que fez de errado.

- O fantasma do desemprego,
absurdo atraso dos salários,
delações, inquéritos, sentenças,
propinas por todos os lados
e ele mudo, pagando o pato.

Atentais ó políticos eleitos :
- Quem põe, tira, depõe e julga.
Reconheçais vossos defeitos,
assumais vossas culpas,
dispais vantagens,
cessais facções em disputas
e olhais o povo...

Aconselho de novo:
- Olhais o povo !
Seu silêncio rumoroso
é véspera dum grito
para começar o retorno.

E a luta pelo alimento,
condições de sustento
e a mínima cidadania - 
das quais foram esperança um dia -
poderá chegar à vossas casas,
explodir em vossas caras,
vos despir por vilania.

                                                         Paolo Lim

                                                                  

                                                

Saiba mais…

NATAL/2016

O medo geral disfarçado, 
se oculta nos sorrisos amarelos, 
contagia os abraços forçados 
como um universo paralelo.

Ante a crueldade dos fatos,
a angústia nos sobe aos pés
descadenciando nossos passos
à espera de novo revés.

E a alegria, falsa e fingida,
precisa manifestar-se afinal.
Embora seja de mentira,
abraça o novo espírito do Natal.

                                                                     Paolo Lim

Saiba mais…

VIDA

Meu sorriso antigo.
- Vês ? Também sorris...
O mesmo acontece comigo
por esta visão feliz !

Minha perpétua esperança:
- Amanhã melhor que hoje.
Não me amola, não me cansa.
Dela a tristeza foge.

Não tenho. Mas julgo ter.
Domino minha realidade.
Escolho o que quero ver
ao caminhar pela cidade.

- Frouxo ? Alienado ? Boçal ?
Sorrio dos rótulos e predicados.
Aliás, cago e ando pro conceito geral.
Sigo em meus sonhos delicados.

A vida é uma colheita de dados !

                                                                                           Paolo Lim

Saiba mais…

INQUIRIÇÕES

Cinzentos pisos vestidos de pó

poluem meus passos azuis, no caminho só.

O que importa ? Há na minha frente apenas chão.

Esquecerei o asco, o medo. Alcançarei a redenção.

Tocam os sinos. Tocam ! É Natal...

Fazem-se dívidas. Celebram. É normal.

Papai Noel exige. Não atende-lo, pega mal !

É dele a data. Quem foi Cristo, afinal ?

Meu rumo certo ? Não sei.

O que vier, assimilarei.

Deus joga xadrez com minh'alma.

- Quem sabe possa ganhar se mantiver a calma ?  

                                           Paolo Lim

Saiba mais…

AGORA

Angústias envelhecem,

perdem sentido,

escafedem.

O amor renasce,

quebra janelas,

enlouquece.

Tornei-me plural,

abri sorrisos,

jovial.

Esperanças voltaram,

cores vivas,

carnaval.

                                  Paolo Lim

Saiba mais…

ACABOU

Morre meu canto num campo de guerra.
Apagam-se esperanças em nossas bandeiras.
Enterram-se restos da última quimera.
Restam viúvas das ideologias derradeiras.

Proletários e burgueses perdem-se na história.
Soçobram lembranças, referências, memórias,
na contundência da nova ordem econômica
que instaura a realidade virtual,
                                     / tangente, isonômica.

Outrora sonho, a igualdade,
finalmente chega sem avisar:
- Somos todos iguais tão somente,
nas Redes Sociais que cortam o ar...

Frio, fome, sede, 
é nos dado apreciar; 
Voz livre, sem censuras ou paredes,
curtir, compartilhar, comprar.

Desigualdades outrora latentes,
expõem-se... É só clicar.
Realidades se fazem presentes,
instantâneas, em qualquer lugar.

Lutas, antes de classe,
resolveram se generalizar.
Assumirem-se globalizadas,
indistintas no martirizar.

Tudo exposto concomitantemente,
como mísseis a espocar,
na cabeça dos adolescentes
ou de quem quiser participar.

Ideólogos, críticos, leigos,
junto e misturado,
convivem sem pejos
neste novo Eldorado.

Agora, ao fim e ao cabo,
todos estamos conectados,
perplexos, atolados,
nestes virtuais anfiteatros.

                                                                 Paolo Lim

Saiba mais…

SUSTO

Susto sem insulto,
verdadeiro, curto,
inconsequente, mudo,
de repente tudo !

Chegada inesperada,
súbita, animada,
inteira, desembaralhada,
de repente fada !

Meu presente,
minha amada !

Paolo Lim

38º à sombra.

Saiba mais…

FALANDO NA PRAÇA

(Cenário do poema: - O poeta chega no Largo da Carioca, centro do Rio de Janeiro, sobe em cima dum caixote e começa recita-lo. Os transeuntes param para ouvi-lo.)

Respeitável público, não se assuste,
serão palavras simples que se lhes ajustem.

Nobres passantes, parem, ouçam o que digo.
Garanto que não pagarão mico.

Ó bêbados e prostitutas, ponham-se à escuta.
Excelcius irmãos marginais, venham prá luta !

No correr destes meus versos
servirei vinhos diversos.

Trata-se dum poema rimado
que a crítica haverá de execrá-lo.

Mas deixem prá lá. Não ligo.
Não enxergam o próprio umbigo...

Neste ossário que nos achamos
há crânios de diversos tamanhos.

Vejam aquele mendigo-menino:
- Terá sonhos enquanto dormindo ?

E o cachorro ao seu lado ?
Será que já foi alimentado ?

Ao leste, nuvens púrpuras;
A oeste, emoções impuras.

Observem os olhos cegos;
Percorrem as noites dos egos.

Essas roupas que nos cobrem,
expõem a nudez dos nobres.

Antes de quaisquer de nossos nomes,
há cascatas de brancos efêmeros e fome.

Sombras nas calçadas de pedra,
sucedem montanhas de terra.

Raios apunhalam na esquina,
assustam gatos, apavoram a menina.

Ventos empurram galhos rotos,
jornais velhos, passarinhos mortos.

Tentemos erguer um templo,
doar carinhos, ofertar exemplos.

Pelos labirintos e descidas,
comungar alentos e saídas.

Nesta ou naquela rua,
admirar a lua nua.

O bom sono que buscam,
dói na noite que véus ofuscam.

Cabelos e risos soltos
contrastam com o salário pouco.

Atrás do bom combate
há sempre um político traste.

E nós, sequiosos ratos,
seguimos vomitando fatos.

Os faróis da morte se acendem
e, não sendo o tempo, vamos em frente...

Eu aqui sozinho, vocês em multidão.
Tudo é viagem, nada os trairá, ilusão.

Vejam o mosquito ferido
incapaz de picar, sem zumbido.

Uma aranha a menos tecendo
e a mosca escapando, veneno.

Árvores catando folhas arrancadas,
ajoelhadas, quase mortas nas calçadas.

Poça cheia de larvas
refletindo nossas caras.

Lá na rua do cemitério
uma viúva comete adultério...

A alma do finado rico
deseja passar-lhe um pito.

No solar desmanchado
há um passado a ser contado.

...me cale, é o que querem ?
Vou atende-los, esperem.

Antes do fim, volto ao começo:
- Respeitável público, sou louco, reconheço.

Meus nobres ouvintes, estou convicto:
- Só os loucos não pagam mico.

                                                   Paolo Lim

Saiba mais…

RÁPIDO VERSEJO

Um verso diversificado,
imune, solto, não asfixiado,
prosaico nos enunciados,
impune dos normais predicados.

Um verso desmetrificado,
branco ou preto, mulato,
procurando resultados,
intransigente, ousado.

Um verso no reverso,
sem rumo, impresso,
especulativo, perverso,
sobretudo um verso...

Paolo Lim

Saiba mais…

CONFUSO

Um esboço gera esforço,
para entender o alvoroço:
- Alvo roxo,
sapo coxo,
tédio moço
olha o almoço !

Minúsculas desditas,
dores titicas,
vais ou ficas,
não militas?
- Contraditas !

Sonhos, pesadelos,
melhor não tê-los...
Arrepiam pelos,
ilusões, arregos,
doces medos.

Freud explica !

Saiba mais…
CPP