Posts de Paolo Lim (77)

Classificar por

ARTIGOS DEFINIDOS...

O fim, sem novo começo.

O recado que esqueço.

A taça de vinho azedo.

O bar da outra calçada.

A porta nova, da entrada.

O dia sem perspetivas.

As militâncias ativas.

A Polícia entrincheirada.

O tráfico nas madrugadas.

A Elite endinheirada.

O mais novo indiciado.

A loira do prédio ao lado.

O pensamento extravagante.

A nota errada, dissonante.

A tragédia do infante.

A dispensa da diarista.

O velho Partido Comunista.

A remunerada delação.

A gravata de um milhão.

A Ferrari na contra mão.

A tosse sem expectorante.

A festa mais adiante.

O caminhão desgovernado.

O recurso negado.

O devedor enfartado.

                                            Paolo Lim

Saiba mais…

LEMBRANÇAS & MEMÓRIAS

Em tua memória escrevo poemas,
rasgo madrugadas, 
distribuo prendas,
tenho redivivas esperanças,
beijo flores nas estradas,
furo paredes com palavras
e te refaço minha amada.

Por tua memória sempre presente,
importo-me diariamente:
- O que sentes ?
- Será que estás apaixonada ?

Ó tempo de pensamentos hemorrágicos,
lutas e poemas trágicos...

Saiba mais…

LIQUEFAÇÃO

A tarde liquefeita em compartilhamentos,
curtidas e momentos
que chutam o baixo ventre,
borram a pregação do crente,
apunhalam silicones,
vomitam o cru que comem,
arrotam impropérios,
mijam germes e mistérios,
usando o wi fi emprestado
no smart surripiado...

Na femural da noite mal dormida,
esclerosada e perigosamente entupida,
rolam papos-cabeça,
solidão como sobremesa,
picadas culturais,
fofocas, leva e trás,
cantadas sem escrúpulos,
amigos fakes, ocultos,
ilusões e nada mais.

No fígado da Rede esburacada,
publicações expelem em enxurradas,
fétidas excrescências biliares,
de Sócrates à Zumbi dos Palmares,
vernizes intelectuais,
putas angelicais,
rufiões cheios de ginga,
a menininha que xinga,
e uma velha com um rapaz.

No coração do dia infartado,
o que vemos por todo lado,
são aparelhos ligados
aos cérebros atrofiados
mantidos e conectados
pelo êxtase dos papos furados,
games irados, mini-recados,
totalmente infectados,
moribundos como jamais.

Saiba mais…

QUESTIONAL XXIII

Se desconfio, me perco.
Se aceito, me ferro.
Com bondade, sou fraco.
Se engrosso, amargo.

- Quais minhas chances 
neste tribunal de juízes sem toga,
jurados perjuros 
e promotores obtusos ?

-Tirar a venda da Justiça ?
Acabar com a polícia ?
Rasgar todos os inquéritos ?
Arrancar dos autos os méritos ?

Saiba mais…

ME LEVE...

Me leve para um destino insólito,
onírico, meio louco,
sem fronteiras ou propósitos,
além do longe um pouco,
pleno de verde esperança
e azul acetinado,
pois quero entrar nessa dança,
neste bailar alucinado,
provar delícias agridoce,
pisar nos picos gelados
ou nevados que fossem.

Me leve para um canto escuro,
para um beco sem saída,
prometo me comportar, juro,
estou imune à recaídas,
vamos pular aquele muro,
cair no vácuo ou no impuro,
ver estrelas cadentes,
comer grãos e sementes,
cantar as canções mais recentes
e descansar dos seguidos pulos.

Me leve para sua vida,
sare minha ferida,
corra que eu vou atrás,
no fundo sou bom rapaz,
embora pareça opaca,
minha natureza é pacata,
gosto de juritis e pardais.

Me leve...

 

Saiba mais…

AGONIA DO POETA

O poeta chega,
tão inútil e insignificante
como a flor que insiste brotar
na parede norte, adiante,
da carceragem do lugar...

Seu olhar para o mundo
atinge imensidões abissais
que, lá no fundo,
espelham dores febris,
das cores o matiz
e do poema, motriz.

O poeta respira ofegante,
suas vísceras se expandem.
O ar seco, no beco, atordoa-lhe os pulmões
que não o expulsa nas expirações...

Senta-se abatido como um poema parido.
Sorri do próprio destino,
da multidão que se movimenta nos domingos
e da fé dos iludidos.

O poeta se deita,
o céu se lhe aproxima opressor,
estrelas apreciam sua agonia.
As observa como anestesia...

Um meteoro cruza o céu.
Cerra os olhos. -"Uma estrela guia" !
...e morre em paz, ao léu.

Saiba mais…

PAPO RETO

Abro o verbo,
me manifesto com veemência,
não aceito adiposidades,
tô de dieta de frivolidades,
não quero perder a última chance,
cago-me de medo do câncer,
tenho impulso de protestar;
Levo rasteira, mas sei levantar;
Abro a porta arrombada,
cansei de levar porrada,
cruzo salas de espera -
"Calma amigo, manera"! -
pois não consigo esperar.

Dou um bico no meio da bunda,
desta política vagabunda
que nos rouba e faz pagar.
Pego meu rumo no prumo,
o que pintar eu assumo
e deixo ver no que vai dar.

Ando puto com o mundo
que, lá no fundo, no fundo,
só nos faz desafinar
o belo samba de boteco,
cheio de teleco-teco
e que é bom de se gostar.

Não quero saber de Pasárgadas,
muito menos de impeachment.
Deixem-me tão somente
viver e me alentar
com uns chopinhos gelados, 
alguns torresminhos assados,
metafísica dos grandes sambas,
profundos conselhos dos bambas
que é bom aproveitar.

Esta é a vida porreta,
sem nenhuma etiqueta,
nem direita, nem esquerda,
que nos exija posicionar.


Não que seja fatalista,
por mais que você insista,
com alegações concretistas,
praxistas ou anestesistas.


Prefiro o samba de breque
ao canto da cotovia,
aos papos sobre "mais valias",
pois importante é criar...

Deixe-me ir devagarinho,
tomar meu chopp sem colarinho,
jogar conversa fora na rua,
filosofar sobre a lua,
arengar porque a batata tá crua,
ouvir atento o bebum,
sobre vantagens do jejum;
Sentir a vida que passa,
bela, linda, sem trapaça...

- Afinal, a poesia está sob ameaça !

Saiba mais…

RECEITA


Mastigarei esta manhã
como um fruto, um gomo, uma polpa.
Vitaminas enriquecerão meu plasma
e o doce se guardará em minha boca.

Digerirei este sol vitamínico,
cujo sabor inundará minha pele.
Aguardarei o brotar dos poemas
que a conjugação dessas delícias expele.

Pronto... Mastigai este poema -
natural, orgânico, proteico -
aguardai algumas horas
e sentirás os efeitos.

Poesia alimenta.

Saiba mais…

QUERÊNCIA

Quero despir vaidades,

admirar a nudez na claridade,

ver o puro, a pele, a forma,

me encantar com o que transtorna,

enxergar sem subterfúgios,

derrubar todos os muros,

realçar predicados,

orientar amargurados,

programar bons futuros.

Quero provar a insanidade -

bordas das regras

que limitam a sociedade -,

dissecar a tal bondade

conveniente à falsa felicidade,

encarar angústias,

apontar astúcias,

me purificar.

Quero mudar minha ótica,

me conformar com a robótica,

provocar curto-circuitos 

nos chips direcionados

à resultados fortuitos.

 

Quero ser gauche sem intuitos...

Saiba mais…

MATEMÁTICO

A equação titubeia o resultado,

não há nexo no contexto.

Abstrações e dramas conexos,

meros reflexos a respeito.

Em busca do sonho sonhado -

nossos bombons adocicados,

água benta aos machucados -

presente ao presente ansiado.

Realidades nos fazem atrapalhados,

insistem nos acordar para o agora.

Vivencia-lo por todos os lados

pois não sabemos o chegar de nossa hora.

Saiba mais…

UMA PEQUENA ODE...

Isolamento azul, sepulcral;

Mar de minhas memórias tempestuosas

banhando a terra sobressaltada

por realidades transitórias, trágicas,

afagando brisas na manhã dourada,

provocando sorrisos em minha cara...

-"Maria com vestido flanante,

instigantemente solto,

cabelos livres, em alvoroço,

perpetra paixões por suas franjas

ao deitar-se em inúmeras camas".

Solitário mar de expressivos mitos,

dramas horrendos, conquistas e estranhos ritos...

Ondas intermitentes

que acariciam, envolvem e chocam,

afogam e nos fazem tementes...

Oceano de imensidão brutal

que beija praias límpidas e sereias nuas,

reflete estrelas e replica luas.

-"Na enseada de águas claras,

areias brancas e solitárias,

mergulhei no corpo de Maria,

urrando sonetos e árias"...

Ó mar de meu destino -

influente, decisivo, fundamental ! -

massa que me sustém e encanta,

leito de meus impossíveis amores;

Preferido colo, açoite,

fé e sincero afeto...

Só Deus lhe é mais completo. 

Saiba mais…

EXPERIÊNCIA II

Doeu...

E a sutileza desta dor tão fina

que apequena o dia,

embaça planos,

relembra sinas,

refaz enganos,

chagas ilumina,

cobre o pano da fé, termina...

Doeu...

No cotidiano de perdas e ganhos,

o filete da decepção amarga

que a alma escala

suas sanhas,

provoca gestos tresloucados,

amplia e adquire dimensões tamanhas

que nos deixam machucados

com feridas e chagas. Desenganos...

Doeu...

A razão imprópria e desafeta

que aparta, interfere e torce

com equívocos repleta,

pinga palavras supostas

que ecoam nos becos

vazios, secos

de má poesias,

estranhas vias,

avalanches mortais...

Doeu...

A isso chamamos experiência,

aprendizado de vida ou vivência

que aprimora o linguajar grotesco,

nos traz de volta ao contexto,

limpa, ordena,

 cama que devora,

esperança de nova hora

ao corpo e à memória...

Doeu...

Saiba mais…

EXPERIÊNCIA

De tudo resta um pouco -

as vezes muito, por vezes o suficiente 

para influir na vida da gente.

Nada passa batido,

tudo influencia o novo,

o comportamento do povo

e o que será vivido.

Tanto faz se estejamos por baixo

ou eventualmente por cima;

Se moramos num barraco

ou até mesmo na China.

O vivido sempre ensina...

Ao passado não me agarro.

Uso apenas seus recados

e escrevo minha sina.

Tudo é novo, tudo é velho,

são experiências na qual me espelho

e meu futuro ilumina.

Saiba mais…

A NOITE

A noite com passos verticais, 

escala janelas, telhados,

jardins, bairros e tudo mais

que se interponha aos seus caminhos,

vontades, dengos e determínios:

- A bela árvore escurece,

a moça top, envaidece,

ao doente terminal, esquece

e a saudade, favorece...

A noite, como passos de tango,

volteia, milongueia, causa espanto,

dramatiza o canto, abriga sonâmbulos,

bêbados e pirilampos.

Excita o louco aos delírios,

provoca o cantar dos grilos,

a temperatura, retrai, traz o frio

e, aos amantes, arrepios.

A noite se enfeita com brilhos -

estrelas, lua, luzes em estribilho -

inspira os poetas solitários,

proporcionando-lhes sonhos e presságios.

Uivam os cães em seu louvor -

como lamentos de profunda dor -

viúvas lastimam as perdas,

vêm vultos nas cabeceiras...

A noite apaga o dia

e obriga-nos ao sono que repõe energias.

Oferece sonhos,

pesadelos medonhos

e dá espaço para orgias...

E quando chega a madrugada,

escapa em disparada

tocada pela alvorada

que outro dia escancara.

Saiba mais…

RECORDAÇÕES

Olhar o mundo é senti-lo,

comparar histórias, medi-lo,

decompor o velho menino,

sorrir dos antigos desatinos,

tornar a badalar os sinos.

É andar pela cidade,

rever os espaços da mocidade

e se deixar inundar pela saudade.

Saiba mais…

CANTO CRIANÇA

Esse meu canto criança,

puro,feito de alegrias e esperanças,

nasce dum sorriso meigo,

dum pequeno gesto de aconchego

sem pretensões, leigo,

qual imagens de danças

duma menina de tranças

e o amor em meu peito.

Esses meus versos pueris,

sem amálgamas ou imagens vis,

exprimem visões infantis

cheias de cores,

puros odores

dum mundo que sempre quis.

Esses meus versos bobinhos

causam espanto, sozinhos,

ao se mostrarem declamados,

devidamente contextualizados

e traduzindo verbos purificados...

Têm o ritmo das canções de roda,

o cantar dos pássaros e da pura rosa,

falam dum céu sempre azul,

dum arco-ires de norte-sul,

de príncipes e princesas,

comida farta às mesas,

boa saúde, belezas.

Estes meus versos singelos,

cheios de gnomos e polichinelos,

dão asas à imaginação,

contrapõem-se a poluição,

desconhecem dores

dizem não à depressão.

São augúrios, mais que pretensão ! 

Saiba mais…

RENASCIMENTO

Fundos e abismos,

ecos de risos, cinismos,

amarguras que afloram,

garrafas vazias rolam,

explosão de fetichismos,

movimentos no imobilismo,

rota de colisão,

solidão.

Dores enclausuradas,

angústias disfarçadas,

medos, aflições desbragadas,

queda de prognósticos,

aumento dos despropósitos.

Sonhos e aplausos,

desejos e faustos,

atividades e ócios,

lugares inóspitos,

irônicos privilégios,

renascer dos velhos tédios,

rejeição dos assédios,

avisos de sinistros,

voltamos ao início.

...E tudo se repete.

                               (Foto de Brigitte Bardot)

Saiba mais…
CPP