9 semanas de ficção

        Volume 3

                               INÍCIO

                           Antigamente

          Era uma vez dois amigos que estudaram juntos até quando completaram o ensino médio. Estevão formou-se em Direito na capital da Paraíba, e depois foi aprovado no concurso para juiz. Seu amigo Walace também se formou em Direito na capital maranhense e depois fez concurso para promotor. Estevão trabalhava em Colinas-Maranhão e Walace em São Luís-Maranhão. Passaram-se vários anos sem contato, até que um dia o meritíssimo tirou férias e foi procurar o excelentíssimo promotor amigo de infância Walace. Ele chegou a São Luís e foi logo ao Fórum Desembargador Sarney Costa à procura do amigo promotor de justiça. Dirigiu-se à recepção e perguntou:

          - Onde posso encontrar o promotor Walace?                                                                                         

          - Ele deve estar agora na cantina.

          - Para que lado fica? – Perguntou o Juiz.

          - O senhor é advogado? – Perguntou a recepcionista Danna.

          - Sou juiz da comarca de Colinas - Maranhão. Somos amigos de velhos tempos...

          - Então, meritíssimo, vou solicitar uma funcionária para acompanhá-lo até lá. – Fez sinal para Verônica, que estava próxima à recepção.

          - Leve o meritíssimo juiz até a cantina, pois ele quer rever o promotor Walace.

          - Vossa excelência conhece o promotor?

          - Se ele não mudou muito, vai ser fácil reconhecê-lo.

          - Acompanhe-me, por favor. – Ele agradeceu à recepcionista, e saiu acompanhando Verônica.

          Quando chegaram, Verônica disse:

          - É aquele ali que está tomando café na última mesa à direita.                                                                                                                                                                       

          - Obrigado. Ele está muito diferente, pois na juventude usava cabelos longos e bigode. Se você não viesse comigo, eu não ia reconhecê-lo.       

          Verônica ficou aguardando para presenciar o reencontro dos amigos. O juiz parou diante do promotor e foi logo reconhecido. Walace levantou-se e abraçou o juiz com satisfação. Depois sentaram-se para uma longa conversa. Verônica retornou à recepção e comentou com a colega Danna:

          - Abraçaram-se, estão tomando café e conversando...

          - O que será que um meritíssimo conversa com um excelentíssimo senhor promotor de justiça?

          - Isso é fácil de saber.

          - Como?

          - É hora do seu lanche. Basta avisar que vai à cantina, logo vem alguém substituí-la. Aí, sentaremos próximo da mesa deles e, de costas, ficaremos atentas ao diálogo dos velhos amigos.

          - Muito bem! Gostei da ideia. Vamos logo, pois estamos perdendo o início. – E assim fizeram. Procuraram uma mesa perto deles e sentaram-se de costas,  disfarçando  que estavam apenas lanchando, sem que  eles percebessem a intenção delas.

          - Meritíssimo ficou tocando guitarra até quando? – Perguntou o promotor.                                                                                                                                                                           

          - Quando fui fazer vestibular em João Pessoa, tive que abandonar a música, pois eu estudava em horário integral. E o excelentíssimo lembra-se das tardes de domingo?

          - Com muita saudade. – Respondeu o Promotor.

          - Realmente! O tempo passou, mas em mim deixou muita recordação. Foram tardes com tanta alegria, que brincávamos como se fosse dias completos. Sempre acompanhados de belas garotas. – Lembrou o juiz.

          - Lembra-se das composições?

          - Claro! Os acordes eram resumidos. Usávamos expressões simples para facilitar a melodia. A música era só falando de amor, de paixão, de sonhos, saudade e automóveis  - carros esses que não eram nossos, não tínhamos nenhum, íamos aos encontros de carona. Recordações, amores e cores eram apenas para rimar. Hoje, os meus dias são recordações daqueles sonhos. Morro de saudade do tempo do namoro quando a tarde caía e começava a ficar escuro, e as meninas menos inibidas. Tudo era felicidade. Éramos jovens que sabíamos usufruir da mocidade.      Naquela época, era amor passageiro, mas era amor verdadeiro. Quando não dava mais, existia sinceridade e a infidelidade era desnecessária, pois éramos amigos e não ficava mágoa quando uma garota dizia que não dava mais. Sempre elas tomavam a iniciativa de terminar e ficavam livres para namorar outro do nosso grupo. Como se fosse um rodízio. Tudo me mata de saudade. Bons tempos, excelentíssimo...

          - Se não estamos trabalhando, por que esse tratamento?

          - Foi o meritíssimo quem começou...

          Abraçaram-se com muita satisfação.

          Danna e Verônica, satisfeitas, retornaram à recepção comentando:

          - Gostou, amiga? – Perguntou Danna.

          - Gostei, e fiquei surpresa, pois nunca imaginei que os excelentíssimos de hoje já teriam sido amigos de ontem...  

            Roger Dageerre. 

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Roger Dageerre

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Comentários

  • O tempo passa e ficam recirdações do que se viveu, as amizades permanecem quando são verdadeiras.

    Aplausos.

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CPP