Serie reminiscência - a Maria-fumaça

Serie reminiscência - a Maria-fumaça

Piuiiiiiiiiii!!!!!....
É assim que me lembro do apito da Maria-fumaça, e este apito provocava uma reação de euforia em mim... era como se, ao ouvi-lo, ligasse um botãozinho em mim!
Eu tinha por volta de seis, sete anos e minha escola ficava no pé do morro, bem próximo ao viaduto onde passava o trem de ferro, a famosa Maria-fumaça com seus infinitos vagões lotados de minério de ferro.
Eu estudava no segundo andar, sentava perto da janela que me proporcionava uma vista privilegiada da estrada de ferro... se eu subisse na carteira, é claro! Pois, era pequenina e a janela era alta. De lá eu podia ver desde a curva, onde a Maria-fumaça surgia, o viaduto e boa parte do trajeto depois que ela passava em frente a escola e sumia ao longe em outra curva...
Gente, vocês não imaginam o que era aquilo aos olhos de uma criança! Aquele apito, a fumaça branca subindo aos tufos no céu, a cara redonda da Maria-fumaça surgindo da curva sorrindo pra mim! Sério! Eu via sempre um rostinho sorrindo! O barulho do "check -treck, check -treck, check -treck" quando passa pelos trilhos... e os vagões! Meu Deus! aqueles minérios de ferro brilhavam tanto ao sol que pareciam um monte de estrelinhas! Era assim que eu via a Maria-fumaça: "um trem com carinha redonda sorrindo para mim, com seus vagões carregados de estrelas!"
Até aí, tudo bem!
O problema é que o horário que a Maria-fumaça passava era bem no meio da aula, eu estava na primeira série e sempre que ouvia o apito, não dava outra, subia ne carteira e ficava na pontinha dos pés para não perder nada do meu espetáculo preferido! Só que como falei estava no meio da aula e a professora brigava e eu não ligava - o trem era mais importante. .. então ela vinha e batia em meu bumbum com a régua de madeira. E enquanto ela batia eu sapateava em cima da carteira e olhava a Maria-fumaça com um sorriso de satisfação nos lábios e um brilho de alegria no olhar... todo dia era assim... até que a professora se cansou e me mudou de lugar, colocando-me do outro lado da sala. : (
Mas, não teve jeito, no outro dia, ao ouvir o apito da Maria-fumaça e o "check -treck, check -treck, check -treck" dos vagões nos trilhos, ligou de novo o botãozinho e eu, sem pensar, subi na cadeira e fiquei na ponta dos pés tentando ver a Maria-fumaça passando... só consegui ver de relance... desta vez, as reguadas na bunda não valeram tanto à pena ...
Ainda hoje quando fecho os olhos e relembro aquela imagem, aquele apito... o barulho dos trilhos e o brilho mágico das estrelas nos vagões, sinto aqui dentro uma alegria inocente e bela que régua de madeira nenhuma vai conseguir apagar!

Elaine Márcia.

P.s: Apesar das reguadas, eu gostava muito da minha professora Denise que deu aula para mim até a quarta série. Só muito mais tarde eu aprendi que não se pode bater em crianças, principalmente em sala de aula!

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Elaíne Marcia

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Comentários

  • Toda a tua crônica proporciona imagens visuais maravilhosas, com excessão da professora batendo com uma régua numa menina desprotegida que só queria desfrutar de um momento de prazer.

    Linda crônica, Elaíne.

    Parabéns!

  • Viajei com você na sua Maria-fumaça!! Que relato lindo!!! Menos as reguadas !!! Parabéns Elaine querida por teu texto!! 

  • Estima poetisa Elaine recordar é viver duas vezes. Mas, também pode ser: viver é recordar, recordar é viver intensamente o passado no presente. Sua crônica é de emocionar até os corações mais insensíveis. Meus cumprimentos e encaminho-te aquele abraço Hollywoodiano cheio de satisfação na leitura. Como sempre Elaine arrebentando!!!

    • Grata pelo carinho, Sam!

      Você é muito gentil!

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