A droga da DROGA

Eu sei que terei muitas objeções sobre meu ponto de vista em relação ao dependente químico.
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Sou educadora e como tal já participei de vários cursos sobre o tema. Definitivamente não sou a pessoa certa para desenvolver trabalhos com dependentes químicos! Não! Não sou. Eu conheço a realidade do "outro lado", faço parte daquele grupo de pessoas que foram vítimas do dependente químico, direta ou indiretamente. Não passa pela minha garganta esta história de que o dependente é um doente... Sei que existem pesquisas científicas que defendem esta tese... mas, eles - os dependentes químicos, são cruéis demais!

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Individualistas demais! Insensíveis demais! E aí você acompanha de perto a dor da família que vai morrendo aos poucos por causa de um ser que não está nem aí pra nada e ainda vai enxergá-lo como doente?! Não!É a esposa que sofre calada, que labuta sozinha... São os filhos que não entendem e que se perdem pelo caminho... É o pai que se indigna, se fecha, se tranca e murcha... amofina! É a mãe que acredita na mudança - que nunca vem... que está sempre ali, firme, confiante. .. que sofre... sofre... soooofreee... e que também vai murchando e sangrando por dentro numa ferida que não fecha... Não sara...
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É a família que vê os seus entes queridos doentes por causa de um dependente químico e nada pode fazer... É a sociedade que sofre a agressão do medo, que é roubada e agredida em plena luz do dia... É gente demais sofrendo por causa de um vício maldito! E aí vem uma "boca qualquer" e diz que a culpa é dos pais? Como assim? Eu sei que existem casos e casos, mas, péra aí, não existe receita mágica para se educar filhos e pais que amam seus filhos, erram tentando acertar. Não concordo que se generalize. Não concordo que a família seja aprisionada em seu próprio lar em decorrência de um vício maldito.

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Não tenho respostas. Não tenho soluções.Infelizmente não tenho. Gostaria muito de tê-las. Acho injusto demais os esforços que são despreendidos de um modo geral em prol dos dependentes químicos que não estão nem aí pra nada ... Não querem parar, não se esforçam para abandonarem o vício que mata... Não estão nem aí... O pior de tudo, é que antes da droga matar o viciado, destrói vidas e mais vidas em torno dele. Desgraça e caos total. A droga é mesmo uma droga! Não falo como educadora.
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Falo como mulher - a esposa, a mãe, a irmã, a tia, a filha, a sobrinha, a neta... Falo como vítima da vítima, da vítima, da vítima... Um dia, a muito tempo atrás eu acreditei que se mostrasse que me importasse, se disponibilizasse meu amor, meu cuidado, minha atenção poderia auxiliar na mudança... descobri que tudo isto é pura ilusão... e descobri da maneira mais dolorosa possível. Ninguém muda se não quiser mudar. Ninguém pode ser ajudado se não deseja ser ajudado. No final, a mudança acontece mesmo é de dentro pra fora. E se a droga destrói todos os resquícios de valores, então, não há nada mesmo à ser feito.

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A droga da droga destrói vidas, principalmente aquelas que estão ao redor do dependente. Vejo tantos esforços serem dedicados em prol do dependente que não quer se recuperar... e as famílias - verdadeiros doentes, quem cuida delas?Esta tem que ser forte, tem que ser firme, tem que dar apoio, tem que tomar uma atitude, tem que resolver isso ou aquilo, tem... que tem... que tem... que tem...Aff! Chega uma hora que cansa!
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As vezes, dá vontade de sacudir a criatura pelos ombros e dizer "toma tenência, criatura! Acorda!
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O mundo não gira em torno do seu umbigo, não!"Mas aí, eu me lembro que "eles" não estão nem aí.Penso que não há mais nada a ser feito mesmo...
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Me sentindo desacreditada.
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Elaine Márcia, Porto Velho, 18/11/2016.

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Elaíne Marcia

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Comentários

  • Uma bela revelação literária! É pra isso que a literatura serve: para que cada um crie sua própria beleza.

  • Elaine, é uma dependência química sim, mas isso não quer dizer que eles não tenham quer ser responsabilizados pelo que fazem ou, que a família seja obrigada a aturar seus abusos, sua falta de sensibilidade, o imenso egoísmo do qual eles detentores. Ninguém é responsável e nem pode fazer nada pela dependência de um dependente a não ser ele mesmo. Como você mesmo disse, é impossível ajudar a quem não quer ser ajudado. Teu texto é maravilhoso! Bjs

    • Verdade, Marso... Mas, esta realidade é cruel demais!
      Abraços, flor!
  • Belo texto amiga, poetisa, não pense que vou fazer juízo de valor sobre o que dissestes, apenas, escreverei algumas palavras. Acredito que seja realmente uma doença e muito cruel, talvez ás pessoas digam que o indivíduo não tenha a "coragem, força" para deixar o vício mas, não é bem isto, todo e qualquer ser humano tem ás suas fraquezas. E não podemos esquecer que coragem não é somente dar um "basta e dane-se", suportar ás provações exigem muita coragem. Por fim, a sabedoria não é uma flor que podemos colhê-la e, sim, uma montanha e temos que escalá-la. Abraços, paz e Luz a você!!!

    • Obrigada, meu amigo Ilario por suas considerações!
      São tantos doentes e doenças que acabam cegando a gente... o fato de ter que suportar as consequências da dependência quimica, seja direta ou indiretamente, adoence a alma e nos faz fenecer...
      Muito grata por sua visita e comentário!
      : )
  • Infelizmente Elaine esta é uma realidade cada vez mais presente nos lares do mundo todo... desemprego, frustrações, falta de perspectivas muito contribuem para o desgaste das pessoas que vêm nas drogas lícitas ou ilícitas uma saída, que não leva a lugar nenhum, só à destruição. Culpar os pais é tapar o sol com a peneira!!! A mídia invade nossas vidas, mostrando nas novelas e filmes que tudo é permitido, que tudo é "legal"... Não temos apoio dos órgãos que deveriam zelar pelas famílias... Os valores se perderam e agora, ser errado é que é ser condecorado!!! Quem tem o vício não se importa, não quer se curar... muitos poucos têm essa força de vontade!!! Belíssimo texto!! Faço minhas às suas palavras: " Falo como mulher - a esposa, a mãe, a irmã, a tia, a filha, a sobrinha, a neta... Falo como vítima da vítima, da vítima, da vítima... Um dia, a muito tempo atrás eu acreditei que se mostrasse que me importasse, se disponibilizasse meu amor, meu cuidado, minha atenção poderia auxiliar na mudança... descobri que tudo isto é pura ilusão... e descobri da maneira mais dolorosa possível. Ninguém muda se não quiser mudar. Ninguém pode ser ajudado se não deseja ser ajudado. No final, a mudança acontece mesmo é de dentro pra fora. E se a droga destrói todos os resquícios de valores, então, não há nada mesmo à ser feito." PARABÉNS!!!

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    • Muitíssimo grata por sua visita e comentário, Angelica!
      Beijinhos no coração!
      : )
  • Realmente. A droga é uma droga.

    A família é destruída. Isso é muito triste.

    As coisas só resolverão quando a pessoa realmente

    quer ser ajudada. Isso nem sempre acontece.

    Pouco acontece.

    Eis aí a revolta. Sermos impotentes diante da situação.

    Triste. Muito triste.

    Também não vejo  solução.

    • Oi Sandra, a sensação de impotência é realmente terrível!
      Obrigada por vir!
      Abraços, flor!
      : )
  • O grande problema é que por se tornarem dependentes, necessitam suprir esta necessidade que lhes corrói o desejo de satisfação, é isto não lhes deixa admitir que precisa de ajuda, não lhes deixam enxergar que matam e que estão destruindo tudo em sua volta. A família, na maioria dos casos, é esquecida por que concentra em torno do seu ente querido o desejo de salvá-lo e esta salvação, realmente, só pode acontecer com o desejo de ser ajudado. É triste!

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