pobreza - Casa dos Poetas e da Poesia2024-03-28T11:26:01Zhttps://casadospoetasedapoesia.ning.com/grupos/contos-e-causos/contos-e-causos/feed/tag/pobrezaNada a Declararhttps://casadospoetasedapoesia.ning.com/grupos/contos-e-causos/contos-e-causos/nada-a-declarar2019-09-26T14:45:26.000Z2019-09-26T14:45:26.000Zantonio domingos ferreira filhohttps://casadospoetasedapoesia.ning.com/members/antoniodomingosferreirafilho<div><p> </p>
<p><span style="font-size:12pt;"><em><a href="http://www.imaculadamaria.com.br/z1img/20_05_2017__10_13_0825063126004589eb6fbcd14a9d01193ca6a7a_640x480.jpg" target="_blank"><img class="align-full" src="http://www.imaculadamaria.com.br/z1img/20_05_2017__10_13_0825063126004589eb6fbcd14a9d01193ca6a7a_640x480.jpg?profile=RESIZE_710x" width="600" alt="20_05_2017__10_13_0825063126004589eb6fbcd14a9d01193ca6a7a_640x480.jpg?profile=RESIZE_710x" /></a></em></span></p>
<p> </p>
<p> </p>
<p><span style="font-size:12pt;"><span style="font-size:14pt;"><strong><em>Nada a Declarar</em></strong></span></span></p>
<p style="text-align:left;"><span style="font-size:12pt;"><em> <br /> <strong>Vinha de volta da labuta cambaleando por entre o lamaçal e as poças de água.</strong></em></span></p>
<p style="text-align:left;"><span style="font-size:12pt;"><strong><em>Chovia chuva, chovia relâmpagos, chovia raios, chovia trovejos , chovia ventania, fria.</em><em><br /> Vinha com os meus senões da vida dura. As vestes, bem, as roupas surradas, pareciam que iriam esfarrapar-se à tudo aquilo.<br /> Era aniversário de meu único filho, José Zico da Silva, 6 anos. E o presente que me pedira...qualquer coisa...</em></strong></span></p>
<p style="text-align:left;"><span style="font-size:12pt;"><strong><em><br /> Sabia que a mãe havia preparado um bolinho de banana com uma velinha com o algarismo 5.<br /> Pobre, mas alimentação embora com calorias insuficiente, dava para encher o estomago.<br /> A tristeza cada vez mais me abatia, o coração pulsava mais, embora encharcado e com frio, um calor aflorava do rosto que se avermelhava e descia pelo meu peitoral avantajado, estruturada pela genética e não como um velho burocrata da repartição pública, onde eu carimbava papel o dia inteiro, sentado o dia inteiro, e com a coluna vertebral esquelética quebrantada, tratada e destratada pelas fisioterapias.A coluna da alma tal e qual.</em></strong></span></p>
<p style="text-align:left;"><span style="font-size:12pt;"><strong><em><br /> E o presente. Não deu para comprar nada, nem fiado, nem para isto tenho crédito qualquer.</em></strong></span></p>
<p style="text-align:left;"><span style="font-size:12pt;"><strong><em><br /> Faltavam ainda uns 800 metros para chegar ao meu lar, doce lar. Casa de alvenaria,sem laje, janelas de compensado aprisionadas nos tijolos com muitos pregos, sem reboco. Um quarto/sala/ cozinha conjugados, um banheiro fora da casa com um chuveiro furadinho de lata de leite em pó pendurado no cano com arame. Água fria de verdade no inverno.</em></strong></span></p>
<p style="text-align:left;"><span style="font-size:12pt;"><strong><em><br /> Certa vez num churrasquinho com os colegas de bar, alguém colocou cocô na lata de leite em pó furadinha, o chuveiro . Quando tomei banho, levei um jatos de cocô em pintadinhas nos cabelos e costas e fiquei raivoso como um pitbull. Nunca mais um acém na brasa. Pinga não. Em tempo, com um porte de arma eu teria cometido uma loucura.</em></strong></span></p>
<p style="text-align:left;"><span style="font-size:12pt;"><strong><em><br /> Lembrei-me deste fato, talvez para esquecer o presente que não tinha. Como seria a decepção de meu único filho...Poderia dar uma desculpa, daria em outra época...<br /> Mas veja como o destino faz surpresas. Um relâmpago claro mostrou-me na poça de água um Pato de Plástico. Peguei, estava novinho, somente enlameado. Deve ter escapado de algum quintal daquelas casas da rua, por correntezas que se revezavam.</em></strong></span></p>
<p style="text-align:left;"><span style="font-size:12pt;"><strong><em><br /> Escondi o achado providencial, sob a camisa, e quase adentrando a minha casa: Entrei no silencio de meu coração, pisando em ovos, não podia ter chegado ainda.</em></strong></span></p>
<p style="text-align:left;"><span style="font-size:12pt;"><strong><em><br /> Direto no tanque lavei o Pato de Plástico, e o guardei sob os caibros da varandinha dos fundos. Uma surpresa, mas eu queria achar um papel de presente.<br /> Entrei nas pontas dos pés, e todos os dois dormiam. Achei estranho, com chuva, trovejando e raios estariam acordados, mas fora mais uma providência de Deus</em></strong></span></p>
<p style="text-align:left;"><span style="font-size:12pt;"><strong><em>A televisão teve o tubo queimado.</em></strong></span></p>
<p style="text-align:left;"><span style="font-size:12pt;"><strong><em><br /> Encontrei um papel legal, embrulhei e retornei escondido aos caibros.<br /> De manhã, Ziquinho me acordou;<br /> - Papai, trouxe o meu presente.Fiz 5 anos, com a mão esquerda aberta de cinco dedos.<br /> -Claro, meu filho; Feche os olhos , é uma surpresa.<br /> -Tá bem Papai.<br /> -Olha, Ziquinho, abra...<br /> -Poxa Papai, este Patinho é muito bonito.Queria ver ele nadar na chuva de ontem a noite.Ele nada bem Papai....<br /> -Claro meu filho; é um atleta perfeito.<br /> -Obrigado Papai, você é o melhor Pai do mundo.<br /> <br /> A.Domingos<br /> 09 de agosto de 2018<br /> 21:50 h</em></strong></span></p></div>