Há pessoas doces
Que falam palavras carameladas
E têm ações adocicadas.
As pessoas não são abelhas
Mas têm umas que de um jeito
Diria, quase perfeito...
Adocicam o mundo!
Do contrário também há:
Pessoas azedas
Que espalham tristezas.
E algumas são tóxicas, diria
Por onde passam envenenam
Falam mal, condenam...
Sem que nem porquê!
Assis Silva
Ah! Meu diabo, que mundo é esse?!
Em que a vítima leva a culpa
por ter dado bobeira — onde já se viu!
Roubam milhões, matam milhares
e ninguém vê o extravio.
E a culpa, diabo, nem você vai acreditar:
Dizem que é do povo que não sabe votar;
Da mulher que não sabe se vestir nem se comportar;
Do mal-uso do poder de decidir;
Por não ter o cuidado de onde residir.
“O que queres tu, meu pobre diabo?”
Assis Silva
“A gente” anda por esse mundão a fora.
Mas chega um dia, bate uma hora
que dá uma saudade danada
do nosso lugar de meninada.
Desbravamos terras, conquistamos amigos,
conhecemos culturas; ávidos
por mais... e mais crescimento.
Mas, bate a hora do recolhimento.
Aí vem a saudade da mãe e do pai,
dos irmãos e até dos vizinhos. Ai!
Somos paradoxos: vindas e idas,
livres escravos de nossas vidas.
Assis Silva
Ah, a mãe da gente
Quando ficávamos doente
Era melhor que médico e hospital
Achava cura para todo mal!
Assis Silva
O namoro não começou como os outros
Já no primeiro mês ele a bateu no rosto
Ela achou que ele iria mudar, perdoou-o;
Os dias passaram, assim como o desgosto.
No mês seguinte, veio ataques de ciúmes
E como consequência o poder;
Ela achou que ele iria mudar, perdoou-o;
E sobre isso tentou o máximo esquecer.
Engravidou e veio o casamento, que alegria
Mas nas núpcias ele a estuprou;
Ela achou que ele iria mudar, perdoou-o;
E para que fosse diferente se esforçou.
No casamento o amor acabou, a violência aumentou:
Era contra si, contra o filho. O respeito inexistiu.
Ela achou que ele poderia mudar, perdoou-o;
Sua dignidade depois, nunca mais viu.
Até que um dia, em um ataque de fúria
sem motivo; enfim, ela percebeu.
Ela viu que ele não ia mudar, não o perdoou.
Mas já era tarde, fechou os olhos...morreu!
Assis Silva
Um silêncio pairava sobre o apartamento, as luzes estavam desligadas, parecia não haver ninguém. Um homem chega em frente do prédio, olha fixamente para as janelas de um apartamento, dá uma longa respirada e chega próximo ao portão. O portão se abre.
— Boa-noite, seu Marcelo!
— Boa-noite! Responde o homem com os olhos arregalados. Pensei que o senhor só voltaria na semana que vem.
— Pois é, voltei mais cedo, aconteceram uns contratempos.
O porteiro, não sei por que, assim que avistou o homem pegou o interfone e ficou segurando durante a conversa. Continuou o homem, que parecia cansado da viagem.
— Vim sem avisar ninguém, queria fazer uma surpresa a Janice...
— Ela, sem dúvida, ficará surpresa — interrompeu o porteiro.
O homem se retirou. Entrou no elevador e apertou o número 9. Conforme subia, ia tirando o paletó e afrouxando a gravata. Saiu do elevador já em frente de seu apartamento. Abriu a porta, estava escuro, ouviu uma música no segundo andar...o interfone tocou.
— Pois não!
— Desculpe seu João, disquei o número errado.
Franziu a testa, achou estranho, pois o porteiro nunca errava o número dos apartamentos, apenas respondeu, tudo bem. Sentou-se no sofá, não acendeu as luzes, ficou ali um minuto — a música no quarto não parava—, tirou seu revólver e seu distintivo de policial e pôs na mesinha de centro. Mudou de ideia. Levantou-se, recolheu apenas o revólver e subiu para o segundo andar. Estava cansado. A porta estava entreaberta, apenas a luz do abajur iluminava o quarto. No corredor, a música parou e do quarto vinham suspiros e gemidos. Foi caminhando devagar com o revólver em punho. Empurrou a porta. Na cama estava sua jovem e linda esposa com um jovem e lindo rapaz. O jovem o viu primeiro, empurrou-a. Virando-se, ela também o percebeu; ele estava imóvel parado e trancando a saída pela porta. A mulher não disse nada, fugiu pela janela; o homem, sentiu pela primeira vez o gosto de chumbo descarregado de forma covarde e sem nenhuma palavra.
E, ali, antes de fechar os olhos para sempre, entendeu que ela não o amava, só queria seu corpo, pois se não, teria ficado com ele, e partilhado o gosto amargo e ardente das balas. Mas preferiu fugir pela janela, sem se importar com a altura de nove andares.
Assis Silva
Por que a pressa na vida?
A eternidade está há um passo
e nela não há tempo que passe
nem momento que se acabe.
Por que a pressa na vida?
A eternidade está há um passo
e nela não há pressa que passe
nem correria que se acabe.
Por que a pressa na vida?
A eternidade está há um passo
e nela que não há vida que passe
nem vida que se acabe.
Por que a pressa na vida?
A eternidade está há um passo
e nela não há passado que passe
nem presente que se acabe.
Assis Silva
não farei declarações nos telhados
nem modelarei de corações as nuvens,
o amor não precisa disso.
Devagar deixarei que os momentos
estacionem e depois os deixarei partir
como o trem, pois sei que depois voltarão
e neles novamente entrarei.
Amar-te-ei devagar eternizando cada
momento, brincando de modelar o tempo,
de fazer e refazer a vida.
Amar-te-ei devagar...
Devagarinho.
(ASSIS SILVA)
Só desejo uma coisa:
habitar no santuário do Senhor...
...Seu coração.
Pois é melhor buscar refúgio no amor
do que pôr a esperança no rancor.
Digo-te: vem e segue-me
— Acompanhando-me do lado —
e eu te farei
pescadora de versos
construtora de estrofes
arquiteta de poemas
engenheira de emoções.
Assis Silva
Eu estava em frente da minha casa observando as crianças brincando. De repente um homem me abordou com uma pergunta: “estou procurando uma casa para morar neste bairro, mas não estou certo de sua tranquilidade; esta rua é tranquila?”. Olhei para o homem e depois, novamente, dirigi meu olhar para as crianças. Disse apontando para elas: “olhe, perceba que não tem nenhum pai ou mãe as vigiando. Em uma rua onde as crianças brincam, pode ser perigosa?”. O homem abriu um sorriso, apertou minha mão e disse: “prova melhor que essa não há, obrigado!”. O homem saiu satisfeito com o que observou, e eu fiquei contente com o que já tinha observado a tempos: que as crianças são um indicador da tranquilidade de uma rua.
Assis Silva