Posts de CLAUDIO ANTONIO MENDES (61)

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O VENTO NA MESMA DIREÇÃO

Eu quero ser feliz contigo em lugares

Distantes

E te adornar com os mais belos colares

De diamantes

Onde se cruzam os nossos olhares

Excitantes

Se beijando sob os mais belos luares

 

Pena que todo sonho azul no amanhecer

Acaba

E toda a magia que a gente vier a tecer

Desaba

Sobre a ilusão de que é possível ter prazer

E se gaba

De, ao menos por segundos, viver

 

E o sol, no meu quarto, além da janela

Se descortina

O vento na mesma direção leva a caravela

Rotina

E a realidade pelas estreitezas da viela

Assassina

A fantasia que torna a vida mais bela

 

(Cláudio Antonio Mendes)

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CINZAS

Assim que tudo se transformar em cinzas

Vou encher meus pulmões de gases tóxicos

Mas a lembrança que lateja em meu cérebro

Dá-me a certeza de que nem sempre foi assim

 

As manhãs de sol preguiçoso no lado leste

E a feira nos vendendo frutas e convivências

Tangendo um viver tão simples e tão sincero

Fragmentos de um céu possível entre os montes

 

As tardes de trabalhos e observações quando eu

Esse eu que talhou madeiras e palavras em versos

Para construir o mundo objetivo e subjetivo

Para amparar corpos e almas da minha espécie

 

E as noites que chegavam sem nos amedrontar

Sem precisarmos lutar contra nossas sombras

Ou então viajar pelo portal de um copo de veneno

Em bares ou em lugares nada recomendáveis

 

O cinza da aridez de uma paisagem que morreu

É tudo que tenho além das doces lembranças

Em dias que o pão não passa de uma saliva seca

Engolida junto com a lágrima que desceu ao acaso

Pelo sulco no rosto que já recebeu carícias de tuas mãos

 

(CLÁUDIO ANTONIO MENDES)

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NO INTERLÚDIO

 

Verter lágrimas no interlúdio de dois beijos

Para diferenciar os encontros entre os lábios

Pois cada beijo tem sua história ainda que

Aprisionados a um mesmo encontro

 

Nem você e nem eu sabe explicar o amor

E muito menos o que nós dois sentimos

Apenas nos entregamos à magia que surge

Entre nossos olhares no findar do dia

 

Conhecer a verdade não vai ajudar o vento

Que sopra sobre a pele acariciada pelas mãos

Fazendo as certezas se perderem num turbilhão

Que se forma na mente em busca de uma razão

 

Nem a noite e nem a ampulheta quer saber

Do tempo que costura os nossos momentos

Formando uma colcha de retalhos e encantos

Para cobrir nossa timidez e toda intimidade

 

(CLÁUDIO ANTONIO MENDES)

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ALGEMAS DA VIDA

O amor bate em minha porta abruptamente

Grita meu nome em sussurros que fazem caracóis

Diante dos meus olhos tristes

 

Nem percebo que posso ser feliz abraçado ao carinho

De mãos renovadas, ornadas com ousadia

Enquanto a noite grita por socorro em becos urbanos

 

Faz frio em dias de sol constante

Mas um fogo em meus espaços ocupados crepita

Nem a fuligem de uma cidade que se mata

Consegue sufocar certas bolhas de vida

 

O olho de um sonho me sonda diante das janelas entreabertas

Na noite que se fecha como uma caixa de presente

Guardando dentro de si os planos de um homem

 

Nem arrisco entender como a vida me algema

Para escrever em minha cela que a liberdade vale muito

Deixando-me por alguns momentos ter asas

 

Temo abrir a porta para deixar os sentimentos entrarem

Com seus sapatos sujos de esperança quando caminhavam

Pelas mentes inocentes de jovens tateando as trevas ao dia

Sem saber que existe um preço por cada instante de aventura

 

Enquanto tento me proteger das visitas incessantes

Em meu coração cansado de iludir-se pelas veredas da vida

Não percebo que uma estranha sensação me domina por inteiro

 

 (CLÁUDIO ANTONIO MENDES)

 

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O TEU JEITO VORAZ

 

Quando o meu olhar furta tua atenção

Você se desmancha como fumaça

Derrama-se em meus braços para ser

Possuída pela minha ânsia de paraíso

 

O beijo tão perto das palavras que tencionam

Serem partes de um verso profundo

Minhas mãos em tua pele que borbulha

Sedução abrupta saindo dos teus poros

 

Cada toque de tuas unhas sobre meu peito

Dispara um alarme sensível no meu ser

Meu desejo sai para caçar a presa esperada

Pelas entranhas do teu corpo latente de prazer

 

Tempo e espaço já não nos limitam mais

A eternidade jorra nos cantos do teu olhar

Teu hálito fresco devora minha essência em chamas

Eu não sei dizer mais qual é minha agenda

Para o dia seguinte

O teu jeito voraz de amar desmarca qualquer compromisso

 

 (CLÁUDIO ANTONIO MENDES)

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O AMOR É QUE COMANDA

 

Nada vai roubar-me a esperança essa noite

O vento lá fora é sinal que vou chorar muito

E não adianta pensar que isso é de tudo ruim

O vento lá fora é o ladrão que vem decepar

Os galhos de um amor que viceja em nós

 

É preciso contar para as fotos antigas segredos

Guardados a sete chaves dentro dos detalhes

Que a vida atropela em sua arrogância e pressa

Quando a meta é alcançar o horizonte inatingível

E os passos cansados tropeçam em vazios

 

Tudo em meu peito se harmoniza com a noite

Apenas o vento lá fora parece fora de sintonia

A canção que faz arrepiar quem quer sorrir

Apenas o vento lá fora não entende de alegria

E insiste em levantar poeiras dissonantes

 

É preciso cantar os versos dos velhos poetas

E deixar registrado sobre lençóis e tapetes

As novas rimas dos nossos corpos ardentes

Para que o vento lá fora saiba que aqui dentro

O amor é que comanda cada gesto e cada palavra

 

(CLÁUDIO ANTONIO MENDES)

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EM NOITES DE CAÇA

EM NOITES DE CAÇA

 

Sinto suas unhas cavando em meu íntimo

Fuçando na lama das minhas angústias

Procurando por pérolas que eu nem sei

Se meu peito é digno de esconder tesouros

 

Sinto seu odor invadindo minhas narinas

Desinfetando-me de toda dor e vingança

Trazendo ar límpido para dentro das veias

Tornando mais leve o bater do meu coração

 

Sinto sua presença em meu refúgio

Decorando as paredes com tons úmidos

Fazendo-me ver a beleza das manhãs chuvosas

E refazendo-me em cada tecido de células descompassadas

 

Sinto sim, o amor que me toma entre soluços

Resgatando-me da escuridão dos erros

Desenhando diante dos meus pés uma trilha

Que serpenteia entre pessoas e objetivos

Levando-me até aos seus lábios revigorantes

Onde renasço em noites de caça e calor

 

 

(Cláudio Antonio Mendes)

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BUSCANDO O AMOR

Ela se perfuma para encontrá-lo.

Ele escreve poemas para suprir sua ausência.

O feirante o vende entre os seus legumes.

 

Dizem que há amor na guerra

E na bomba que estraçalha vidas no metrô de Londres

Tanto na Santa Ceia quanto na traição de Judas

 

Amor era o que havia pela América Latina

No desejo de tecer a solidariedade entre os povos

Escorrendo nas veias abertas de Ernesto

 

Vão dizer que a mão invisível do mercado

Gosta de acariciar rostos ao som da inocência

E que a economia quando oferta e quando procura

Não é assim sem coração

 

Anjos solitários sobrevoam os becos da cidade

Em busca de alguém para que possam amar

Demônios entram em bares e pedem sedução

Em taças flamejantes para atrair suas presas

Eu fico aqui, diante do mais puro amor

Que encontro quando você me sorri com os olhos.

(CLÁUDIO ANTONIO MENDES)

 

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TUA AUSÊNCIA

Ainda que a noite me fosse clara

Sem o frescor do teu aroma por perto

As flores lá fora nada dizem para mim

 

Ainda que a lua tentasse me namorar

Ou me inspirar o mais profundo poema

A grama do jardim está cinza sob meus pés

 

Tua ausência é sentida por tudo aqui em casa

E até as paredes de pedra choram comigo

Meus suspiros ecoam pelos corredores

Enquanto os tapetes se escondem pelos cantos

 

A comida está sem tempero, a água não hidrata

O guarda roupa esconde as camisas que quero usar

E até o espelho se recusa a refletir meu rosto triste

 

Se você não quer mesmo voltar para mim

Devolva então a essência das coisas que ficaram

Tudo que eu preciso parece ter ido com você

E muito de você ficou aqui comigo

 

Se você não quiser mesmo voltar para mim

Mande-me ao menos a magia da noite

Para acalentar-me na tortura da solidão

Tornando mais leve o fardo do açoite

(CLÁUDIO ANTONIO MENDES)

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LENÇÓIS MÁGICOS

Mais um pouco de silêncio no coração

E o paraíso será alcançado no seu todo

A voz que me trazia desespero

Há pouco se evaporou entre os montes

 

Meu sonho alegre abre um sorriso

Enquanto bato à porta do amor

Basta você se destravar por dentro

Ao ouvir os toques suaves da sedução

 

Não amo apenas para ser um louco feliz

Mas para me revigorar ao me nutrir

Do sangue supremo da poesia alada

Que voa em meu entorno desde sempre

 

Quero agaiolar o canto mais poético

Que acaricia meus ouvidos durante a noite

Para ter a liberdade de saltar as horas duras

E mergulhar no mais profundo lago do prazer

 

A plenitude abre-me os seus longos braços

Para me abrigar em seu imenso manto

Onde os poetas adormecem com a mente em transe

Amando sem pudor sobre os lençóis mágicos

 

(CLÁUDIO ANTONIO MENDES)

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NA TARDE DE DOMINGO

Pensar em você na tarde de domingo

É ter uma saudade latente no peito

Imprimir os meus versos já engavetados

E vender o que resta dos meus farrapos

 

Pensar em você na tarde de domingo

É esperar que novembro fosse chuvoso

Que o trem atrase para eu ir embora

Que o amor me dê mais uma chance

 

Pensar em você na tarde de domingo

É caminhar sobre cacos da solidão

Que espatifei várias vezes sobre o tapete

Mas que renascia em meu peito toda vez

 

Pensar em você na tarde de domingo

É beber no cálice do arrependimento

A angústia da falta que você me faz

É lamentar cada erro que eu cometi

 

Pensar em você na tarde de domingo

É declarar meu amor por você em alta voz

E ter apenas as paredes como testemunhas

Dos meus temores em ver a noite chegar

E me engolir com sua boca ardente e faminta

 

(Cláudio Antonio Mendes  / 05-11-17)

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ESTILHAÇOS

O vento seco não importa

A porta segue aberta

Aguardando a tua volta

 

A saudade arfando no peito

Eu no meu desajeito suspiro

E me inspiro em minha tristeza

 

Sobre a mesa o velho caderno

Embriagando-se com meus versos

Morrendo de cirrose celulósica

 

O latido do nosso velho cão

Acuando a agonia que ronda

O singelo casebre que te espera

 

Tua partida foi o fim de várias coisas

A caneca com resquícios do último café

Quis se fazer em cacos jogando-se contra a parede

Misturando-se ao vidro do nosso retrato

 

O vento seco bafeja em meu rosto

Escombros do nosso castelo de sonhos

Mas eu vejo nos estilhaços do espelho

A mão da esperança me pedindo calma

(Cláudio Antonio Mendes)

 

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AS PEDRAS QUE PAVIMENTAM

O que você pensou da flor pisoteada?
Estavam lá sobre as pétalas as digitais
De todos os burocratas com seus papéis
Mas eu não me reconheço dentro de uma gravata!

O que você admira nos amores em cacos?
As gotas de sangue e amargura que se seguem?
Não abrace apenas para ficar bem na selfie
O que de fato é bom nem sempre é eterno

O que você olha tanto para o infinito nessa manhã?
Eu não procuro agulhas em palheiros
E nem palitos no fundo de um paliteiro
Mas a verdade debaixo do relâmpago universal

O que você escreve nas folhas das tardes tristes?
Sei que seu poema não tem rima, mas tem encanto
E que as poeiras da sua estrada cintilam diante de ti
Mas não me invejo de você em minha falta de lucidez

Piso macio sobre as pedras que pavimentam minha rua
Tendo cuidado com minhas pegadas rudes
Esmagando histórias que se entrelaçam a cada segundo
Eu tento matar o meu erro ainda em gestação

Cláudio Antonio mendes

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CPP