Posts de Cristina Maria Afonso Ivens Duar (295)

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Felicidade por um dia

Embora às vezes eu não tenha a certeza
de que a felicidade um dia acontece
há lugares em que não mora a tristeza
momentos que a gente não esquece.

É um vale aonde costumo ir respirar
e cheirar aquele pozinho que faz rir
que me esqueço por um dia de chorar
e agradeço à felicidade por sorrir.

Afinal a felicidade sempre existe
em lugares aonde o cheiro faz  magia
sobre um rosto, um sorriso não resiste
a um sonho e cheirinho a fantasia.

Para lá caminho e me esqueço de voltar
aquele pozinho que me droga e apaga
não importa se por um dia eu não acordar
na felicidade que me inunda e afoga.

Cristina Ivens Duarte

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Áureas

Áureas

Com as minhas primaveras, os meus cinco sentidos
ainda não me inibem de admirar determinadas luzes,
que na paz do silêncio me fazem deslumbrar o belo e a 
harmonia das cores, que se espalham como sombras
nas íris dos meus olhos, ansiosos por algo diferente
e estupidamente encantador.
Algo angélico em que eu lhe poria asas, para voar aos céus
e desmistificar toda a controvérsia, sobre a existência
de anjos ou não.
Perturbadoras e exuberantes seriam as nuvens, voadas
por criaturas com áureas que as tornam únicas, contornos
tão perfeitos que fazem babar os cantos das nossas bocas.
Mas belo seria também, se os nossos interiores fossem igualmente
assim, como se um diáfano manto cobrisse os nossos corpos
e as duas faces ficariam completamente expostas.
Seriamos almas descobertas e livres, isentas da dúvida
se o nosso coração também é lindo ou não.
Cristina Ivens Duarte
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Palavras para quê

Palavras para quê

Palavras para quê, se eu quero é sentir
me sinto em jejum se não há sentimento
é o toque que embala e deixa dormir
é fome que fala e dá alimento.

É ceia empratada em travessa de lençol
mistura de ternura com tempero a prazer
é corpo que sua com tanto desejo
um cheiro a loucura dá vontade de comer.

Palavras para quê, se eu quero é amor
um beijo, um carinho e um abraço profundo
não cansa, não magoa, nem causa dor
a toda hora, ao minuto e ao segundo.

Cristina Ivens Duarte.
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Utopia à meia noite

Utopia à meia noite

À meia noite o tempo pára
banho-me em leite para uma utopia
a pele amacia enquanto te espero
sou a tua grega em fantasia.

A noite passa e o leite esfria
fecho as cortinas e acendo as velas
sinto que o ar não tem magia
espalho na cama rosas amarelas.

Oiço um trote vindo do além
seminua corro até à porta
vejo uma sombra montada a cavalo
quando a minha alma já estava morta.

Um mensageiro trazia uma carta
um coração desenhado a cavalgar
senti um coice do meu cavaleiro
que partiu, em vez de me amar.

Agora sonho incessantemente
que estás entre gregos e troianos
numa arena a lutares por mim
até ao fim dos teus anos.

Cristina Ivens Duarte
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Sou um velho muito bonito

Sou um velho muito bonito

Passei pela fonte do tempo
deixei a juventude para trás
nas intempéries e contra tempos
tornei-me neste velho rapaz.
Na terra encontrei o meu sustento
e acalmei um estômago em rebuliço
a enxada, a foice, o cajado
foi o meu suor, não foi feitiço.
E se repararem bem na minha pele
está cheia de estradas bem vincadas
algumas sementes ainda lá estão
fiquei com as mãos calejadas.
As unhas sujas!..quero lá saber!..
os olhos nunca perderam a tristeza
parece que estou a sorrir
este meu retrato está uma beleza.
Até o cigarro me fica bem
sou um velho muito bonito
como a velhice e trabalho combinam!..
já viram o chapéu?..nunca me tinham visto.
Pareço aquele actor de cinema
o Paul Newman, mas ele faleceu!..
O meu bigode está branquinho, bem cuidado
nunca me vi sem ele, sou um velho afortunado.

Cristina Ivens Duarte
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Sua "Alteza"

"Sua Alteza"

É difícil esquecer-te tão cedo
quando te vi no jardim da Celeste
tão linda que mantive em segredo
um sonho que um dia me deste.

Colheste uma flor cor de rosa
combinava tão bem com a tua pele
senti ao longe a relação amorosa
de uma abelha que tem com o seu mel.

Os meus olhos cobiçaram os teus
delicados como tecido de tule
fez-me lembrar que só o meu Deus
tinha uma cor assim azul.

Vou-te por um nome à tua altura
vais pertencer à realeza
e juntamente com a tua doçura
te chamarei, "Sua Alteza".

Cristina Ivens Duarte

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Há sempre alguém

Há sempre alguém que poisa em nós

porque se sente bem à nossa beira

são ventos vindos de outras mós

que nos refrescam a vida inteira.

São arfadas de ar fresco

que desabotoam o nosso olhar

deixam nos olhos um poema

de um pássaro na mão a poisar. 

É alguém bastante afortunado

dentro dele existe um belo ninho

tem um pozinho abençoado

que faz feliz o passarinho.

Para tal é preciso ser especial

há que ter um beiral de faiança

o coração tem de ser de cristal

e o sentimento, de criança.

Cristina Ivens Duarte

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Contigo é sempre verão

Contigo é sempre verão

Conheço o teu corpo de lés a lés
beijo-te a alma da cabeça aos pés
és sereia na praia com sabor a sal
o teu bronze dá-te um toque sensual.

Queria acordar contigo à beira mar
desenhar o teu corpo na areia branca
os búzios seriam jóias, as algas, a tua manta.

E nas ondas do mar faria
uma linda história de amor
com os teus belos cabelos ao vento
me perdia no pensamento.

Contigo é sempre verão
és praia o ano inteiro
nunca muda a estação.


Cristina Ivens Duarte
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A abelha solitária

A abelha solitária

Sou uma abelha que se perdeu
não há pólen na minha pele
pareço a pobreza a pedir esmola
por uma palavra a saber a mel.

Ando perdida da colmeia
perdi o rasto da rainha
se uma aranha me apanha na teia
sou uma abelha na sua cozinha.

Queria tanto ter um favo de mel
para encostar a minha boca
disfarçar o sabor a fel
e beijar até ficar rouca.

Sinto-me tão só e perdida
de palavras a saber a amor
abraços com gosto a canela
e beijos com cheiro a flor.

Queria encontrar uma vespa
que soubesse sonhar comigo
mais vale um amor voador
do que mendigar um amigo.

Cristina Ivens Duarte
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Quando choras

Quando choras

Quando choras as marés sobem
parece que o mundo chora contigo
é um soluçar que alaga os campos
enche os rios e destrói o trigo.

E eu não suporto ver-te a chorar
parece que sinto a terra a abater
não sei se é dor ou deixas-te de me amar
ou simplesmente preferes morrer.

Porque me expões a esta angustia
e não me explicas o teu sofrer
diz-me só que é um cisco no olho
que eu peço ao mundo que pare de chover.

Não chores amor por favor
deixa-me salvar-te dessa tristeza
eu sei que a chuva não te põe assim
e o meu amor por ti, eu tenho a certeza.

Cristina Ivens Duarte
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Quinze anos de rega

Quinze anos de rega, de poda, o nosso amor ainda sobrevive.
Foi difícil acertar nos sulfatos, nos pesticidas, matar as formigas,
os gafanhotos, não deixar criar borbotos, manter o substrato,
tornar intacto, o nosso amor.
Muitas ervas daninhas eram nossas vizinhas, cortamos relações,
comiam-nos os pulmões, o estrume que era difícil de cheirar,
tivemos que nos acostumar, conservar as raízes, fazê-las felizes.
O pior foram as tempestades que nos faziam maldades e nos afundavam
em palavrões, fulminava-nos com trovões que nos deixavam tão feridos
sem nos falarmos oito dias seguidos.
Mas o nosso amor era tão grande que as raízes choravam e nos alertavam
que estavam apodrecer.
Assim que a tempestade passava e o sol raiava, punha-mos o amor a secar,
embrulhava-mo-nos num cobertor, fazia-mos amor.
Quinze anos depois aprendemos a controlar tempestades, com para-raios,
para-ventos, continuamos sedentos.

Cristina Ivens Duarte

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Vesti a pele de sentimentos

Vesti a pele de sentimentos

Vesti a pele de sentimentos
e despertei os meus sentidos
deambulei a noite inteira
a ouvir os meus gemidos.

Acordei junto ao rio
todo coberto de nevoeiro
foi ele que me invadiu
e beijou-me o corpo inteiro.

A lua estava presente
viu-me nua e amada
com ciume ela sumiu
o nevoeiro da alvorada.

Era noite de lua cheia
ela uivava como louca
tornei-a em meia lua
com um beijo na boca.

Veio o sol que a levou
e a tornou minguante
porque um dia me senti só
e tive a lua como amante.

Cristina Ivens Duarte
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A minha mente estava doente

A minha mente estava doente

Desenhei a minha mente
num momento de loucura
quando ainda estava quente
percebeu a minha fúria.

Encolheu-se de medo
mas deixou-me aliviar
disse baixinho em segredo
estás doente, vai-te tratar.

Não lhe dei ouvidos, fiz uns
rabiscos sem conexão
senti-me tonta e desmaiei
deixei cair a mente no chão.

Levantei-a ainda quente
e mergulhei-a em água fresca
agarrou-me pelos cabelos
e chamou-me de grande besta.

Aquele nome ficou-me gravado
entretanto resolvi tratar-me
mediquei-me de uma só vez
e brindei à felicidade.
Cristina Ivens Duarte
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Beijam-se os montes

Beijam-se os montes

Beijam-se os montes ao cair da noite
por amores perdidos que ali passaram
ventos cortantes abrem suas bocas
e deixam marcas que em tempos amaram.

Amaram-se eternamente
naquelas escarpas escaldantes
com os seus corpos desnudados
são agora montes e dois amantes.

E as marcas do tempo ficam para sempre
mesmo em pedra firme e tempo quente
porque do amor o vento não esquece
escava beijos que são para sempre.

E na tentativa de querer beijar
chega a sombra de mansinho
sobre o monte a querer sonhar
repousa a boca com um beijinho.

Cristina Ivens Duarte
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Eu e o meu mar

Eu e o meu mar

Há um lugar em que o chão se abre
e os pés se enterram ao sonhar
com as ondas, costumo ir
e com as gaivotas, costumo voar.

O som me acalma e invade o corpo
e a pele crepita com o sol a queimar
percorro a areia com pés de veludo
com o meu vestido, da cor do meu mar.

Os búzios chamam-me com o subir das marés
sinto a força do mar a bater-me nos pés
olho o céu e vejo, tudo o que é sagrado
oiço asas a bater, sinto o tempo mudado.

O regressar deixa saudades
o areal, as tempestades
as conchas esquecidas em céu aberto
e eu aqui perdida, com o meu mar tão perto.
Cristina Ivens Duarte


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Florbela

Florbela

Acalma-te amor, não chores
a missão de te fazer feliz é minha.
És a minha querida, a minha vida
quem chora por ti sou eu.
Eu canto para ti no meu colo
embalo e choro.
Encosta-te a mim que eu soluço
soluço, por ti.
Expulso os amargos de boca
que te deixam rouca, cansada.
Descansa que eu faço tudo
por ti, te meto na cama
vais-te sentir amada.
Acalma-te amor, eu estou aqui
consolo, te adoro
adormece por um segundo
em paz, não demoro.
Vou só ali à janela
a rosa chamou por mim
fez um perfume com o teu nome
"Florbela".

Cristina Ivens Duarte
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Um coração partido

Um coração partido

Mergulhei pelo meu corpo a dentro
num momento de devaneio
chorei bastante lá dentro
vi um coração partido ao meio.

Por isso me ardia bastante
naquela zona do meu externo
os fumos causavam o efeito
de um sentimento de inferno.

Naquele sangue em ebulição
afastei as vísceras com as mãos
e com a suavidade de um beijo
remendei o meu coração.

Na forte corrente sanguínea
como um mar em revolta
vim pelo meu corpo a cima
e desmaiei, senti-me morta.

Era a pressão que estava alta
bateu-me forte na cabeça
no meu corpo me afundei
em lágrimas e tristeza.

Cristina Ivens Duarte
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O meu cúpido

O meu cúpido 

A juventude passou por mim
nem contei os meus amores
e o meu nome ficou assim
chamavam-me Maria Das Dores.

Mas Maria não era o meu nome
de dores eu padecia bastante
o amor que eu queria para mim
vivia num lugar bem distante.

Os anos foram passando
à espera de ser conquistada
surgiu um gaiato vestido de preto
e perguntou-me se eu era casada.

Incomodada perguntei-lhe
se ele vinha de algum funeral
ele sorriu mas infeliz desabafou
que a vida lhe tinha corrido mal.

Contou-me que era viúvo
e que sofria de solidão
tirou uma aliança do bolso
e colocou-a na minha mão.

O nosso olhar se cruzou
até que o cupido me atingiu
o lindo viúvo me abraçou
e o meu peito bateu e sentiu.

Cristina Ivens Duarte

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Os meus cabelos brancos

Os meus cabelos brancos

Se os meus cabelos brancos falassem
diriam-me para não os pintar
que a tinta apaga a história
e do passado não posso falar.

São brancos os meus cabelos
têm cor de mulher vivida
foi o tempo que passou por mim
abençoada e amargurada vida.

Fui benzida com esta cor
cor do tempo que passou
a felicidade ainda mora
apenas o cabelo mudou.

A vida começa agora 
agora de cabelos grisalhos
vou subir todas as árvores
quebrar todos os galhos.

Os meus cabelos brancos
anseiam por um amor eterno
que os penteiem com carinho
numa linda noite de inverno.

Cristina Ivens Duarte
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Um amor diferente

Um amor diferente

Suspirei de amor e refresquei a alma
até ao dia em que fui Mãe
agora é fogo, é dor que arde
por um amor que só eu sei.

Um menino encantador
ocupou o seu lugar
repousei do outro amor
porque este me faz sonhar.

É sangue do meu sangue
é carne da minha carne
ainda o sinto no ventre
e o meu útero ainda arde.

Romeu e Julieta
foi história, foi brilho
agora mudei de letra
é poesia para o meu filho.

O antigo amor permanece
só está em banho maria
é um amor que não arrefece
mas primeiro está a minha cria.

Cristina Ivens Duarte

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CPP