É difícil esquecer-te tão cedo
quando te vi no jardim da Celeste
tão linda que mantive em segredo
um sonho que um dia me deste.
Colheste uma flor cor de rosa
combinava tão bem com a tua pele
senti ao longe a relação amorosa
de uma abelha que tem com o seu mel.
Os meus olhos cobiçaram os teus
delicados como tecido de tule
fez-me lembrar que só o meu Deus
tinha uma cor assim azul.
Vou-te por um nome à tua altura
vais pertencer à realeza
e juntamente com a tua doçura
te chamarei, "Sua Alteza".
Cristina Ivens Duarte
Há sempre alguém que poisa em nós
porque se sente bem à nossa beira
são ventos vindos de outras mós
que nos refrescam a vida inteira.
São arfadas de ar fresco
que desabotoam o nosso olhar
deixam nos olhos um poema
de um pássaro na mão a poisar.
É alguém bastante afortunado
dentro dele existe um belo ninho
tem um pozinho abençoado
que faz feliz o passarinho.
Para tal é preciso ser especial
há que ter um beiral de faiança
o coração tem de ser de cristal
e o sentimento, de criança.
Cristina Ivens Duarte
Quinze anos de rega, de poda, o nosso amor ainda sobrevive.
Foi difícil acertar nos sulfatos, nos pesticidas, matar as formigas,
os gafanhotos, não deixar criar borbotos, manter o substrato,
tornar intacto, o nosso amor.
Muitas ervas daninhas eram nossas vizinhas, cortamos relações,
comiam-nos os pulmões, o estrume que era difícil de cheirar,
tivemos que nos acostumar, conservar as raízes, fazê-las felizes.
O pior foram as tempestades que nos faziam maldades e nos afundavam
em palavrões, fulminava-nos com trovões que nos deixavam tão feridos
sem nos falarmos oito dias seguidos.
Mas o nosso amor era tão grande que as raízes choravam e nos alertavam
que estavam apodrecer.
Assim que a tempestade passava e o sol raiava, punha-mos o amor a secar,
embrulhava-mo-nos num cobertor, fazia-mos amor.
Quinze anos depois aprendemos a controlar tempestades, com para-raios,
para-ventos, continuamos sedentos.
Cristina Ivens Duarte