Posts de FRANCISCO JOSÉ TÁVORA (162)

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COMEÇO E FIM

 

 

A racionalidade nos aparta

Pertencemos a mundos distintos

Trilhamos diferentes caminhos

A bússola que nos orienta

Perdeu a imantação

Deixou-nos desnorteados

No turbilhão de uma paixão

 

Buscamos o absoluto nos sonhos

descobrimos a cumplicidade

De nossos corpos, almas e vontades

Mas esbarramos na razão

No pesadelo da impossibilidade

Nas coisas da vida como elas são

 

A  realidade é inexorável

Nossos desejos nunca realizados

Para nós continuarão transcendentes

Sem começo e fim

Restando apenas a cumplicidade

Nos sonhos que não se apagam

E nas utopias que se desfazem

 

F J TÁVORA

Saiba mais…

PESSOAS SÃO

 

As pessoas são  aquilo que são

Dificilmente mudam

Assim chegam

Assim partem

 

Devem ser aceitas como são

apesar do que dizem

do que pensam

do que fazem

 

De serem como são

Mesmo que não reúnam

O que idealizamos elas devam vir a ser

O que  em realidade elas nunca serão

 

F J TÁVORA

 

Saiba mais…

ANDO

 

Ando perdido no presente

À procura de um passado

Já quase esquecido, esmaecido

Pelas brumas do tempo

Nos dias cinzentos por demais curtos

E nas noites insones que não terminam

F J TÁVORA

 

 

 

Saiba mais…

AMORES

 

Alguns amores foram e não mais são

Perderam-se ao longo da vida

Outros, contrariamente

São sem nunca terem sido

Nasceram de um rompante onírico

São fantasias de uma alma carente

ou paixões de um coração ardente

De tão renitentes parecem verdadeiros

Mas há muito deixaram de ser sonho

E desde então viraram pesadelo

 

F J TÁVORA

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ORA ESSA

 

Sinto uma angústia na alma deserta

Como se vazia estivesse

Sinto um dolorido sem trégua

E você de mim não desprega,

ora essa

 

A minha memória arresta

Me torna  mendigo sem  pressa

Como um animal na floresta

Livre mas preso,

ora essa

 

O sabor de teu corpo desperta

Desejos de macho completas

Carinhos de fêmea libertas

Os delírios de meu prazer,

ora essa

 

Fico aturdido a pensar

Que  preço  ainda  terei de pagar

Por ter sido incauto ao te  amar

E deixar-te meu coração escravizar

Numa paixão singular,

Ora essa

F J TÁVORA

Saiba mais…

VOCÊ

 

Tenho seguido teus passos

Teus escritos, teus achados

O que te vai na alma

Tuas alegrias e lamentos

Amores ganhos e perdidos

O que a vida fez contigo

 

Sinto um amor desmedido

Uma paixão incontida

Um desejo, uma vontade

De  estar bem junto a ti

Viver mágicos momentos

Dividir urgências contigo

 

Hoje  alimento um sonho

Acolher-me em tua vida

Pra  curar minha desdita

Em troca serei teu  servo

A satisfazer teus desejos

Explorar os teus encantos

Cobrir teu corpo de beijos

 

F J TÁVORA

Saiba mais…

AO DEUS DARÁ

 

 

Tenho andado arredio

 Vendo o tempo passar

Lendo sem assimilar

Dormindo sem sonhar

Falando sem pensar

Sem alguém a me escutar

Perdido nesta vida

Caminhando ao Deus dará

Perto da chegada

Longe da partida

Esperando o final  chegar

 

F J TÁVORA

Saiba mais…

OLHA SÓ NO QUE DEU

 

Outro dia nasci

Com o tempo cresci

Depois envelheci

 

Não pedi para vir

Mesmo assim me trouxeram

Pra ser escravo do tempo

Que aprisionou meu existir

 

Que coisa chata é viver

Sabendo que vou morrer

E ainda há uma dúvida atroz

Depois, o que vai acontecer ?

 

F J TÁVORA

Saiba mais…

DESLEMBRANÇAS

 

Tenho  andado esquecido

das coisas simples da vida

Não lembro semanas a fio

De datas de aniversário

Dos meus entes mais queridos

Lugares antes visitados

Livros há pouco lidos

Nome de meus amigos

Até filmes assistidos

 

Uma mente que se esgota

Um presente sem futuro

E agora me roubam o passado

Restando um ente isolado ensimesmado

Com olhar vago e distante

Para um mundo sem coerência

A expressar meu abandono

Solidão, desesperança

 

Talvez não seja de todo

Um desastre, uma hecatombe

Quem sabe perversa ironia

Haverá vantagem nisso

Poder ver filme várias vezes

Sem lembrar de seu enredo

Ou até de como finda

Sentindo a mesma emoção

Renovada a cada sessão

 

Ler belos romances de amor

Ou uma antologia poética

Sem lembrar que já foram lidos

Cultuados e apreciados

Com os amigos discutidos

Hoje inteiramente esquecidos

 

Espero poder suportar

O fardo do alheamento

A crueldade do destino

E que venha a ter belos sonhos

Com a memória ainda viva

E reviva os mágicos momentos

Que passei  com meus amigos

 

Só mais uma coisa desejo

Que o tempo inexorável

Mercê, talvez, quem sabe

Da piedade de um mago

Encurte o meu padecer

E que a perda de memória

Não me torne um ser largado

Um corpo vivo sem alma

Um triste espectro de vida

Sem motivos pra continuar

A minha triste jornada

F J TÁVORA

Saiba mais…

INSANIDADE

 

Mando recados e espero relatos

Envio poesias e aguardo melodias

Sugiro ousadias e ouço ironias

Penetro no mundo da ilusão

e tropeço no reino da melancolia

 

Resta-me apenas imaginar

Como seria bom ter

a meiguice de teu olhar

a doçura de teus lábios

o aconchego do teu corpo

o carinho do teu afago

 

F J TÁVORA

 

 

Saiba mais…

LOUCURA

 

O que é o amor

Senão um sentimento profundo

Desprovido de racionalidade

Entrega sem reserva

Partilha sem restrição

Escravidão sem alforria

Sofrimento sem dor

Doença sem cura

Se há alguma razão na loucura

Não falta loucura no amor

 

F J TÁVORA

Saiba mais…

ALMA ETERNA

Será a morte o fim

Ou um simples despertar

Um renascimento

Um novo começar

A continuidade da alma

Entidade etérea, abstrata

Numa dimensão transcendente

Do corpo apartada

Sem cor, forma  ou aparência

Sem tempo, sem calendário

Sem esperas, sem demoras

 Sem direitos, sem obrigações

Sem lembranças, sem esquecimentos

Sem carências, sem saudades

Sem amor, sem piedade

Sem sentimentos

Em novo cárcere encerrada

No paraíso da eternidade

 

F J TÁVORA

 

 

Saiba mais…

POSEIDON


Sonho em sono agitado

Navego no  barco dos meus desejos

As  brancas  velas colhem os ventos da  bonança

A conduzir-me ao remanso das minhas enseadas

Resisto impávido à  turbulência

Dos mares bravios de tuas vontades

Preencho  urgências, carências, desejos

Rompo barreiras, sacio  vontades, paixões

Por fim, meu corpo  fundido ao teu

Descansa  sob a sombra do arvoredo de minhas ilhas

Perdido de amores, abandonado aos caprichos

Da  minha Nereida no paraíso de  meus oceanos

 

F J TÁVORA

Saiba mais…

A FAROFA DE OVO

 

Já era perto da meia noite. Estava cansado e dava por terminada   a rotina de  estudo daquele dia. O vazio da fome assolava meu estômago. Descobrira um único e solitário ovo na quase vazia prateleira da geladeira. Daí a ideia de preparar uma farofa de ovo. Busquei o apoio de meu irmão mais novo para reforçar o pedido à dona da casa, nossa mãe. Sem o seu consentimento não ousaríamos mexer no conteúdo da geladeira. Família grande combinado com poucos recursos financeiros exigia pulso forte de minha mãe no gerenciamento dos suprimentos alimentares da casa. Aprovado o uso do ovo com a participação de meu irmão na partilha da empreitada, restava-nos apenas o preparo da guloseima. De início pretendia comandar a operação de fritura  do ovo e posterior preparo da farofa. Meu irmão, embora mais moço,  com sua costumeira liderança e autoconfiança, convenceu-me a  aceitar tarefa secundária de “peneirador da farinha”. A ele caberia a nobre função de fritar o ovo na caçarola. Num átimo passou de  colaborador a protagonista. A farinha que dispúnhamos era de segunda, necessitando “peneiragem” para obtenção de um produto de melhor qualidade. Assim, de costas para o fogão e para o mano que cuidava da fritura do ovo, quedei-me junto à bancada da pia, concentrado em minha tarefa de preparo da farinha, com a natural insalivação, qual uma grávida em momentos de incontrolável desejo. De repente, não mais que de repente, o anúncio do desastre. A incompetência, a  inabilidade, a inaptidão, a  imperícia e, por fim, o destrambelho do mestre cuca  puseram por terra, ou  melhor dizendo, no chão da cozinha, sem qualquer possibilidade de resgate, o conteúdo do tão desejado ovo. Fiquei feito um babaca com a peneira na mão numa situação ridícula diante do olhar gozador do  outro irmão, espectador privilegiado do desastre ocorrido. Ao final a gozação maior pairou sobre minha figura babaca de vítima. O protagonista do desastre fora a um só tempo vítima e algoz, o que de certa forma o excluiu, em parte, da gozação.

Dormi com fome e devo ter sonhado com dúzias de ovos e fartura de farinha de boa qualidade a alimentar minha fome crônica.

Ao escrever esta singela história revivo, com muita nostalgia, momentos preciosos de minha vida, já bastante esmaecidos pelas brumas do tempo.

 F J TÁVORA

 

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EITA

 

Eita  que vida vazia

De vontades, de desejos

De esperança

 

Eita que vida repleta

De saudades, de esquecimentos

De lembranças

 

Ontem um jovem contente

Com olhar no auspicioso futuro

E venturoso presente

 

Hoje um velho marcado

Pelas  vicissitudes da vida

Sem presente, sem futuro

 

Eita que estrada comprida

Há muito percorrida

Perto da chegada, longe da partida

 

Para uns

Falta de boas lembranças

Plena de frustrações sofridas

 

Para outros

Plena de lindas recordações

Cheia de grandes conquistas

 

Eita que surpresa é a vida

Já prevista no seu caminhar

Para uns a doçura da sorte

Para outros a amargura do azar 

 

F J TÁVORA

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NATAL

 

Os cristãos o associam ao nascimento de um Deus menino, tangível, filho de um outro Deus, abstrato, etéreo, concebido em uma virgem humana, mortal, com a participação de um Santo Espírito.

A despeito do que apregoam os religiosos cristãos, o reconhecimento ou não da aceitação de sua divindade não diminui a importância de sua existência. O importante é que o Menino da história, seja ele Deus ou não, veio ao nosso  mundo e pregou o amor entre os homens. Sua história, propagada pelos seguidores, constitui  um sublime exemplo de vida a ser seguido pela humanidade.

Passados mais de dois milênios de seu nascimento, a humanidade continua a mesma com seus acertos e erros. Parece que seu exemplo não foi de todo absorvido. O amor entre pessoas e povos continua escasso. A maldade persiste na alma humana.

A data de seu nascimento transformou-se em grande evento comercial. Criaram até uma figura fulgurante, espalhafatosamente adornada com roupas chamativas a propagandear produtos comerciais. Papai Noel tornou-se a figura central da comemoração do nascimento do menino Deus, relevado a plano secundário na data de seu aniversário. O velhinho encantador, com sua simpatia, conseguiu ocluir por completo do coração e mente das crianças o real significado da comemoração.

Apesar da distorção, podemos tirar proveito da efeméride. Como o natal  ocorre próximo ao final do ano pode-se utilizar a data para que as pessoas se reúnam, principalmente as famílias,  e façam uma reflexão sobre suas vidas e, quem sabe, a partir daí venham a estabelecer novos objetivos e metas sintonizadas com o sonho acalentado pelo visionário aniversariante.

F  J TÁVORA

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NÃO

 

 

Não mais Chico  quero ser

Zé  também não

Talvez um outro

Quem sabe Orfeu

Um poeta a tocar e a cantar

Em  minha  Eurídice te transformar

 

 

Tocar  e cantar não bastam

Quero mais ser

Porque  não  Morfeu

A teus sonhos pertencer

Teu belo corpo envolver

Em meus braços te adormecer

 

F J TÁVORA

 

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VARAL

 

 

Menina do meu sonhar

Vizinha do meu pensar

No quintal de tua casa

Fico a ver tuas roupas íntimas

No varal a balouçar

 

Imagino ser o vento

a acariciar tua pudicícia

Roçar tua intimidade

Ser cúmplice de tua malícia

 

Ou quem sabe ser o sol

A aquecer tua formosura

Iluminar as tuas cores

Sonhar retalhos de teu corpo 

Render-me à escravidão dos teus amores

 

Elas são mui coloridas

Uma branca como a inocência

Outra preta como a lascívia

Mais outra vermelha como o sangue

Em tuas veias a correr

Por fim há uma linda rosa

Como o bem cuidado jardim

de teu lindo florescer

 

F J TÁVORA

Saiba mais…

DECLARAÇÃO

 

Queria ser para sempre

O parceiro dos teus sonhos

Penetrar teu imaginário

Desfrutar os teus encantos

 

Fingir-me desamparado

Pra despertar teus cuidados

E ser enfim contemplado

Com teus carinhos e afagos

 

Faltar encontros marcados

Pra me fazer valioso

E ganhar ao meu retorno

O sorriso no teu rosto

 

F J TÁVORA

Saiba mais…
CPP