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O Grande Segredo de Natal

Contos de Natal 2019

02 – O Grande Segredo de Natal

O avô, necessitando de mais tempo para conseguir estruturar a história que acabou de inventar para contar à neta Matilde, pede-lhe que lhe arranje duas torradas para acompanhar com o café. A menina, na sua ingenuidade de criança, nem sequer desconfia das verdadeiras razões do avô, o que também pouco lhe importaria, desde que isso signifique poder sentar-se no seu colo e ficar a deliciar-se a ouvir mais uma linda história, enquanto a lenha vai estalando na lareia.
Matilde esmera-se em arranjar o pequeno-almoço, duas torradas para ela e outras duas para o avô, só que enquanto as delas levam mel por cima, as do avô levam manteiga de cor. Coloca-as num bonito prato, o qual é colocado sobre o bonito tabuleiro de madeira trabalhada pelas habilidosas mãos do avô Martinho, que por sua vez se encontra protegido com um bonito pano rendado, herança da falecida avó, ao lado do prato das torradas, um grande copo de leite bem quentinho, para ela e uma caneca de café de cafeteira para o avô:
- Avô, já posso levar o pequeno-almoço?
O avô percebe o sentido da pergunta, ou seja, a neta quer é perguntar-lhe se ele já está sentado na sua velha cadeira de baloiço, de modo a poder aninhar-se no seu colo e assim tomarem a primeira refeição do dia:
- Sim. Aliás, já tenho o estômago a dar horas.
A pequenita, enquanto leva o tabuleiro com todo o cuidado, vai-lhe dizendo:
- Oh avô, nunca consegui perceber essa história do estômago dar horas. Por acaso, tens algum relógio na barriga?
O avô acha graça ao comentário da neta, aproveitando a deixa:
- Boa ideia.
- Boa ideia o quê, avô?
- Este ano, vou mesmo falar-te da minha meninice, dos filmes que tanto gostava de ver, dos jogos que faziam a minha felicidade e dos provérbios populares.
- Boa, avô, adoro provérbios.
Matilde pousa o tabuleiro no mocho onde se costuma sentar, aninha-se no colo do avô, encosta a sua cabecita ao peito do ancião, olha-o nos olhos e diz-lhe:
- Bom apetite.
O avô Martinho delicia-se com as torradas feitas pela neta, desafiando-a:
- Acho que ainda vou comer mais uma torrada, mas agora feita aqui mesmo na lareira.
- Vais tu, e vou eu. Depois contas-me uma história, não contas?
- Sim.
Assim que acabam de comer a tão saborosa torrada, o avô Martinho pergunta à neta se já ouviu falar do Bonanza:
- Bonanza, avô! Isso é o quê?
O avô Martinho lá lhe vai contando um pouco da história da família Cartwright:
- Avô, tens por aí, alguns filmes desses?
- Sim. Queres ver um?
- Gostava.
Uma vez mais, o avô conseguia levar a neta a aceitar aquilo que lhe estava mesmo a apetecer, recordar alguns episódios de uma séria que lhe fizera tanta companhia na sua juventude, embora não ficasse com a certeza se era ele que tinha conseguido convencer a neta, ou se era ela que o levava a mostrar-lhe um pouco mais da sua vida. Era assim a pequena Matilde, um verdadeiro enigma:
- Avó, aquele tal de Hoss, devia ser boa pessoa. Não era?
- Se era, vou contar-te uma história que se passou comigo e com ele.
- Contigo e com ele! Tu conheceste o Hoss?
- Sim. Conheci-o a ele, ao pai e aos irmãos.
- Avô, olha que mentir é muito feio.
- Não estou a mentir, este é o meu grande segredo de Natal da minha vida.
- Está bem, conta lá o que se passou.
- Certo ano, por altura do Natal, eu andava muito triste por saber que os meus pais não tinham dinheiro para me poderem dar prendas, foi então que um amigo de meu pai que vivia lá na América, falou com o Hoss sobre mim, dizendo-lhe que eu não perdia um episódio do Bonanza. Ao saber que eu não iria ter prendas nesse Natal, o próprio Hoss veio a Portugal trazer-me uma prenda que ainda hoje guardo com todo o cuidado.
- Avô, mostras-me essa prenda?
O avô Martinho sabia que não seria fácil enganar a neta, pelo que se limitou a responder-lhe:
- Um dia, prometo-te que um dia te mostrarei essa prenda tão valiosa para mim.
Matilde já adormecera no colo do avô, não só por ter passado uma noite inteira sem dormir, mas também pela sensação de aconchego que o colo do avô, conjuntamente com o crepitar da lenha na lareira, lhe transmitia. Foi assim que se viu a sonhar que galopava no dorso do bonito cavalo de Joe Cartwright.

Francis D’Homem Martinho
02/12/2019

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Contos de Natal 2019 - I Jogo avô e Neta

Jogo Avô e Neta

 

Matilde viu chegar o novo dia sem ter conseguido adormecer, algo que nem a surpreendia, pois desde há já alguns anos que assim vem sendo na noite que antecede a entrada em cada mês de Dezembro. É verdade, há já alguns anos que a menina passa a noite do último dia de Novembro a esperar que a escuridão se vá, permitindo que a madrugada lhe vá entrando pela janela do quarto que tem reservado na casa do avô Martinho, e onde tanto gosta de passar o mês de Natal. Se durante o resto do ano, só lá vai quando as suas obrigações escolares lho permitem, já em Dezembro, ou até mesmo logo no final de Novembro, quando, como neste ano, o final do mês coincide com o fim-de-semana, muda-se em permanência para casa do avô.

A principal razão desta mudança no quotidiano da menina está nas bonitas histórias de Natal que o avô tomou como hábito contar-lhe durante todo o último mês de cada ano, umas inventadas por ele próprio, outras adaptando alguns dos mais bonitos contos de Natal, mas tendo, sempre, em atenção os gostos e os heróis preferidos da neta.

Assim que o dia começa a clarear e por calcular que o avô, o mais madrugador lá de casa, já deve andar de volta da lenha para a lareira, até porque o dia está mesmo como ela gosta, isto é, ora chove ora faz sol, o que significa que o avô irá mesmo ficar por casa, desce as escadas que conduzem do 1º piso, onde se situam os quartos, até ao piso térreo, onde fica a cozinha e o grande salão da lareira:

- Bom dia avô. Dormiste bem?

- Olá minha menina. Sim, dormi. E o meu anjinho?

Matilde coloca as mãos na cintura, fixa o olhar no avô e aguarda que este olhe para ela em busca da resposta:

- Não. Eu não dormi nada toda a noite, e a culpa é tua.

- Minha! Que mal fiz eu à minha princesa?

Matilde corre ao encontro do avô Martinho, agarra-se às suas pernas, puxa-o de encontro a si e diz-lhe:

- Não fizeste mal nenhum, habituaste-me foi a ficar acordada a sonhar com as tuas lindas histórias. Agora, como castigo, vou arranjar o pequeno-almoço, sentar-me no teu colo e ficar a ouvir a primeira história de Natal deste ano.

- Ah, já nem me lembrava que hoje é 1 de Dezembro.

- Não te lembravas! Deves julgar que me enganas. Aposto que até já sabes qual a 1ª que me vais contar. Este ano vais falar sobre o quê, avô?

- Matilde, eu estava mesmo a falar a sério, esqueci-me que dia era hoje. Devo estar a ficar velho.

- Não faz mal, avô, os velhinhos sabem muitas histórias, e quando não sabem inventam-nas, como tu fazes tão bem. Olha, já que ainda escolhestes as histórias deste ano, porque não aproveitas para inventares histórias sobre os jogos e filmes da tua infância, estás sempre a falar nesses tempos. Vou arranjar o pequeno-almoço, assim podes ir inventando a de hoje.

O avô Martinho não tem como lhe responder, há muito que se habituou à habilidade intelectual da neta para conseguir, sempre, atingir os objectivos que tem em mente. Assim, enquanto arruma os cavacos de madeira ao lado da lareira, vai começando a estruturar a história que dentro de escassos minutos irá contar à neta, sabendo que não descurar o tema do Natal, pois a pequenita não lho perdoaria.

É com um sorriso nos lábios que avô e neta se entregam ao seu jogo preferido, ele ir inventando histórias e ela a escutá-lo com toda a atenção.

 

Francis D’Homem Martinho

01/12/2019

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Desafio

Desafio

 

Ti Chico não é apanhado de surpresa com a pergunta da neta:

- Avô, amanhã, quando for almoçar a tua casa, posso lá ficar a dormir.

Se há coisas de que Ti Chico tem a certeza, uma delas é o motivo daquela pergunta. Todos os anos, desde que a menina começou a ter noção das coisas, que assim vem sendo, se durante o resto do ano, o visita aos fins-de-semana, sem nunca lá se querer demorar muito tempo, mas mal chega Dezembro, lá está ela a pedir à mãe que a deixe ficar em casa do avô Chico.

Não o faz pelas guloseimas, ela até nem é uma menina muito gulosa, mas sim por causa das histórias de Natal que o avô lhe conta, as quais, na maioria das vezes, são invenções de sua própria cabeça.

Na sua inocência própria de criança, Matilde, ainda nunca se lembrou de pedir ao avô que lhe conte histórias noutras alturas do ano, ou talvez o faça por temer que quando chegar o Natal, ele já não tenha mais histórias para inventar, das crianças temos de saber esperar tudo. Se há coisas de que ela gosta, as histórias de Natal do avô Chico, são uma delas.

É assim que Ti Chico se sente como que obrigado a começar a pensar, de imediato, que histórias irá inventar para, logo no dia seguinte, 1 de Dezembro, se sentar junto da grande lareira da sala e, ao som do crepitar da madeira a arder, convidar a neta a sentar-se no seu banco preferido, também ele saído das mãos e da habilidade do avô, deitar a cabecita nas suas pernas e dar inicio a um ritual que se manterá até ao ultimo dia do ano. É verdade, nem na noite de Natal, Matilde dispensa o avô daquele contrato selado a amor.

Ti Chico sorri, ao recordar como tudo aquilo começara, há precisamente 5 anos atrás, quando a neta tinha somente seis anos. Nesse ano, porque a menina fosse ainda demasiado pequena para perceber outras histórias, limitara-se a contar-lhe as tradicionais histórias infantis, embora lhes fosse acrescentando alguns pontos de sua autoria.

No ano seguinte, temendo que a neta lhe pedisse novas histórias, Ti Chico arriscou misturar as várias histórias que já lhe contara no ano anterior e ficou radiante por ver como a ideia resultou, o que o levou, no ano passado, a ir mais longe, isto é, inventar histórias onde as personagens históricas interagissem com a própria neta, o que fez as delicias da pequenota.

Agora, sente que o desafio é, maior, ainda maior, pelo que agradece o facto de a menina o ter avisado de véspera, o que lhe permite ganhar algumas horas de avanço, pois precisa encontrar novas ideias.

O desafio, ainda que não lhe pareça tarefa fácil, também, e sabe-o bem, não assusta, visto ter a consciência de que lhe bastará concentrar-se e logo alguma ideia lhe surgirá.

Foi isso mesmo que aconteceu na noite de ontem. Após o jantar, sentou-se à lareira, fechou os olhos e imediatamente uma ideia lhe ocorreu, pelo que começou, de imediato, a tomar algumas notas.

Agora, será só, pedir à neta, e a todos vós, que fechem os olhos e se deixem levar na viagem pelo maravilhoso mundo do Natal

 

Francis D'Homem Martinho.

30/11/2019

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História de Encantar

 

Amigos/as:

 

Estamos prestes a entrar no último dia de Novembro, isto é, muito em breve estaremos no encantado mês de Natal e porque, apesar dos meus mais de sessenta anos, continuo a adorar a magia do Natal, aqui vos deixo um convite para que também todos vós se deixem seduzir pelo encanto de tao linda quadra, principalmente porque se trata de uma quadra dedicada à família.

 

História de Encantar

 

Era uma vez um homem que vivia sozinho, todos diziam que ele tinha muito mau feitio.

Lá na aldeia onde ele morava ninguém gostava dele, mas a verdade é que também ninguém sabia dizer porquê.  Não se lhe conheciam amigos ou parentes.

Um dia, foi morar para aquela aldeia um casal que tinha um filho ainda criança, a sua casa ficava mesmo em frente da casa do tal homem.

Passados alguns dias de se terem mudado, o menino, perguntou á mãe:

- Mãe, quem mora naquela casa?

- Não sei filho, mas ali na mercearia disseram-me que é um homem muito mau.

O Pai que ouvia a conversa apressou-se a acrescentar:

- É verdade filho, também já ouvi, no café, dizerem que se trata de uma pessoa com muito mau feitio e que a sua casa é muito medonha, dizem que parece assombrada. Não te aproximes muito.

Os pais não conheciam bem o filho que tinham, quanto mais o tentavam assustar, mais despertavam a sua curiosidade. Os dias foram passando e o pequeno foi elaborando um plano.

- Bom dia.

- Olá meu menino, bom dia, quem és tu? Queres alguma coisa?

Afinal o homem não lhe parecia assim tão mau como diziam, até parecia ser bem-educado.

- Eu sou o Lourenço, moro na casa em frente, a minha mãe mandou-me pedir-lhe um pouco de sal. Pode emprestar-nos? A mercearia já está fechada.

- Claro que posso, entra, entra.

O garoto ficou sem saber como reagir, então e se o homem fosse mesmo mau e lhe quisesse fazer mal, este, vendo a hesitação do miúdo, disse-lhe:

- Já sei, tens medo de mim, já deves ter ouvido mil histórias a meu respeito. Tudo bem, espera aí, vou buscar o sal.

Deu dois passos quando ouviu o garoto.

- Não é preciso, deixe estar. Posso entrar?

- Claro que podes entrar, mas afinal queres o sal ou não?

- Não, eu inventei a história do sal, tinha curiosidade de o conhecer.

- Pois é, tinhas curiosidade e agora tens medo. Não é?

- É, sim senhor.

-Pois bem, podes fazer duas coisas, ou entras e mostro-te a minha casa ou vais-te embora.

O jovem ousou entrar e ia caindo de espanto, nunca vira uma casa tão bonita, afinal a história da casa medonha era mentira, se calhar como tudo o resto.

- Estás admirado não estás? Eu sei que toda a gente da aldeia pensa que tenho uma casa terrivelmente feia, Anda, vem daí comigo.

O espanto do jovem crescia á medida que ia descobrindo novas salas e quartos, mas nada comparado quando viu o lindo jardim interior, aí sim ficou de boca aberta.

- Mas porque é que o senhor, com uma casa tão bonita, vive assim sozinho?

- Senta-te aí, vou contar-te uma pequena história.

O homem começou a contar, ao jovem, os motivos que o tinham levado a tomar a decisão de viver isolado do mundo. As horas foram passando sem que eles dessem por isso, e só quando ouviram umas pancadas na porta é que voltaram a terra.

- Quem é?

- Abra a porta imediatamente, sabemos que o nosso filho está aí dentro.

- Os meus pais? Que horas são?

- É muito tarde, perdemos a noção do tempo.

- Não se preocupe, eu explico-lhes tudo.

- Não irão acreditar em ti, toda a aldeia me teme.

- Deixe isso comigo.

O jovem avançou decidido para a porta, abriu-a e deu de caras com quase toda a aldeia, ouviu o gentio proferir insultos ao dono da casa e não se conteve:

- Muito bem, vós todos que se armaram em heróis para me vir salvar das garras do malfeitor, escutai com atenção o que vos quero contar, e não duvidem do que vos vou dizer, posso ser uma criança, mas talvez seja essa a minha grande virtude, não ter, nos meus treze anos, a maldade que vós tendes acumulado ao longo da vossa vida.

Este homem, a quem vós insultais, é um homem muito mais digno que muitos de vós, não vos culpo por não terem metade da cultura dele mas sim por fazerem juízos sem conhecerem a realidade. Vão todos para casa e depois do jantar juntemo-nos no adro da igreja, em redor do madeiro de Natal, e eu vos contarei a história de coragem deste a quem tanto tendes desprezado e até ofendido. Agora ide todos.

O jovem abraçou o seu anfitrião e chamou os pais, estes pediram licença e entraram, sendo convidados a sentar-se. A verdade é que também eles estavam espantados com a beleza da casa.

- Enquanto o vosso filho vos conta a minha história, eu vou preparar qualquer coisa para comermos.

- Deixe estar sr…

- Guilherme, desculpem eu nem me apresentei, Agora sentem-se e ouçam o vosso filho.

O homem retirou-se e o pequeno Lourenço contou-lhes que Guilherme escolhera viver assim depois da sua esposa e o seu filho terem sido assassinados na grande cidade onde viviam. Tratava-se de um famoso escritor de romances e ali poderia viver em paz e dedicar-se a escrever livros que nunca mais editara. Os pais do garoto sentiam-se envergonhados, Comeram, conversaram e antes de sair perguntaram a Guilherme:

- Mas se nunca tinha querido que a aldeia soubesse da sua história, porque resolveu contá-la agora?

- Eu não resolvi contá-la, foi a pureza de uma criança que a descobriu. Ainda por cima uma criança com a mesma idade que o meu Tiago teria se fosse vivo.

- Sim, mas podia escondê-la do resto a aldeia.

- Eu não tinha o direito de recusar o pedido do vosso filho para que partilhasse o Natal com todos vós. Não, depois de ele ter acreditado em mim.

Lá se dirigiram para o adro da igreja, onde Lourenço voltou a contar a história de Guilherme, a população sentiu-se envergonhada e pediu desculpas ao homem.

- Eu não vos censuro, e para vos provar isso vou providenciar no sentido de publicar os livros que escrevi desde que cá cheguei, sob o nome de Tiago Lourenço. Feliz Natal para todos.

 

Moral:

"Nunca julgues alguém só pelo que falam desse alguém"

 

 

Francis D’Homem Martinho

29/11/2019

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Dificil

Difícil

 

Sentada na cama a pensar,

Tinha frio, era ainda manhã,

Nem lhe apetecia levantar.

Escolheu cuequinha e sutiã.

 

Depois vestiu as collants

Adequadas à saia preferida.

Era assim todas as manhãs

Há muitos anos em sua vida.

 

Saia muito justa e curtinha,

Camisola bem decotada.

Sentiu um arrepio na espinha.

 

Apeteceu-lhe voltar a despir,

Mas não podia fazer nada,

Tinha de lutar para subsistir.

 

Francis Raposo Ferreira

26/11/2019

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Aprender a Amar

Aprender a Amar

Caminhando à beira-mar
Sozinho pensando em ti
Acabei a me lembrar
A primeira vez que te vi.

Como sabes o tempo foge
Com esperança vejo se me toca
Tenho para mim que não passa de hoje
Que roubo um beijo da tua boca.

Em mim terás um amigo,
Podes ter toda a confiança.
Acredita e fica comigo.

Ouviremos o mar cantar
Como naquele tempo de criança
Em que te aprendi a amar.

Francis Raposo Ferreira
26/11/2019

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Voltas da Vida

Voltas da vida

 

Quando me viste chorar,

Fingiste que não me vias,

Tu que me vinhas procurar

Nas horas más que vivias.

 

Prometeste-me tua amizade,

Enquanto de mim precisavas,

Mas naquele fim de tarde,

Nem sequer para mim olhavas.

 

Desviaste do teu caminho,

Só para não veres, amigo,

Deixando-me ali tão sozinho.

 

Amigo, a vida dá muitas voltas,

Não te preocupes comigo,

Quero é ver-te pelas costas.

 

Francis Raposo Ferreira

24/11/2019

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Amizade É...

Amizade é…

 

Amigos são como mel,

Toda a produção é magia,

Amigo é alguém fiel

Que nos apoia dia-a-dia.

 

É como o mais puro néctar,

Fragrâncias suaves e breves,

Amigo é o nosso acreditar

Em dias mais felizes e leves.

 

Amigo é tesouro do coração,

A jóia mais verdadeira,

De minha vasta colecção.

 

Desfrutar de vossa amizade

É minha vida, minha maneira

De viver em plena Felicidade.

 

Francis Raposo Ferreira

24/11/2019

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Cortai essas Árvores

Cortem essas árvores

 

O irritante ladrar de um cão, ou cadela,

Acordou-me, deixou-me furibundo,

Isto nem é de hoje, triste sequela

Irra! Quero acabar com isso tudo.

 

Não consigo perceber esta gente,

Aliás, nem sequer percebo o mundo,

Serei somente eu, que estou diferente,

Ou vivemos num declínio profundo?

 

Vejam só isto que me fizeram,

Mesmo defronte da minha janela,

Umas grandes árvores puseram.

 

O mundo persiste trocar-me as voltas.

Digam-me, que ousadia é aquela?

Homens, cortai essas árvores todas.

 

Francis Raposo Ferreira

24/11/20109

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Falsa Riqueza

Falsa riqueza

 

Vinham os garotos, todos eufóricos, do jogo da bola, quando um deles disse:

- Como é que é, vamos à feira logo à tarde?

- Boa ideia.

Era Chiquinho quem se manifestava. Mas logo o outro retorquiu:

- Tu não vais com a gente.

- Ora, não vai porquê? Pensas que és mais que ele ou quê.

- Claro que sou. Ele é um pobretanas qualquer que nem dinheiro tem para comprar uma ficha dos carrinhos. Comigo não vai, se o quiseres levar contigo, o problema é teu.

Chiquinho chegou a casa e não conseguiu esconder a sua tristeza. Seu pai, Ti Martinho, apercebendo-se que algo não estava bem com o filho, foi ter com ele e lá o conseguiu convencer a contar-lhe o que se passava:

- Oh pai, é o filho daquele seu amigo, o Tomaz da taberna, ele não me deixa ir com eles à feira porque diz que somos pobres e não tenho dinheiro nem para uma ficha dos carrinhos.

- Deixe lá meu filho. Acredite que tudo se há-de resolver. Olhe que há riquezas que tomara a gente nunca as ter.

Chiquinho não percebeu nada da conversa de seu pai, estava era mais preocupado por não poder acompanhar os outros garotos. Martinho foi em busca do mealheiro que ia construindo com as escassas poupanças que a vida lhe permitia, agarrou nalgumas moedas de 2$50 e numa ou duas de cinco escudos, foi novamente ter com o filho e disse-lhe:

- Tome lá, meu filho. Vá ter com os seus amigos e vá com eles à feira.

Chiquinho não cabia em si de contente. Claro que ao verem o garoto com dinheiro para as fichas dos carrinhos de choque, nenhuma objecção se colocou a que os acompanhasse.

Só anos mais tarde é que Chiquinho viria a saber que Gabriel, o tal garoto que o tentara humilhar, não era filho do senhor Tomaz da taberna, mas sim de pais desconhecidos que o tinham abandonado à porta do hospital velho de Vila Franca. O menino seria encontrado pela mulher do taberneiro e estes, na impossibilidade de terem filhos, decidiram-se a criá-lo. Só então deu sentido às palavras do pai. “Há riquezas que tomara a gente nunca as ter”. Correu para casa, não disse nada, limitando-se simplesmente a depositar um beijo na face do seu progenitor.

 

Francis Raposo Ferreira

21/11/2019

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Armas de Segurança

Armas de esperança

Uma rajada de amizade
Acertou nas paredes do meu ser,
Abrindo portas à liberdade,
Na estrutura do meu viver.

Quero canhões cheios de amor
Para distribuir pelas crianças,
Dêem-me espingardas com flor
A exalar aromas de esperanças.

Lancem milhares de granadas
Que façam abrir grande clarão
Nas mentes que vivem deturpadas.

Toda e qualquer bala mais forte
Deve ser disparada do coração,
Condenando a guerra à morte.

Francis Raposo Ferreira
21/11/2019

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Menino do Leme

Menino do Leme

 

Quando eu, ainda era um inocente menino,

Lá na cidade de terra batida,

Tinha por meu mundo, tão pequenino,

O simples círculo de minha vida.

 

Quando cresci e me perdi na cidade,

Senti medo, saído cá do fundo.

Tão diferente era a realidade,

Senti saudades daquele meu mundo.

 

Puro menino, no campo criado,

Enfrentava, assim, inocentemente,

As hostes do mundo modernizado.

 

Só que, nada amedronta quem não teme,

Muito menos se, desta Lusa gente,

Simples menino na roda do leme.

 

Francis D'Homem Martinho
20/11/2019

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Amigos

Amigos

 

Ter amigos é ser mais forte,

Sem amigos não somos nada,

Amigo é quem faz nossa sorte,

E nos ajuda na caminhada.

 

Um amigo dá-nos carinho,

Quando mais ninguém fica,

Nunca nos deixa sozinho,

Amigo, também nos critica.

 

Um amigo dá-nos bons tratos,

Um amigo aquece os teus dias,

Tornando-os muito mais fartos.

 

Um amigo faz tudo por ti,

Vibrando com as tuas alegrias.

Amigos/as, sabeis-me aqui.

 

Francis Raposo Ferreira

20/11/2019

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Mentira com Mentira se Paga

Mentira com mentira se paga
 
Chiquinho não ignorava que o facto de ser filho de um dos casais com maiores dificuldades económicas, o transformava no patinho feio do grupo de garotos do bairro.
Aliado ao facto de, muitas vezes, não poder acompanhar os outros garotos nas idas ao cinema, o principal divertimento das tardes de sábado, havia que juntar a inocência de um menino vindo da pacatez das terras Alentejanas. Estes dois factores contribuíam, e muito, para que não raramente se visse como o alvo principal das partidas dos seus companheiros de brincadeira.
Certo dia passava, no cinema da terra, o filme “Jerry Lewis na Marinha”, o que, desde logo, despertou nos outros garotos, o pretexto desejado para pregar mais uma partida ao Chiquinho. Reuniram-se, sob o comando de Jorginho, o menino rico lá da rua, e delinearam estratégias de actuação, que ninguém ouse ignorar as potencialidades das crianças, assim decidindo que um dos amigos mais próximos de Chiquinho, o iria convidar para irem ver Jerry Lewis na marinha, mas com má fé.
Se bem o pensaram, melhor o fizeram. Chiquinho, não desconfiando de nada, acabou de almoçar e disse ao pai que ia dar uma volta. Assim que se apanhou na rua, correu, correu, correu, pois não queria chegar atrasado ao que pensava ser a hora de Jerry Lewis, o actor da época, só que, ignorando o plano dos outros garotos para se rirem à sua custa, em vez de se dirigir para o cinema da vila, foi direito ao quartel da marinha que também ali existia.
Esperou, esperou e nada. Pensava que se tinha atrasado, visto que não se via vivalma na estrada que levava de Vila Franca a Alhandra, a não ser ele. As horas foram passando e, Chiquinho, vendo que nada acontecia, resolveu voltar para casa. Foi só ao chegar ao cimo da Calçada da Barroca que se apercebeu do logro em que caíra:
- Então Chiquinho, o Jerry Lewis estava bom?
Era o mesmo amigo que o induzira no engano. Chiquinho fingiu não perceber de que falavam. Engoliu em seco e pensou que o seu momento acabaria por chegar.
Passados, mais ou menos, dois anos, Jerry Lewis veio a Portugal, a Lisboa, e Chiquinho entendeu ser chegada a sua hora. No domingo vestiu a sua melhor roupa e saiu para a rua, fazendo questão que os outros garotos o vissem. Depois, foi-se retirando, a pouco e pouco, e quando lhe perguntaram onde ia, respondeu-lhes:
- Agora não vos posso dizer, é surpresa. Depois vos conto.
Chiquinho só voltaria a ser visto no dia seguinte, com um sorriso que ia de orelha a orelha:
- Que tens tu? Porque estás assim tão contente?
- Sabes uma coisa? Ontem, quando me viram ir embora, sabes onde fui?
- Não. Onde foste?
- Fui a Lisboa ter com o Jerry Lewis. O meu irmão escreveu-lhe uma carta a contar o que vocês me fizeram e ele quis conhecer-me. Olha, até me deu uma foto com um autógrafo.
O outro miúdo não tardou a espalhar a notícia. Jorginho, o rico do bairro, fez questão de ver a foto:
- Olha, dou-te vinte escudos por essa foto.
- Nem penses. O Jerry Lewis deu-ma a mim.
- Bem. Eu vou fazer uma coisa que nunca fiz, vou partir o meu mealheiro e dou-te o dinheiro que lá tiver, olha que é muito.
Chiquinho mostrou alguma resistência mas acabou por ceder. Recebeu o dinheiro, correu para casa, escondeu-o no quintal e não disse nada a ninguém.
Passados anos, quando já era adolescente, reencontrou Jorginho, cuja vida dera uma grande volta, e disse-lhe:
- Então, ainda guardas aquela foto do Jerry Lewis que cortei da revista “Maria”? Se a tiveres, compro-ta pelo mesmo valor que me deste naquele dia.
Julinho ficou vermelho de raiva, retirou-se e nem respondeu.
 
Francis Raposo Ferreira
20/11/2019
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Velhices

Velhices

 

O velho homem, sentou-se no sofá coçado de velho, recostou-se, estendeu a perna direita sobre as almofadas, já gastas de velhas, que serviam de assento, esticou o braço e agarrou no velho livro que vinha lendo desde há anos. Tantos anos que já nem se lembrava de quando o começara a ler.

Deixou-se ficar a folhear, página a página, aquele velho livro que o acompanhava desde os tempos em que se recordava de ser gente. Há tantos anos a ler o mesmo livro e, ainda tinha tanto para ler. Sentiu a vista cansada, procurou os óculos quase tão velhos como ele, colocou-os sobre o nariz, olhou melhor para o livro, não, não era impressão sua, aquele livro sem palavra alguma, tinha tanta coisa escrita.

Tirou os óculos, afinal não precisava deles, encostou o livro ao peito, recostou-se, melhor, no braço do velho sofá, fechou os olhos e continuou a ler aquele seu adorado livro.

Nunca se cansava de ler o livro que era a sua própria vida e sentia que enquanto se sentisse feliz a lê-lo, se manteria vivo.

 

Francis Rapposo Ferreira

19/11/2019

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Injustiçada

Injustiçada

 

Lourenço preparava-se para abandonar a sala, quando ouviu aquela voz, melodiosa, que o chamava:

- Sr. Dr, pode dar-me uns minutos?

O jovem advogado ainda tentou argumentar não saber se a guarda de serviço, o permitiria, mas não resistiu a virar-se para o lado de onde vinha tão doce voz. A sua cara não enganava, estava perplexo, e não era para menos. Efectivamente tratava-se de uma mulher, ainda jovem, muito bonita e o seu rosto não enganava, estava num verdadeiro desespero:

- Bem, vamos lá arriscar.

Tal como o jovem advogado suspeitara, a guarda veio intimidá-lo a não parar a marcha que o levaria até ao final do corredor, não se comovendo com os argumentos, quer da reclusa, quer dele mesmo. No entanto, através de uma janela semi-aberta, a jovem conseguiu, ainda assim, passar um papel para a mão do advogado.

Lourenço sentia pressa em sair dali, não porque quisesse fugir para longe da jovem, mas sim por curiosidade em ver o que estaria escrito no papel. Após passar o último gradão que o separava do espaço fora da zona prisional, despediu-se da guarda e caminhou rapidamente para a portaria, ficando sem saber se a guarda não vira a jovem a passar-lhe o papel, ou se fingira que não vira. Despediu-se da guarda que estava à portaria e assim que se apanhou na rua, correu até ao seu carro. A ansiedade para ver o que dizia o papel que a jovem, de quem nem sequer conseguira saber o nome, lhe dera.

Sentou-se ao volante, abriu a mão e desembrulhou o papel, era uma longa mensagem, numa letra quase minúscula, onde a jovem contava o seu drama, chamava-se Letícia.

Lourenço ficou com a certeza que a jovem escrevera aquelas palavras sem um destinatário certo, pensara entrega-la ao primeiro advogado que por ali aparecesse, fosse ele ou outro qualquer. Dizia-se completamente inocente e vítima da sua ingenuidade, argumentando que fora usada por um namorado, o qual lhe escondera a verdade sobre o conteúdo da mala que lhe pedira para ela ir entregar a determinado local e que ao saber que ela fora apanhada, pela judiciária, não só a abandonou como ainda a acusou de estar a mentir.

Letícia ignorava tudo o que ia no pensamento de Lourenço, mas não duvidava que deveria ser algo do género: “São todos iguais, metem-se nas trapalhadas e depois dizem-se sempre inocentes, eles é que fazem as asneiras e depois a culpa é de toda a gente menos deles, da sociedade, dos amigos, da família, de todos, menos deles…”

Talvez se ela conhecesse o homem com quem tivera a sorte de se cruzar, pudesse saber que Lourenço apesar de ser um jovem advogado, ainda de cabeça limpa quanto a preconceitos desse tipo, isto é, nunca julgando os outros como um todo, também era alguém que acreditava na pureza do ser humano. Para ele, cada pessoa era um caso isolado e não seria pelo facto de a jovem não ter como lhe pagar que ele deixaria de analisar o seu caso, sem compromisso Aliás, o seu olhar de desespero, cativara-o. Ou teria sido a beleza da jovem reclusa, sentia-se dividido quanto às verdadeiras razões.

Lourenço, mal estacionou o carro, correu de tal forma apressada para o escritório, que a sua assistente até se assustou ao vê-lo entrar daquele jeito, logo ele que sempre se mostrara um exemplo da calma.

Naquela noite, Lourenço não conseguiu dormir e a causa tinha um nome, Letícia, reclusa 257789. O que ele ignorava é que nessa mesma noite, ao contrário do que vinha sendo habitual nos últimos tempos, a mesma Letícia, não só conseguira dormir tranquilamente, como também sonhara, toda a noite, que um belo e jovem advogado a ajudava a ultrapassar o verdadeiro drama em que se vira enredada.

Aquele que se pode considerar como o verdadeiro primeiro encontro entre advogado e constituinte, não tardou muito. Letícia não só voltou a repetir tudo quanto já lhe contara através do pequeno papel que ele, em segredo, continuava a guardar na carteira, mas, agora, mais pormenorizadamente, como também lhe deu conta do segredo, para com os pais, do momento que estava a viver, assim como lhe falou do advogado que se recusara defende-la ao saber que ela não tinha dinheiro para lhe pagar. Lourenço, após a escutar com toda a atenção e lhe colocar algumas questões, limitou-se a dizer-lhe:

- Não te preocupes com o dinheiro, irei defender-te de qualquer maneira, mas com uma condição.

Letícia não teve, até porque não o queria, como recusar a proposta do jovem advogado:

- Está bem, autorizo-o a procurar os meus pais e contar-lhes a verdade. Embora, apesar de estar, mesmo, inocente em todo este processo, tenha a certeza que meu pai não vai acreditar.

Lourenço fez questão de não se retirar sem que ela lhe explicasse do porquê de tal convicção:

- Não te preocupes com isso. O importante é que eu acredito em ti. Só espero nunca me vir a arrepender.

Foi munido da autorização de Letícia que o jovem advogado se apresentou em casa dos pais dela:

- O senhor doutor diz-me que acredita na minha filha e que a vai defender mesmo sabendo que ela não tem como lhe pagar? Ou será que ela lhe paga de outra forma?

Lourenço, já enojado com tudo quanto o pai de Letícia dissera a respeito da própria filha, não se conteve e disse-lhe:

- Sabe uma coisa, começo a pensar que o principal culpado de tudo quanto a sua filha está a viver, é o senhor.

- Eu! Como se atreve a insultar-me na minha própria casa? Olhe, o melhor é que se vá embora daqui para fora. Ainda lhe digo mais, se o senhor se quer embrulhar com ela, é problema seu. Para ela é que deve ser indiferente, mais um menos um, pouco lhe deve importar.

Os meses passavam, Lourenço ia reunindo provas atrás de provas.

- Senhor doutor, posso fazer-lhe uma pergunta?

- Claro que sim, se eu puder responder, respondo, se não, não. porquê?

- A verdade é que não tenho com que lhe pagar. Diga-me a verdade, sente-se atraído por mim, deseja-me? Eu sou mulher e tenho plena consciência que desperto cobiça nos homens, mas, ao contrário do que certamente o meu pai lhe contou, ainda sou virgem. Só mais uma coisa, sei que isto pode parecer uma leviandade da minha parte, mas não tenho problema algum em o confessar, estou apaixonada por si.

Lourenço sentiu-se atingido com tal manifestação de pura sinceridade:

- Não. Vou confessar-te uma coisa, nos primeiros tempos, também eu coloquei, a mim mesmo, essa questão, isto é, também vivi na dúvida, mas depois, com o passar do tempo, e com as conversas que fui tendo contigo, descobri que o faço por acreditar na tua inocência e quando decidi vir para advogado, jurei, a mim mesmo e a meu pai, que lutaria sempre pela justiça. Se no final de tudo isto, verificarmos que há algo mais, tudo se resolverá a seu tempo. Resumindo, aceitei defender-te, porque acredito nas pessoas e, tenho a certeza, se tivesses um pai digno desse nome, talvez nunca eu te conhecesse.

Lourenço conseguiu não só provar a inocência de Letícia, como também obter a confirmação de algo muito íntimo que ela lhe confessara, era virgem e assim se manteve até que decidiu entregar-se a ele, a escassos dias do casamento.

 

 

Francis D’Homem Martinho

17/11/2019

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Homem Puro

Homem puro

 

Chiquinho não estranhou ver o seu pai à conversa com aquele homem com um aspecto pouco cuidado, e não o estranhou porque conhecia muito bem seu pai e sabia que ele não avaliava as pessoas pelas roupas que traziam vestidas, ou pelo seu aspecto. Abriu o portão, subiu as escadas e entrou em casa.

Quando deu pela chegada do pai, perguntou-lhe:

- Pai, quem era aquele homem com quem estava a falar?

- É um pobre homem que hoje dorme na rua e que no entanto já foi um homem com tudo na vida, até chegou a participar em alguns filmes, depois as circunstâncias da vida atiraram-no para a miséria, para a rua.

- Ora Chiquinho, não faças caso dos disparates do teu pai. Ele pensa que é toda a gente como ele, sem maldade alguma, acredita em tudo o que lhe dizem, aquilo é mas é um maltês qualquer, se calhar já com um copito a mais e que vive a contar loucuras. Só mesmo o teu pai para dar conversa a toda a gente.

Martinho não respondeu à provocação da mulher, sentia pena daquele homem, tinha uma história de vida tão rica e agora via-se a viver debaixo desse tecto universal que é o céu.

O tempo foi passando até que um dia, estavam eles sentados à mesa a jantar, quando ouviram o jornalista anunciar:

“Não percam a seguir ao telejornal mais uma história de vida, a história de alguém que já viveu a fama e hoje vive na rua.”

Continuaram a jantar, o telejornal terminou e lá veio a repórter com a sua história de vida:

“Hoje vamos conhecer um homem que já viveu no auge da fama, chegou mesmo a participar em vários filmes da época de ouro do cinema Português, e que hoje vive as agruras da vida, dormindo ao relento e alimentando-se da caridade alheia.”

Chiquinho recordou-se daquele dia em que o pai lhe contara uma história parecida, desistiu da sua ideia de ir sair com os amigos. Sentou-se no sofá e aguardou pela apresentação da reportagem.

- Mãe! Mãe! é aquele homem que estava a falar com o pai na outra tarde.

Martinho trocou um olhar com a mulher, mas nem um comentário fez, sempre fora assim. Nunca se vangloriava por ter razão, preferia sentir o seu coração a palpitar de felicidade por ter acreditado naquele homem e o ter escutado como escutaria a um outro qualquer que não tivesse história nenhuma de fama para lhe contar, porque, para ele, toda a gente tem sempre uma história de vida, pode é ser mais ou menos famosa.

Era assim o senhor meu pai e esta história é verídica.

 

Moral: “ Acredita sempre no teu semelhante, principalmente quando todos duvidarem dele.”

 

Francis Raposo Ferreira

14/11/2019

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S.Martinho

S. Martinho

Trezentos e dezasseis, longínquo ano,
Seio de uma família pagã,
Panónia, no antigo Império Romano,
Nasce um menino, talvez de manhã.

Seu pai, Romano e ilustre comandante,
Destinava-lhe a vida militar,
Quinze anos é soldado e viajante,
Sua lenda se estava a iniciar.

Na maturidade dos quarenta anos
vê renascer uma nova esperança,
Abandona os exércitos Romanos,
Abraça o Cristianismo, na, hoje, França.

Fundador do mais antigo Mosteiro,
De toda a Europa, Gália, Ligugé,
Pregador incansável, milagreiro,
Sua lenda, nasceu noutro cliché.

Existem duas versões, na verdade,
Uma certeza parece confirmada,
Trezentos noventa sete, bela idade,
Deixou-nos, e lá se foi de abalada.

Oito de novembro, dia cinzento,
Nasce uma das duas citadas versões,
O sol ilumina todo firmamento,
Nascia o mais singular dos verões.

Três dias depois, onze de novembro,
Ainda sob um sol resplandecente,
vai enterrar e, desde sempre me lembro,
Seu dia será este, eternamente.

Outra história sobre si contada
Tem a ver com um pobre mendigo,
A quem metade daquela foi dada,
De modo a servir-lhe de abrigo.

Logo outro mendigo lhe apareceu,
S. Martinho sem sequer hesitar,
A restante metade lhe deu,
Ficando, ele, sem com que se abrigar.

Foi então que nasceu a lenda,
O dia chuvoso tornou-se radioso,
Hoje não há quem não aprenda,
A lenda de verão tão milagroso.

Portugal acrescentou-lhe algo mais,
“No dia de São Martinho.”
Juntam-se amigos e comensais,
“Vai-se à adega e prova-se o vinho”.

Francis Raposo Ferreira
11/11/2019

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Alma de Poeta

Alma de Poeta.
 
Alguns pensam em guerra,
Outros sonham com amor.
Alguns destroem a terra,
Outros desejam-lhe o melhor.
 
Alguns matam a esperança,
Outros aspiram liberdade,
Alguns nunca foram criança,
Outros não acusam a idade.
 
Alguns não sabem amar,
Trazem na mão, só maldade,
Sãos, ameaça à humanidade.
 
Outros, fazem-nos sonhar.
Trazem na mão, só a caneta,
Loucos, têm alma de poeta.
 
Francis Raposo Ferreira
10/11/2019
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Janela da Alma

Janela da alma

 

Desde a janela da minha alma,

Vejo um mundo em guerra,

Só teu amor é que me acalma

E faz esquecer o que vai na terra.

 

Não adianta correr as cortinas,

Nem tampouco fechar persianas,

Ignorar tantas vítimas femininas

Seria ignorar misérias humanas.

 

Lá bem longe da minha janela,

Mata-se por tudo e por nada,

Vida, coisa tão frágil quanto bela.

 

Corro os cortinados de veludo,

Minha alma está destroçada,

Anda tudo louco neste mundo.

 

Francis Raposo Ferreira

07/11/2019

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CPP