Posts de HUDSON HENRIQUE RODRIGUES DE LIM (4)

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Azul Niágara.

 

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A gente nunca aproveita o momento quando ele está acontecendo.

Assim, quando toda as coisas vão embora (assim como você foi),
a realidade bate como um soco no meio da cara.

Nunca vou esquecer daqueles led's azuis no topo daquele prédio.
E nem do teu sorriso noturno me segurando pra não me deixar voltar para casa.

Tudo é tão pequeno
perto do tamanho do esquecimento.

Sempre é mais difícil pra mim.

Nada se esquece, apenas se cresce em volta do problema.
Tornando-o menor, sendo que continua do mesmo tamanho.

Um azul Niágara me confundia a vista dos óculos.
E seus olhos nunca mais procuraram os meus.

 

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Saiba mais…

As aulas que faltei.


Peço um café.
Não era tão bom quanto parecia no desenho do papel da parede, escrito de giz verde.

Sento em seus vários bancos.
Vazios e sem charme,
com encostos duros e irregulares.
Suspiro o ar de fuligem das frigideiras virgens.

Não sei quanto a vocês, mas,
às vezes saio sem rumo algum.
Em qualquer direção que me levar, está bom.

Aonde parar, já é o suficiente 
pra encontrar novas ideias, 
novos poréns.

Não fico tanto em lugares assim,
na realidade não fico muito em lugar nenhum.
Eles enjoam de mim rápido,
e eu deles.

Saí.
Em passos lentos, porém largos.
Emanando o último cheiro 
daquele estabelecimento cheirando tabaco.

Se movendo contra aonde meu corpo queria ficar,
por um bom tempo.

Passando despercebido o reflexo de mover o pescoço
tendenciosamente pra trás.
Pra olhar aquela silhueta,
que lentamente desaparecia atrás do balcão.
O lugar todo cheirava café fresco e pão.

Guardo meu livro no bolso direito.
Tenho várias ideias malucas de como te falar que:
queria ficar sempre aqui nesse lugar.

Mas continuo dando passos à porta que não se abre automaticamente. 
Giro a maçaneta.
No reflexo do retrovisor,
vejo seu cabelo se desprendendo outra vez.

Mais um lugar,
e mais alguém que nunca percebeu
minha inotável
e indiferente presença.

Ligo o motor,
engato a primeira.
Vou embora daquele erro na geografia do mapa.

De relance, lembro das aulas em que faltei na escola.
Nunca me fizeram falta, 
desde que eu tivesse aqueles faróis baixos
ao contar toda e qualquer história
que não estivesse dentro dos livros que rabiscava.

 


Da obra: "Madrugada adentro, como essas, costumam me puxar pelos calcanhares todas as noites" - 2020. - Obra não lançada.
 - Hudson Henrique.

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Saiba mais…

Plomos, plumas e pombas.

Eu sou um personagem,
um personagem que atua em sua própria vergonha.
Que escreve peças e novelas de romance para adolescentes inconsequentes,
desvairados e loucos.

Eu sou um personagem que atua em sua própria e mera existência pouco significativa. 
Coadjuvante na mesma cena em que é ator principal, 
que não beija a mocinha no final. 
Que não se deita com nenhuma princesa formal.
Sou inexistente, desmiolado, mas ainda sou jovem e criança.

Enceno cenas que não se repetem só em minha cabeça,
jogo beijos para os lados e para cima, mas ninguém lá guarda em caixas. 
Vira vento, vira insignificância duvidosa e perplexa.

Eu sou um personagem, um animal, 
animando a própria aparição rápida de cinco minutos pra menos, 
exigindo um ganho maior, em uma fama maior, sendo um (com um pau maior, com uma aparência melhor) simples e imperfeito: defeito.
Sem devolução de fábrica, 
sem garantia de uso e abuso. 
Sem frequência nas coisas grandes que a vida não te aguarda.

Sou uma miniatura, uma miniatura esculpida de gesso,
que cada batida foi se quebrando com o tempo, 
foi se machucando ao avesso. 
Desaparecendo por dentro.
Até virar farelo (e tempero) do tempo.

Nunca vi moinhos de vento, nem senti o trigo nos lábios. 
Ressecados e impuros pelo sol
que me empurrava pra dentro do calor.
Por isso sou um personagem, um personagem imitando a vida real e suas artes, 
tentando escrever versos que te tragam algum tipo de felicidade ao serem lidos com vontade. 
Imito a vida real, mas ela não me copia, não me julga, não me atrasa. Não conforta.

Sei de coisas que te fariam suspirar,
sei de fatos que te fariam dormir e nunca mais acordar.
Mas sei de coisas das quais poderia te fazer chorar... de alegria.

Somos camelos procurando água pra continuar a caminhada. 
Mas só tem visagem... só tem miragem.
Mas só tem alucinação. 

E eu, admirado mais do que louco, 
sei um pouco das coisas plenas 
em dias de devaneio.

Fiz um roteiro completo 
onde não há final nem exagero complexo. 
Mas existe um grande nó 
que não se desfaz na garganta por qualquer gole de álcool. 

Existe um lugar 
que não vai ser preenchido por qualquer riso torto e desorientado, 
minha roupa não irá ser tirada
por qualquer silhueta errada.

Mas somos todos peças de teatro.

Ensaiando, ensaiando… 
pra no final,
ter um belo fim.

E isso não muda absolutamente nada em mim.


 - Hudson Henrique.

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