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No banco da praça

No banco da praça (José Carlos de Bom Sucesso)

 

No banco da praça

Tem o Ronan, que gosta de fazer graça.

Por volta do meio dia,

Lá está a Dona Lia,

Que gosta de contar a futrica

Para a velha Dica.

Às segundas-feiras vem o boiadeiro

Que fala estória com ar tão verdadeiro.

O velho Afonso

Falando do estimado ganso.

Sentam, também, o Antônio e a Maria,

Acompanhados da Tia Luzia.

Tem o Juninho,

Que anda sempre ouvindo o radinho.

Já se esquecia do Macalé,

Fascinado pelo bolinho de acarajé.

Alguns pássaros pousam no banco

E, pela Margarida, são espantados a tamanco.

Quando está chovendo,

O banco fica triste e lembrando,

Do Antônio, com a capa de chuva,

Segurando o guarda-chuva e comento uva.

Pela manhã aparece o Sr. Felipe

Que tem como orgulho um jipe,

Fazendeiro rico,

Foi merecedor do prêmio do boi de brinco.

Assim finaliza o dia,

Recebendo a fresca da noite, a Dona Maria,

Acompanhada do fiel e grande amigo, o cão,

Por nome de Leão.

 

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Menininha

Menininha (José Carlos de Bom Sucesso)

 

O Padre falava.

A menininha olhava

Para o senhor no banco de trás

Conhecido por Sr. Brás.

Mostrava-lhe a boneca

Por nome de Teca.

Nos pequenos lábios, o sorriso

De criança de olho vivo.

O coral cantava,

A menininha pulava.

Passava a mãozinha nos cabelos

Mostrando-os muito belos.

Olhava para o altar

O padre a pedia para parar

Pois a atenção estava nela

A pequena e bela

Menininha, filha da Juliete,

Neta da Dona Odete.

Os fiéis a fitavam.

Alguns, com ela, brincavam

Sorriam,

Viviam

A emoção de não serem crianças, naquele momento,

Pois a vida é como o vento

Que passa no alto da cabeça

E aos segundos que lhes parecem uma peça

No jogo de xadrez

Para aguardarem sua vez.

 

 

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Árvore assombrada

Árvore assombrada (José Carlos de Bom Sucesso)

 

            Final do mês de janeiro. O forte calor trazia grandes e imensas tempestades para o mês. O verão saltitava condições propícias para fortes chuvas, muito trovão, muito relâmpago e também condições para os apreciadores da natureza, principalmente o Juquinha, senhor de meia idade, aposentado por acidente de trabalho e amante das caçadas de tatus.

            Quando a tarde ficou muito quente, algumas nuvens eram vistas nas imediações do setor sul da cidade. O vento não soprava forte, mas ventilava o arzinho de frescor para o fim do dia. Juquinha, já cansado de não fazer nada durante o dia. O pouco trabalho que tinha era ir ao banco pagar contas ou fazer algum mandado para o escritório de contabilidade da filha.

            Naquela tarde, já cumprindo suas obrigações para com a filha, chegando ao escritório e não tendo mais nada a fazer, disse que iria caçar tatu no outro lado da cidade.

            O local onde Juquinha gostava de ir procurar tatus era para frente da estação de tratamento de água da cidade. Campo puro, com muitas árvores, monte de cupins. Lá, do alto do monte, existia o local onde alguns religiosos faziam orações, recolhimentos individuais para meditações e retiros espirituais. Este era o ponto mais alto do lugar. Do lado oposto, era descida bem declivada. No fundo, o pequeno riacho era visto, entre pedras, árvores e até algumas moitas de bambus, ele fluía lentamente, passando por algumas propriedades rurais, tendo como desaguamento no imenso rio, que se localizava por mais uns cinco ou sete quilômetros do local. A paisagem era encantadora. Dava para ver os rastros noturnos das estrelas, das rotas dos aviões que rumavam para o continente europeu e por outras partes do imenso território brasileiro.

            Muniu-se da pequena lança, a grande lanterna, na cor azul, que foi comprada há duas semanas na loja do Wilsinho, o embornal, onde estavam a garrafa de café, três pães de sal e dentro deles duas fatias de mortadela, a garrafa pet cheia de água, a capa de chuva e outro embornal. Este, ele dizia que colocaria o tatu ou tatus dentro dele.

            Vestindo calça grossa, no formato de jeans, blusa de mangas compridas, botas e perneiras, partiu ele por volta das dezessete horas e trinta minutos. O sol ainda quente não se punha no horizonte. Aproveitou para passar no mercadinho do Joaozinho para comprar o pedaço de fumo, pois este seria muito útil em caso de picadas de insetos.

            Caminhando lentamente, ele sai da cidade. Alguns amigos passavam por ele e lhe oferecia carona, contudo ele não aceita e diz que irá bem devagar apreciando a natureza, os pássaros e acompanhar a saída da lua cheia, prevista para iluminar por volta das vinte horas.

            O tempo vai passando e suas passadas vão a caminho do monte mais alto. Lá, descerá. Atravessará o rio e, pela mata ciliar, ele encontrará a trilha. Seguirá por ela pelo menos uns dois a três quilômetros. Assim, no outro cerrado, será o lugar perfeito para a caçada.

            Os insetos noturnos já davam ares de saída. Pequenos cupins de asas voavam dos cupinzeiros em longos voos. Lembrava ele que os insetos eram o apetite dos tatus. Na mente dele, a noite seria farta e poderia caçar pelo menos três a cinco animais. Seria o almoço predileto dele. Assim, compartilharia com os filhos, os netos e até com o irmão mais novo, que estava a passeio pela cidade.

            O sol foi escondendo atrás a alta e linda colina. Longe das luzes, o breu ia cobrindo tudo o que pela frente estava. A luz diurna, aos poucos, ia dando lugar à noite escura. Por volta das vinte e poucas horas, do outro lado, a lua apareceria. Então, o breu do início da noite seria substituído pela luz lunar. O espetáculo perfeito para os amantes da natureza, para os poetas e os namorados apaixonados.

            Para descansar da longa jornada e apreciar o aparecimento da lua, Juquinha aproximou-se da grande árvore que encontrou pelo caminho. Lá, ainda com a luz diurna, percebeu que haviam muitos buracos cavados por tatus. Esta expressão “buracos de tatus” é muito usada na linguagem corriqueira dos moradores mineiros.

            Viu, imediatamente, uma pedra que mais se parecia banco esculpido para os visitantes. Foi longo sentando. Abriu o embornal e fez o lanche, comendo os três pães e bebendo a pequena garrafa de café. Bebeu alguns goles de água. Guardou alguns restos na sacolinha plástica e os ajeitou no canto do embornal. Mais uma vez, retirou a garrafa de água e mais goles foram despejados garganta abaixo. Escutava-se o som da água descendo peito a baixo até se concentrar no estômago.

            A noite calma e o cansaço fizeram com que Juquinha fechasse os olhos por algum momento. Este momento foi grande, porque estava bastante cansado. Logo o sono lhe furtou. Não demorou muito, mas com a cabeça encostada no tronco da árvore, o calor forte do início da noite, os cânticos dos pássaros que procuravam abrigos, fizeram com que o caçador de tatus dormisse sossegadamente por vários minutos, talvez, até por duas ou mais horas.

            Não se sabe ao certo, mas quando ele acordou, a noite já estava bem distante do entardecer. Deveria ser por volta da meia noite. A lua iluminava toda a área, mas ela já estava bem ao norte da abóboda celeste. Meio assustado e limpando os dois olhos rapidamente com a superfície da mão direita, ele ainda teve tempo de tirar o pequeno aparelho telefônico. Nele, com a vista meio embaçada do longo sono, mostrava que era perto de meia noite.

            Fazendo caretas e de cara feita, pensou que já era tarde. Enraivou-se por não ter visto o nascer da lua. Xingou alguns nomes feios e disse, em voz alta, que perderia a melhor caçada. Naquele horário, os bichinhos já haviam saído. A probabilidade de caçar algum era pequena, porque muitos já estavam em outros lugares ou tinham-se escondidos nas tocas.

            Levantando-se rapidamente, ele pensou em olhar por algumas tocas que estavam por perto. Assim o fez. Porém, nada de produtividade.

            Voltando novamente para a beira do tronco e acendendo a lanterna, ele sentou-se e pôs a refletir porque estava ali. No passado, em lembranças das conversas de seu avô, naquele local, bem próximo da árvore, houve briga de duas mulheres por causa de adultério de uma delas. Na briga, bateram-se uma à outra, que as duas morreram bem próximo.

            Sorriu... Fez cara de deboche. Pensando, consigo mesmo, se aquelas mulheres voltassem a brigar ali por perto, ele jogaria a lança em direção delas e ficava torcendo para ver em qual seria o alvo. Sorriu novamente e pensou em voltar. Naquele horário, jamais encontraria algum tatu passeando por ali. Imaginou como seria a gozação dos familiares quando ele contasse que dormiu debaixo da árvore e perdeu o momento certo para caçar...

            Já que estou aqui e já dormi, pensou ele, vou procurar alguns galhos secos e fazer um foguinho. Não vou embora agora, pois tenho receio de perder o caminho. Quando o sol nascer, sairei e chegarei bem cedo lá em casa. Será sábado. Poucas são as pessoas que estarão na rua. Não serei pejorado por ninguém.

            Assim o fez. Rapidamente, arrumou alguns galhos. Tinha papel de embrulho dos pães. Ainda restavam alguns goles de café e água. Ascendeu o fogo e foi logo encostando no tronco. Feito travesseiro a mochila, ele ficou ali por algum tempo. Olhava para cima e via os grandes galhos daquela imensa árvore. Imaginava várias figuras formadas ali. Olhava para o fogo que ardia lentamente. Era a grande proteção contra animais noturnos. Pensou na família e como seria a reação quando contasse que dormiu. Sorria. Pensava na briga das mulheres e se algum fantasma aparecesse ali. Os minutos se passaram e, mais uma vez, o sono lhe furtou.

            Dormiu ele por volta de uma hora. O sono estava bom. Ele até sonhou que estava caçando e apareceram dois grandes tatus. Eles eram pequenos e logo foram crescendo, crescendo, até ficarem na forma de duas mulheres. Vestiam elas vestimentas brancas. Cada uma delas com uma grande faca nas mãos e as duas iam em sua direção. Ele tentava sair correndo, mas não conseguia. Era pesadelo. Tentava correr, mas uma delas lhe agarrou pela perna. As mãos da que lhe agarrou pela perna era mais fria do que o gelo. Ele estremecia, contorcia e nada de sair. Era o caos que se formava ali.

            Esperneando, gritando, bem apavorado, ele acorda. O fogo não mais estava com chamas. Algumas brasas ainda eram vistas. A luz lunar iluminava a vasta planície. Sombras de árvores dividiam aquela luz. Quando seus olhos deram conta no que viam, ele não acreditou. Os galhos da árvore balançavam e os sons eram mais fortes ainda. Parecia o mais forte e temido vendaval. Defronte a ele, as duas mulheres, todas vestidas de branco, com duas facas em cada mão o seguravam e tentavam lhe dar facadas em qualquer parte do corpo. Ele esperneava, ele gritava, ele pedia ajuda por todos os santos que lhe vinham à mente. Parece que até urinou e defecou na roupa. Os galhos balançavam mais fortes e davam a impressão de que estavam caindo sobre ele. Seus gritos se misturavam com os gritos e sorrisos das duas mulheres, que diziam entre si, que o levariam para as profundezas do inferno. Dariam as facadas certeiras no coração, na barriga e nas partes íntimas. O chefe das profundezas estava feliz porque elas iriam levar a alma pura para lá. Teriam a salvação e ele vagaria para sempre naquele lugar.

            Em estado de pânico, de horror, ele conseguiu desgrudar das duas mulheres. Correu tanto. Passou pelo córrego tão rápido. Chegou em casa todo machucado e pedia para não ligar a luz no rosto.

            Quando acordou e estando em casa, contou todo o acontecido para a família. Desde aquele dia, ele nunca mais quis caçar tatu em noite de lua cheia.

 

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Pedrinhas

Pedrinhas (José Carlos de Bom Sucesso)

 

No vai e vem das pessoas

Onde muitas não veem as belezas

Que as crianças despertam

Sendo elas, muitas espertas.

 

Debaixo da árvore, na sombra fresca,

Onde a brisa refresca.

Três crianças brincam de fazendinhas

Tendo o gado, as pedrinhas.

 

O primeiro diz que tem duzentas,

O outro afirma serem quinhentas,

Não diz nada o terceiro,

Porém afirma ser o primeiro.

 

Cercada pelos pequenos cavacos das folhas,

Prestam tanta atenção nas bolhas.

A pedrinha de areia

É a vaca feia.

 

O tempo vai passando...

O poeta está ali observando.

Recorda a infância na roça

Pensa no verso e a cabeça coça.

 

 

 

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Uma dose

Uma dose (José Carlos de Bom Sucesso)

 

Garçom, uma bebida,

Que seja de pinga,

Para lembrar da querida,

Porque hoje ela é amiga.

 

Ela não quis mais nada

Deixando o amor de lado

Na trilha da estrada,

Onde o carinho ficou parado.

 

Poderá ser de whisky importado

Com bastante gelo

Para ficar embriagado,

Arrepiando o pelo.

 

O dinheiro está na mesa

Se faltar, amanhã virá,

Para acabar com a tristeza

Amanhecendo, o sol brilhará.

 

Se tiver vodca ou outra bebida

Traga, por favor.

Para curar a ferida,

Do infinito amor.

 

Beba, também,

Talvez se lembre

De alguém,

Que mora lá no casebre.

 

 

 

 

 

 

 

 

           

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Flor solitária

 

Flor solitária (José Carlos de Bom Sucesso)

 

Flor solitária

À beira da praia

Esperando alguém para vê-la

E admirá-la.

 

As ondas do mar vão passando

E o poeta olhando

Para algum verso escrever

Para alguém ler.

 

O tempo foi passando

O pássaro observando

Querendo beber água naquele lugar,

Porém o medo de se aproximar.

 

A abelha voando por ali

Querendo chegar e sorri

Sentindo o vento de lado

Pousando na flor e a abandonando.

 

A tarde foi chegando

E o tempo passando.

A noite chegou

E tudo ao normal retornou.

 

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Riqueza

Riqueza (José Carlos de Bom Sucesso)

 

Sua alteza,

A Dona Tereza,

Bondosa amiga,

Criando inimiga.

Com tantas joias no pescoço

Esbanja-se para o moço,

Loiro, forte, bonito,

Para Ela, o mito.

Tem Ela mais idade,

Conhece toda a maldade,

Do amor, da vida,

Da soberba.

Gosta do moço sem barba,

Habilidoso em caça, com espingarda,

Que luta para não ser amado.

Ele, o simples criado,

Não quer amor da ricaça

Pois prefere o amor da Luana, sua esperança.

Os dias vão passando

Ela, por ele, lutando

Até a vida acabar

E o verbo foi amar

Aquele tolo,

Que gosta de bolo,

E não foi capaz

De lhe trazer a paz.

 

 

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Aquela árvore

Aquela árvore (José Carlos de Bom Sucesso)

 

Fixa no barranco

Aquentando todos os solavancos.

A árvore permanece viva

Pois tem a vida.

 

Viu o barco descer

Rio abaixo, também viu nascer,

Os lindos e grandes peixes,

Todos eles nos mesmos feixes.

 

A grama verde e bela

Fez de sua imagem como flor de canela.

Ali os pássaros pousam sossegados

Vendo a paisagem e também os gados.

 

A água da represa bem azul

Marca o vento vindo do sul.

Ondas são levantadas

Onde vozes ficam caladas.

 

Então ramos e pequenos arbustos

Dão nos pais os sustos,

Pois as crianças pequenas ali ficam

Observando as cenas que lhe encantam.

 

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Os passarinhos

Os passarinhos (José Carlos de Bom Sucesso)

 

            Já era tarde do início do mês de abril. A temperatura foi alta pela manhã. No decorrer do dia, algumas nuvens negras encobriam o vasto céu azul, trazendo o cenário triste para aquele dia de outono. A chuva iniciava-se lentamente, com um pingo aqui, outro ali, mais dois pingos aqui, mais três do outro lado. Aos poucos, os pingos de chuva se transformavam em bicas de água, que caiam pelo vasto chão coberto por verdes gramas. A pequena pressão do vento ia balançando os pequenos arbustos que derramavam tinas de água clara caída da chuva daquela tarde. Folhas de bananeiras balançavam no verdadeiro compasso, que mais se pareciam lindos passos de dança.

            Pousados no fio de arame que liga dois mourões da grande cerca, próxima à varanda da casa de verão, os pássaros pousaram ali. Deveriam eles ser o casal de canários, que se prepararam para o pouso noturno.

            A chuva caia, mas não tão quão intensidade como antes. As fortes pancadas diminuíam à medida que o tempo passava. No calendário marcava-se o dia destinado à comemoração de Sexta-Feira da Paixão, data especial para celebrar o final da Semana Santa.

            No horizonte, ainda coberto por algumas nuvens negras, encontravam-se algumas rajadas dos raios solares, que já não brilhavam tanto, mas o suficiente para mostrar que a chuva passaria em alguns minutos.

            A rolinha, conhecida por “fogo apagou”, murmurava sua canção ao longo da tarde. Ela possuía o ninho naquele local. Observando, estava ela com dois filhos. O cântico soprado por ela era o pedido ou o chamado do companheiro ou da companheira, não se sabe ao certo quem era a fêmea ou qual seria o macho.

            Próxima daquele lugar, pousada no poste de energia elétrica, a canária cantava sossegada. Sua canção era alegre, mas sempre olhava para a varanda da casa. Há alguns dias, ela chocara na comunheira daquela cobertura. Não se sabe se os filhotes nasceram ou se algum gavião ou coruja tenha desfeito o ninho.

            Outros pássaros voavam por ali. O casal de tico-ticos aterrissou sobre a verde grama. Nela, fez o jantar saboreando as sementes úmidas da chuva.

            Novamente, as rolinhas entoavam a canção. Deveriam estar elas comunicando sobre a noite que se aproxima.

            O vento tardio sopra com mais intensidade. Outras nuvens negras vão surgindo e parece que virá mais chuva.

            Outros pássaros vão voando naquelas dimensões e devem estar procurando algum lugar para vencer a noite. Os tucanos fazem barulho do outro lado do rio. Devem ter ajeitado em algum galho alto e protegido da chuva. Lá em cima, ouve-se o bater das asas do grande gavião. Voa ele bem rápido e nem mesmo olha para o chão.

            As maritacas ainda não passaram. Devem elas chegar em breve, na safra dos coquinhos ou das jabuticabas, estas demoram um pouco a mais.

            Assim a noite vai chegando. Vê-se pouca luz dos raios de sol no horizonte, pois parecem riscos luminosos.

            Os pássaros param o cântico, pois o escuro vai se aproximando das árvores em torno da casa de verão. Ao longe, bem acima do rio, repentinamente, a luz do terreiro é acessa. Ouve-se, ainda, a serenata da descuidada cigarra, que se esconde junto ao galho mais alto da árvore de ipê.

            Tudo fica escuro. Então, as luzes da varanda são acesas e o olhar do poeta se perde na escuridão da noite.

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Ramos

Ramos (José Carlos de Bom Sucesso)

 

O sol brilha forte

Vento fraco ao norte.

Os sinos badalam,

As flores entre si falam.

A banda de música sobe tocando

Seus componentes vão marchando.

O padre com as vestes pomposas

Dona Mariinha lhe entre o boque de rosas.

Doze figurantes vestidos ao tempo

Para representarem as cenas do momento.

Até o jumento ganhou a veste

Do vermelho manto que o reveste.

O coral cantando as músicas sacras

Dando vivas junto ao som das matracas.

Ouçam os estrondos dos fogos de artifício

Para o João, seu ofício.

O povo se aglomerando à frente da igreja

Recebendo as mensagens que estão dentro da bandeja.

Perto da daqui está o caminhão distribuindo os ramos

Para lembrar da entrada de Cristo, a quem amamos,

Na cidade Jerusalém.

Um a um os ramos são entregues,

Não se esquece dos moradores dos albergues.

Tem o João Manoel,

O tio da Raquel,

Que acompanha a procissão

Com um lio de ramos na mão.

A Maria

É só alegria.

Será mamãe neste mês.

O Pedro ficou mais cortês.

O casal de vetustos acompanha com muita fé.

Estão pertos da Nazaré,

A enfermeira chefe do hospital,

Formada na Capital.

Muitas pessoas ali estão

Para a fé neste domingão.

 

 

 

             

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Menino pescador

Menino pescador (José Carlos de Bom Sucesso)

 

Sol do meio dia

À beira da represa.

O menino em busca de sua presa

Um, dois, três, até quinze

Peixes, que a testa flange.

Na margem, o pai olhando

E o povo o espiando.

Isca o anzol

Protege o rosto do sol.

Três são as varinhas

Onde os peixes pedem as linhas.

Não perde nenhum peixe

A irmã falando que o deixe.

As horas vão passando

E a vasilha enchendo.

São peixes grandes

Do tamanho dos bondes.

Tem os menores

Que ele oferece para seus amores:

A “Titinha”

Sua madrinha.

Tem a

“Jarmã”

A irmã.

Para os outros,

Ele oferece seus biscoitos.

O pai fala:

Vamos embora?

Pois está na hora.

Junta o balde e sai contente,

Pedindo ao pai mais um refrigerante.

Almoça.

Sai depressa como uma moça.

Novamente no pesqueiro

Querendo, mais uma vez, ser o primeiro.

Assim a tarde vai passando

E o menino pescando.

Já pegou mais de duas dúzias,

Que chama as meninas de “Luzias”.

A noite vai chegando,

Novamente o menino está pescando.

Desta vez aproveita a luz lunar

Para mais peixes pescar.

 

           

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Restolho

Restolho (José Carlos de Bom Sucesso)

 

            Naquela manhã, Pedrinho não tinha mais nada a fazer. Levantou-se bem cedo. Foi à cozinha e tomou o café com o leite preparado pela mãe. Junto a esse, comeu o bom e grande pedaço de broa de queijo, com manteiga de vaca. Assim que terminou, devorou, também, o imenso pedaço de queijo, bem curado, mordendo-o lado a lado até chegar ao centro. Tomou mais café. Pegou o carrinho de plástico, onde se via o formato do caminhão basculante, e saiu para perto do curral. Lá, consertando a torneira, encontra-se o pai, pois era domingo e ele não teria muitos afazeres a não serem os de domingo.

            - Papai! O que está fazendo?

            O pai, concentrado no reparo da peça, ergue a cabeça lentamente na procura de onde o filho está, pois imaginava que ele estivesse fazendo alguma bagunça no quintal. No último domingo, ele pegou a enxada e fez questão de cortar as flores da mãe. Levou a surra, mas o pai logo se arrependeu.

            - Estou reparando a torneira, pois ela está vazando muito e fazendo barro no quintal.

            O pai, de nome Marcos, respondeu ao filho e continuou atento ao serviço que realizava. A manhã de domingo prometia ser ótima, pois o leite já fora tirado e já havia tratado do gado. Aguardava o término da manhã para o almoço. Mais tarde, ele tiraria o leite da tarde e estaria pronto para o descanso.

            - Papai!

            Marcos olhava novamente para o menino e pensava que mais alguma travessura ele poderia estar tramando. Já se irritava com a insistência do garoto, pois ele continuava a chamá-lo de forma contínua, ou seja, muitas vezes.

            - Papai! Papai!

            O jovem pai se irritava e fingiu que não ouvia. Prosseguiu no ajeitamento. O menino, mais forte, o chamava. Foram tantas chamadas que ele, mentalmente, contava de um a cem para não perder mais a paciência. O reparo da torneira não estava dando certo. Ela continuava vazando e se via na obrigação de comprar uma nova peça. Alguns segundos se passaram. O menino, porém, não terminava a insistência de chamá-lo, parecendo que o mundo estivesse acabando naquele momento.

            Mais uma vez, o pai erguendo a cabeça, não se conteve e ia xingá-lo, mas respirou profundamente e teve afeto ao filho, que vestido com a camisa do time do coração do pai, o Flamengo, a bermuda preta e calçado com a chinelinha, também, do time do coração do pai. Nas mãos, junto ao peito, apertava o carrinho basculante que ganhou de aniversário da avó.

            Pedrinho já estava bem próximo do pai, que poucos passos os separavam. Ele, sem dó e piedade, gritava para o patriarca para lhe atender.

            - Papai! Papai!

            Chamava pelo pai a ponto de lhe puxar pela camisa. Marcos, agora mais calmo, olhando para a figura que mais amava, tranquilamente disse:

            - Diga, meu precioso filho!

            - Você está muito bonito hoje. Espero que tenha tomado café, pois o homem sem a refeição da manhã é um homem sem forças para o trabalho.

            O garoto sorria e esperava que o pai não estivesse magoado consigo. Com a carinha de alegria, sabendo que o pai não lhe daria aquela bronca, exclamou:

            - A vaquinha “Malhada” está sozinha no curral. Está ela perto da cerquinha. Lá tem o banquinho. Penso que ela está com muita fome. Berra muito. Pensei comigo:

            - Dentro do paiol tem o cestinho com os restolhos que o senhor pediu para separar no dia de ontem. Eu os separei. Estou pensando em levar para ela, porque o leite que tomei hoje, junto ao café, foi tirado dela. Seria a retribuição pelo gostoso leite que eu bebi.

            - O senhor concorda?

            Marcos, olhando com todo carinho para a pequena figura do filho, segurando a pequenina mão em sua camisa, tirando o chapéu da cabeça e a coçando, voltando novamente a boina para a cabeça, disse:

            - A “Malhada” já comeu hoje. Eu dei ração para ela e está de barriga cheia.

            Ligeiramente, o menino replicou:

            - Não, não senhor! Quando ela berra é porque está com mais fome.

            - O senhor não precisa ficar lá comigo! Basta, na verdade, pegar o cestinho, porque eu mesmo lhe dou os restolhos.

            O pai vendo a certeza e mais ainda a esperteza do filho, sabendo que se não o fizesse, ele não lhe daria sossego naquela manhã. Seria, para Marcos, a válvula de escape para o término do reparo na torneira. Pensava ele, que se Pedrinho estivesse entretido com a vaca, o reparo seria mais rápido e terminaria depressa.

            Balançando a cabeça, disse:

            - É verdade, meu filho. A “Malhada” não comeu bem nesta manhã. Foi bem pensado você separar o alimento para ela. Vamos! Eu vou colocá-lo lá. Tenha cuidado para não cair!

            Pegando o filho no colo e o colocando nas costas, saíram os dois. Marcos corria lentamente e dizia que era o cavalinho e Pedrinho era o peão. O menino aproveitava da situação e dava algumas pancadinhas com o tornozelo nas pernas do pai, como se fossem as esporas do peão.

            Lentamente, chegaram junto à cerquinha do curral. Marcos dirigiu ao paiol e pegou o cesto. Ajeitou o garoto no assento mais alto. Junto do assento, o cesto, com os restolhos, foi apoiado. Pedrinho estava feliz. Já em posição de dar o alimento para a vaquinha, ele a gritava. Ela, vendo que seria farta com o alimento, veio correndo e berrando.

            Marcos, então, pode voltar ao afazer e terminar o reparo tão demorado, mas com o sucesso almejado.

            Pedrinho, vendo que a vaca se aproximava, dizia aos berros pelo nome. Ela se aproximou. O primeiro restolho foi entregue e ela, com a grande língua, pegou-o, mastigou e engolia rapidamente. Mal engolia um, já queria o outro. Assim, por um longo tempo, “Malhada” se deliciava com os alimentos. O garoto fica mais feliz quando ela está comendo.

            Do outro lado do curral, “Tião Grande”, o galo grande, robusto, carijó, de crista enorme, cauda redonda, se aproximava para ver se sobrava algo para comer. Pedrinho descascou o restolho maior. Deu a palha para a vaca e jogou a pequena espiga de milho para o fiel amigo, o galo. Ele, bicando cada grão, chamava algumas galinhas para devorar o milho. Apenas duas apareceram. Ele, por sua vez, tirava o grão de milho da espiga e oferecia às galinhas. Fazia, também, o galanteio como se estivesse cogitando para acasalamento.

            Os minutos foram passando. Pedrinho ainda dava de comer à vaca até que os restolhos se acabaram. Ela permaneceu por ali recebendo o afeto do menino, que coçava sua cabeça, acariciava o focinho.

            Não tendo mais nada para fartar-lhe, “Malhada” saiu do curral indo em direção das outras vacas que estavam no pasto, logo acima. O galo “Tião Grande” se retirou com as duas galinhas. Foram eles para perto da janela, onde a mãe de Pedrinho iniciava o almoço. Receberam eles restos de alimentos do jantar do dia anterior. Ficaram lá por algum tempo e se retiraram. Devem ter ido beber água no poço da bica.

            Pedrinho desceu do assento da cerca do curral. Com o carrinho, achou o monte de terra e lá o encheu de terra. Fez estradinhas e permaneceu brincando até que a mãe o chama para o almoço.

            Marcos conseguiu finalizar o reparo da torneira. Chamou o garoto para o almoço.

            Assim, almoçaram. Marcos foi tirar o cochilo e Pedrinho foi ler seu livro predileto: “O Guarani”.

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Poema da natureza

Poema da natureza (José Carlos de Bom Sucesso)

 

No galho mais alto da árvore,

O casal de canários faz o ninho.

O vento sopra de mansinho

Jogando pequenas folhas na calçada de mármore.

 

O pombo voa desesperado

Lá pelas bandas do público banheiro.

Bate as asas bem devagar, pois está cansado

De tanto procurar o companheiro.

 

A borboleta sobrevoa as flores,

Pousa em cada uma, sem pular.

O poeta vê o inseto e pensa em seus amores,

Pois, para ele, a esposa quer amar.

 

Lá longe, correndo pela calçada,

O cão faminto traz algo na boca.

O namorado dá um beijo na namorada,

De tão feliz, ela fica meio louca.

 

Então, a natureza

Versa para o poeta,

A sua beleza,

Para que ele escreva para sua neta.

 

 

 

 

           

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Bolinhas de Gude

Bolinhas de gude (José Carlos de Bom Sucesso)

 

Menino feliz, vestido de bermuda e camisa,

Onde se vê o rosto soprado pela brisa.

Na algibeira o volume imenso.

Está ele feliz, mas tenso.

Vai jogar bolinha de gude

No final da rua, perto do açude.

Pelas suas contas são vinte

Ganhas no último jogo do Vicente.

Vai saltitando e gritando

Onde ouve a Dona Maria questionando

Que o menino ainda não fez seus deveres.

A redação é do professor Peres,

Sério, calado,

Às vezes mal educado.

Grita o Chico

Que hoje lhe ganhará a partida de número cinco.

Sente nos ouvidos o resmungo do amigo

Que hoje será seu arque inimigo.

Descem os dois abraçados

Chamando os outros para assistirem parados.

São duas, três e até seis partidas.

Para o menino feliz foi ruim,

Tendo a sétima partida seu fim.

Perdeu ele todas a bolinhas de gudes.

Irá ele capinar o jardim da Dona Gertrudes

Ou voltar para casa para fazer os deveres

E no final da noite receber seus haveres.

 

 

 

 

 

           

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O almoço

O almoço (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

            O sol luzira forte. A árvore iguala a sombra dos dois lados. Nenhuma nuvem corre no azul celeste. Um tico-tico canta suavemente no alto da árvore. O mormaço está bem forte. Meados de agosto. O pasto seco, as árvores querendo trocar as folhas, pois já é indício de primavera. O pequeno ruído de uma das poucas cachoeiras que correm na imensa pastagem. Por perto, está o gado branco, o gado comercial. Muito feroz, mas sempre acostumado com o tratador.

            O vaqueiro está montado no cavalo branco. De chapéu de palha, com uma cordinha contornando o rosto para segurá-lo do vento no mais longo e destemido galope do corcel branco, que se confunde com o gado no pasto. Camisa de mangas longas arregaçada até a altura do cotovelo. No bolso, à esquerda, um pequeno bloquinho ainda vazio e uma caneta esferográfica na cor azul, onde se via pequenos desgastes da tampa e sinal de minúsculas mordidas. No pescoço, pode-se ver um cordão transparecer no suado e queimado gargalo, nas cores bem brilhantes em prata. Sobre o peito e com duas casas de botões não abotoadas, três medalhas cobrem o peludo peito, que são vistas medalhinhas da Senhora Aparecida, uma cruz e a estrela de Davi com seis triângulos. O relógio automático “Orient”, com o fundo vermelho fosco, marca precisamente doze horas.

            Mobilizando o corcel para perto da grande árvore, o vaqueiro golpeia lentamente as rédeas, fazendo-o parar bem suavemente. Uma pequena fala da a ordem de parada e este obedece rapidamente. Com a cabeça erguida, olhos bem abertos, boca entreaberta e mascando lentamente o aço posto na boca comandado pelas rédeas, o cavalo respira várias vezes, pois está cansado pelo longo galope. A barriga encolhe e se alonga rapidamente. Alguns gemidos e pequenos passos em volta, o corcel obedece por completo. A manhã foi longa. Muitos lugares os dois passaram e a beleza era deslumbrante.

            Ajeitando-se a coluna lentamente, com a mão direita tira o chapéu como se estivesse agradecendo a Deus por mais aquele lindo dia, um dia de muito trabalho, de muito esforço e de muita coragem. Com a mão esquerda, já fora do controle das rédeas do cavalo, ele passa a mão no rosto como estivesse limpando algumas gotas de suor. Fala para seu cavalo que já está na hora de almoçar.

            Com a perna esquerda, ele firma o pé no estribo. Segura a mão direita do outro lado e vagarosamente a perna direita solta do estribo direito. O peso do corpo faz com que imediatamente toma o contato com o solo seco, debaixo da grande árvore, com sombra. Empurra um pouco a calça de brim azul e ainda meio úmida do suor dos forros dos arreios.

            Com tanta precisão, retira da cabeça do arreio uma pequena sacola, não muito grande, mas o suficiente para caber ali uma marmita, uma garrafa de café e uma vasilha de plástico com alguma merenda.

            Do outro lado do arreio, em um pequeno saco, retira uma pequena vasilha e lá despeja mais ou menos uns dois quilos de milho em grão. Rapidamente, retira as rédeas do amigo cavalo e este respira mais aliviado. Solta o cabresto e coloca o milho. Imediatamente o corcel abaixa a cabeça para saborear o lindo e gostoso almoço.

            Mal olha para o lado direito, um pouco longe, o vaqueiro vê alguns galhos secos. Encontra duas pequenas pedras. Ao encontro delas, recolhe os ínfimos galhos e os reúne ao lado. Com as mãos, reúne algumas folhas secas e um resto de ninho de passarinho caído do galho da grande árvore. Tirando do bolso direito, junto a uma penca de chaves da fazenda onde trabalha, um isqueiro a gás, na cor vermelha, aproxima das folhas secas e clica algumas vezes até que aparece a primeira lavareda. Aproximando mais folhas e alguns gravetos que estavam por perto, uma chama maior é vista entre as duas pedras. Ele, porém, levanta rapidamente e se dirige ao embornal que se encontra encostado no tronco da árvore.

            Respirando profundamente, ele olha para o fiel amigo corcel, que após comer o milho debulhado, o encara por um longo período, pois deve estar agradecendo o fiel amigo pelo almoço. Lambendo os beiços e balançado a cabeça, o velho amigo vai saindo lentamente, pois abaixando a cabeça inicia a pastagem de algumas verdes gramas por ali.

            O vaqueiro, enfim, pega o embornal. Com todo cuidado, ele retira a pequena marmita de alumínio, que está bem lacrada. Cautelosamente, ele abre o pequeno compartimento. A tampa vai separando do resto e dentro dela, bem separado, em cada canto, o arroz bem soltinho, o feijão bem passado, uma farofa feita com farinha de milho e nela alguns pedaços de carne, ovo, cebolinha de folha; dois pedaços de carne de porco com muita gordura, uma lasca de angu feito com fubá moído em moinho de água, um punhado de couve picada e muito fina e por cima, um molho de batatas com cebolinha de folha, pedaços de tomate e quatro azeitonas bem verdinhas.

            Com muito esmero, ele aproxima a marmita da trempe improvisada, que as lavaredas de fogo vão consumindo os gravetos e em poucos minutos, ouve-se um pequeno barulho da fervura do feijão. Espera um pouco mais para certificar-se de que já está pronta para o consumo. Com a mão esquerda, ele pega novamente o embornal e retira uma colher e um pano de prato, que provavelmente servirão para completar a mesa para o almoço. Retira, também, uma garrafinha com um suco de morango feito em casa, aquele feito com pozinho bem vermelho e bem adocicado. Destampa a garrafa e quase esvazia totalmente o líquido. Talvez seja o calor e a vontade de beber água.

            Olha para cima e mais uma vez vê o amigo cavalo, que se distancia um pouco mais e se entretendo com as poucas gramas ali. Com a mão direita, retira da cabeça o grande chapéu, segurando firmemente na cordinha e o coloca perto do embornal. Com a mão esquerda, ele pega o pano de prato e lentamente se aproxima da marmita. Ele a retira e a coloca entre as duas pernas, pois está sentado próximo ao fogo. Segurando firme, o cordão com as medalhas, ele faz o sinal da cruz e agradece a Deus pelo alimento, pela família, pelo trabalho e pela vida. Demorando mais alguns segundos, ele segura a marmita na mão direita e a forrando com o pano de prato a coloca na palma da mão esquerda. Com a colher na mão direita, ele inicia as primeiras garfadas do almoço. Come depressa, pois está com muita fome.

            Um pássaro canta perto dele e ele se distrai, mas restam alguns pequenos grãos de arroz, que ele, humildemente, com a colher, joga para que a pequena ave desça para comer. Estica-se um pouco, voltando para a garrafinha de suco, ele degusta os últimos goles. Tampa a garrafinha, tampa a marmita e as coloca novamente dentro da cevadeira, pois o dever lhe chama. Faz uma pequena pausa de uns quinze minutos. Quis cochilar, mas foi logo acordado pelo berro de um boi nas proximidades.

            Erguendo-se, ele assovia e o fiel amigo se aproxima. Apaga algumas chamas do fogão improvisado, coloca o embornal na cabeça do arreio, aperta novamente o acento e coloca o freio das rédeas no amigo. Monta-se rapidamente e sai à procura do gado para levar para a fazenda.  

 

 

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Águas

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Águas (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

As águas do riozinho

Vão correndo de mansinho

Levando uma pequena folha

Na superfície, em forma de bolha.

 

Vai ficando para trás a fina areia,

Lugar certo da sereia.

Um pássaro voa apressado,

Parece que está estressado.

 

Às margens, as verdes plantas,

São muitas, são tantas,

Deliciam ao ver a água pura,

Escorrendo forte, em doçura.

 

Algumas pedras seguram as águas,

Querem que elas fiquem paradas.

Surge um pequeno peixinho,

Tão meigo, tão bonitinho.

 

 

           

 

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O medo e o poeta

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O medo e o poeta (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

O poeta tem a noite para escrever,

Mas tem medo de morrer.

Narra o amanhecer.

Tem o pânico ao entardecer.

 

Olha para o horizonte

Vê uma nuvem errante.

Seu pensamento vai distante.

Imagina ser um pássaro principiante.

 

Corre para a janela aberta,

Vê a noite e fica alerta.

Não quer perder a vida farta.

Escreve a última carta.

 

Faz um pequeno testamento,

Pois a poesia está a cada momento.

Uma linha, um remendo,

Um amor no pensamento.

 

 

 

           

 

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Chuva caindo

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Chuva caindo (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

Veja a chuva caindo na serra,

Veio para molhar a terra.

O pássaro voa apressado,

Não quer ser molhado.

O vento sopra forte,

Com medo da morte,

O pequeno filhote,

Clama pela mãe, sua mascote,

Ligeiramente chega ao ninho,

Trazendo um pequeno bichinho,

Pois é o almoço do filho querido,

Meio sufocado, meio temido.

Os pingos vão caindo,

A passarada vem chegando.

O sol se escondeu atrás da nuvem

Não quer ver o homem,

Que sai correndo,

Debaixo da árvore se escondendo.

No horizonte soa o barulho do trovão,

Espantando o gavião,

Fazendo-o voar até o chão.

A chuva vai caindo então,

Para molhar a paisagem...

Aos poucos dá a aragem

Para todos terem coragem.

 

           

 

 

 

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