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Soneto clássico

       Cantada.

 

Te dou a terra e o Céu

Para desfrutar tua beleza

Em troca da grinalda e do véu

Te dou conforto e riqueza.

                Serás a única no meu coração

                Serei sempre homem bonzinho

                Serás a representante da paixão

                Serei o teu brinquedo de carinho.

Vamos construir a felicidade

Esquecendo as diferentes idades

Fugindo do fantasma da maldade.

                Teus desejos serão sempre cumpridos

                Te amo, direi sempre aos gritos

                E, aonde eu for, prometo te levar contigo.

                                     # Roger Dageerre.

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9 semanas de ficção

            

 

Volume 3

                           PARTE IV                        

 

                        Cara de palhaço

 

          Era uma vez um homem de nome José apaixonado por carnaval e que se especializou em recuperar fantasias carnavalescas. Ele desmontava os enfeites para reaproveitá-los no carnaval do ano seguinte. José usava bem a criatividade, pois os enfeites velhos eram reciclados com tanta perfeição que pareciam novos. Trabalhava assim há muito tempo e, apesar de fazer tudo sozinho, nunca deixou o serviço atrasar. Ficava trabalhando até tarde da noite, acordava cedo, mas ficava deitado demonstrando cansaço. E quando levantava, ia logo dar sequência no trabalho de reciclagem, mas, mesmo fazendo o seu serviço de pé, conseguia cochilar.                                                                                                     

          Naquele  dia,  o temp  estava nublado e o sol  demorou a aparecer, prometendo um dia de chuva. Isso preocupava demais porque ele precisava de bastante espaço para trabalhar, de preferência ao ar livre.

          Sua vizinha e admiradora Carmem  aproximou-se  e perguntou:

          - Não percebeu que vai chover?

          - Aposto que não vai. – respondeu José sem interromper o trabalho.                                                                                        

           - Ao invés de apostar, é melhor prevenir. Vamos carregar as fantasias de volta ao galpão?

          José continuou com os serviços como se não estivesse ouvindo-a, mas ela insistiu:

          - Vamos, José! Vai chover. Você parece que está dormindo.

          Enquanto carregavam as fantasias, ele comentou:

           - Eu vivo com sono. Quando não estou dormindo acordado, estou esperando o sol raiar, e às vezes o sol não aparece, como se o tempo estivesse nublado o dia todo.

          - Acredito que você está acordando cedo demais...                                                                                    

          - Como diz o velho ditado: “quem cedo madruga, Deus ajuda” – disse José.                                                                                                         

           - Quem acredita nesse ditado é porque anda com fé.  – completou Carmem.

           - Mesmo   assim,   o   dia   insiste   em  nascer  para mostrar que o ontem acabou e para exibir o hoje cheio de esperanças, e depois deitar-se ao final da tarde para liberar a treva. Assim, a aurora e o pôr do sol mantêm viva a rotina da existência garantindo sempre um novo dia.                                                                                         

          - Como dizia um filósofo maluco: “quem muito dorme, pouco vê”.

          Um ditado que não combinava com José porque dormia pouco e enxergava muito bem. A visão dele era perfeita; isso contribuía bastante, principalmente na hora de enfiar a linha na agulha fina para fazer os arremates mais delicados. O maior problema era porque estava eternamente com sono porque dormia muito tarde. O serviço que José executava era para ser um trabalho de equipe, mas ele preferia fazer tudo sozinho porque não tinha paciência para ensinar, e a maioria das vezes tinha que esperar a definição do samba enredo. Por isso, tinha que deixar o acabamento para quando estivesse próximo do carnaval, mas isso não o impedia de trabalhar.                                                                                        

          Antes de se retirar, Carmem perguntou:                                                                                              

          - Se eu fosse participar do próximo carnaval, como seria a minha fantasia?

          -  Seria  uma  brincadeira  de  ser  feliz.  – respondeu     sem pensar.

          - E como seria a tua?

          - Um monólogo! Escolheria uma roupa folgada, estampada, sapatos imensos de bico fino,  chapéu  coco  e pintaria o meu nariz assim. – E começou a se pintar,  apesar dela dizer que não precisava. Só perguntou por curiosidade, mas José continuou o diálogo enquanto se vestia de palhaço.

          Horas depois, José já estava um verdadeiro palhaço; o nariz pintado de vermelho e uma simulação de lágrimas escorrendo.

          O que mais impressionou Carmem foi a mistura da tinta que ele usou para imitar o tom da cor da lágrima. Depois, pegou um tarol e fez a percussão e, em seguida, abandonou-o e começou a cantar um refrão dizendo que a música era para levantar o bloco, porque toda escolha é feita por quem acorda  e   não   levanta,   ficando   deitado,                                                  apesar de acordado, como uma pessoa que dormiu pouco.

          - Diga-me, o que mais te inspira a fazer o teu trabalho? – perguntou Carmem.

          - Uma pétala de uma flor ou uma folha de uma planta que elege uma pessoa que mora ao meu lado, assim como  você,  a  estrela  maior  da  escola  que  se  junta  às  demais para pintar o estandarte de azul e pôr as estrelas no azul do céu.                                                                                                            

          - Isso não muda?                                                                                      

          - Para que mudar? O carnaval é a alegria do povo. Eu também brinco de ser feliz. Por isso, pinto o meu nariz.

          - Até quando?

          - Só hoje! Amanhã virá outro e mais tantos profissionais dedicados e fanáticos por carnaval...

          - Então, você não vai mais trabalhar?

          - Aqui, não!

          - Por quê?

          - Porque tudo tem limite. Nada é para sempre, nem mesmo a emoção, porque tudo que é feito com carinho e dedicação termina deixando saudade. E com o carnaval não é diferente. Toda euforia do carnavalesco é como uma cara de palhaço, que se apresenta com alegria, mas costuma se esconder com vontade de chorar...

          Roger Dageerre.                  

 

 

 

 

 

 

                                                                                                            

                   

 

 

                         

 

 

                              

 

 

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9 semanas de ficção

        Volume 3

                               INÍCIO

                           Antigamente

          Era uma vez dois amigos que estudaram juntos até quando completaram o ensino médio. Estevão formou-se em Direito na capital da Paraíba, e depois foi aprovado no concurso para juiz. Seu amigo Walace também se formou em Direito na capital maranhense e depois fez concurso para promotor. Estevão trabalhava em Colinas-Maranhão e Walace em São Luís-Maranhão. Passaram-se vários anos sem contato, até que um dia o meritíssimo tirou férias e foi procurar o excelentíssimo promotor amigo de infância Walace. Ele chegou a São Luís e foi logo ao Fórum Desembargador Sarney Costa à procura do amigo promotor de justiça. Dirigiu-se à recepção e perguntou:

          - Onde posso encontrar o promotor Walace?                                                                                         

          - Ele deve estar agora na cantina.

          - Para que lado fica? – Perguntou o Juiz.

          - O senhor é advogado? – Perguntou a recepcionista Danna.

          - Sou juiz da comarca de Colinas - Maranhão. Somos amigos de velhos tempos...

          - Então, meritíssimo, vou solicitar uma funcionária para acompanhá-lo até lá. – Fez sinal para Verônica, que estava próxima à recepção.

          - Leve o meritíssimo juiz até a cantina, pois ele quer rever o promotor Walace.

          - Vossa excelência conhece o promotor?

          - Se ele não mudou muito, vai ser fácil reconhecê-lo.

          - Acompanhe-me, por favor. – Ele agradeceu à recepcionista, e saiu acompanhando Verônica.

          Quando chegaram, Verônica disse:

          - É aquele ali que está tomando café na última mesa à direita.                                                                                                                                                                       

          - Obrigado. Ele está muito diferente, pois na juventude usava cabelos longos e bigode. Se você não viesse comigo, eu não ia reconhecê-lo.       

          Verônica ficou aguardando para presenciar o reencontro dos amigos. O juiz parou diante do promotor e foi logo reconhecido. Walace levantou-se e abraçou o juiz com satisfação. Depois sentaram-se para uma longa conversa. Verônica retornou à recepção e comentou com a colega Danna:

          - Abraçaram-se, estão tomando café e conversando...

          - O que será que um meritíssimo conversa com um excelentíssimo senhor promotor de justiça?

          - Isso é fácil de saber.

          - Como?

          - É hora do seu lanche. Basta avisar que vai à cantina, logo vem alguém substituí-la. Aí, sentaremos próximo da mesa deles e, de costas, ficaremos atentas ao diálogo dos velhos amigos.

          - Muito bem! Gostei da ideia. Vamos logo, pois estamos perdendo o início. – E assim fizeram. Procuraram uma mesa perto deles e sentaram-se de costas,  disfarçando  que estavam apenas lanchando, sem que  eles percebessem a intenção delas.

          - Meritíssimo ficou tocando guitarra até quando? – Perguntou o promotor.                                                                                                                                                                           

          - Quando fui fazer vestibular em João Pessoa, tive que abandonar a música, pois eu estudava em horário integral. E o excelentíssimo lembra-se das tardes de domingo?

          - Com muita saudade. – Respondeu o Promotor.

          - Realmente! O tempo passou, mas em mim deixou muita recordação. Foram tardes com tanta alegria, que brincávamos como se fosse dias completos. Sempre acompanhados de belas garotas. – Lembrou o juiz.

          - Lembra-se das composições?

          - Claro! Os acordes eram resumidos. Usávamos expressões simples para facilitar a melodia. A música era só falando de amor, de paixão, de sonhos, saudade e automóveis  - carros esses que não eram nossos, não tínhamos nenhum, íamos aos encontros de carona. Recordações, amores e cores eram apenas para rimar. Hoje, os meus dias são recordações daqueles sonhos. Morro de saudade do tempo do namoro quando a tarde caía e começava a ficar escuro, e as meninas menos inibidas. Tudo era felicidade. Éramos jovens que sabíamos usufruir da mocidade.      Naquela época, era amor passageiro, mas era amor verdadeiro. Quando não dava mais, existia sinceridade e a infidelidade era desnecessária, pois éramos amigos e não ficava mágoa quando uma garota dizia que não dava mais. Sempre elas tomavam a iniciativa de terminar e ficavam livres para namorar outro do nosso grupo. Como se fosse um rodízio. Tudo me mata de saudade. Bons tempos, excelentíssimo...

          - Se não estamos trabalhando, por que esse tratamento?

          - Foi o meritíssimo quem começou...

          Abraçaram-se com muita satisfação.

          Danna e Verônica, satisfeitas, retornaram à recepção comentando:

          - Gostou, amiga? – Perguntou Danna.

          - Gostei, e fiquei surpresa, pois nunca imaginei que os excelentíssimos de hoje já teriam sido amigos de ontem...  

            Roger Dageerre. 

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9 semanas de ficção

 

Volume 2                                   

                                      Conflito.

 

          Era uma vez dois jovens que se conheceram por coincidência, pois Romeu recebeu uma mensagem de texto via celular enviada por Julieta. A mensagem foi um equívoco, porque ela tentou mandar um recado à sua irmã e acabou digitando um número errado. Por isso, o aviso chegou ao telefone de Romeu, que logo ligou perguntando:                                                                                                              

          - Quem fala?

          - Você não diz alô, nem bom dia e vai logo perguntando quem fala.

          - Quero saber de quem é esse telefone.

          - É de Julieta. Por quê?

          - Porque recebi uma mensagem e não entendi.

          - Desculpe-me! Foi engano. O recado era para minha irmã, e digitei um número errado. Pode desconsiderar.

          - É muita coincidência...

          - O quê?

          - O teu nome é Julieta e o meu é Romeu. Não é coincidência?

          - Realmente! Não tinha percebido. – Disse Julieta, surpresa.

          Passaram horas conversando, até que Romeu propôs um encontro, pois a conversa foi se prolongando demais. Ela aceitou e, no dia seguinte, compareceu ao local combinado.  Romeu  também  foi,  mas  chegou  com  uma hora de atraso, e não estava usando a roupa que prometera para  facilitar  a  identificação.  Isso  dificultou  para  Julieta encontrá-lo, mas ela não reclamou para não causar uma péssima impressão no primeiro encontro.

          Romeu identificou-a com facilidade, pois ela estava com o traje prometido e também pela impaciência dela. Ele foi logo abraçando-a, causando dúvidas, porque Julieta não tinha certeza se era o Romeu mesmo.

          - Você é o Romeu?

          Primeiro ele a beijou no rosto, dos dois lados, e depois respondeu:

          - Sou! E eu sei que você é a Julieta.

          Ela ficou mais tranquila ao saber que estava sendo beijada pela pessoa certa. Sentaram-se em um banco da praça para conhecerem-se melhor.

          Primeiro Romeu falou que era filho único, morava com os avós e nunca experimentou qualquer tipo de droga. Era protestante assíduo e tinha acabado de completar dezenove anos. Ela disse que tinha oito irmãs, morava com os pais, também era contra qualquer droga, nunca tomou nem mesmo uma taça de champanhe, era católica e tinha vinte e um anos.                                                                                          

          - Então não vamos namorar...

          - Por quê?                                                                                                              

          - Porque não aceito namorar uma garota mais velha.

          - E eu só estou aqui porque não sabia que você era um homem preconceituoso. 

          - Não é preconceito.

          - É, sim.

          - Não é. Assim como tenho as minhas manias, tenho também as minhas limitações. – Disse Romeu, já num tom de agressividade.

          Julieta percebeu que já estavam se desentendendo antes mesmo de começar o namoro, mas procurou controlar-se para poder observar melhor o seu futuro namorado.

          Romeu parecia disposto a brigar, falando alterado, chamando a atenção com gestos exagerados. Ela tentou acalmá-lo alertando-o que tinha muita gente notando que eles estavam se desentendendo, mas ele disse que aquelas pessoas não estavam concordando com a união deles justamente porque perceberam que ela era mais velha.                                                                                         

          Naquele momento, Julieta perdeu a esportiva e partiu para revidar:                                                                                                             

          - Você não precisa de uma namorada, e sim de uma babá. Filho único, criado com avós, mimado, cheio de preconceitos. Deve ter dado um trabalho imenso aos educadores, e agora está dando muita canseira aos avós.

          - Você nem me conhece.

         - Nem preciso, pois posso imaginar o tamanho da mala sem alças que alguém vai ter que carregar. Com certeza, esse alguém não serei eu. Onde já se viu um rapaz marcar um encontro com uma moça só para brigar?

          - Não estamos brigando.

          - É só o que fizemos desde quando chegamos aqui.

          - Não diga isso. Dei-te dois beijos, lembra?

          Houve um instante de silêncio e ambos começaram a sorrir. Estava ali escrito que não ia valer à pena iniciar um compromisso sério, pois as brigas iam continuar. A menos que os corpos tenham nascido um para o outro. Se isso aconteceu, vão precisar de muita calma para manter um namoro sem agressão física, pois neste primeiro dia já ficou registrado que eles iam aceitar brigas constantes  por qualquer motivo, uma vez que, logo no primeiro encontro, já era visível um desgaste de sentimentos incompatíveis, desperdícios de expressões ofensivas e de atitudes banais, porque  não  se  justifica um casal brigar por uma  diferença  insignificante de primaveras. Imagine se, ao invés de preconceito de idade, fosse de cor, classe social, ou mesmo de religião...

          Na lei dos desequilibrados, vão-se os apressados e ficam os pachorrentos, pois na convivência a dois, nunca houve caso de pessoa afobada casar-se com outra mais afobada ainda. Casa-se o agoniado com uma mulher branda, um agitado com uma estática, mas não se vê dois bicudos se beijando e nem dois atiradores sobrevivendo num duelo do amor, pois se isso acontecer, por uma coincidência, quem vai morrer serão ele e ela, porque, na briga dos sentimentos ciumentos, vale olho por olho e dente por dente, ou ambos vão morrer sozinhos, bem longe um do outro.

               Roger Dageerre. 

  

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Soneto clássico

                Fêmea brasileira.

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Debaixo dos teus pés tão elegantes              

Sou o caminho, companheiro de viagem

Nas tuas pernas roliças e gigantes  

Quero ser uma linda tatuagem.

 

                Para suas coxas de mulher gostosa

                Tenho mãos de profissional massagista

                Para teus quadris de criatividade duvidosa

                Tenho inspiração do poeta artista.

 

Para teu sorriso fascinante

E para teus lábios marcantes

Tenho astúcia de amante.

 

                Por tua beleza natural

                E por ser chamada de animal

                Consagro-te riqueza nacional.

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            .Roger Dageerre.

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9 semanas de ficção

 

                              PARTE VII

                              Não passou.

          Era uma vez uma adolescente que ficou conhecida no bairro porque sempre caminhava chorando. Isso incomodou demais o jovem Weston, que por várias vezes percebeu o comportamento estranho de Ana Carolina, a qual passeava tranquilamente, mas não parava de chorar. Weston decidiu segui-la para descobrir por que ela chorava tanto. Ao alcançá-la, perguntou:

          - Por que você está chorando?

          Ana Carolina continuou caminhando como se não estivesse ouvindo, mas ele insistiu:

          - Se você não me disser por que está chorando, não vou te deixar em paz.                                                                                        

 Ana fez uma parada e perguntou:

          - Você nunca chorou?

          - Sim! Eu também já chorei, mas você chora demais.

          - Me deixe, por favor.

          - Talvez eu possa remediar a tua dor.

          - Não, não há nenhum remédio para curar essa dor.

          - Não há como remediar ou você não quer se esforçar para se livrar dessa dor?

          Carolina deu as costas e saiu apressada sem responder, mas Weston continuou perseguindo-a.

          Quem presenciava os dois andando, pensava que ela estava chorando por culpa dele. Para não chamar muito  a atenção, Ana Carolina decidiu sentar-se ao banco da praça, dando-se por vencida. E ele sentou-se ao lado dela sem fazer mais perguntas. Ficaram sentados por mais de uma hora, sem nenhum diálogo. Quanto mais ela enxugava o rosto, mais lágrimas escorriam. Como percebeu que Weston estava decidido a ficar ao seu lado, resolveu contar o motivo do choro:                                                                                           

          - Perdi o meu namorado...

          - Como?

          - Ele precisava de um transplante de medula, não resistiu à viagem e morreu no caminho do hospital.

          - Então você gostava demais a ponto de não parar de chorar. É isso?

          - Isso mesmo. Não me conformo, pois ele era uma pessoa amável, não só comigo, mas com todos, até mesmo com as pessoas desconhecidas. Era atleta de handebol. Tinha um preparo físico invejável. Uma pessoa saudável, até aparecer, de repente, uma doença maligna, um tumor que afeta os glóbulos brancos. Estava fazendo quimioterapia, quando veio a falecer.

          Quando Ana terminou de relatar a morte do namorado, percebeu que Weston também deixou cair lágrimas, mas ele não deixou que ela percebesse que as lágrimas não eram só por causa da triste história que acabara de ouvir, mas sim porque ele tinha também um passado triste que resolveu omitir. Afinal, procurou Ana para convencê-la a viver não apenas de recordação, principalmente de lembranças tristes que só contribuem para aumentar o choro. Ao mesmo tempo em que dava forças a Ana Carolina,  tentava voltar ao passado para  tentar  mudar  a  realidade, fazendo ressuscitar a sua esposa, que morrera de parto. Quem dera tivesse o poder de interromper a gravidez dela para evitar uma cesariana! Assim, pelo menos de parto, ela não teria morrido. Weston sentiu-se culpado porque foi ele que insistiu para ela ser mãe. Uma dor que ele esperava um dia passar, mas não podia contar a Ana porque isso só ia deixá-la mais triste, e o que ele precisava fazer era conformá-la. Restava-lhe apenas a palavra amiga para incentivá-la a viver a atualidade sem ficar chorando como uma criança perdida nas ruas da cidade grande. Também não podia fazer voltar o passado porque não existe a magia de fazer voltar o tempo, pois sabemos que o tempo corre para frente sem se preocupar com o que aconteceu no passado. Mas também não podia cruzar os braços e sair andando para frente deixando Ana Carolina para trás sofrendo porque não aprendeu a viver sem o namorado que hoje não passa de um ente querido. A dor dela era a mesma, talvez a dele um pouco maior, pois Weston perdeu a esposa, que não queria ficar grávida, e a filha, que chegou a fazer parte dos 46 cromossomos. Lutou e conseguiu ser uma célula viva, mas não teve o privilégio de nascer.

          Sabemos que não é fácil qualquer perda, mas cada um sabe a medida da sua dor e o tamanho da falta que cada um  faz,  principalmente  quem  não  devia  partir  tão precocemente.                    Ele ficou pensando, ela observando, e de tanto olhar as lágrimas dele, perguntou:

          - Você está sofrendo?

          - Não! Imagina! Estou chorando porque sou solidário com você.

          - Então você não resiste ao ver alguém sofrer? – Perguntou Ana Carolina.

          - Ana, o passado triste nunca deveria existir. Devia ser riscado do pensamento, apesar de eu não torcer para ninguém esquecer um amigo, pois fica na mente um pequeno gesto de gratidão - aquela ajuda do amigo na hora certa; aquele conselho que chega para ajudar na decisão adequada; aquela opinião sem interesse que assume para si a responsabilidade quando não estamos conscientes do resultado satisfatório. Mas um passado trágico, este sim, tem que ser apagado completamente para que a pessoa sofredora encontre forças para recomeçar uma nova vida em busca de uma nova felicidade. E isso só poderá acontecer se for com amor, pois a perda parece impossível de ser esquecida, porque o coração é sensível  e  a  afeição não pode ser medida e nem comparada a nada...                                                                                       

          - Falando assim, você não vai me ajudar.                                                                                                              

          - Você tem que entender que o que passou, passou...

          - Acontece que o que passou marcou-me muito, ficou gravado em minha mente. Por isso não consigo parar de chorar. – Explicou Ana, chorando mais ainda.

          - Acho que faltou ele ser diferente. Ele, ou você. – Disse Weston, porque já não sabia mais o que dizer.

          - Se diferente eu fosse, será que eu teria chance de ser amada por ele?

          - Isso é impossível saber, mas, com certeza, se você fosse diferente, seria também amada por todos, e até por você mesma...

          Roger Dageerre.

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9 semanas de ficção

    Volume 2                                                                                                                         

                                 PARTE VI      

                              Absolutamente.

          Era uma vez dois adolescentes que estudaram no mesmo colégio desde quando iniciaram o segundo ano do ensino fundamental. Por coincidência, nasceram no mesmo ano. Nael era do signo de escorpião e Mayara, peixes. De acordo com as previsões dos astros, os dois signos têm chance para um relacionamento perfeito.

         Foram amigos até quando terminaram o primeiro grau, pois quando iniciaram o curso médio, começaram a namorar. Nael sempre muito cuidadoso com Mayara, pois, quando   estudavam   no   ensino   secundário,   tinham   que atravessar uma imensa pedreira para poder chegar ao colégio. Mayara só estudava porque tinha o apoio de Nael, pois era ele quem a ajudava a caminhar sobre as pedras com segurança. Ela tinha muito medo - acreditava que uma pedra imensa poderia rolar com ela. Na verdade, Mayara tinha um pavor desnecessário, pois ela era leve e as pedras pesadas demais, mas ela só se sentia segura porque Nael segurava a sua mão, passando mais segurança. Assim, repetiram isso durante todos os períodos letivos do primeiro grau. Talvez por ele ter passado bastante confiança a ela, tenha contribuído para iniciarem o namoro ou mesmo porque isso estava escrito no livro do destino, pois eles, além de enfrentarem a pedreira, tinham que seguir por atalhos para poder chegar mais cedo à escola.

          Mesmo o mundo dando tantas voltas, não foi o suficiente para separá-los. Enfrentaram desafios do sentimento, superaram os obstáculos difíceis para manter firme o namoro que, no início, parecia uma brincadeira de infância, mas com o tempo ficou claro que eles estavam grudados para sempre, um casal disposto a viver um amor eterno.

          Mayara  nunca  esqueceu  que  tantas  vezes  pediu ao    amigo de infância para ajudá-la a cortar madeira para a av  acender o fogão a lenha. Ele também guardou na memória todas as derrapagens nas curvas do caminho da escola e tantos “micos” que pagaram juntos por andarem apressados e por falta de experiência de rachar lenha.

          Quanto às brigas por ciúmes, ficou combinado que eles não iam relembrar, pois cada momento de insegurança de cada um era um registro de ocorrência de acusações infundadas, pois ela não podia apreciar nada bonito ou mesmo interessante, que ele provocava uma discussão banal, pois nunca existia um motivo justo. Ela também não tinha o direito de se lamentar das cenas ridículas dos ciúmes dele, porque ela era mais ciumenta ainda. Ficava atenta para qualquer olhar dele, mesmo que fosse apenas para apreciar uma mulher elegante ou até mesmo por causa de um simples cumprimento cordial. O ciúme dela independia de qualquer gênero. Era uma obstinação desenfreada sem justificativa lógica.  Por causa do ciúme deles, chegaram a travar algumas brigas; ofensivas apenas, sem agressão corporal. Digamos que foram ventos carregados demais ou temporal agitado para registrar um simples “disse me disse” não fundamentado, apenas um desentendimento de namorados com pouca experiência de vida amorosa, mas visivelmente   capazes   de   resistirem   aos   impactos    dos fenômenos dos sentimentos que controlam o amor, porque estavam dispostos a ir até o fim, ir muito mais além das previsões dos mais experientes. 

               Até os mais sábios ousaram classificar o amor deles, mas para tanto tiveram que usar a sabedoria e, depois de tantas pesquisas, conseguiram uma definição: escolheram o amor absoluto como o mais ideal para o sentimento deles. Acredita-se que os sábios chegaram a essa conclusão porque acharam especial a intimidade do casal, pois estavam sempre se beijando, e não se preocupavam com plateia, nem tampouco estavam preocupados em saber se o ambiente era adequado ou não. Talvez isso, a liberdade de intimidade, tenha funcionado como um mestre que ensinou a eles tudo referente à felicidade, pois quando não puderam usufruir do amor porque não estavam juntos, faziam amor através do pensamento, apenas como um exercício mental alternativo. E ninguém que ousasse impedi-los, pois agiam como um cumprimento de acordo formal ou mesmo um pacto de alta tensão capaz de levá-los sempre assim durante a vida deles.

          Todo dia era assim como um arco-íris que, mesmo não aparecendo, sabemos que está no mesmo lugar de sempre,   mantendo    as    mesmas    ordens    das   cores    e                        obedecendo ao mesmo ângulo, como se fosse a decoração da  entrada  de  um  local  ideal  para quem pretende praticar  uma relação prazerosa. Como se fosse uma placa anunciando: sejam bem-vindos. Assim, estariam num local aconchegante, e até seria possível nunca serem localizados por viventes do planeta Terra. E ele seria semelhante a ela, e ela igualzinha a ele, dois invocados, fortes concorrentes para o prêmio de melhores apaixonados do encantado mundo maravilhoso do amor...

               Roger Dageerre.   

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9 semanas de ficção

Volume 2

         Parte V

                                  Desafronta.

          Era uma vez uma moça que perdeu o namorado por infidelidade. Ela resolveu desabafar suas mágoas em uma mesa de bebida. Procurou um canto sossegado do bar e pediu uma cerveja gelada.

          Naquele momento, era a única cliente, pois o dia tinha acabado de amanhecer. Uma cena triste, uma vez que uma jovem que começa o dia curtindo bebida alcoólica não é normal. O garçom teve que ouvir a sua história, pois ela queria desabafar. E, para completar a triste cena, ela começou a chorar, chamando a atenção dos curiosos que passavam naquele momento. Ela tentou enxugar as lágrimas com a alça de sua mini blusa. Foi aí que Lucinda chegou de repente usando um lenço para enxugar os olhos e, com calma, perguntou:                                                                                            

          - Por que você está bebendo tão cedo?

          - Fui abandonada, e não consigo viver sem ele. Você conhece o meu drama...

          - Vai ser difícil, pois Rodrigues não quer nem ouvir o teu nome.

          - Sei disso, mas estou sentindo muito a falta dele. Por favor, vá falar com ele. Seja a minha porta-voz. Eu te imploro. – Ela pediu quase caindo da cadeira.

          Lucinda teve que atender ao pedido da amiga e foi procurar o Rodrigues, mas antes conseguiu, com dificuldade, levá-la para casa.

          Rodrigues tinha um carinho especial por Lucinda, mas não gostou quando ela confessou que o assunto era sobre a ex-namorada dele. Ela insistiu e ele acabou concordando. Marcaram um encontro na beira da praia.

          Lucinda não foi preparada com traje de banho, pois só queria conversar, mas Rodrigues foi disposto a banhar-se. E antes de iniciarem a conversa, ele foi mergulhar enquanto ela ficou de longe apreciando-o. Depois que deu vários mergulhos, ele retornou e sentou-se ao lado dela, dizendo:

          - Pode começar.

          - Encontrei  a  tua  ex-namorada  jogada  numa   mesa                                                                                                          

de bar embriagada e chorando a tua falta. Uma cena ridícula.

          Rodrigues deu um discreto sorriso, como se estivesse gostando da notícia que acabara de receber. Depois resolveu falar:

          - Soube que alguns amigos falaram com ela, mas não conseguiu se explicar. Isso prova que ela teve culpa. Sei que não é de bom feitio falar dela, por isso estou evitando este assunto. Não dá para falar do que aconteceu sem lembrar-se do que ela fez.

          - Você ficou magoado?

          - Fiquei envergonhado, mas continuo quieto e confesso que gostei de saber que ela está sofrendo. Talvez o peso de consciência seja o culpado, pois ela deve estar consciente do que fez. Sinceramente, eu só quero viver em paz e esquecer tudo o que aconteceu, apesar de eu ter certeza que o destino dela é ficar sozinha. Principalmente se continuar assim, bebendo e chorando, nunca vai ter um companheiro.

          - Posso te fazer um pedido?

          - Claro!

          - Volte para ela...                                                                                                               

          - Não posso. Não confio mais nela, mas posso te fazer uma proposta decente.

          - Diga. – Falou Lucinda, curiosa.                                                                                                                                                 

          - Você fica comigo e nós juntos vamos esquecer tudo o que aconteceu de bom e de ruim. Atualmente, você é a garota que pode me completar.

          Uma proposta que Lucinda não esperava, pois, apesar de admirá-lo, sempre o considerou amigo. Respirou fundo e disse que era amiga dela.

          - Você já fez a sua parte, já tentou me convencer a voltar para ela. Agora é hora de cuidar de si própria. Você sabe que sempre te respeitei porque tinha um compromisso com ela. Agora tudo mudou... Não vejo motivo para olhar para trás. A vida continua.

          Rodrigues pegou a mão de Lucinda, como um convite para passear, e saíram caminhando na orla marítima. Ele, molhado, só de calção, e ela de vestido longo com um decote sensual que Rodrigues optou em ficar olhando de cima para baixo enquanto caminhavam, pois ele era bem mais alto que ela. Apesar das roupas diferentes, tornaram-se um casal bonito pela elegância como ela caminhava e pela simplicidade dele.                                                                                                                

          Lucinda não chegou a responder se aceitava a proposta dele ou não, mas estava se comportando como uma dama porque sabia que tinha que ter calma para não machucar a amiga e não sofrer também. No entanto, o seu coração estava dizendo sim, mas estava preocupada com a opinião alheia. Dizer sim era um direito dela, mas preferiu caminhar muito mais antes de tomar qualquer decisão porque a vida a dois depende, além de muita calma, de muito amor para poder superar todos os obstáculos e ter consciência de que o namoro serve para prepará-los para uma união perfeita, para não ter que passar vergonha, como a que Rodrigues passou, e para que não tenham decepções das atitudes praticadas precipitadamente. Viver bem e estar de bem com a vida depende de amor, comportamento, respeito e saber praticar o carinho como peça fundamental na relação a dois, assim como não ter pressa na hora da escolha. Lucinda sabia também que a proposta de Rodrigues tinha um pouco de vingança, mas também a culpa não foi dele. Ela, a sua ex-namorada, talvez tenha feito por merecer, mas ela, Lucinda, se não estava em condição de ajudar à amiga, também não podia julgá-la. Cada um sabe o que é melhor para si, mas fazer sabendo que pode arrepender-se é cometer erro grave, pois as falhas inconscientes são perdoadas e o pecador tem chance de uma nova oportunidade; mas os erros conscientes, por tentação, não são  dignos  de  perdão,  e  todos  precisam pagá-los e evitar cometer o mesmo erro duas vezes. Se ela não serve para você e ele não serve para ela, deve servir para alguém, mas isso não quer dizer que uma mulher, por ter todos os requisitos da beleza, um corpo perfeito, por ter classe, por saber se expressar corretamente, saber beber socialmente e por se apresentar sempre de forma elegante, não quer dizer que é a mulher ideal para todos. Vão-se os amores em busca de melhoras e fica a lembrança e a doída e triste saudade.

          Roger Dageerre.  

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               Volume 2                                                                                                              

                          PARTE IV

                            Vento.

               Era uma vez um jovem de nome Renato que decidiu passar um dia apreciando o litoral maranhense. Caminhou com olhar tristonho e cabisbaixo até perceber que o sol estava nascendo. Logo esqueceu a sua tristeza, cruzou os braços e ficou encantado com o belo cenário provocado pelos raios ultravioletas refletindo nas águas do mar. Ondas eletromagnéticas de diversos comprimentos. O conjunto dessas ondas é espectro luminoso.  Renato caminhou por algumas horas até encontrar um rancho de pescador, com cobertura de palha, sem paredes, com armação de madeira do mangue. O piso era a própria areia da praia e costumava ficar abandonado até os pescadores retornarem da pesca. Servia como proteção de sol e chuva branda.             

           Renato aproveitou para deitar-se na areia, protegendo-se do sol. Ficou relaxando até quando o sol já estava se pondo. Levantou-se e continuou caminhando pela orla marítima, respirando o ar puro. Ao se aproximar das pedras, subiu nelas e procurou o ponto mais alto. Na verdade, ele estava tentando falar com alguém, mas estava impossível, pois pedras não falam. Desceu, caminhou em direção ao mar até a água ficar na altura do peito, e foi atingido pela fúria de uma onda gigante, como se o mar estivesse alertando Renato a não se distanciar demasiadamente para evitar afogamento. Ele levantou-se e tentou conversar com o mar. Mas era impossível, pois o mar tem reação repetitiva e ele precisava de algo que pudesse responder aos seus pensamentos tristes. Naquele momento, surgiu inesperadamente uma sereia bem na sua frente. Após mostrar-se completamente, parou à sua frente com a água na altura da cintura, como se estivesse escondendo a parte de baixo do corpo. A metade peixe ficou dentro d’água e a parte mulher ficou exposta. Foi à frente de Renato e  limitou-se a sorrir.

       - Você me entende? – perguntou Renato.

       A sereia respondeu gesticulando positivamente com a cabeça.                                                                                                              

       - Você fala?

       Ela respondeu balançando a cabeça de forma negativa.

       Renato ficou animado, pois era essa a oportunidade que ele esperou tanto tempo: falar sozinho com alguém que só entende e não critica, não muda a forma de interpretação, não interrompe, não atrapalha e não usa o que ouve para contra-atacar. Controlou a emoção e, diante da sereia, que continuava sorrindo, perguntou:

       - Você sabe por que os amigos morrem?

       A sereia, mesmo sorrindo, respondeu negativamente com o mesmo gesto.

         Renato percebeu que não estava conversando com “Deus” e se desculpou alegando que estava com saudade de um grande amor que já não mais fazia parte deste mundo. E como a vida continua, ele continuou o diálogo com a sereia:

         - A verdade é melhor que a omissão?

         A sereia respondeu gesticulando positivamente com a cabeça.

         - Será que eu tenho chance de ser feliz sozinho?                                                                                     

         A sereia apenas sorriu e mergulhou, desaparecendo sem deixar resposta - talvez porque ele forçou uma pergunta que só o destino com o tempo poderá responder. Renato ficou sem resposta, continuou caminhando até encontrar um cavalo-marinho. Depois de observar bem, perguntou:

       - Você me entende?

       O cavalo-marinho respondeu positivamente balançando a cabeça.

       - Você conhece sentimentos humanos?

       A resposta foi um gesto negativo.

       - A verdade é melhor que a omissão?

      O cavalo-marinho respondeu negativamente balançando insistentemente a cabeça.

       Renato percebeu que as opiniões sobre a verdade são diferentes.

      - Eu posso ser feliz sozinho?

      O cavalo-marinho fingiu que não ouviu e se foi aproveitando a volta da onda do mar.

      O jovem Renato entendeu por que ele não respondeu, pois   a pergunta  era  impossível  de  alguém  responder.   É assim mesmo com a humanidade. E ficou falando sozinho, perguntando a si próprio: “Para onde vão e de onde vêm as águas do mar? Por que existe tanto preconceito? Por que tanto ciúme? Por que as pessoas morem precocemente?” Até que ouviu uma voz do além:

       - Por que tanta pergunta?

       Renato assustou-se com a voz, procurou ao seu redor e não viu ninguém. Mesmo assim, resolveu responder:

       - Porque quero saber se alguém pode ser feliz sozinho.

       - Se você reconhecer sozinho as bênçãos concedidas por Deus e souber usá-las sozinho, com certeza vai ser feliz.

        - Quem é você?

        - Eu sou o vento. Você não me vê, mas me sente e pode me ouvir muito bem.

        - É verdade que você leva tudo?

        - Com a mesma facilidade que eu levo uma folha seca, levo também fortunas incalculáveis. Levo comigo um veleiro imenso. Levo a tristeza, os sonhos, a ingratidão, a mágoa, a solidão, a saudade, o ódio e os mortos.

        - É verdade que você, o vento, faz curvas?                                                                                                           

        - É, sim!

        - Então, quando o vento volta, o que ele traz?

        - A bandeira da paz, a esperança de mais saúde, mais educação, a gratidão, a satisfação, a alegria, a recordação, o carinho e o nascimento.

        - E você pode trazer a magia de poder  ressuscitar os mortos?

        - Não! Eu só trago aquilo que me autorizam. Esqueceu que sou apenas o vento?

        - Qual é a diferença entre trazer nascimento e ressuscitar os mortos?

        - Quem nasce não sabe por que veio. Pode ser para enfrentar uma vida inteira de sofrimento, ou até para fazer muito sucesso, para amar eternamente, ou até mesmo para se decepcionar com todos e com tudo; para sorrir nos momentos de muita alegria, ou para chorar de alegria, de tristeza, ou para também provocar tanta emoção com talento, ou até mesmo para trazer uma mensagem de gênio, ou apenas para morrer, pois a vida é longa e cheia de surpresas. E a morte já viveu tudo; sabe exatamente por que veio, conheceu os falsos e os verdadeiros, quem amou loucamente ou sofreu uma desilusão; quem aprendeu com o mestre da vida; quem ensinou até mesmo sem perceber; quem perdeu por incompetência ou ganhou por méritos; quem foi filho, mas nem todos foram verdadeiros pais. Alguns foram condenados pela lei da vida, ou foram executados por justiça divina. Alguns  acomodaram-se enquanto outros batalharam até tombarem vencidos. E uns que viveram buscando o bom e o melhor, deixando riquezas incalculáveis, enquanto outros se foram deixando a moral como uma herança. Mas, todos que se foram, independente de tudo, com certeza, deixaram muita saudade...

        - Você é um profeta do além?

        - Não! Esqueceu que sou apenas o vento?

        Roger Dageerre.

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                         Volume 2

                                 PARTE III

                                     João.

          Era uma vez uma jovem de nome Duga que morava com a sogra e era casada com Lean. Apesar de ser paciente e ter facilidade de se adaptar com qualquer pessoa, ela estava enfrentando as reclamações constantes da sogra. Pior ainda: não dava motivo para tanto, não era ela a culpada dos desentendimentos; não conseguia agradar a sogra - em tudo o que fazia era imediatamente criticada, não porque fazia algo de errado, mas porque a mãe de Lean adorava complicar tudo. O esposo dela não tinha condição de sustentar duas casas, por isso moravam juntos e era ele quem bancava tudo com um salário mínimo.                                                                                            

          Um dia de domingo, para surpresa de Lean e da mãe dele, Duga amanheceu com a sua bagagem pronta, e disse:

          - Cheguei ao meu limite! Estou indo com mágoas, pois enquanto fiz o melhor, a minha sogra fez de tudo para acabar com o nosso casamento e, pior, conseguiu.

          Ela pegou as suas duas sacolas e saiu sem se despedir.  A mãe de Lean ignorou tudo como se não estivesse presente, e ele ficou entre a cruz e a espada. Pelo menos, naquele momento ficou neutro, nem tentou segurar a esposa e nem condenou a mãe.

          Passaram-se alguns minutos. Lean resolveu caminhar sozinho, como fazia com frequência quando criança. Saiu andando sem pretensão, sem destino, mas não tentou ir atrás de Duga porque, diante da situação, ela morando com a sogra, sabia que a decisão dela era irrevogável. Estava consciente de que acabara de perder a esposa que, com certeza, estava indo morar com os pais - um lugar, como ela mesma disse, de onde não deveria sair nunca e, com certeza, eles estavam sempre aguardando-a de braços abertos.

          Na verdade, os dois saíram caminhando. Ela com destino único e ele sem saber para onde ia; sem olhar para                                                                                         trás, apenas à procura de paz, mas Lean andava como se estivesse procurando em vão o olhar dela, mesmo que esse olhar  fosse  apenas  refletido  nas  águas cristalinas do rio...

                                                                                                               Aquele olhar que residia no seu coração. Levado pela esperança de rever o encanto do olhar dela, ele continuava buscando algo para uma nova oportunidade, uma reconciliação que talvez acontecesse, caso ela cedesse.

          Naquele momento, percebeu que um pássaro sobrevoava ao seu lado como se estivesse querendo gesticular algo importante. Ele notou que era o pássaro joão de barro, e olhando-o, disse:

          - João! Tenta trazer nas asas a paz. Eu quero tanto um pouco de tranquilidade, e acho que você acabou de me transmitir uma esperança.

          Instantes depois, o pássaro insistia em voar para o lado esquerdo e Lean pretendia continuar à direita. Toda vez que ele tentava caminhar à direita, o pássaro retornava inquieto, voava para cima, descia como se fosse fazer um pouso rasante, e depois seguia à esquerda. O mais incrível era que o pássaro estava tentando ensinar Lean que o melhor caminho a escolher é à esquerda porque é o lado do coração.

          Lean  ficou  impressionado  com  a  inteligência  do joão de barro e, a partir daquele momento, passou a obedecer a intuição do pássaro acreditando que ele tinha mais a lhe ensinar. Ele sentiu-se como um menino aprendiz que  é  ensinado  por  um  mestre  humilde  que  usa  o gesto     como material didático para mostrar como viver melhor; e aproveitou o momento de emoção dizendo:

          - João! Traz-me de volta minha esposa...

          O pássaro subiu, desceu e depois parou à frente dele como se estivesse perguntando: por quê? Por que queres tanto uma mulher que foi embora?

          Lean, atento, entendeu e respondeu:

          - Porque ela é tudo de que preciso.

          João de barro voou para bem alto, desceu novamente e bateu as asas devagar como se estivesse esperando por ele. Os dois seguiram pela esquerda e era visível a satisfação do pássaro, deixando claro que estavam na rota ideal.

          Poucos metros depois, o joão de barro pousou sobre um ninho de barro construído por ele mesmo. Depois, pôs a cabeça para dentro do ninho. Ao recolher a cabeça, apareceu outro pássaro - com certeza era a fêmea do joão de barro, pois apresentou-se  com  alegria  tentando  dizer que eles eram um casal feliz. Então, colocou-se ao lado do pássaro macho, igualzinho a um casal que se prepara fazendo pose para uma foto em família.

          Lean concentrou-se, pois precisava descobrir a mensagem  que o pássaro queria transmitir-lhe. Ali, sentado ao chão, ele ficou apreciando os dois e logo compreendeu  que eles tinham a felicidade, o amor, e tinham um ninho que simbolizava um lar. Exatamente o que eles não tiveram. Duga casou-se e não teve uma casa. Não é isso o que leva um casal à felicidade, mas um barraco aconchegante ajuda bastante. Como demorou tanto a entender que a melhor maneira para a reconciliação deles seria um lar, um doce lar; mesmo que fosse o mais humilde de todos, mas que a sua esposa pudesse sentir-se em paz, para também posar com orgulho na porta da casa para uma foto, para quando chegar à velhice ter um álbum de recordação!... Cabisbaixo, sem olhar para os pássaros, disse a si mesmo:

         - João de barro, eu compreendi tudo.

         Consciente e acreditando que já possuía argumento para reconquistá-la, pretendendo usar o ensinamento do mestre joão de barro, Lean, mesmo que não chegasse a conseguir a reconciliação, mesmo que  fosse condenado  a viver sozinho, jamais iria esquecer o segredo de como se guarda um verdadeiro amor, protegendo a sua querida de tudo, até mesmo dos fenômenos da natureza e da maldade humana...

           Roger Dageerre.

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   Volume 2

                               PARTE I

                            À distância.

          Era uma vez dois jovens que se encontraram à beira de um açude sem água, no Sertão Paraibano. Estavam se despedindo porque a família de Anajô estava se mudando para Apicum-Açu, naquela época município de Bacuri-Ma, pois estavam dispostos a explorar o ramo de pescaria. E a família do jovem Tobert estava arrumando a bagagem para uma mudança forçada para Goiânia, capital de Goiás - tudo por causa da seca que estava obrigando as famílias a deixarem o sertão da Paraíba.

          Anajô  já era apaixonada por Tobert, e ele sabia que a distância ia provocar uma saudade imensa, pois reconhecia a grande paixão que sentia por ela, mas prometeram contato telefônico pelo menos uma vez por semana. A despedida foi demorada e Tobert pegou pesado, deixando-a toda amarrotada e com os cabelos assanhados.

          No dia seguinte, ela viajou com a família em um caminhão de mudanças. O mesmo não aconteceu com a família dele, pois tiveram que esperar o locador confirmar o endereço em Goiânia.

          A viagem com destino a Apicum-Açu foi difícil, pois percorreram 1.300 quilômetros, passando pelo centro do  município  de  Bacuri,  chegando  ao destino às dezoito horas do segundo dia porque o caminhão atolou duas vezes depois que passaram pela cidade de Cururupu - Ma. Lógico que a previsão de chegada era bem antes.

          Anajô não sabia que a viagem era longa e não contava com os imprevistos. Se soubesse, não teria prometido ao namorado que iria telefonar para ele no dia seguinte para passar o número do telefone e o novo endereço. Mas, quando chegou ao destino, ficou sabendo que o posto telefônico ficava em Bacuri, pois em Apicum-Açu não tinha ainda rede de telefone. Só no quarto dia, após ter deixado o Estado da Paraíba, conseguiu ir a Bacuri  para  telefonar,  mas  não  conseguiu  falar  com  ele.  Falou  apenas com um vizinho, o qual avisou que, naquele mesmo dia, a família de Tobert tinha viajado para a capital de Goiás. No entanto, ele deixou recado avisando que ia deixar com o mesmo vizinho o novo telefone para contato. Ela retornou a Apicum-Açu preocupada porque não conseguiu falar com o seu namorado.

          Dois dias depois, a família de Tobert chegou a Goiânia após percorrer mais de 1.890 quilômetros, e só no dia seguinte ele soube que Anajô estava morando em um lugar sem progresso. Deixou o seu novo endereço e telefone com o seu amigo vizinho para ela poder se comunicar com ele.                                                                                        

          No dia seguinte, Tobert recebeu uma proposta para trabalhar  na capital paulista, e ele não pensou duas vezes: aceitou e viajou no dia posterior. Isso dificultou mais ainda para fazer contato com Anajô, pois ele demorou a avisá-la que tinha ido a São Paulo para ganhar um bom salário. E quando tentou passar a informação da novidade, o vizinho também tinha viajado para fugir da seca. Assim, Anajô e Tobert ficaram sem comunicação.

          O pai e o irmão de Anajô dedicaram-se à pescaria e se deram bem. A mãe aproveitou um forno grande, que existia na casa, e  aprendeu  a fazer farinha de mandioca. Anajô fez                   concurso para professor, foi aprovada e assumiu imediatamente a vaga para lecionar em um colégio em Bacuri – assim, ia ter chance de tentar ligar para Tobert diariamente.

          Após as vinte e duas horas, o motor gerador de energia da cidade era desligado. O município só não ficava escuro quando era período de lua cheia.

          Os dias foram passando e Anajô não conseguia saber notícias do namorado, e ele não soube mais dela, mas ele continuava considerando-a sua única namorada porque, mesmo de longe, ele não conseguia esquecê-la, e a  saudade aumentava todo dia enquanto ele ficava balbuciando o nome dela, sofrendo por causa da distância. Ele tantas vezes pensou em voltar, desistir de tudo só para dizer a ela que o amor não mudou, mas o silêncio tomava conta da saudade e a distância era a única responsável pela separação deles, e por isso, sem ela saber, ele morria todo dia de tristeza. E ela procurava o que tinha restado do amor, porque chegou a acreditar que ele já nem lembrava mais dela. Apesar das mudanças, ela não conseguia esquecê-lo  e  queria  uma  oportunidade para dizer que ela tentou deixar de amar, mas não conseguiu. Enquanto ela pensava assim, ele ficava imaginando se ela, alguma vez, ficou pensando nele; queria que ela não se esquecesse de lembrar que ele nunca a esqueceu...

          Roger Dageerre.  

                                                                                                                                             

                                                                                                                                             

 

                                                                                                               

 

                                                                                                                                                                                                                                                        

 

 

 

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                   Volume 2

                               INÍCIO

                             A fábula.              

          Era uma vez um grupo de alunos do curso de ciência da computação da universidade que estavam chegando para a primeira aula do ano letivo. O professor Meireles já estava na sala; cumprimentava cada aluno que chegava e percebeu que dois se atrasaram porque conversavam caminhando lentamente, sem nenhuma pressa.

          Assim que eles entraram, Meireles ficou aguardando os jovens terminarem o diálogo, mas, como eles não pararam de falar, o professor perguntou:

          - Posso iniciar a aula?                                                                                           

            - Desculpe-me, pois éramos namorados na adolescência, perdemos o contato e só agora, no caminho da universidade, nos reencontramos. Eu sou Reginaldo e ela é a Yara.

          - Prazer! – Disse Yara acenando ao professor.

          - O prazer é meu. Eu sou o professor Meireles. Mas, eu posso saber por que perderam o contato?

          - Minha mãe era rigorosa e ele era muito moderno para a época. Quando ela percebeu que o nosso namoro estava esquentando, transferiu-me para a capital e não tivemos como nos comunicar.

          - Então, o Reginaldo era a “raposa” e você as “uvas”?

          - Não entendi...

          - Ele está falando da fábula. – Interrompeu Reginaldo.

          - Explique a ela, mas bem resumido, pois estamos atrasados...

          - Assim diz a fábula: uma raposa, morta de fome, viu, ao passar diante de um pomar, penduradas nos ramos de uma   viçosa   videira,   alguns   cachos   de   uvas  maduras. Resolveu colher seu alimento. Tentou pegá-las, mas estava totalmente fora do seu alcance, cansou-se em vão e não conseguiu. Cansada, deu-se por vencida. Na verdade, preferiu admitir que as uvas estivessem estragadas, para não aceitar a sua falta de capacidade. Moral da história: “ao não reconhecer e aceitar as próprias limitações, o vaidoso abre assim o caminho para sua infelicidade”. Não foi assim?

          - Mais ou menos...

          - O professor quer dizer que eu não tive competência para recuperar a namorada?

          - Quem pode afirmar isso é ela.

          - Digamos que ele andou perto de comer as uvas. Não o fez por causa de minha mãe. E ficou difícil de nos encontramos porque eu fui levada de surpresa. Naquela época, a comunicação era precária e eu mudei de uma cidade pequena para uma capital.

          - Não quis dizer que foi falta de competência, apenas te comparei com a raposa porque você se interessou por ela. Muito bem. Agora, vamos iniciar a aula, e no intervalo, faço questão de participar da continuação deste diálogo, pois fiquei curioso para saber como era o namoro de vocês.

          - Tudo bem. – Concordou Reginaldo.                                                                                                                

          - Eu também concordo. – Disse Yara.

          - Pronto. Vamos iniciar a aula. A ciência da computação é o estudo dos algarismos, suas aplicações e de sua implantação, na forma de software, para execução em computadores eletrônicos. O papel importante é armazenar e manipular dados, como é o computador digital, de uso generalizado. Também importantes são as metodologias, técnicas ligadas à importância de software que direcionam para a especificação, modelagem, codificação, teste e avaliação de sistemas de software. O estudo pode ser aplicado em qualquer área do conhecimento humano. A ciência da computação avançou em particular as áreas de redes de computadores, internet, net, web e computação móvel... Alguma pergunta?

          Nenhum aluno se manifestou. Então o professor avisou que estava na hora do intervalo de vinte minutos.

          A maioria dos alunos retirou-se e ficou apenas o professor, Reginaldo, Yara e meia dúzia de alunos curiosos tal qual o mestre, pois eles também ficaram interessados na história de amor de quando Reginaldo e Yara eram adolescentes.

          - Podemos começar? – Perguntou Reginaldo.

          - Sim! Você conta, mas ela pode interromper quando achar necessário. Combinado?

          - Tudo bem. – Concordou Reginaldo, e iniciou explicando assim: Tudo começou num bailinho, onde tocava um baião e eu a tirei para dançar agarradinho.

          - Na verdade, ele não ia para dançar e sim para me abraçar. Quase não saía do lugar. Eram passos miúdos. – Explicou Yara.

          - Lembro-me como se fosse hoje. Ela usava laquê nos cabelos e um vestido rodado aparecendo à anágua. Sentava-se só para me mostrar.

          - E a bebida? – Perguntou Meireles.

          - Pouca. Tudo que a gente tomava eram algumas doses de cuba...

          - Naquela festa, você representava a raposa e ela as uvas?

          - Isso. O meu desejo era comer as uvas, mas até os beijos eram roubados, porque a mãe dela não dava trégua.

          - Fale da lambreta. – Lembrou Yara.                                                                                               

          - Foi num final de uma festa. Eu fui levá-la, eu na         lambreta bem devagar e ela ao lado da mãe; caminhavam conversando. Quando chegamos, eu puxei assunto com a mãe dela para distraí-la. Yara entrou pela porta da frente e saiu pelos fundos. A mãe trancou a casa pensando que a filha estivesse do lodo de dentro. Estava muito escuro e Yara chegou com a chave da porta do fundo na mão, tremendo de medo, querendo desistir. A idéia foi minha, mas confesso que também tive medo. Então, ela apenas me beijou e voltou correndo. Tentei ligar a lambreta, mas não quis funcionar. Aí, começou a aparecer cachorro latindo. Cada vez que eu tentava acionar o arranque: “ram”, “ram”, “ram”, e os cachorros: “au”, “au”, “au”. Os animais foram se triplicando e o jeito foi eu sair empurrando a lambreta com um monte de cão me seguindo, latindo sem parar. Por uma questão religiosa, não posso dizer que era uma procissão, mas parecia.

          - E depois? – Perguntou o professor enquanto Yara não parava de sorrir.

          - Aproveitei uma ladeira e a lambreta pegou, mas os cachorros ainda tentaram me seguir. A sorte foi que, apesar de ter chamado a atenção da vizinhança, os pais dela não perceberam.

         - Então, você não comeu as uvas?                                                                                                                  

          - Não! De jeito nenhum.

          - E qual foi a próxima festa?

          - Foi um noivado da colega dela. Yara estava com um vestido tomara que caia e a orquestra resolveu tocar músicas antigas. Eu a apertava e, ao mesmo tempo, ficava olhando, por dentro do corpete; os seios dela pareciam que queriam pular. Nós estávamos muito perfumados.

        - Na época vocês eram quase crianças?

           - Éramos, mas ele fazia o papel do homem terrível e fazia tudo para me agradar. Ia sempre me levar de volta para casa, mas minha mãe estava sempre comigo...

          - Como você se sentia? – Perguntou o mestre.

          - Pagando “mico”. Era assim que as minhas colegas diziam.

          - E a pílula já existia?

           - Já, mas ninguém comentava, pois os pais daquela época diziam que só podia comer uvas depois de casados.

          - E agora, como estão vivendo?

          - Com outra?

          - Sim! Nunca pensei que fosse acontecer este reencontro.

          - E você? – Perguntou o professor para Yara. 

         - Casei-me também. Tenho uma filha e o Reginaldo prometeu uma visita para conhecer minha herdeira e o rival dele.      

         - Eu me casei e tenho dois filhos...    

        - Então desejo que vocês sejam felizes e que mantenham esta amizade viva, com o mesmo respeito que a mãe dela ensinou, porque o método antigo pode não ser agradável, mas tem muito ensinamento e é rico em exemplos de vida saudável. Agora, vamos continuar com a aula e esquecer um pouco a fábula...  

       Roger Dageerre

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9 semanas de ficção

            Volume 1

                                   FINAL

                          O poder da rádio

          Era uma vez um paciente de nome Rosalino que recebeu a triste notícia que estava de alta. Triste porque ele já sabia que o sua doença era incurável e precisavam do seu leito para tentar salvar outras vidas. Em outras palavras, ele era um paciente terminal que foi convidado para morrer em casa. O fim de um homem que foi trabalhador honesto, respeitador, que ajudou a construir igrejas, fez muitas doações, praticou vários esportes, foi saudável até quando era moço e com orgulho conseguiu salvar quatro crianças que estavam se afogando. Tinha também defeito invisível, e o mais visível era amar demais. Um velho que estava deixando duas filhas e um neto. Uma de classe média e a outra rica por ter estudado muito e porque teve a sorte de se casar com um homem milionário. Era a Rosa e a Flor dos encantos do senhor Rosalino. Enquanto esteve internado, conseguiu falar com algumas pessoas, mas quando voltou para a casa de sua filha Rosa, simplesmente silenciou. Nada dizia e fingia que não ouvia. Sua filha procurava trata-lo da melhor maneira possível.

          Quando saiu do hospital, ficou muito mais teimoso, pois se recusava até mesmo a falar. Naquele mesmo dia, da alta hospitalar, apareceu o seu neto João Pedro gritando que queria olhar o seu avô. Naquele momento, era hora da aula de espanhol, mas obrigou o motorista particular a desviar o caminho da escola para ele poder abraçar o seu querido velho. Desumano seria qualquer motorista que não obedecesse. Ao entrar, tomou a benção, e a sua tia Rosa explicou que o pai dela, avô do menino, não queria falar e nem ouvir. João Pedro mal acatou a informação e foi correndo ao quarto do seu querido avô. O motorista entrou logo atrás e pode olhar a satisfação do velho. O garoto chegou bem perto do ouvido do avô e perguntou:

          -  O que o vô quer? – Continuaram abraçados e o velho falou  só  para  o  neto  ouvir.  Depois  o menino correu para acozinha onde estava a sua tia e disse: - Ele falou comigo. Ele quer um rádio...

          – Não temos, mas ele pode ouvir pela TV.

          – Ele quer ouvir com o rádio encostado ao ouvido. O meu pai disse que ele costumava ir ao estádio levando a bandeira do Vasco e um rádio de pilhas. Assistia ao jogo ouvindo a rádio...

          – Não temos – disse a tia.

          – Lá em casa tem um. - E pediu para o motorista se apressar.

– Você não pode perder a aula de espanhol – disse o chofer.         

– Primeiro vamos buscar o rádio, depois vamos ao colégio. Ok?

          – O empregado doméstico nada disse, mas obedeceu a ordem de um menino de apenas oito anos. Entrou em casa, pegou o rádio e pediu ao motorista para comprar seis pilhas da marca Panasonic. Eles foram ao supermercado mais próximo  e  o  motorista  comprou  as pilhas e nem perguntou por que tinha que ser Panasonic. Naquela hora, com certeza, já tinha começado a aula de espanhol. Chegaram à casa da tia e o menino foi direto ao quarto do velho e perguntou:

 - Qual a rádio?

O velho virou a cabeça para ficar de frente ao neto e disse: - frequência 100,9 MHz, prefixo ZYD825, rádio Jovem Pan, São Paulo.                                                                                            

          O garoto, na presença do motorista, sintonizou direitinho e colocou o rádio na cabeceira da cama. O velho agradeceu com um sorriso e se arrastou na cama até ficar com o ouvido próximo do rádio. O menino jogou beijos ao avô e saiu apressado para assistir ao final da aula de espanhol.

No dia seguinte, o garoto saiu mais cedo, pois queria olhar o avô novamente antes da aula. A tia nem chegou a abençoá-lo, pois o menino foi correndo ao quarto do senhor Rosalino. Logo voltou com olhar de tristeza dizendo:

- Tia, o vô não está respondendo... O rádio está ligado, mas ele não me respondeu...                                                                                  

          – Calma, ele passou a noite toda ouvindo a Jovem Pan. Deve estar com sono. Vá assistir a sua aula e depois volte para conversar com ele. Ok?

            O menino saiu com cara de choro repetindo: “Ele não me respondeu... Não me respondeu... O meu vô não me respondeu”...

            Roger Dageerre.

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Soneto clássico

         Sem você

.

Morri e não te encontrei,

Se soubesse não morreria,

Pois, de tristeza até chorei

Pensei que te encontraria

.

Não adianta sozinho morrer

E deixar o amor na saudade

É melhor voltar a viver

Pra não morrer de verdade.

.

Não vale a pena morrer,

Sem ninguém pra rezar,

Pra deixar o amor sofrer.

.

Então, quero ressuscitar,

Para novamente viver,

Para eternamente te amar.

.

            Roger Dageerre. 04.08.2018.

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Soneto clássico

         SÃO LUÍS ILHA

 

ILHA DOS BELOS AMORES,

DO REGGAE COLORIDO.

MORADIA DO COMPOSITOR

DO ACONCHEGO AMIGO.

 

RESIDÊNCIA DO POETA

DO LARGO DOS AMORES.

CAPITAL DO PROFETA

DA RUA DAS FLORES

 

CIDADE SEDE DA TRADIÇÃO:

TEM TEATRO, TEM ATORES,

O ENDEREÇO DA FICÇÃO.

 

CULTURAL DA HUMANIDADE

PATRIMÔNIO DO IRMÃO

METRÓPOLE DA FELICIDADE.

 

                ROGER DAGEERRE.

 

               Do Livro Sobre São Luís.

De Meireles Júnior.

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9 semanas de ficção

   Volume 1

                            PARTE VII

 

                                 Paz

 

          Era uma vez um jovem chamado Luiz, que tinha o hábito de caminhar todo domingo, pela manhã, na orla marítima. Fazia isso sozinho, sempre na praia da Boa Viagem. Começava cedo, antes mesmo do sol nascer. Passeava de forma lenta, como se estivesse à procura de um verdadeiro amor.

          Durante  muitos  domingos, não  chegou a  encontrar  algo que  justificasse  o  motivo  da rotineira caminhada. No entanto, no segundo domingo de agosto, quando fazia a  sua  persistente  caminhada, encontrou uma toalha de banho estendida na areia à beira da praia. Teve que se apressar para evitar que a onda molhasse a mesma. Logo percebeu que era uma toalha enxuta, pois ainda não tinha sido usada. Percebeu também que era uma peça de uso feminino, pois era cor de rosa e tinha acabamento de rendas. Resolveu estendê-la do mesmo modo que a encontrou,  só um pouco mais acima para evitar que fosse molhada pela enchente da maré. De repente, viu uma garota vinda de dentro d’água, provavelmente a proprietária da toalha. Com certeza, não era um avião, mas vinha rasante, empurrada por trás pelas ondas e bronzeada pelos raios ultravioletas. Parecia que crescia mais cada vez que se aproximava. Nada além do que uma beleza de mulher.

          Quando ela aproximou-se de Luiz, torcendo os cabelos longos, que estavam molhados, ele ajuntou a toalha e fez questão de cobri-la por trás para continuar apreciando aquele monumento especial.

          - Obrigada! – Disse ela enxugando-se.

          - Sou o teu eterno servo, Luiz, teu criado!

          -  Muito prazer! Sou Luana.                                                                                                            

          - Você  parece  mais  uma  nuvem  calma.  Um presente do céu que veio para tranquilizar a minha alma.

          Luana sorriu, pois gostou do jeito romântico de Luiz, depois perguntou:

          - O que você faz tão cedo na praia?

          - Estava procurando o meu amor...

          - Você a perdeu aqui?

          - Não, mas acabei de encontrá-la...

          Luana sorriu mais ainda, ajeitou a toalha e deitou-se para continuar o diálogo de bruços.

          Luiz preferiu continuar de pé, pois assim tinha uma visão privilegiada.

          - Solteiro? – Perguntou Luana sem olhar nos olhos dele.

          Luiz deu alguns passos, ficou de joelhos à frente dela, e disse:

          - Fui  abandonado  há  dois anos. Depois disso, passei a caminhar nesta praia à procura de uma moça para ocupar o lugar de minha antiga namorada.

          - Por que ela te deixou?

          - Porque eu consumia muita bebida alcoólica, mas agora não bebo mais.

          - Mesmo depois que deixou a bebida, não foi possível uma reconciliação?

          - Não, pois ela me trocou por outro. Quando me recuperei, ela já estava casada.

          - Você continua sofrendo?

          - Sofria, mas agora, que te encontrei, não sofro mais.

          - Por quê?

          - Porque você é tudo.

          - Confesso que gostei de você, mas preciso conhecê-lo melhor, e também tive problemas com uma relação amorosa que só deixou decepção. Cheguei a prometer a mim mesma que não ia mais me apaixonar...                                                                                              

          - Não tenho pressa. Posso esperar a vida toda...

          Desta  vez,  Luana  não sorriu, pois estava tratando de um  assunto muito sério. Talvez até estivesse acabado de encontrar o seu outro lado da laranja, mas sabia que precisava ter cautela, porque cada degrau do edifício do amor é preciso ser pisado com firmeza e com passadas lentas, usando-o como experiência para evitar cometer o mesmo erro duas vezes.

          Ela pensou um pouco, depois perguntou:

          - Sou a mulher ideal para você?

          - Você é como um presente do céu...

          - Por quê?

          - Porque você é uma mistura de estrela com o reflexo solar. Você é a natureza que faz reviver o amor que eu tinha desacreditado. Você é a lua que ilumina a esperança de um amor eterno. Você é a bravura das ondas que tem o poder e a consideração de devolver tudo que é arremessado ao mar. Resumindo: você é o material que nunca pode ser descartado.                                                                                       

          Luana sorriu, levantou-se e disse:

          -  Você  fala  como  uma  música  romântica. Vou  tomar  outro  banho.  - Entregou  a  toalha  a Luiz e saiu    caminhando com a mesma lentidão de como  veio, e ele acompanhou-a com olhar malicioso, apreciando por trás o belo cenário que tem condição de competir com a beleza da natureza. Luana jogou-se ao mar e saiu nadando, exibindo o seu bonito traseiro, e tão provocante como uma luz de cristal. Cada braçada obrigava Luiz a se abraçar à toalha como se estivesse apertando a moça.

          Depois que nadou bastante para frente, ela foi devolvida pela força das ondas, como um espetáculo maravilhoso.

          Luiz procurou controlar-se ao máximo, mas a emoção foi imensa, o suficiente para provocar lágrimas de um amor puro que estava começando, então ele rapidamente enxugou os olhos para ela não perceber. Parou de olhar na direção de Luana, e olhou ao céu dizendo:

          - Senhor! Obrigado por tudo, pois agora tenho a paz... 

          Roger Dageerre.

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