Posts de pedro antonio avellar (97)

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Pra não dizer que não falei dos peixes

Pra não dizer que não falei dos peixes

 

Já no Gênesis, ditara o Altíssimo o domínio da criatura humana sobre os peixes, fossem eles tubarões, bacalhaus, pirarucus, sardinhas ou mesmo os miúdos lambaris. O peixe tornou-se alimento. Às vezes, a depender da iniquidade do homem, rareava. No êxodo para a terra prometida, ele choramingava ao seu líder: - No Egito, comíamos peixe de graça...” Mas nem todos os peixes do mar saciam essas criaturas, reclama Moisés a Javé. E o peixe deixou de ser gracioso, que em Jerusalém passou a ser importado e vendido aos filhos de Judá nos sábados (não faz lembrar o comércio do peixe na semana santa?)

Houve momento dramático, em que se inverteu o domínio do homem sobre o peixe. E foi o peixe que dominou Jonas, engolindo-o por três dias. Mas, por sua fervorosa prece a Javé, a baleia – que é peixe (Já o dizia o Padre Vieira) devolveu Jonas íntegro à praia.

Ah, o poder da prece, na relação da criatura com o Criador. A entender melhor isso, foi necessária a vinda de Jesus, que dizia: - Pedi e recebereis... Porque não dará o pai uma pedra ao filho que pede pão, nem uma cobra ao que pede peixe.

Viram? Aí está o peixe de novo. Mas Jesus ensina que existe o peixe bom e o peixe mau e assim os pescadores, ao arrastarem à praia a rede repleta de peixes, os descartam e juntam os bons nas cestas, como relata o evangelista Mateus.

Ocorre que o peixe é às vezes insuficiente e, então, apenas dois deles – que não o bacalhau, nem o pirarucu, porque não os havia no Mar da Galiléia - bastarão para mitigar a fome da multidão, porque multiplicados pela generosidade divina.

Contudo, o peixe escasseia e o desânimo invade os rudes pescadores: - Mestre, lançamos as redes a noite inteira e nada apanhamos. – Lançai-as de novo, nas águas profundas, diz o Senhor. E então as redes, a se romperem, vieram abarrotadas de peixes – 153, na contagem do apóstolo João.

Mais tarde, ressuscitado, o Senhor se apresentou aos apóstolos trancafiados pelo medo. E, ante o espanto deles, pediu-lhes algo para comer. E o que lhe deram? Um pedaço de peixe assado, naturalmente. Que Ele, não mais humano e sim divino, comeu à vista deles.

Então, pra não dizer que não falei dos peixes, hei de provar algum deles nesta semana, reverenciando a Paixão. E, com a ajuda do Cristo coroado de espinhos, buscarei repartir essa iguaria aos mais desafortunados.

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Contemplação

Choveu...

Mas as chuvas de março andam tão incertas que as águas se escoaram com rapidez, talvez se aninhando no córrego Biriguizinho. Que, todo pomposo, sabedor de muitas escalas pelo caminho, anseia por chegar ao mar. E se mesclar às ondas que espumam nas praias.

De meu lado, fico a contemplar o quarto-crescente lunar e algumas estrelas despreocupadas, que fazem pouco caso de nuvens esparsas pelo céu opaco que se forma.

A coruja-buraqueira, que fez seu lar no terreno baldio vizinho, lança pios agudos, talvez protegendo os dois filhotes dos avanços de algum predador.

Suspiro. E divago... Penso na imensidão do universo, nos buracos negros intergalácticos que podem esconder algum tipo de vida. Ou que podem não ter nada mais que solidão. E me questiono: - Como será a eternidade? Será infinita, ou ao menos tão vasta quanto esse universo misterioso que ora contemplo?

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Um céu para todos

Não me envergonharei,

Se assim a sorte o quiser,

(E se ao Altíssimo aprouver)

De me sentar em sarjetas,

Não me deterão, bem o sei,

Emparedadas muretas,

Porque, em sonhos,

Infinitos, Ilimitados,

Com meu olhar maravilhado,

Avisto anjos risonhos

Num céu azul todo enfeitado,

Aberto a todos, sem alambrados.

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A esperança

A esperança não morre -

Não fenece -

Apenas padece...

É como o pôr-do-sol

Que, se escondendo, de cena sai,

E isso muita vez entristece...

Mas então amanhece,

E da estrela, a luz do farol

Então de novo nos atrai:

E, pressurosa, aos viventes

E a todas as gentes

Que sonham como uma criança,

Reaviva a esperança...

E o Criador aos seus filhos socorre...

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Tabuleiro de xadrez

Ah... que assustei-me, vos digo,

A imaginar no tabuleiro do xadrez,

As duas Torres tomadas pelo inimigo -

Uma de cada vez...

Trágico... Que o Rei, sem moradia,

Vai depender muito da valentia

De cada um dos seus Peões...

É a luta. Diminuem-se as opções,

Mas, nessa angústia, ainda se conta

Com a nobre cavalaria,

Eis que cada Cavalo, com honra,

Pelo seu rei se sacrificaria

E as hostes rivais confronta

Aos gritos: a morte sim, nunca a desonra!

Felizmente, como hábeis negociadores,

O reino tem ainda os Bispos inflamados -

Os mais hábeis oradores,

Na fé e diplomacia doutorados.

Mas – se ainda assim o desastre é iminente

E se até o Rei foge, descrente,

A salvação final será mesmo a Rainha,

Que vencerá a guerra sozinha!

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Meu presente do céu

Ah, minha esposa, a Nina,

Se chama, na verdade, Conceição...

E quanto tardei a entender

Que minha eterna menina,

Minha vida, minha paixão,

Todo o meu bem-querer -

Foi na verdade um mimo de luz,

Um presente divino do Menino Jesus

Que, do colo de Maria, num branco véu,

Trouxe-me a Nina, como presente do céu!

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Zeka Feliz

Bom dia, José,...

A vida anda complicada?

Nem digo nada...

Mas acho que alguma dor

Te deixou a voz silenciada...

Bem sei que tem dor pra tudo...

Tem dor de cabeça, de dente

E tanta outra...No joelho, no pé,

E não é de se duvidar até

Que as dores no coração

Em muita gente

Sejam culpa de uma paixão...

Mas assim é a vida -

Que às vezes se cultiva

Um lindo canteiro de flor,

Germinada muita vez com dor...

Mas ao poeta, caro irmão,

Tudo vale – tudo é emoção.

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Lágrimas

Diz a mim, amigo gentil:Se te invade a emoção ou a ternura,Já deixaste uma lágrima rolar?Ou mesmo já te puseste a chorar?Ah, se minh’alma anda emocionada,A me deixar a face febril Ante a felicidade ou a desventura -As lágrimas, amigo, são tantas,Que, se não as contenho,Elas rolam pela calçada...Mas são águas sacrossantasQue deixo correr – não as retenho...
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Reflexão de aniversário

Eis que, de uma só feita,

Me caem no ombro os setenta e dois...

De anos, meses, dias vividos sem receita...

E eu tanto envelheço num só dia

(Pois ontem eram tão só setenta e um)

Que não sei se choro ou canto de alegria,

E assim, em interminável dúvida, pois,

Não encontro descanso em canto algum.

Por isso, de meu lado, apenas paro

E calo-me tão eloquentemente

Que meu silêncio é ouvido por toda gente,

O que mais aumenta meu desamparo!

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Ninar bebês

Ninar bebês... Eu os ninei...
Existe gesto mais carinhoso?
Diz para mim. Mais amoroso?
Esses momentos... Como os amei...
Ah, ninei filho, ninei neto,
E afilhado, e sobrinho -
Até o bebê do vizinho...
E lhes tive imenso afeto!
Ninei bebês que de febre ardiam -
Sim - bebês que tanto choravam
E, com meu canto, se acalmavam
E, plácidos, sorriam – e dormiam...

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Lua Amarela

A lua está a passear por aqui...

Vi-a à tarde, branca, discreta,

Mas agora, tão amarela...

Olha – como é bela,

Esse é o luar de Birigui!

Ah, diria, se eu fosse poeta:

- Não há outro assim,

Se houver, por favor, diz a mim!

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O Divã

Estava o diabo no seu canto

Ensimesmado, taciturno...

A quem não o conhecia,

Pareceria

Que se debulhava em pranto.

- O que tens, satã? –

Indagou-lhe outro diabinho,

De plantão naquele turno.

- Ah, que preciso de um divã,

Pois se esfria o infernal cadinho,

À medida em que prometeu Jesus –

(Sabe? – Aquele lá da Cruz) -

- que todo pecado terá perdão...

- E até bandido, homicida, ladrão,

Desta prisão um dia se livrará -

- Com isso, o inferno se esvaziará...

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