Posts de Paulo Sérgio Rosseto (362)

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O QUE FAZEM ESSES HOMENS

O que fazem esses homens eternos

Dentro de templos fechados

No silencio sem janelas

Nos enredos de seus passos

Íntimos mistérios

Escondidos em preceitos?

 

Talvez rezem ou procuram

A oração perfeita e pura

Que cure a alma pela doçura da caridade

E torne mais perfeita e fraterna

Cada ser e a humanidade.

 

Seriam tantas as respostas

Nessa batalha mística do escuro

Contra a magnitude da vida;

Talvez seja escura busca

Que se aclara com a visão ávida da luz.

 

Vencem ardilosas e árduas batalhas

Trazem consigo pura e reta

A estrada por onde aprimoram e aprumam

Seus vastos e próprios espaços.

 

Do que sei guardo com a alma

Se desconheço estudo, e se descubro

Cubro com o manto do segredo.

 

Me torno também mudo

Como a calma que me resta.

 

Poucos veem o que fazem

Esses homens de terno.

 

PSRosseto

Saiba mais…

CALMARIA

Caso um beijo distante

Bata levemente em tua janela

Fecha os olhos

Ouve a magia

Sente a máxima sensação

Da intensa calmaria que a toma

Embevece a alma

E o espírito sabiamente silencia

 

Sensatos são os momentos

De interna ponderação

O coração aquieta o pensamento

E vice-versa nos tornamos parte

Daquilo que se imagina

 

Assobia agora qualquer canção

Vai sentir que o sopro da melodia

Distraída te recobre e aquece

O frio de tua mão

Como se agora estivesse

Intensamente ardente

Ainda que virtual

O mundo que você precisa

E o sonho que de você deseja

Que quando bem sonhado

Sossega e sacia

 

PSRosseto

Saiba mais…

OUSADIAS

Meu sol costuma dormir pertinho

Nada dessa historia de ir ao Oriente no final do dia

 

Ele não viaja, apenas desliga a luz e torna amanhã

Alguma parte de ser que seja tarde

Ou faz amanhecer algo que precise

E nunca deixa de brilhar por mim

 

Antes de apagar põe os pássaros em suas árvores

Arrebanha as nuvens aos seleiros

Diz aos ventos que arrefeçam e se refaçam

E aos arcanjos que clareiem minha áurea

Para que eu não sonhe em vão ou perca o sono

Descabido temeroso com minha própria insônia

 

Mantem por fim alertas um punhado de estrelas

Por sentinelas, pois caso ela venha saberá

Onde me achar apesar de qualquer escuridão

Que me tome nos braços por ser ainda noite

 

Ensinou-me que a vida sem ousadias

Por vezes fica ilegítima e sem graça

 

Logo após faz manhã e entendo por fim

Que nada é à toa

 

PSRosseto

Saiba mais…

EM CADA GOTA

E se ao findar o dia me der um cálice ao meio

E mais meio e meio outro e outro mais meio

Serão deliciosos goles com inigualáveis aromas

Desse tânico raro e violáceo vermelho

A morder meu paladar e a língua a sorvê-lo

Intimamente inebriando-me inteiro

 

Provar da taça do vinho é um ritual nobre

De frescor frutado, ervas finas, floral, tostado

Um íntimo exercício privilégio de poucos

Ao brindar a loucura no translucido cristal

Que antepara o buque em cada gota que baila

Entre o brinde e o lábio que se entreabre matreiro

 

Ao bolero, às meias, aos saltos e ao cheiro

Que instigam o devaneio e a paixão sem pudor

Vivencio o diálogo dos sussurros do amor

Às uvas, à vinha e aos sonhos de Baco

Eu, irrequieto poeta provoco, sinto e provo sozinho

Do frescor da lua e sua malícia e final de boca

 

PSRosseto

 

Saiba mais…

POR TODOS OS LADOS

O cheiro da tua lembrança

Perfuma minha solidão

Seu bailar de um lado a outro na sala

Petarda meu sono

Dilata minhas veias

Farfalha e espalha

A vontade de investir todo o meu tempo em você

 

Parece ser incrível mágica

Viver entre a vontade

E o disfarce em saber nada

Pedir ou querer estar tão próximo

E a um só tempo enormemente distante

Como um veleiro na agua e longe do cais

Que surfa sem leme em mar revolto

Sem ventos para voltar

 

Há por todos os lados

Sempre um repetido e novo engano

Entre acertos e riscos de errar

 

PSRosseto

Saiba mais…

ARREPIAR

Cada um tem seu jeito

Há quem escandalosamente grite

Há quem silencie

Há quem apenas deleite

Há quem estremece e palpita

Há quem ache tudo perfeito

Há quem se arrasta na cama

Há quem reclama

Há quem finge que ama

Há quem pensa que goza

Há quem fala de tudo

Há quem se cala e dorme

Há quem se obrigue por isso

Há quem agradece e reza

Há quem nem se suja

Há quem sua vertiginosamente

Há quem remoça

Há quem intenso e lerda

Há quem seja precoce

 

De toda maneira

Arrepiar de amor é coisa bela

 

PSRosseto

Saiba mais…

CHUVINHA

O dia que criei pra ti

Tem flores e altar

Adocicado manjar

Violão e seresta

 

Tem as fases todas da lua

Em uma só nave

Estrelas que saem do sol

E viram pingos de mel

Vento transatlântico e terral

Aurora boreal e arrebol

 

A qualquer hora

Tem chuvinha fria

Fingindo ser amena garoa

Alguns raiozinhos teimosos

Provocando estalinhos de festa

Folhas molhadas

Cheirinho de terra

E preguiça à beça

Como o diabo queria

 

Já a noite que me dei pra mim

Tem somente você e poesia

Saiba mais…

O FIM DE TODO MUNDO

Não fosse a agua não me daria conta da chuva

Apenas da enxurrada

Não fossem os embranquecidos cabelos

Me perderia na fila dos dias idos

Não fosse a taça esqueceria as uvas e do vinho

Não embriagaria

Não fosse o garfo despreocuparia da fome

Lembraria a faca

Não fossem os segredos não faria poemas

Dormiria cedo

Não fosse a arma o portão estaria solto

E livre meu espirito de qualquer medo   

Não fosse a ética não haveria culpa

Estaríamos mortos

 

Aprenderia a pular etapas descrer do obvio

Rever o abismo por outros modos

Descer muito abaixo do choro

Analisar o jogo

Teria coragem de rezar prevenindo

O inicio e não o fim de todo mundo

 

PSRosseto

Saiba mais…

BORBOLETA

Ela me tomou pelas asas

E repousou-me no indicador em riste

 

Eu que estava triste

Fitei os olhos dela me observando

Deliciei-me em seu riso brando

Li seus lábios conversando

Gesticulando, contemplando

Comentando minha frágil pequenez

 

Sorvi o fresco suor de seu dedo

Matei minha sede

Repus energias

 

Senti que tornei seu dia mais feliz

Rocei as antenas num furtivo adeus

E voei

Voei

Voei

 

PSRosseto

Saiba mais…

ENQUANTO ESCURECE

Hoje não mais semeio

Pois é tarde

 

Deixarei para amanhã cedo

Depositar a semente

No seio do chão úmido

Com o frescor do orvalho

Que se fertilizará ao nascer do sol

 

Hoje arei a gleba

Alinhei a eira ao nível do solo

 

A noite baixará a poeira da seara

Seu virgo à espera do plantio

Estará fértil ao femeeiro

 

Agora merecidamente

Descansamos observando as nuvens

Que incendeiam no poente

Ardendo de desejo

Eu e a terra nua

Enquanto escurece

 

PSRosseto

Saiba mais…

EM ESTADO DE POESIA

Pela manhã a vontade de amar-te

Às vezes é mais forte que à noite

Mas noturna é a hora que engraça

Os amantes

 

Eu faço amor sempre de repente

Pois a sorte comigo me agracia

 

A todo o tempo sinto tua carícia

E em mim você se faz presente

Tão sagrada e profana

Que qualquer pensamento teu

Me delicia e inflama

 

Amo te amar

Permanente em estado de poesia

 

PSRosseto

Saiba mais…

A VIDA NOS MORDE

Cedemos conformados aos costumes

Tanto nos acostumamos que vira rotina

Repetir rotas

Cantar cotidianamente

As mesmas notas nos mesmos tons

                   

Convivemos com os buracos da rua

Com as goteiras da casa

Com os rasgos na roupa

O barulho do carro

A poeira no livro

O espelho sem brilho

A casa vazia

O coração fechado

A torneira que pinga

Os olhares surdos

Os chinelos gastos

Sapatos sem graxa

Muros altos

Portões trancados

Risos de fachada

Conversa sem rumo

Dor na coluna

Dente estragado

Falta de iniciativa e pensamento lerdo

 

Mordemos os dias e a vida nos morde

Se não cuidamos

Viver fica pra logo mais tarde

 

PSRosseto

Saiba mais…

UM BRINDE

Mais uma ou duas doses

Para curar a magoa

Estou seco em ausência de agua

Com sede e ainda que o desejo pese

Rezo para que algo me console

Apesar da significância

A carência de sua presença

Me consome sem guia

Põe disforme na estrada

Em que agora estou totalmente só

 

Ando em desequilíbrio

Ajo desnecessário

De nada me alimento

Exceto de seu ausentar

E desse nó reviravolto

Que nos amola

 

Sei que você também a essa hora

Derrama-se da mesma vontade

Recosta seu barco em mim

 

PSRosseto

 

Um brinde à solidão que nos devora

Saiba mais…

TUDO JÁ SEI

Fui ao futuro aprender como se morre
Porque da vida tudo ja sei

Morre-se de extenuado amor
De fome, frio, calor, apaixonado
Também da falta de fome e excesso
De paixão, solidão, mesmo que acompanhado

Morre-se de qualquer morte banal
Dessa que extrai a vida sem explicar
De surpresa, de repente, acidente
Até de arrependimento e contente

Morre-se de ilusão antes que esta morra
De idade, por verdades e de mentira
Inveja, infarto, palpitação, alegria
De um coração envenenado e ódio

Morre-se ao nascer e até antes
De ser qualquer ser que perceba
A razão do choro e a beleza do riso
A candura de um olhar inocente

Morremos todos por azar ou prazer
Ainda que não acietemos ser preciso morrer

 

PSRosseto

Saiba mais…

A POESIA DO MOMENTO

Sente a brisa que toca teus olhos

Contorna os teus lábios

Beija os teus pés

Alisa teus pelos

Enevoa teus céus

Entrelaça teus dedos

Arrepia teus poros

Massageia teus braços

Carinha teu pescoço

Orvalha tua pele

Perfuma tua cama

Inunda tua noite

Enlaça teu corpo

Tirando teu sono?

 

Essa mesma brisa

Doce leve e ousada

Também vem aqui em meu quarto

Povoar os meus sonhos

Agora de madrugada

 

Com ela me deito

 

É a poesia do momento!

 

PSRosseto

Saiba mais…

PRESSAGIO

Hoje meus sentidos adormecem quietos

Os olhos teimam em permanecer fechados

Há um vazio imenso entre minhas mãos

Não ouço nem o silencio quisera teu som

A língua não prova nem doce nem fel

Não percebo nenhum cheiro pelo ar

Inerte, mal consigo manter o equilíbrio

Do lerdo exercício de respirar

 

Devo estar em fase de pressagio

Esse mau passadio é mais que preguiça do meio dia

Tem tantos nomes, tantas afinidades e distúrbios

Vai muito além da saudade, está após os limites

Corriqueiros e conhecidos da rotina diária

 

Desconforto. Essa a definição mais acertada

Que posso eu admitir estar sentindo já perto do coma

Vésperas da depressão

 

Preciso urgente de uma oração e duas cervejas

 

PSRosseto

Saiba mais…

CORAÇÃO SERTANEJO

Pensar em ti é andar por jardins floridos

Perder-se em campos de dourados trigos

Passear por verdes pastagens

Cruzar pontes sobre rios amenos

Deixar a espuma das ondas lamber os pés

E os pés afundarem na coroa de areia encharcada

 

Andar por jardins floridos

Certamente seria pensar na cor dos teus olhos

Estar perdido em campos de trigo

É vê-la erguer e mudar os cabelos

Sentir-me a passeio pelas verdejantes campinas

É ter o privilegio de estar próximo ao teu hálito

Cruzar pontes sobre rios amenos

Seria observar teus comedidos gestos

E sentir a água e a areia é deliciar-me

Sobre a luz que evidencia quando me olhas

 

Vê como és natureza e desejo?

Inexiste qualquer outra forma ou maneira

De lembrar teu gracejo

Senão semelhar-te paisagens e sensações

Ao meu coração sertanejo

Repleto de sertanejas canções

 

PSRosseto

Saiba mais…

CONVIVÊNCIA

Soltos sobre a cômoda alguns ícones

Alimentam minha consciência:

John Baldoni, Peter Cusins, James Hunter

Rupi Kaur, Spinoza, Thomas More

Goethe, Veríssimo, João Cabral de Melo Neto

Fernando Pessoa, Charles Baudelaire, Ezra Pound

Catulo da Paixão Cearense e alguns gibis da Mônica.

 

Assim a filosofia o protesto a ciência e a infância

Redesenham minha mente

E me disfarço de poeta em meio a essa gente

Imortal, consagrada e que vive ali

Abundante em generosa convivência.

 

Sobre minha cabeceira idêntica realidade

Pseuda fantasia, misto de certezas e abandono.

 

Na gaveta do criado-mudo

Irrequietos  repousam meus poemas.

Não são fáceis os momentos que antecedem ao sono.

 

PSRosseto

Saiba mais…

MATREIRA

Há um quarto de lua minguante

Outro tanto dela crescente

Uma face bela e tão nova

E uma fase ousada e bem cheia

 

Tem noite que se retrai

Outras vezes ela incendeia

Perfuma agita e faz troça da terra

Que não sabe se a ama ou odeia

 

Prende os cabelos, solta as madeixas

Faz juras e queixas, invade as loucuras

Dos rios e dos mares, rasura as margens

Baixa e ergue as marés

Joga palavras, remoinha os ares

Treslouca excitada, extrapola, rebela

Se esconde nas nuvens, se disfarça em estrela

Abre-se inteira, líquida, sem mácula

Se delicia nas águas, goza faceira

E repousa e acalma igual à pétala rosa

Que gangorra cheirosa

Entre o lábio carmim e a língua vermelha

 

Lua matreira, tão calma e bonita

Tem pena de mim

 

PSRosseto

Saiba mais…

DA JANELA DO MEU QUARTO

A lua recosta a testa na vidraça lisa e fria

E na penumbra abraça meus sonhos com clarinhos

Ela passa em visita por minha casa

E eu paro a vida para contempla-la

Nada existe mais entre eu e ela

Exceto a imensidão do universo

Plena e tênue luz que absorve

Envolta num labirinto de ondas claras

Me engrandece a alma nessa experiência

Entre a condição humana e o divino

 

Não é mera coincidência estarmos ali em sentinela

Nos observando mutuamente absortos

Eu viajando admirado em seu lume

Ela passeando acesa por minha morada

Com apenas um frágil vidro nos evitando

Como separasse a ocasião do engano

Se aconchega íntima e pequenina em meus versos

 

Da janela do meu quarto

Certamente é Deus me observando

É assim que Ele em mim se manifesta

 

PSRosseto

Saiba mais…
CPP