Posts de Paulo Sérgio Rosseto (362)

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QUEM NÃO ERRA

A lida às vezes navega

Por barcos sem mastros

Desprovidos de velas

Navios sem lastros

Sem cordas nem âncoras

Timões em proas sem rumos

Barcos calados na areia

Aportados em baías

Degredados

 

A sorte às vezes recende de mágoas

Tal qual vela sem pavio

Cela sem dorso nem doma

Chinelo quebrado pisando descalços

 

Ainda assim os mares continuam

Acolhendo os seus rios

E os rios galopando percalços

Nos tomam nos braços

Acolhem nossas naus

Amenizam nossos passos

Restituem-nos pacientemente a vida

 

O cotidiano é a soma de esperas

Expectando acertos

Mas quem não erra?

 

PSRosseto

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NO FERVOR DA MADRUGADA

Essa tua ousada libido
Mora num lugar tão quieto e calmo
Que ate mesmo qualquer vento perdido
Deitando-se em teu colo cheiroso
Inventaria de não mais ventar
Somente pra te ver suada

Mas esse indiscreto arzinho
Desperto de gula e prazeres
Eriça e te rebuliça os mamilos
Revira teus olhos bonitos
Desabrocha teu danado risinho
Põe-te do avesso acordada
Adentra a tua vontade faceira
E arteiro se esconde mansinho
Por entre os teus pelos macios

No fervor da madrugada
Quem não cobiça e se atiça
Após a insônia do cio
Aos apelos da geladeira?

 

PSRosseto

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SONETO DO AMOR MADURO

Esperamos algumas dobras aprendendo mansidão

Depois, nos mesmos espaços a fio tivemos por lição

As certezas do intrépido desafio em vencermos

A vastidão dos doídos encantos indomados do mundo.

 

Outro tempo nos fora gasto no cotidiano desbaste

Daquilo que se desvendara com o surgir das verdades

Tão distintas quanto translúcidas com o passar da idade

Tão carismáticas a ponto de tornarem-se cumplicidade.

 

Fomos assim perseguindo ilusões e vencendo vaidades

Conquistando a amizade, obedecendo raras vontades

Distantes da subserviência, do ócio, das tolas paixões.

 

Tornamo-nos generosos, íntimos, prósperos e próximos

Tão comuns como apropriados são os doces sentimentos.

Então descobri que a amara desde o primeiro momento

 

PSRosseto

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ENTRE LETRAS

Devemos às palavras todo o louvor da língua

A exegese da verve como indumento

Arauta semântica de doce papila

 

Analise portanto as tuas sentenças

Cada qual carrega a necessidade da crença

O objeto da justa balança

A audácia da reza

A peleja da avença

 

Palavra alguma se desgasta por má influência

Nem degenera por desuso ou excesso em usa-la

Ainda que represente ou signifique

Sinônimo de síntese em insistentes sentimentos

Instigue o que te fora dito mesmo silenciosamente

 

Amigo, ame tanto a língua quanto a pátria tua

Suficiente que jamais baste

Para que satisfaça e não enjoe

Renasça sem que desmanche

Revigore sem que vicie

E te fale sem que aquebrante os significados

De qualquer suspeita de pensamento em contrição

 

Ainda que falho todo texto atesta e santifica

Pelos ensaios, as causas, entre letras e tons

Calar-se é prudência, a palavra é dom

 

PSRosseto

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BREVE

Na sumária manhã

Boa parte das pálpebras se abre com o sol

Desperta mesmo quem mantem cerradas as janelas

 

São os compromissos do organismo

Em naturalmente recompor movimentos

Sair do mérito horizontal

Encarar de olhos abertos as luzes do mundo

 

Eu ainda no breu do ventre

Piso o chão à espera do dia

Não por temer que não venha ou clareie

E sim por reconhecer

Que adentre meu vagabundo sonho

Acostume complacente descompor-se em endemia

E me fazer dormir eternamente

 

Nesse dia leve

Nada de mim mais restará poemas

Unicamente a fantasia de que fora um sono breve

 

PSRosseto

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TREM DAS ALMAS

Assisti da janela tantas almas

Desde a tenra juventude até poucos dias

Seguirem calcadas nos mesmos dormentes

Longitudinais estendidos mundo afora

 

Cada parada e partida ao longo das estações

Transpunham os embates das aragens

E tornavam-se inesperados passageiros

Repletos de encantadas aventuras

 

As torrentes de soslaios, no entanto

Descolaram as madeiras desses solos

Desunindo no entrelaço o aço dos trilhos

 

Desde esse dia todo amor desavisado

Que assusta, desviaja e nem desafia

Fechando as paralelas, descarrila

 

PSRosseto

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CONSTÂNCIA

Mesmo os rios de tantas vezes

Não se topam infinitos

Fazem curvas entre matas

Ah! contornam pelas pedras

Circundam barrancas

Às vezes tornam-se menos nítidos

Mas não sei se mais rasos ou profundos

Mansos e bonitos e disciplinados

E se acabam assoreados

Ou no colo de outras águas

Às margens em voltas e vindas

 

Alguns rechaçam

Aquele necessário momento de introspecção

E trocam a correnteza da foz

Por passeios na praça

Derramam-se entre as ruas

Espreguiçam rebeldes nos quintais

Até invadem casas

Encharcam fogões e camas

Depois dormem enlameados

Da fúria represa de suas mágoas

 

O bote de minha vida segue seu curso

Apesar da inconstância e dos temporais

Eu é quem não sei ser sereno

Abrupto riacho e tão pequeno

 

PSRosseto

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COSTUMES

O que orbita entorno ao teu coração

Reconforta esse peito descuidado

Aproxima-te da minha terra impura

Revive meu jardim já desbotado

 

Tomando aflições por bons costumes  

Somos parte intrínseca que partilha e ama

Sentimentos diversos sob efeitos divergentes

- Se tua luz me aclara minha lua te chama

 

Todo o todo em nós é pragmático infinito

Universo muito aquém de simples mundos

Descabendo as retrações dos próprios polos

 

Há quem denomine ilógico destino

A teimosia eclodir densa ternura

Das nossas unhas roçando os mesmos poros

 

PSRosseto

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SIGNIFICADOS

Se até meia palavra detém significados

Meia porção de poema ainda que breve

Descreve infindos predicados

Para quem o ame ou despreze

Mesmo que esdruxulo ou sereno

Severo ou eterno como um brilho no infinito

 

Por isso todo verso

Ainda que no apelo do amor farfalhe

Sempre é bonito em qualquer idioma

Se consegue dos sentidos avizinhar-se

Pela emoção de quem o separe

Independente de quem lhe reserve

 

Ao poeta apenas cabe o exercício da escrita

Nos poros da alma suada

De alguém que o leia ou declame

 

PSRosseto

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AUSÊNCIAS

Estive quase sempre

Presente quando pude

Isto significa ao certo

Um considerável percentual

De ausências

Pois mesmo presente estando

Em até não podendo estar

Foi como estivesse

Estado semi-ausente

Porem uma vez estado onde nem fui

Fora plenamente

 

Estou agora revendo possibilidades

Em ir ou não novamente

Caso permita irem

Essas ambíguas partes pertinentes

A que possivelmente não vai

Junto à que pretende

Continuarei onde estou

Às vezes ido inteiro

Outras reticente

 

 

PSRosseto

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SEDE

Na hora da sede intensa

O líquido que se desmancha em porção necessária

Anda pelo interno do copo aparentemente lerdo e lento

Por demais devagar e manso abrasa estar cheio

Tanto que a língua cansa dessa espera e ainda mais amarga

Arde no sal da saliva rala parecendo lágrima

Impaciente na garganta molhando o esôfago do sedento

E suado corpo que chora e implora e deseja a benfazeja

Gota que ao longe calmamente orgulhosa sai pelo olho

No cristal do vidro transparente e olha e aguarda o momento

De ser imediatamente sorvida junto às tantas outras moléculas de agua

 

Também minha boca tem essa mesma precisão quando espera meu beijo

E qualquer virgula que se interponha entre essa vontade e o desejo

Torna-se mais insensata que o tempo do mais sutil e absurdo pensamento

Como se o ardor do carinho e o amor não fossem os mesmos enigmáticos

E não ocupassem céleres um único espaço dentro de um jarro com gelo

Esperando ser um gole de agua de um copo escolhido a esmo

Idêntica reciprocidade de alguém também por ti sedento

 

PSRosseto

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INQUIETO

Na areia da praia olhando essas ondas

Disciplinadas que vem e se perdem

Não se ocupam de outro afazer

Senão sucederem-se intermináveis

Independente das marés

Somente cumprem vontades dos ventos

Ou então de seus pequenos mares

Pergunto-me por onde andam os propósitos

Que tantas e tantas vezes rogado jurei

 

Passaram enfurnados pela mesma janela azul

Por dias enfileirando essas horas cruas

Repletos de tanta poesia explicando as agruras

Correntes vermelhas internas em mim.

Presos à pele por dentro dos vasos e veias

Entrevendo diferenças entre espirito e matéria.

Tão vulnerável, leviana e desconexa

É minha alma concreta fatiando mantas nas carnes

Penduradas sobrepostas sobre mantos de areia

 

Podre é o submundo do mundo que julga

O improprio preconceito de todo azedo

Recolhido para investigativas biopsias

Analisadas pelas lentes toscas da miopia

Que assolam a criação dos conceitos

Preconizados robotizantes me guiando

Para onde não fossem meus versos jamais saberia.

O fim que me espera nos braços da determinação

É o que me sustenta inquieto sobre a terra

 

PSRosseto

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UMA SÓ LETRA

As boas palavras aclaram ideias

Exaltam sorrideiros pensamentos

Branqueiam o alvejado esmalte

Enquanto mordem a carne dos lábios

Emolduram os dentes

 

Refinam o hálito prazerosamente

Mastigam, deglutem, engolem, ruminam

Cospem ou vomitam toda verborreia excedente

 

As boas palavras escovam amigdalas e vísceras

Lapidam a língua, burilam vocábulos, babam sílabas

Separam, pontuam, pausam ou encerram contendas

Afetas a qualquer diálogo contundente

 

Descongelam a mente e plantam saborosas pronúncias

Docemente salivam e irrigam e enlevam a verve da gente

 

As boas palavras harmonizam o silêncio e o discurso

De quem fala, de quem ouve, descreve e as soletra

As semeia e as escreve peregrinas, fortes e singelas

A quem se atreve a dize-las ou busca-las certas

Sapientíssimas e perpétuas ainda que ditas erroneamente

Sem que se proclame, perceba ou se ouça

De si mesmas sequer uma só letra

 

PSRosseto

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À PROCURA DA HORA CERTA

Estamos todos à procura da hora certa

Inventando estranhos costumes para usa-la

E nunca a achamos, mesmo estando despertos

Em constante sentinela

 

Dizem que há esse momento exato

De ventura ou de absoluto azar

De aguardar o fruto ser maduro

De ignorar ouvir o fluxo que condiz

E valorizar balelas presas no verso da antessala

 

Vivemos cercados de consensos e querelas

Desconhecendo os segredos da boa ou má sorte

Que nos apanham constantemente desprevenidos

 

Para onde nos levarão então

As facetas incineradas desses sonos mal dormidos?

 

PSRosseto

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UM FIM DE TARDE

Um fim de tarde acontece todo dia
Mas nunca se dá sozinho e sem alarde.
Mesmo após o sol ter ido de país em país
Deixa ainda costurado no tecido do céu
Por bons momentos o seu prurido.
Há sempre uma ultima nuvem ardendo
Brandamente vermelha e até entediada
De pele queimada e tecido redesenhando-se
Com qualquer brisa que lhe retoque mansa.
Alguma nuvem que tenha sumido na estrada
Que precisara descarregar sua chuva
Regado e carpido o feijão que será colhido.
Alguma nuvem igual a mim
Que passara toda a tarde a espera
De alguém transeunte de qualquer tempo.

Conheci uma estrela invisível que viajava pela terra
E todo o seu mundo era tarde porque seguia
Imprescindível recolhendo os últimos clarinhos
Iluminando os trilhos opacos do sertão dos vagalumes
E os intermináveis vagalhões dos desertos e mares.
Mas andava desviando para além das cidades
Onde as luzes sobrepunham-se ao lusco-fusco
No poluído e desumano horizonte abcesso da natureza.

Mas eu acostumara olhar para o outro lado do entardecer.
Sempre passava a minha infância de vigia
No laborioso oficio de acender a lua quando ela vinha

 

PSRosseto

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TEIMOSAS

Ensinei minhas mãos teimosas a pouco se verem

Às vezes encontram-se, revezam

Condecoram, aplaudem, e retomam seus lados

 

As minhas mãos pouco sabem uma da outra

Ainda mais quando advertem, apontam, condenam

Cumprimentam, auxiliam ou dão adeus

– Aprenderam a gesticular sozinhas

 

Porem mantem uma incrédula cumplicidade de energia

Ajudam-se obvia e espontaneamente para segurar uma barra

Desatar algum nó, pontilhar a viola, carregar emoções

Destravar as janelas, encontrar os rumos

 

Estão é verdade repletas de solidariedade

E assim convivem debulhando situações interceptadas

Pois até quando minha mente se põe em oração

Unem-se e necessitam dessa união

Mas não se leem

 

Independente de onde meus pés andem

As minhas mãos precisam ser lidas por minha vida cigana

Enquanto isso folheiam livros e escrevem historias

 

PSRosseto

 

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QUANDO EU ESTIVER DE VIAGEM

Quando eu estiver de viagem

Não fiques buscando-me nas estrelas

Nem permitas ser fantasma diuturno em teu jardim

- Não estarei tão longe que poderás esquecer-me

Nem tão próximo a ponto de assoprar tuas orelhas

 

Encontra-me nos arquivos do teu coração

Onde de certa maneira passei

Nalgum cantinho existi nas formas de emoção

 

E se por acaso a saudade arder mais que um segundo

Certamente irás sorrir certa de que de algum modo

Aprontei alguma boa arte em teu infindo mundo

 

E somente por esse disfarçado riso

Nos valerá a pena ainda estar guardado ali

 

PSRosseto

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ABNEGADO

Confesso-te que estou aquém das tuas dúvidas

Porem muito além dos teus pesares

Se desconheço as respostas que me pedes

Há tempo sarei dos males que padeces agora

E ainda que não pareça que me aflige o que sentes

Abnegado sofro enquanto teus conflitos enfrentas

 

Apesar da serenidade aparente

Que o momento nos impõe como meta

Suplanta tuas agonias

Supera tuas próprias dores

Enfrenta as tuas mazelas

 

PSRosseto

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NAVEGANTE

Trago eu a ousadia

De olhar mil vezes ao dia

Os verdes olhos do mar

De apegar-me a maresia

Que salga o aroma nos lábios

Como se pudesse explorar

Entre os ventos arteiros

Os encantos do teu olhar

A distância dos teus navios

Nos rastos do teu andar

 

Então levo a certeza

Escondida no alforje

Daquele que navega a vida

Sem reter o horizonte

Tudo enxerga mas não vê

Tudo vê e pouco importa

Distinguir o sul do norte

Apenas segue cego em frente

Capaz de pescar nos rumos

De seu mundo confidente

 

Depois volto e é bom voltar

Porque há quem me aguarda

De braços estendidos largos

À espera das minhas águas

Na ânsia daqueles mares

Navegados entre peixes

Maresias e bonanças

Na volúpia dos bons ares

Viajantes velejados

De um único lugar

 

PSRosseto

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DIABRURINHAS

Passemos incólumes pelas diabrurinhas do tempo

Assim evitaremos que o mundo sofra

E se desgaste e dobre inútil por nossas sobras

 

Não é justo que as agruras derrubem nossos laços

Que o bagaço da impiedade sobrepunha os bons frutos

Que alguns vieses destruam as referências

Que não haja perdão aos pecados breves

Que os muros cerceiem nossos traços

 

Passeemos vivazes pela orla das benesses

Recolhendo as danuras que porventura resultem dores

Certamente estaremos mais leves

 

PSRosseto

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CPP