Posts de Paulo Sérgio Rosseto (362)

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AMAR A QUALQUER TEMPO

Amar a qualquer tempo

Vicia os amantes

Alicia ao viço que se torna lícito balsamo

Entre o vício e seu vinco excêntrico

Emaranhada teia de nylon

Intrincada e sutil peça de aço

Insaciável artífice

Repousado sobre um mesmo espaço

 

Toda a riqueza do amor existe na abundância

De certezas afeitas aos sentimentos dominantes

Amemos incondicionalmente

 

PSRosseto

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VULNERÁVEL

Desconfio ter um jardim muito vulnerável
Às vezes tem medo de mim
Acredita que posso a qualquer momento
Podar uma roseira
Furtar-lhe uma flor
E isso seria uma grande perda
Pois entende que todas as suas aveludadas pétalas são
Insignes
Imprescindíveis
Insubstituíveis
De inestimado valor sem fim

Ao mesmo tempo contenta-se por servir-me
Perfumadas rosas tão saudáveis
Pois sabe que quando as levo
São para alegrar os olhos e o coração de minha amada

Realmente não compreendo meu jardim

 

PSRosseto

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DESAFIO

Percebe como a música é a mesma

Perfeita a melodia

Eterna porque encanta

Canta-a

Entoa

 

Mas também desconfia

Da tua fala incerta

Que tua voz não mais acerta alguns acordes

Que tuas cordas não vibram como deveriam

Que teu sopro antes tão forte quase não assobia

Que teu peito não vibra apenas chia

Que tua memoria esquece o refrão

Que os ouvidos apagam esse teu som

Que viver é esse perpétuo desafio

 

PSRosseto

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TRANSFIGURAR-SE

Jamais te acostumes à eternidade

Ande tão disforme que precises

A sensação do apodrecer

Do definhar

Do inexistir

Do empobrecer a própria pele

 

Não finjas que a beleza está

Somente onde há luz iluminando-a

Nem mais sábio e leve sejas

Ao tentar omitir e ocultar de ti

Os sentidos dos teus próprios males

 

Apiede silenciosamente às tuas entranhas

As tuas dores

Para que vejas em outros olhos

Quando prazerosamente sorrirem fitando-te

Ainda que destemperados

Da vida todos os sabores

 

Santifique teu presente

Fartando-te das tuas verdades

 

PSRosseto

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O QUE DIGO QUE DIGO

O que digo que digo

São máximas ditas para que reflitas

E se acreditas também a outros repitas

 

Mas se não dizes e omites refletir

Como posso mais eu convencer-te

De que o que te é explícito ao ouvir-me

Deixa de estar nítido e implícito

E deverá servir-te e aos teus?

 

Confesso-te que se dissesses

Essas mesmas verdades nuas assim

Conhecendo-me como sei de mim

Por certo não te iria acreditar

Posto que duvidar é muito mais insano

Que qualquer outro item a crer

 

Mas ainda que apregoemos em vão

Sabemos que o mísero humano em cada um

Suplanta a imensidão no vazio

Ante a oculta face do infinito ao que é

 

A isto chamam verdades

Em nós denominamos fé

 

PSRosseto

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INVOLUNTÁRIOS

Tenho vontade de pular o muro

Sair da rua

Cair no teu quintal

Enfrentar tuas sombras correndo atrás dos meus dilemas

 

Você também poderia

Vir agora em meu pomar

Trazer mais flores para o jardim

Recolher as roupas estendidas no varal ou despi-las

 

Poderíamos nos encontrar em qualquer um dos portões

Da minha casa ou da sua

Conversar pelo interfone

Dizer se chove ou faz frio se tem sol ou noite ou lua

 

Combinar um pernoite

Qualquer café num perfume

 

Mas continuamos involuntários

Certos de que as vontades passam

Bastando ignora-las como fazemos com as ousadias

 

Enquanto isso a noite morre o dia

 

PSRosseto

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SUSTENTAÇÃO

Pelas asas que não tenho, voo e vou

Vou em voo em pleno movimento

Nessa indefinida avenida de vento

 

Com o dinheiro que não ganho

Não logro, adquiro, almejo ou possuo

Descontinuado do que apago e apego

 

Dos males que não causo

Descanso a consciência em descaso

Não me culpando por não lhes ser dono

 

Aos valores que me dizem amar-me

Desarmo e fraciono o querer de pronto

Repartindo a alma por resposta

 

Entre as dádivas que me cabem

Quito-as à medida que posso

Para que me saiam mais caras

 

Mas ao tempo que me resta

Que não sei ser longo ou mínimo

Silencia a morte minha orquestra

 

Que este incondicional amor me siga

Em sua interativa sustentação

Mas não me cegue

 

PSRosseto

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POÉTICOS

A minha boca

É um velho copo pedindo agua

Para um lodoso pote pela metade

De um surrado corpo cheio de sede

 

Tua generosidade

Oferta-me em taça de cristal fino

O verde extrato das uvas raras

Jovial vinho servido em jarras

Inebriante néctar divino

 

Somos o contraponto

Entre o ébrio e o equilíbrio

Líquidos porem éticos

Herméticos ainda que sóbrios

Absolutamente líricos

 

PSRosseto

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OBSCURO

Há no mar um lado profundamente escuro

Porque a luz do sol ao fundo ali congela

Escura também é uma face da lua amarela

Escuro o firmamento

Escuro o ventre onde não lembramos ter estado

Escurecida a noite indecisa de olhos fechados

Imprecisas vão às cegas germinar o sono escorraçadas

No seio das covas preservando o sonho das raízes nas sementes

 

Iluminamos a banda escura da terra

No fogo das ideias descansamos as lanternas

Incineramos o desejo ardente pelo nascer fugidio da morte

Mas o mundo debela cruel diariamente apesar da fé

O clarear solitário do obscuro lado grotesco da gente

 

PSRosseto

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NENHUM

Não conheço deserto exceto o da alma

Nem é imenso nem inquebrantável

A ponto de vergar junto às palmeiras ao vento

Nem denso posto que passa

Ao menor sorriso que se assemelha

 

Esse excedente que por vezes me toma

Jamais fora suficiente para dilacerar as entranhas

Pois fosse medir pela quantidade de areia seria uma praia

Se pela aridez do sol seria o ápice da luz

E se pelo frio da noite talvez um oásis de frescor

 

Esse recolhido personagem é mais grato que triste

Infinitamente mais humano que ateu

E prova sabores ainda que esses sabores

Se estranhem no profundo amargor da mente

 

Tento aprender a cada dia a ser bom –

Não preciso ser melhor

E dentro dessa mínima bondade

Ensino a ser intenso mesmo sendo nenhum

 

A vida é feita sobre a soma de palavras

Igualzinho a um poema

Mesmo muito breve

 

PSRosseto

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ITINERÁRIOS

Tenho guardados em estojos

Alguns caminhos já percorridos

Deixo-os dobrados, organizados

Dentro de envelopes recolhidos

E quando os quero refaze-los

Desdobro-os e volto a seguir

Pelos mesmos itinerários

 

A cada reinicio de caminhada

Percebo tacitamente

Como os meus pés tornaram-se íntimos

De certos chãos das estradas

Pois foi andando de ida ou retorno

Que recolhi essa identidade

Pisando por solos estranhos

Passando refém pelos sonhos

Incólume às agruras do nada

 

Dentro destas gavetas de curvas

Retas, ladeiras e revezes

Tantas vezes apreendi minha sorte

Questionando os rumos vorazes

Que me tangeram de um lado a outro

Levado por certos mandos

 

Enfim percebo já um tanto abastado

Que o prêmio muito além da procura

Em cada trilha foi haver te encontrado

 

PSRosseto

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HAIKAIS

BENGALINHA

Minha bengalinha

Injuria e às vezes sai

Correndo sozinha

 

DISTANTE

Metade de mim

Falta-me por inteira

Se você não vem

 

SEM CONTEXTO

Não ler teu riso

Seria estar ensimesmado

Fora de um livro

 

AUSTERA

O espetáculo

Jamais tira o brilho da rosa.

Ela é quem chama

 

LIBERDADE

Abro a janela.

Amo enxergar as cores

Nos olhos dela

 

PSRosseto

* Alamandas & Haikais*

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HAIKAIS

OLHOS

Olhos pelo mar

- Nas profundezas ou à flor

Óleos por todo lugar!

 

 

 

 

SOBRIEDADE

 

Desejo poesias

Sobre espectros de palavras

Raptadas de alegrias

 

 

 

 

DEMÔNIO

 

Um câncer me consome.

Pelo rabo e pelo casco

Defeca-me o que come.

 

 

 

 

ÁREA COMUM

 

Na zona rural

Qualquer pé de laranja

É condomínio normal

 

OCUPADO

 

Descanso muito

E quando canso

Faço poesias

 

 

 

 

MINHA JANELA

 

Minha janela

Exibe filmes campeões

Vinte e quatro horas

 

  

IRREAIS

 

Consorciado

É quem paga sonhos

Desacordado

 

 

 

 

TRABALHEIRA

 

Sair da sala

Demanda esforço intenso

À bengala

 

ATROCIDADE

 

Atrocidade

É assassinar sentimentos

Sem matar saudades

 

 

 

 

PURA SORTE

 

Hoje passarei

Mas amanhã quem sabe

Falte-me um passinho

 

 

 

 

PALHAÇO

 

Sou muito rico

Fabrico fantasias

Para o teu circo

 

 

 

 

ANSIEDADE

 

Decida se vai

Pois preciso esperar

Tua volta

 

 

DE REPENTE

 

Morrer é tão raso.

Basta transbordar

Qualquer vaso!

 

 

 

 

METADE

 

Metade do tempo

É meia noite ou meio dia?

Mede-se pelo vento?

 

 

 

 

NATURAIS

 

Estrelas conhecidas

Exibem suas luzes

Todas sempre nuas

 

 

 

 

RESIGNAR-SE

 

Meus dentes carearam

De tanto engolir palavras

Sem poder mordê-las

 

 

GENTILEZAS

 

Ela me trouxe uvas

Maduras e lavadas

Pelas aguas das chuvas

 

 

 

 

TEIMOSIA

 

Nem sempre o silêncio

Isenta os eloquentes sons

Da insana mente

 

 

 

 

INCONFORMADO

 

Teu pálido riso

Denuncia sem palavras

Que os lábios gritam

 

 

 

 

DESISTIR

 

A política

Ao duvidar dos políticos

Tornou-se apolítica

 

 

TEMPO

 

Meu pai mede as horas

Por um relógio aparado

Da memória

 

 

 

 

FASES

 

De verão a verão

Viver juntos deveria

Avivar o coração

 

 

 

 

AVARO

 

Todo avaro ri

Da festa que viraliza

A testa da avareza

 

 

 

 

 

Rezo o quanto posso

O terço que a natureza

Ora sobre meu berço

 

 

PROCEDÊNCIA

 

Se tem café pronto

Alguém colheu e moeu

O fruto que a flor deu

 

 

 

 

BOA NOVA

 

Notícia boa

Purifica o coração

De qualquer pessoa

 

 

 

 

UTOPIA

 

Calmaria no mar

Deveria também acalmar

Os anseios da proa

 

 

 

 

PERSISTÊNCIA

 

Fidelidade é

Retomar diariamente

Os mesmos desafios

 

 

RESILIÊNCIA

 

O câncer que me devora
Carcome aonde meu demônio mora.
As sobras anjos levarão embora

 

 

 


 IMPRESCINDÍVEL

Peixes estirados na rede.
Se fora d´agua padecem sede
Um copo lhes seria deleite

 

 

 

 

VIAGEM

Sob o sol galopa o vento.
Teu cabelo emaranhado
Pontuado de amarelo



TOQUE

Novembro estaciona
Tão intimamente azul -
Intensa essa zona

 

 

SEGUNDA JUSTIÇA

 

Quando falta o senso

Apela-se absurdo

A qualquer instância

 

 

PSRosseto

Alamandas e Haikais - 2019

 

 

 

 

 

Saiba mais…

PIRATA

Arrebataria meu barco em alto mar

De encontro a um vagalhão inesperado

 

Alquebrada, a proa soçobraria a estibordo

E suas partes desencontrariam por esse velho casco

 

Assim esfacelando blocos inteiros

Afundariam docemente entre as salgadas lágrimas

De olhares brejeiros

 

Entenderíamos que a solidão do mar

Seria bem menor que a de não amar

E que a dor de amar nada seria

Ante a ávida gula desse voraz veleiro

Inundado de saudade navegada e navegante

Por um qualquer timoneiro

Apartado de ansiedade retida sem serventia

 

Quisera atirar nesse oceano toneladas de poemas

E vê-los manchando as encostas

Escritos nas areias meladas de poesia

 

PSRosseto

Saiba mais…

A BOCA E AS MÃOS

De repente minha boca anseia

Conversar com tua pele

 

Surfar pelo labirinto de poros

Entreabertos pelo desejo inerente

Desse preconizado diálogo

 

E tudo é tão raro belo e recíproco

Que todo o universo se cala

Enquanto nossos sonhos se buscam

E os úmidos lábios passeiam e se falam

Partícipes desse colosso mistério

 

Tão puro que é bom

Sem limites de gemidos e sons

Insignes sedentos e prontos

 

Feitos do morango maduro entre os dentes

E uma taça cúmplice nas mãos lambidas

Lambuzadas do amor pelo vinho

 

PSRosseto

Saiba mais…

UM POUCO MAIS DE HOJE

Ainda tem um pouco mais de hoje

Antes que a manhã volte e amanheça

 

São as artes das horas ocultas

Que se mostram em partes

 

Assim se torna mais precioso o que se aprecia

Intenso e evidente seu claro

Mansa e macia essa espera arredia

 

E ainda que soubesse que partisse

Passaria a vida nessa plataforma imensa

Seguindo essa roda sem freio e sem guia

 

Contemplando-a por nada e não quisesse

Minha teimosa tolice insana e insistente

A esperaria

 

PSRosseto

Saiba mais…

HUMANO AMOR

Do amor que te falo
Não é o infinito e sim
Esse que descuidado
Desmancha-se num grito
Desmesurado de dor

Não é o divino por não ser absoluto
Mas sim humano pois caso desvela
Gera desengano onde não caiba estar

Nem abstrato nem concreto
Por não ser secreto entre a gente
E estar ocluso por fina camada de cera

Esse feito de retalhos de pano
Que o tempo acostuma com a costura
E se não se atenta nem ciúma
Termina quando maltrata incontido ao passar

Do amor que te acho incomoda
Exige que provemos do amargo e o azedo faça acordar
Não por haver medo no amor
Mas que intimide e renasça e reacenda
Pela simples cisma de se vir deixar de amar

 

PSRosseto

Saiba mais…

PROCURA

Passo por tantas portas durante o dia

Entro e saio vou e venho nada me segura

De um cômodo a outro buscando o futuro

 

Penso que nada me surpreende

Porem insatisfeito com a estrutura

Desse indescritível labirinto

Reclamo tua ausência

A essa troça que arde o peito e angustia

 

Necessito-te ávido

Acima de todo escrúpulo

Desprendido de alicerces

Longe dos parâmetros

Apesar do acúmulo dissimulado

Dessa tosca aventura

 

Andarei a eternidade

Indecifrável à tua procura

 

PSRosseto

Saiba mais…

SEM NINGUÉM SABER

Não gosto de fazer poemas que remetam à morte

Porque detesto que os meus amigos lembrem-se

Que um dia também poderão morrer

 

Prefiro que cantem as melodias alegres

E leiam sobre amores e saboreiem as dádivas da vida

 

Instigo para que brindem as alegorias

Mergulhem na fantasia de que são todos eternos

Infinitamente abençoados pela eternidade

Em resposta ao zelo existente que para comigo têm

 

Os meus amigos e a fraterna amizade que nos convêm

Não tem tamanho nem cabem dentro de covas

Por isso jamais extirpa nem deteriora

 

E na minha hora em que sozinho eu partir

Sairei à francesa em silêncio enquanto festejam

Para que ninguém note a minha dor por ir sem querer

 

Partirei calado sem ninguém saber

 

PSRosseto

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TEMPORAIS

Toda vez que perco o horizonte

Creio haver um mar a minha frente

Tão longe de mim equidistante

Como as rosas de um jardim

Ou uma nuvem passante

Que se desmancha insana

Por entre respingos de lama

Ou alvas fronhas de algodão

 

São aguas verdes revoltas

Remexidas pelos mesmos ventos

Que soltos conduzem minhas barcas

Serenas cada uma a seu porto

E as nuvens aos seus tantos

Destinos e encantos

Revestindo travesseiros

Sobre as camas da paixão

 

Todos esses travessos romances

Atravessam-me intensos

Ainda que de mim jamais saibam

Porque nunca mais retornam

Porque se tornarão propensos

A viajar outros céus e mares

Esculpindo suas torres imensas

Apesar dos temporais

 

PSRosseto

Saiba mais…
CPP