A Menina e a Sopa de Azeite

A menina e a sopa de azeite

 

Era uma vez uma menina que não gostava nada, mas mesmo nada, nada, de andar na escola. Mal tinha um pretexto, ou melhor dizendo, uma oportunidade, era vê-la a tentar escapar-se à obrigação dos conhecidos TPC (trabalhos para casa), pelo que foi a muito custo que conseguiu concluir a fase da instrução primária.

Assim que ingressou no ciclo preparatório, essa sua aversão ao mundo escolar ganhou novos contornos, seu pai, não raras vezes, foi chamado à escola por causa do elevado número de faltas que a sua Luisinha vinha a dar. O pai falava com ela, sempre com uma paciência digna de admiração, tentando mostrar-lhe os graves prejuízos que a sua atitude poderia acarretar na sua vida futura, mas nada. Luisinha bem prometia que não ia faltar mais, era só uma questão de dias.

Ao fim de cinco anos, Luisinha conseguiu concluir o 2º ano do então chamado Ciclo Preparatório. Seu pai, numa tentativa de lhe dar importante reforço positivo, convidou os cunhados, de quem até nem gostava muito, única família mais próxima, para um jantar de celebração de tal feito da filha.

Luisinha aproveitou a ida, dos pais, ao supermercado para dar um ar da sua graça. Resolveu confeccionar a sopa. A mãe, ao chegar do supermercado, ficou toda vaidosa da sua menina, não seria grande aluna, mas compensava com outras virtudes, uma das quais o seu jeito para a culinária.

Sentaram-se todos à mesa, a mãe de Luisinha fez questão de salientar o facto de ter sido a filha a autora da sopa:

- Oh Luisinha, a tua sopa está boa, só me parece um pouco azeitada.

O pai de Luisinha olhou para a cunhada:

- Não, está enganada. A Luisinha fez a sopa do modo que eu preciso. O médico recomendou-me comida com muito azeite, ajuda a limpar as veias. Vai ver como amanhã se sente muito melhor.

Luisinha, e a mãe, olharam para David com cara de espanto, sabiam muito bem que havia anos que ele não consultava médico algum. O jantar decorreu sem mais perturbações. Luisinha, mal os tios saíram, veio aconchegar-se no colo do pai, adorava sentir o calor do corpo do pai junto ao seu, transmitia-lhe confiança:

- Pai, porque disseste aquilo à tia Júlia?

- Ora, achas que ia permitir que ela dissesse mal da tua sopa. Estava maravilhosa, talvez com um pouco de azeite a mais, mas boa na mesma.

- Pai, eu fiz tal e qual como diz na receita, pus um litro de azeite.

- Pois é filha, se calhar era um decilitro. Quem sabe não se trata de uma gralha da tipografia, em vez de escreverem dl, escreveram só L. Não te preocupes.

Luisinha aguardou que os pais se deitassem, foi ver a receita e…não, não era erro tipográfico algum, estava lá dl, ela é que não soubera interpretar o que estava escrito:

- Quero agradecer a todos aqueles que me possibilitaram esta oportunidade de estar aqui, hoje, a festejar a minha licenciatura, mas quero fazê-lo em especial, os outros que me perdoem, ao meu melhor professor, o meu pai. Obrigado pai.

- Luísa, qual foi o teu ano mais difícil de faculdade, o 1º ou o último?

- Nem um, nem outro. Para mim, o mais difícil mesmo foi a sopa de azeite.

Só Luisinha, o pai e a mãe, perceberam o significado de tal afirmação.

 

Moral: Educar é saber dar reforço positivo nas horas de analisar os erros

 

Francis Raposo Ferreira

17/10/2019

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Comentários

  • É tão bom quando os filhos compreendem os ensinamentos dos pais.

    Mas o contrário, é nefasto.

    Aplausos!

     

  • 75898482?profile=RESIZE_710x

    • Amiga Angélica, nem sei como te agradecer. Beijinho.

       

    • Que tenhamos muitas e muitas sopas de azeite em nossas vidas!!!!

    • Exacto. Beijinho.

       

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