Apenas com um tiro de balestra
— J. A. Medeiros da Luz
Eis que a seta da besta alveja a besta,
Após riscar — a 70 metros por segundo —
O fino ar montês.
E, distando muito, a ocidente, de Alcácer-Quibir,
O agigantado líder, inebriado em sonhos de grandeza,
Mostrando seus molares no esgar,
Vê-se poderosíssimo, ao perceber
O lacrimal de sangue, que percorre
Toda a ilharga da vítima,
A arfejar sobre a areia alvinitente
Daquele condado ímpar,
Onde — vejam só! — as rãs crocitam e,
Do alto das frondes rutilantes,
As águias coaxam — rodeadas
De nuvens de moscas de olhos azuis, azuis.
Ouro Preto, 15 de janeiro de 2020.
Comentários
Parabéns poeta aplauso abraços
Olá Meire:
Obrigado pela gentileza do comentário. O triste é que a violência com os nossos semelhantes (não seríamos irmãos dos cervos, dos tapires e dos ursos?), nos moldes medievais que pincelei nos versos, ainda é uma tônica, incluindo aí — na categoria de semelhantes — o próprio Homo sapiens.
Acaba sendo sempre aquela história de o (que se julga) forte a trucidar o mais fraco...
Abraço do j. a.
Parabéns caro Medeiros.
Um estilo fulminante e certeiro nós versos conectados com o provável improvável.
Gostei demais de sua Poesia Instigante.
Parabéns e Abraço de Antonio Domingos
Obrigado pelas palavras incentivadoras, caro Antonio Domingos:
Na verdade, como já o disse a uma amiga há pouco, este poemeto, sob as condições normais da coletividade, seria reputado como um tanto estranho — até mesmo pelo autor, já de si meio amalucado... No substrato atual dos acontecimentos, entretanto, com suas luzes oblíquas e ecoando ruídos de porões, quero crer que adquire umas texturas que normalmente não se revelariam.
Abraços do j. a.
Caro Medeiros.
A poesia não tem limites. Simplória ou Sofisticada, ambas tem o seu valor, partindo da premissa do sempre respeito ao Autor.
Para comentar o pouco que comentei, um pitaco, eu recorri ao dicionário para ver a definição de palavras que eu desconhecia...Ora, lendo seu belos versos eu aprendi mais um pouco...
Falar algo acerca de Poesias sofisticadas é extremamente difícil, mas não tenho medo, até porque estou aberto ao contraditório, a críticas.
Parabéns,
Nestes dias escrevi um texto poema sobre uma barata.
Tem plena razão, caro Antonio Domingos: poesia, tendo sentimento, é sempre poesia...Só para citarmos dois exemplos, não há como não nos emocionarmos com um poema de Catulo da Paixão Cearense, com suas raizes no sertão, ou — noutra extremidade estilística — do Augusto dos Anjos.
Abraço do j. a.
Com certeza caro amigo
Jovem fui ler um livro de Guimarães Rosa. Não entendi nada.
Abraço.
Parabéns por teu belo trabalho poético! Concordo com você J. A. Medeiros, às vezes o surreal é mais real. DESTACADO!
Cara Angélica:
Obrigado pelas palavras carinhosas.
Pelo trepidar da carroça (com as coisas seguindo como lá vão), não demora e tudo isso termina com injeção ácido lisérgico nas artérias da realidade. Bagre velho que já sou, percebo que a dita corrente do naturalismo era só balela literária: um momento de ingenuidade neste mundo distópico — que ainda por cima se diz partidário da ordem e do progresso.
Abraço do j. a.
Pessoal:
Ao contrário da discrepante convicção de meus ingênuos tempos de juventude, vejo hoje que, muitas vezes, o surrealismo descreve melhor a realidade. Que coisa, não?