Ave de Rapina

Nas paredes brancas se espalhavam
Imagens tão vívidas que delas
Quase podia se sentir os sorrisos
Ícones de gargalhadas do passado
Afunilando-se todas na certeza
Das pequeninas mãos em quase
Tocar os sonhos além da vidraça

Estações passaram e o mundo lá fora
Não se preocupava mais em esperar
A vida corria desviando-se de seu quarto
E nem notou quando as paredes já não
Tão alvas emolduravam cada imagem
Desenhando a escuridão até que sua
Própria existência tornara-se uma tela

De fato um belíssimo painel que
Todos sem exceção admiravam
Boquiabertos em elogios e graças
Mas ao final do dia quando as
Luzes se acendiam era apenas um quadro

E naquela noite a coruja pousou no beiral
E as mãos agora não tão pequenas puderam
Sentir sua presença inquietando a parestesia
Que já tomava cada parte de seu corpo
Delicadamente baixou as pálpebras
E sincronizou-se ao coração da ave

Sem sair de seu quarto
Ela conseguiu sentir o vento em sua face
Lá do alto percebeu a escuridão
Ganhava velocidade cruzou as nuvens
Que assustadas reclamaram de sua ousadia
Girou em rasante riscava os lagos
Não, pousar nem pensar
E subia novamente, plainava

Fontes, tulipas, planícies, lenços
A vida no seu todo apreciava seu voo
E ao horizonte sonhos já velhos e seus netos
Chamavam-na em direção
Mas inconformada pousou em seu quarto

Porque me trouxeste de volta?
Não precisa de mim para voar
Tem suas próprias asas
A escolha é sua, reescreva este espaço
Transforme sua poesia e voe
O poder da palavra vai muito além

E no pio da coruja quase obedecendo
As molduras hoje grades se partiram e
A luminosidade invadiu o ambiente
Pode ouvir o som das asas indo embora
E daquele dia em diante
Reescreveu o poema

Já com as mãos sulcadas
Pelos sonhos conquistados
Tendo os netos que vira no horizonte
Implorando-lhe por mais histórias
Lembrava do pio da ave de rapina
Aquela que raptara a dor e a escuridão
...a escolha sempre será sua...

Fiquem com Deus
Carlos Correa

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