Contos de Natal 2019 - I Jogo avô e Neta

Jogo Avô e Neta

 

Matilde viu chegar o novo dia sem ter conseguido adormecer, algo que nem a surpreendia, pois desde há já alguns anos que assim vem sendo na noite que antecede a entrada em cada mês de Dezembro. É verdade, há já alguns anos que a menina passa a noite do último dia de Novembro a esperar que a escuridão se vá, permitindo que a madrugada lhe vá entrando pela janela do quarto que tem reservado na casa do avô Martinho, e onde tanto gosta de passar o mês de Natal. Se durante o resto do ano, só lá vai quando as suas obrigações escolares lho permitem, já em Dezembro, ou até mesmo logo no final de Novembro, quando, como neste ano, o final do mês coincide com o fim-de-semana, muda-se em permanência para casa do avô.

A principal razão desta mudança no quotidiano da menina está nas bonitas histórias de Natal que o avô tomou como hábito contar-lhe durante todo o último mês de cada ano, umas inventadas por ele próprio, outras adaptando alguns dos mais bonitos contos de Natal, mas tendo, sempre, em atenção os gostos e os heróis preferidos da neta.

Assim que o dia começa a clarear e por calcular que o avô, o mais madrugador lá de casa, já deve andar de volta da lenha para a lareira, até porque o dia está mesmo como ela gosta, isto é, ora chove ora faz sol, o que significa que o avô irá mesmo ficar por casa, desce as escadas que conduzem do 1º piso, onde se situam os quartos, até ao piso térreo, onde fica a cozinha e o grande salão da lareira:

- Bom dia avô. Dormiste bem?

- Olá minha menina. Sim, dormi. E o meu anjinho?

Matilde coloca as mãos na cintura, fixa o olhar no avô e aguarda que este olhe para ela em busca da resposta:

- Não. Eu não dormi nada toda a noite, e a culpa é tua.

- Minha! Que mal fiz eu à minha princesa?

Matilde corre ao encontro do avô Martinho, agarra-se às suas pernas, puxa-o de encontro a si e diz-lhe:

- Não fizeste mal nenhum, habituaste-me foi a ficar acordada a sonhar com as tuas lindas histórias. Agora, como castigo, vou arranjar o pequeno-almoço, sentar-me no teu colo e ficar a ouvir a primeira história de Natal deste ano.

- Ah, já nem me lembrava que hoje é 1 de Dezembro.

- Não te lembravas! Deves julgar que me enganas. Aposto que até já sabes qual a 1ª que me vais contar. Este ano vais falar sobre o quê, avô?

- Matilde, eu estava mesmo a falar a sério, esqueci-me que dia era hoje. Devo estar a ficar velho.

- Não faz mal, avô, os velhinhos sabem muitas histórias, e quando não sabem inventam-nas, como tu fazes tão bem. Olha, já que ainda escolhestes as histórias deste ano, porque não aproveitas para inventares histórias sobre os jogos e filmes da tua infância, estás sempre a falar nesses tempos. Vou arranjar o pequeno-almoço, assim podes ir inventando a de hoje.

O avô Martinho não tem como lhe responder, há muito que se habituou à habilidade intelectual da neta para conseguir, sempre, atingir os objectivos que tem em mente. Assim, enquanto arruma os cavacos de madeira ao lado da lareira, vai começando a estruturar a história que dentro de escassos minutos irá contar à neta, sabendo que não descurar o tema do Natal, pois a pequenita não lho perdoaria.

É com um sorriso nos lábios que avô e neta se entregam ao seu jogo preferido, ele ir inventando histórias e ela a escutá-lo com toda a atenção.

 

Francis D’Homem Martinho

01/12/2019

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