D. Carlos - O diplomata

  1. Carlos - o Diplomata

 

Morto D. Luís cognominado “O Popular”

Sucedeu-lhe seu filho “O Diplomata”

Cujo grande amor consistia em caçar,

Mesmo que fosse caça de uma outra nata,

Preferia prazeres carnais a ter de governar,

Levando, de amantes falando, vida farta.

Desde novo recebeu esmerada educação,

Onde aprender diversas línguas era obrigação.

 

Jovem viajado, cortes europeias visitou,

Numa dessas viagens de aprendizagem,

A princesa Amélia de Orleães, o conquistou,

Ainda o trono Português era miragem,

Mil oitocentos oitenta e seis se consumou

O casamento, não significava a viragem.

Terá sonhado acalmar o ímpeto de D. Luís,

A jovem filha de Luís Filipe, conde de Paris.

 

Se assim o tiver pensado, logo viu que não,

O jovem só contava vinte e três anos.

Inicia seu reinado enfrentado conturbação,

Levantavam-se os ventos Republicanos,

Maçonaria fomentava forte agitação,

Não olhando nem a meios, nem aos danos.

Nem só a politica interna o emperra,

Também uma velha aliada, a Inglaterra.

 

Mil oitocentos noventa, “Ultimato Britânico”,

Territórios Africanos temos de abandonar,

D. Luís revela-se pouco ágil e dinâmico,

Republicanos aproveitam para contestar,

Politica Portuguesa entra em espiral vulcânico,

A monarquia começava-se a desmoronar.

Portugal temia perder Moçambique e Angola,

Junto de França e Alemanha, como que esmola.

 

D.Carlos parece alheio às dificuldades,

O reino navega em águas revoltas,

Tumultos rebentam em várias cidades,

El-rei vai deixando muitas pontas soltas,

As obras no Palácio das Necessidades,

Ajuda e Belém são contas de outras voltas.

Erário público tem seu grande devedor

Na Família Real, D. Carlos era um gastador.

 

Outubro de mil oitocentos oitenta e nove,

Não satisfeito com tudo que recebia,

D. Carlos, seu próprio aumento promove,

Passando para um conto de réis por dia,

Afinal não há politico que não inove,

Principalmente em termos de mais-valia.

Das que mais recebia, a Família real

Mostrava ao mundo o que seria Portugal.

 

Povo passando necessidades de primeira,

Monarcas precisando de adiantamentos,

Aqueles por não conseguirem maneira

De poder aumentar seus rendimentos,

Estes, fruto de muita luxúria e asneira,

Do estado recebiam mais de quinhentos.

Mais de quinhentos e vinte contos anuais,

Superior ao que recebiam outras casas reais.

 

D. Carlos até começou bem seu reinado,

Transmitiu, ao reino, alguma estabilidade,

Muita, em épocas anteriores, havia faltado,

Depois começaram a surgir dificuldades,

Erário, por crises financeiras, devastado,

O reino apresentava profundas necessidades.

Fontes Pereira de Melo muito investira,

Obras Públicas como nunca antes se vira.

 

D.Carlos demonstrava ser activo,

Apreciador da vida fora do gabinete,

Palácio das Necessidades é atractivo,

Courts de ténis fazem o seu deleite,

Seus seis Peugeots dão-lhe motivo

Para competições com a Lusa gente.

Investigação oceanográfica é estimulada

Sua cultura, digna de ficar registada.

 

Mil oitocentos noventa e um, Janeiro,

No último dia deste primeiro mês,

Porto, incidente republicano, o primeiro,

Nunca o soube o povo Português,

Estava lançado o ataque, era o pioneiro,

Que se viria a repetir mais de uma vez.

D. Carlos não terá sabido ler os dados,

Insistindo em gastos pouco controlados.

 

África exigia investimento militar,

Determinado pela Conferência de Berlim,

Portugal tinha de sua presença efectivar,

D.Carlos não via a crise chegar ao fim,

Republicanos aproveitam para atacar,

João Franco atinge posição de galarim.

Surge o Partido Regenerador Liberal,

Altera.se o pano partidário em Portugal.

 

Ano de mil novecentos e um a decorrer,

São ex-deputados do Partido Regenerador.

Mil novecentos e cinco, vai ocorrer

Nova dissidência, agora dá-se no interior

Do Partido Progressista, vindo a nascer

A Dissidência Progressista, perigo maior.

José Maria Alpoim luta por ambição,

Aliando-se a movimentos de conspiração.

 

Partido Republicano, ou Maçónico,

Encontra-se em grande actividade,

D. Carlos sente-se perdido, algo atónito,

Assumindo a grande responsabilidade

De convidar João Franco, algo cómico,

A substituir Hintze Ribeiro. Fatalidade.

Revela-se um governo ditatorial,

Levará ao fim da monarquia em Portugal.

 

Mil oitocentos e oito, um de Fevereiro,

Regressa, de Vila Viçosa, a família real,

Terreiro do Paço, tiros, um primeiro,

Logo outro, outro e outros mais, fatal,

Morreram El-rei e o príncipe herdeiro,

Assim assassinados, de forma brutal.

Manuel José dos Reis da Silva Buíça

Entrava na história de forma espicha.

 

Transmontano de trinta e dois anos,

Professor num colégio privado,

Antigo sargento nos militares Lusitanos,

Natural de Bouçais, fora contratado

Para matar El-rei, não há enganos,

Era membro na Carbonária filiado.

Morto no local da cobarde cilada,

Nunca sua morte foi bem explicada.

 

Alfredo Luís da Costa, caixeiro,

Trabalhou nos grandes Armazéns do Chiado,

Foi dado como seu companheiro,

Sendo igualmente, logo ali, assassinado,

Parecia que o objectivo derradeiro

Seria manter algum segredo bem guardado.

Mortes que causam profunda consternação,

Eduardo sétimo não esconde sua indignação.

 

Ninguém se vê acusado de nada,

Assassinos mortos como bem convinha,

Carbonária era organização bem recheada,

Gente muito poderosa, na frente, tinha,

Ministro, políticos e juízes, não faltava nada,

Estavam lá todos, na primeira linha.

A monarquia ainda não morrera, vegetava,

Republica, não o escondia, rejubilava.

 

D.Carlos viveu momentos preocupantes,

Compensando-os com calmas tardes,

Sempre rodeado das mais belas amantes,

Em dois prédios na calçada das Necessidades,

Comprados sem olhar a dificuldades,

Suas necessidades eram mais importantes.

D. Carlos andava num vai e vem febril,

Amantes em Cascais e no Monte Estoril.

 

Boca do Inferno, ali se deixava ficar,

Bastando que fosse boa a companhia,

Condessa de Paraty o ia acompanhar,

Também a condessa da Guarda ali ia,

A viúva de Viana de Lima o ia animar.

D. Amélia, não se importava, mas sabia.

Fossem serviçais ou simples camponesas,

Todas lhe serviam, eram fáceis presas.

 

D.Amélia foi educada em Inglaterra,

Sua família, Orleães, foi expulsa de França,

Posteriormente voltariam à sua terra,

Demonstrava ser inteligente criança,

Pelo que um promissor futuro a espera,

Sua família alimentava tal esperança.

Mil oitocentos oitenta e seis, Paris,

Palácio Galliera, é uma noiva feliz.

 

Quinze de Maio, baile de despedida,

D. Amélia é jovem gentil e formosa,

D. Carlos anda radiante com a nova vida,

Parte na véspera, dorme na Pampilhosa,

Aí espera pela noiva prometida,

Vem com família e companhia numerosa.

Noivos deslocam-se carros descobertos,

O Povo distribui-lhe carinhos e afectos.

 

Palácio das Necessidades, condes de Paris

Ali ficam acomodados, à real Lusa custa,

Vinte e dois de Maio, cerimónia feliz,

Casamento na Igreja de Santa Justa.

Portugal já sonha ouvir um novo petiz,

Mesmo quando Espanha já não assusta.

D. Amélia era dedicada às belas-artes,

Não descurando interesse noutras partes.

 

“O Paço de Cintra” foi por si ilustrado,

Escrito a pedido da própria soberana,

Pelo conde de Sabugosa, e lucro destinado

A ajudar ilustre e louvável luta Lusitana,

Contra a Tuberculose, outro seu lado,

O de grande alma, sensível e humana.

D. Amélia não escapou aos boatos,

Seriam romances extraconjugais, os actos.

 

António de Albuquerque no seu romance

“ O Marquês da Bacalhoa” assim o insinua,

Oportunismo é retratado como uma chance,

D. Amélia usaria da sedução sua,

Para garantir que o governo avance,

O grande escândalo ainda não estava na rua.

Apontava D. Amélia, rainha de Portugal,

Como amante de D.Josefa do Sandoval.

 

Tal como hoje, ontem era igual,

Não se olhava a meios para atar o nó,

Procurava-se atingir a família real,

Aqui usava-se a condessa de Figueiró,

Sem importar toda a repercussão final

Importante era fazer o rei sentir-se só.

D. Amélia teve de ser mulher forte,

Ajudar o filho ainda na dor da morte.

 

Francis Raposo Ferreira.

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Comentários

  • Outro belíssimo poema histórico.

    Meus cumprimentos poeta.

    Aplausos!

    • Amiga Edith Lobato, boa noite. Obrigado. Todos estes textos históricos fazem parte de um muito maior projecto literário, a história de Portugal desde a pré-história até aos nossos dias. BEijinho.

       

  • Que lindo e extensivo trabalho histórico e Poético, e como deu trabalho.

    Parabéns Francis Ferreiera por mais esta obra

    antonio

  • Novo feito histórico bem assentado no texto poético. Aprecio muito a  narrativa, porque registra com sabor lírico a história de uma nação.

    A gente fica sempre na expectativa, caríssimo, de que que nos brinde com novos episódios da saga e costumes lusitanos.

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