Desafio

Desafio

 

Ti Chico não é apanhado de surpresa com a pergunta da neta:

- Avô, amanhã, quando for almoçar a tua casa, posso lá ficar a dormir.

Se há coisas de que Ti Chico tem a certeza, uma delas é o motivo daquela pergunta. Todos os anos, desde que a menina começou a ter noção das coisas, que assim vem sendo, se durante o resto do ano, o visita aos fins-de-semana, sem nunca lá se querer demorar muito tempo, mas mal chega Dezembro, lá está ela a pedir à mãe que a deixe ficar em casa do avô Chico.

Não o faz pelas guloseimas, ela até nem é uma menina muito gulosa, mas sim por causa das histórias de Natal que o avô lhe conta, as quais, na maioria das vezes, são invenções de sua própria cabeça.

Na sua inocência própria de criança, Matilde, ainda nunca se lembrou de pedir ao avô que lhe conte histórias noutras alturas do ano, ou talvez o faça por temer que quando chegar o Natal, ele já não tenha mais histórias para inventar, das crianças temos de saber esperar tudo. Se há coisas de que ela gosta, as histórias de Natal do avô Chico, são uma delas.

É assim que Ti Chico se sente como que obrigado a começar a pensar, de imediato, que histórias irá inventar para, logo no dia seguinte, 1 de Dezembro, se sentar junto da grande lareira da sala e, ao som do crepitar da madeira a arder, convidar a neta a sentar-se no seu banco preferido, também ele saído das mãos e da habilidade do avô, deitar a cabecita nas suas pernas e dar inicio a um ritual que se manterá até ao ultimo dia do ano. É verdade, nem na noite de Natal, Matilde dispensa o avô daquele contrato selado a amor.

Ti Chico sorri, ao recordar como tudo aquilo começara, há precisamente 5 anos atrás, quando a neta tinha somente seis anos. Nesse ano, porque a menina fosse ainda demasiado pequena para perceber outras histórias, limitara-se a contar-lhe as tradicionais histórias infantis, embora lhes fosse acrescentando alguns pontos de sua autoria.

No ano seguinte, temendo que a neta lhe pedisse novas histórias, Ti Chico arriscou misturar as várias histórias que já lhe contara no ano anterior e ficou radiante por ver como a ideia resultou, o que o levou, no ano passado, a ir mais longe, isto é, inventar histórias onde as personagens históricas interagissem com a própria neta, o que fez as delicias da pequenota.

Agora, sente que o desafio é, maior, ainda maior, pelo que agradece o facto de a menina o ter avisado de véspera, o que lhe permite ganhar algumas horas de avanço, pois precisa encontrar novas ideias.

O desafio, ainda que não lhe pareça tarefa fácil, também, e sabe-o bem, não assusta, visto ter a consciência de que lhe bastará concentrar-se e logo alguma ideia lhe surgirá.

Foi isso mesmo que aconteceu na noite de ontem. Após o jantar, sentou-se à lareira, fechou os olhos e imediatamente uma ideia lhe ocorreu, pelo que começou, de imediato, a tomar algumas notas.

Agora, será só, pedir à neta, e a todos vós, que fechem os olhos e se deixem levar na viagem pelo maravilhoso mundo do Natal

 

Francis D'Homem Martinho.

30/11/2019

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