ERA NATAL

                         “ERA NATAL”

 

 

O dia estava para terminar, seriam umas 17,30 horas e as primeiras estrelas começavam a aparecer no Infinito dos Céus.

Escondida, através de um pequeno banco de jardim da pracinha daquela cidade, uma menininha com um vestidinho todo esfarrapado, já bem gasto pelo tempo, observava as luzes que começavam a serem acesas, buzinas de carros que não paravam um só instante, pessoas que pareciam correr de tão apressadas que estavam em busca do que, ela não sabia.

Para ela parecia um dia normal.

Teve que sair cedinho de casa, pois sua mãe adoentada e mais seus 4 irmãozinhos pequenos, que nada tinham para comer, precisavam que ela novamente estendesse aquela mãozinha, escurecida pelo chão batido da casa onde moravam e encarecidamente pedisse o que à eles estava faltando.

Atônita, olhava aquelas luzes brilhantes, sons de sinos, árvores iluminadas, vitrines abarrotadas de brinquedos, que logo seriam levados por aquelas pessoas que deveriam entregar para crianças que, como ela, tinham em suas casas, mas diferentes.

Lá, no seu barraco, não tinha nada, absolutamente nada, nem para comer, que era o principal e, seus irmãos, a esperavam ansiosos por algumas migalhas, que talvez ela conseguisse de algum coração nobre.

Tinha medo de perguntar o que estava acontecendo, porque não saberia a reação das pessoas para alguém como ela, suja, maltrapilha, corrompida pelos erros que não eram dela, tampouco de seus irmãos e, menos ainda, de sua pobre mãe adoentada e abandonada pelo marido.

Permanecia então calada, grudada ao pequeno banco de jardim, esperando talvez um milagre de que alguém a olhasse, mesmo que fosse por desprezo, e então teria a oportunidade de perguntar algo a respeito do significado daquele dia.

Para ela, tudo era diferente.

Parecia que algo muito importante estava para acontecer, mas ela não sabia o quê e o porquê.

De repente, alguém parecendo muito cansado, sentou-se ao seu lado no banco de jardim.

Parecia chorar e isso entristeceu a menina de tal forma que, criando coragem, tocou levemente em seu casado e ele, levando um tempo enorme, olhou para baixo e deu com a menininha.

Seus olhos, cheios de lágrimas, de repente, pareciam sorrir.

   -  Era isso que esperava, era exatamente disso que estava precisando, pensou ele quando se deparou com a menininha.

Pegou um lenço e enxugando as lágrimas estendeu sua mão e acariciando aquela pequenina, sorriu levemente e então dirigindo-se à ela disse:

    -   O que estás fazendo aqui na rua, numa hora dessas, minha filha?

A não ser sua mãe, ninguém até hoje havia lhe chamado de filha, tampouco a tratado tão bem.

Começou a chorar e ele, gentilmente, puxou-a para bem perto de si e falou:

    -  Por que choras, menina? O que estás sentindo? Precisas de alguma coisa?

    -  Não precisas ter medo de mim, estou feliz em ter te encontrado. Foi uma resposta as minhas preces. Como te chamas, menina?

Foi então que ela percebeu na doçura do olhar e no sentimento que suas palavras deixavam transparecer, que aquele homem não lhe queria mal algum.

    -  Meu nome é Cora, estou aqui na praça para ver se consigo alguma coisa para comer e para levar para minha mãe e meus 4 irmãos.

Continuou ela:

    -  Somos muito pobres e não temos mais o que comer, nem remédios para minha mãe, aliás disse ela, baixando os olhos novamente, não temos nada, senhor.

Comovido e parecendo aliviado, aquele bondoso senhor pegou-a pela mão e carinhosamente lhe disse:

    -  És o milagre que pedi a Jesus, disse ele.

Hoje, dia que comemoramos seu nascimento, fiz um pedido, ao me levantar de manhã, que Ele trouxesse até mim alguém que precisava de ajuda, muita ajuda e olha só quem está aqui, disse sorrindo.

    -  Venha Cora, vamos comprar tudo que precisas para ti, tua mãe e teus irmãos, continuava sorrindo e feliz.

Elevou seus olhos aos céus em agradecimento e juntos, de mãos dadas, partiram em direção a cidade, com suas luzes ofuscantes, sons de sinos, doces, medicamentos, enfim, tudo aquilo que Cora precisava e que ele recebeu de presente no dia que Jesus nascia.

Mais um milagre, nessa vida que poucos a veem assim.

 

Era Natal!

 

 

JC BRIDON

 

(minha saudosa mãe: CORA)

 

 

 

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