História de Amor

História de Amor

 

 

- Mãe, já reparaste como o Lourenço olha para ti, ele ama-te mesmo de verdade, não compreendo porque insistes em não aceitar o seu amor, sei muito bem que também o amas.

- David meu filho, quando o teu pai nos abandonou, eu jurei que nunca mais deixaria que homem algum me machucasse do modo como ele o fez, mas sobretudo prometi a mim mesma que o meu filho, tu, só teria um pai.

- Mãe, eu estou a crescer, qualquer dia arranjo uma namorada, caso e tu? O que será a tua vida? Vais ficar por aí sozinha? Peço-te, não me faças ficar com remorsos por um dia ver que, por mim, ficaste só.

- David, tu achas mesmo que conseguias aceitar que ao fim destes anos todos, um outro homem que não o teu pai te pudesse vir a dar ordens?

- Minha mãe, todos nós temos de abdicar de muita coisa na vida, o que é isso de que falas quando comparado com a tua felicidade. Não me negues que amas o Lourenço, tanto quanto ele te ama a ti. Há quanto tempo vocês sofrem os dois num silêncio que vos vai matando aos poucos?

- Meu filho, se eu, por acaso, aceitasse experimentar reconstruir a minha vida ao lado do Lourenço, tu aceitavas, mesmo?

- Minha mãe, não só aceitava, como apoiava.

David não conseguiu evitar que mais uma lágrima lhe caisse rosto abaixo, recriminou-se um pouco por tal facto, sabia muito bem que prometera a Lourenço não chorar a sua morte, mas era mais forte do que ele.

Inclinou a cabeça para trás e sentiu a fresca aragem daquela tarde de Setembro. Ah, como recordava aquela outra tarde de Setembro de há quase vinte anos, em que sua mãe lhe comunicara que depois de muito pensar no que ele lhe dissera, decidira dar outra hipótese ao amor.

David fecha os olhos e deixa que as recordações se transformem numa verdadeira película de cinema, recorda os dias de grande felicidade que aquele homem proporcionou a sua mãe, recorda o modo como ele o defendia perante toda e qualquer suspeita de perigo, recorda ainda o dia em que perguntou a Lourenço se lhe podia chamar Pai e este o abraçou e beijou a chorar, confessando-lhe que tal significava a plenitude da sua felicidade, pois para além de partilhar a sua vida com a mulher amada, acabava de conquistar o filho que sempre desejara ter.

David secou as lágrimas, colocou o braço sobre o ombro da sua esposa e dirigiu-se ao caixão onde Lourenço descansava, inclinou-se e depositou-lhe um beijo na testa, tal como ele lhe fizera naquela tarde em que se tornaram pai e filho.

A Mãe, compreendendo o gesto do filho, dirigiu-lhe um sorriso repleto daquele amor com que Lourenço enchera as suas vidas.

 

Francis Raposo Ferreira

20/10/2019

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Comentários

  • Belissimo texto!

    Parabéns!

    Abraço 

  • 3671621362?profile=RESIZE_710x

     O CORAÇÃO E A RAZÃO.......E O MEDO! INTERESSANTE O DILEMA APONTADO!!

    A FRASE IMPORTANTE DO FILHO "Peço-te, não me faças ficar com remorsos por um dia ver que, por mim, ficaste só."....

    GOSTEI!

    MEU ABRAÇO!

    Chantal

  • Ser pai é amar e está presente de verdade na vida ao ponto d efazer falta quando parte.

    Aplausos! Eu gostei de ler.

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