O Vírus e o Velho - Mané Beradeiro

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O VÍRUS E O VELHO

Seu doutor eu sou do mato.
Lá não tem televisão,
o meu rádio tá quebrado,
telefone tem também não.
Senti o mundo parado
O povo todo trancado
Numa grande aflição!

Quando procurei a feira,
Na cidade do meu chão,
Nem as bancas tavam lá.
Surgiu minha indagação:
-O que é que se assucede?
-Será guerra no mundão?

Mas não ouço um estrondo,
nenhum um tiro de canhão?
Doutor me arresponda:
- O que aconteceu então?
E o doutor foi me dando
tudo que era explicação:

Um tal de coronavírus
vindo da China e Japão
Tá matando muita gente,
muito mais que Lampião,
Que os peidos de Jandira,
que o bafo de Tonhão,
Que inhaca de Raimundo,
Que a fome em meu sertão.

Eu fiquei agoniado
e disse ao dotô ligeiro,
-Será que não tem um homem
que mate esse desordeiro?
Que fure os olhos dele,
quebre as pernas por inteiro,
destrua as suas armas,
lasque logo este estrangeiro?

Doutor, eu tô escutando
O que explicou vosmecê
só mais uma perguntinha
se puder me responder:
-Esse tal coronavírus,
come mesmo é o quê?

Mas quando o doutor falou
fiquei todo arrepiado.
Minha alma deu um pulo,
meu corpo ficou gelado.
Vou voltar pra minha casa
e ficar todo trancado.
O tal do coronavírus
come véio. Tô lascado!

Mané Beradeiro
Parnamirim/RN - 25 março 2020

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Angélica

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Comentários

  • Hoje que encontrei esse belo  poema.

    Gostei demais desse cadenciado.

    Parabéns!

     

  • Maravilha!!!!! E salve o Mané Berdeiro que poetizou essa pérola.

  • Que maravilha, poema cantado, expressivo e tão atual, merece outdoor, parabens!

    • Obrigada Petrônio pela visita e comentário!

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