Professor/educador
Chiquinho era professor há mais de vinte anos e nunca pensara que um dia daria uma bofetada a qualquer um dos seus alunos, e se já os tinha apanhado bem complicados. Naquele ano aceitara dar aulas a um novo tipo de alunos, jovens institucionalizados à guarda do estado. Aceitara o desafio por curiosidade e também porque uma colega lhe falara, positivamente, da sua própria experiência enquanto professora daqueles jovens.
Chiquinho acreditava que não fosse a insistência da colega, em o avisar:
- Se te decidires a aceitar o convite, vai-te preparando, aquilo não é fácil.
Sempre adorara desafios que o fossem na verdadeira acepção da palavra, pelo que, rapidamente, decidiu aceitar o convite de Laura. Estava a iniciar o terceiro mês de aulas quando tudo sucedeu:
- Fernandes, porque continuas a portar-te dessa maneira? Quantas vezes terei de te repetir que não é com esse comportamento que conseguirás atingir os teus objectivos?
Fernandes, um dos mais revoltados jovens alunos daquele grupo, não pensou duas vezes e respondeu-lhe de forma bastante mal-educada. Chiquinho perdeu o controle, era a primeira vez que tal lhe sucedia e deu uma estalada no rapaz. Depressa se arrependeu, não por medo que o jovem pudesse apresentar queixa contra si, mas sim por entender que ultrapassara tudo quanto era o seu direito. Quem era ele para bater naquele, ou em qualquer outro, jovem?
Fernandes encarou-o, olhos nos olhos, e disse-lhe:
- Professor…
Não tinha qualquer dúvida, o jovem ia comunicar-lhe que iria apresentar queixa contra si, respondeu-lhe:
- Fernandes, faz o que tens a fazer.
O jovem continuava a encará-lo e disse-lhe:
- Professor, o senhor fez aquilo que o meu pai nunca fez.
- O teu pai nunca te bateu?
- Ai não que não bateu. Bateu e não foi pouco.
- Então o que é que eu fiz que o teu pai nunca fez?
- Educou-me. Tivesse o meu pai, sabido dar-me uma estalada no momento certo e, talvez, hoje eu não estivesse aqui fechado.
Chiquinho sentiu doer-lhe mais, aquela revelação do que se o jovem lhe tivesse comunicado que ia participar dele.
Infelizmente não foi o suficiente para reconduzir o jovem Fernandes ao bom caminho. Chiquinho reencontrá-lo-ia, anos mais tarde, já não num colégio para jovens à beira da delinquência, mas sim numa prisão. Fernandes reconheceu-o, dirigiu-se a ele e disse-lhe:
- Professor, porque não o conheci mais cedo?
“A verdadeira Educação, começa em casa.”
Francis Raposo Ferreira
15/10/2019
Comentários
Nossaa!!! A profissão de ser professor é árdua e, é preciso ter muito equilibrio emocional.
Excelente texto.
Parabéns!
Amiga Angélica, tudo é pouco para com aqueles que me marcaram ao longo da vida. Beijinho.
Amigo ZKFEliz, se há quem tenha um lugar muito especial no meu coração, os professores estáo cá. Abraço.