Um lugar unilateral

Crianças , aguardavam o carro alegórico

músicas e instrumentos

campanhas lançadas na década de setenta

em defesa de  candidatos,

uma família fazia oposição a outra

uma que defendia a ARENA, hoje dissolvida

em meio a tantos partidos

e a outra família vizinha, o MDB

 

Pouco importava 

para aquela criançada

que saia atrás do carro

gritando ao som dos jingles 

quem ia ganhar ou perder

as eleições municipais,

queria pular, dançar,

comemorar a vida de criança

Não podia ir muito longe

da  esquina

a criançada retornava

cada uma para suas casas,

afinal, o iniciar da noite

trazia os requícios

da ditadura militar

ninguém podia sair depois das 19:00 horas.

 

A contradição no mesmo espaço

numa rua com casas diversas

e características opostas

já representava as marcas

da política capitalista da sociedade

o conforto de um lar iluminado

com luminárias finas

abajus nos cantos da sala

banheiro em uma ante sala

ai de quem sentasse

naquele sofá da sala,

pois até o chão

brilhava, pela cêra incolor, que dava ao piso

o brilho, graças ao esforço dos braços

de uma das filhas e a enceradeira

coisa de rico na época

 

Em contraposição

a outra casa

tinha um banheiro

sem piso

um buraco como vaso

envolta cimento, dando a forma

ao acento, que não permitia

ninguém sentar

fazia as necessidades, de cócoras

uma balança, feita com uma madeira e corda

no meio da sala

o único objeto daquela sala

enfim, já não precisa descrever

mais detalhes do cenário

o universo unilateral

de quem dominava

de quem detinha o poder

dividia direitinho

quem cada um era

 

Mas, não se analisava 

a falha no sistema econômico

alimentado pela poítica

que não permitia

que o pobre, chegasse ao topo

daquela unidade burguesa

naquela rua, onde praticamente

todas as casas, tinham

as marcas da pobreza

em suas entranhas

Gilcelia Santos Ressurreição

Gilcelia Santos Ressurreição

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Comentários

  • Que bela inspiração,poeta!

    Eu amei e ap´laudo de pé!

    Bjsssss

  • Eram apenas dois e já havia rivalidade. Imagine hoje com a imensa quantidade de partidos e políticos se engalfinhando na disputa pelo poder.

    Excelente prosa.

    Parabéns!

  • Retratos do Brasil. Aplausos!

  • Verdade Glicélia, você descreveu a época onde o imperialismo já existia, encoberto debaixo da submissão dos muitos pobres.

    Onde a mãe e o pai trabalhavam de Sol a Sol e o filho ou filha mais velha cuidava da casa e dos pequenos irmãos.

    Ai...se quando os pais chegassem á tardezinha e não estivesse tudo em ordem e brilhando, o chicote guardado atrás da porta, soava no ar e nas pernas da meninada.

    Mas ainda assim, existiam coisas boas, que era a simplicidade e a honestidade. E viviam felizes, casando seus filhos e esperando a morte.

    Seu poema dá um livro e eu aqui me adentrando nele, desculpa, mas foi tão bom recordar, que éramos felizes e não sabíamos.

    Parabéns pela linda e reflexiva inspiração.

    Abraços poéticos de Veraiz Souza

    • Queridas Verais Souza, Marsoalex e Edithi Lobato, fico muito emocionada, por saber , que de alguma forma, toco em seus sentimentos e descrevo momentos tão ricos da época em que criança entendia regras, política era coisa de adulto, porém, a diersão entorno dela comungva com o cen´rio descrito no texto, enfim, um mundo paralelo em opostas situações financeiras, sociais, culturais, mas, lembro-me, da alegriade cada menino e menina da minha infância e meninice.

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