Posts de Arthur Santos (7)

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7 - UMA CONVERSA AO PRINCÍPIO DO DIA

 UMA CONVERSA AO PRINCÍPIO DO DIA

Hoje em conversa com um amigo que conheço de longa data sem no entanto termos grandes contactos ou conversas mais profundas do que banalidades ou os cumprimentos de ocasião, falámos sobre o facebook. O Lucas (vou chamar-lhe assim), pediu-me há dias amizade nessa rede social e eu falei-lhe disso.

- ah! sim pedi, mas olhe eu não ando naquilo, é muito raro. Entro de vez em quando e não faço grande coisa...

- Mas Lucas eu fiz-lhe um convite.
- Um convite?

- Sim, não leu? convidei-o para uma sessão de poesia...
- Sessão de poesia? disse ele com ar de gozo... Nem pensar, eu não gosto de poesia!
- Pá, pode lá ir espreitar, pode ser que goste. Eu organizo homenagens a poetas...

- Não, não... eu nem gosto de ler.

- Não gosta de ler? então porquê?
- Porque não estou para perder tempo com isso, nunca li um livro... e olhe até lhe digo mais, há dias uma amiga convidou-me para ir a casa dela ver umas pinturas que ela tinha feito, tem as paredes de casa só com quadros dela...

- Olhe isso é bom...

- Que bom? respondeu o bom do Lucas, eu disse-lhe logo que não gosto, detesto pinturas.

- Mas porquê Lucas, é uma forma de arte.

- Arte? aquilo é arte? então a fotografia não é muito melhor que a pintura e muito mais exacta? basta fotografar e pronto... pintar para quê?

- Lucas... é uma forma de arte, tal como o cinema, o teatro, o desenho, a fotografia, a música, a literatura, etc. eu organizo de vez em quando tertúlias onde se diz poesia, se contam histórias, e há música, canto... conversa-se...

- Olhe você devia era correr...
- E também o faço Lucas, fui atleta do Sporting...
- Pois disse bem, foi... já não é!
-  Pá, fui e continuo a correr, jogar futebol, basquetebol...

- Pois eu hoje já andei mais de 10 km...

- Faz bem Lucas mas olhe vá lá ouvir a poesia que eu organizo. Entra, está lá um bocadinho e depois se achar aquilo uma merda vai-se embora. Ninguém o obriga a ficar...

- Sim eu sei que ninguém me obriga a ficar mas eu nem gosto de estar sentado...

Desisti da conversa e desejei-lhe um bom dia!!!

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6 - SEI LÁ!

SEI LÁ!

"sei lá", é uma especialidade

servida fria, morna ou quente,

por gente de qualquer idade,

sendo a refeição ideal

para acabar com o arraial

duma conversa

chata ou perversa.

serve-se um "sei lá"

e já está.

 

para quem ainda não conhece

e tem nisso interesse,

deixo aqui uma receita perfeita.

 

numa conversa larga e chata

ou numa pergunta dum primata,

deite sem especiais cuidados

alguns dos ingredientes citados.

as quantidades variam em função

da conversa em questão,

muito embora seja de aconselhar

não exagerar nas proporções.

por isso dou estas sugestões.

 

- 100 gramas de "não sei",

inda agora aqui cheguei.

- 10 gramas de "reticências",

com algumas indulgências.

- uma pitada de "evasiva",

e fique na expectativa.

- 150g de "preguiça",

e ponha uma expressão postiça.

- algumas gotas de "desaforo",

se o chato se parecer com um touro.

- 500 gramas de "desconhecimento",

e acaba logo com o tormento.

- 500 gramas de "apatia",

não estar cá...é sempre boa filosofia.

- 500 gramas de "indiferença",

e sempre sem pedir licença.

- quanto baste de "falta de vontade",

adicionando com naturalidade.

- polvilhar com "vou pensar melhor",

com um olhar esclarecedor.

 

levar a lume brando com "Dúvida",

duma forma exibida.

finalmente mexa bem com "nada",

e aqui fica a receita dada

sirva este "sei lá", frio, morno ou quente

e desfaça-se de maneira incontestável

de gente insuportável.

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5 - NAVEGAR É PRECISO VIVER NÃO É PRECISO

NAVEGAR É PRECISO VIVER NÃO É PRECISO

"Navigare necesse; vivere non est necesse". Frase do general romano Pompeu (106-48 AC), dita aos marinheiros amedrontados que recusavam viajar durante a guerra.

 

navegar é sempre preciso

mas não navegar de improviso,

não se pode nunca navegar de improviso.

para bem navegar, tem de se navegar com segurança,

velas orgulhosamente erguidas,

controlar os ventos e as suas arremetidas,

aproveitar sempre o vento da esperança.

 

é assim

que se navega nos mares da vida.

 

mas se navegar é preciso,

viver também é preciso.

é preciso viver para navegar,

não se pode navegar sem viver.

viver de velas orgulhosamente erguidas,

destemidas.

 

é assim

que se vive nos mares da vida.

 

navegar

é preciso,

viver

é preciso.

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04 - UMA TERTÚLIA INCOMUM

UMA TERTÚLIA INCOMUM

os poetas vêm ter comigo

e ficam comigo.

eu digo que me assaltam

e gosto.

 

e assim, inesperadamente,

no meio de um poema que sei de cor,

ouço os sons de Altazor

que Vicente Huidobro

ostenta orgulhosamente.

pergunta-me com curiosidade evidente:

- então o teu poema de hoje?

vai ser irreverente?

- não pensei ainda Vicente...

espera, deste-me uma ideia,

já ouço ao longe o canto da sereia...

 

mal pego na caneta para o escrever,

parece-me ouvir a voz suave e pausada

do meu grande poeta nordestino.

- sai da cama Arthur, já é alvorada,

quero falar-te do amor e da morte.

 

não pode ser engano.

- vem daí Suassuna, amigo Ariano,

atravessaste o oceano,

vieste para ficar,

não te deixo voltar.

 

ficámos os três a conversar,

eu, o Vincente e o Ariano,

tu cá tu lá, mano a mano,

quando se junta uma menina,

imaginem... a Cora Coralina.

- bem vinda ao grupo querida Coralina.

 

aceno-lhe da esquina

da nossa conversa.

- trazes a tua poesia traquina?

- sim Arthur, não vês no teu horizonte

as "Estórias das casas velhas da ponte"?

- vejo sim Coralina mas são contos,

- eu queria poesia...

- eu sabia.

ai Arthur, és tão previsível.

toma lá o meu livro de cordel.

 

aceitei e lá ficámos os quatro,

no paleio, já se vê.

foi então que recordei o João Villaret.

atirei-lhes com ele p'ra cima

e não é que o João

me apareceu com o Jorge de Lima?

dei-lhe razão.

e aqui estou eu com essa "Negra Fulô".

- ah! Jorge de Lima, Jorge de Lima,

esse teu poema me anima.

fica Jorge de Lima.

e ele ficou.

 

nesta tertúlia incomum,

parecia caber sempre mais um.

já éramos seis

contando com o Villaret

e todos, todos ali à minha mercê.

 

a conversa estava amiga e animada,

os temas variavam entre cristãos e ateus,

com o Vicente apaixonadamente a afirmar

que um poeta é um semi deus,

porque é um criador.

- sim Vicente, já percebi

onde queres chegar com todo esse teu ardor.

 

sem avisar, junta-se a nós Lawrence Ferlinghetti.

entre dois abraços e um carinho,

peço-lhe:

- Lawrence senta-te aí um bocadinho,

entra nesta conversa controversa.

ele ignora e desata a falar com paixão

sobre dois varredores de rua num camião.

- sabes Arthur acredito na poesia

mas tenho dúvidas quanto à democracia...

 

os poetas são loucos.

todos loucos, não há nada a fazer.

 

ali ficámos, nesta tertúlia incomum

com sabor a alfazema,

onde parecia caber sempre mais um.

quando nos despedimos...

escrevi este poema.

 

os poetas vêm ter comigo

e ficam comigo.

eu digo que me assaltam

e ainda bem que o fazem.

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03 - GOSTAVA DE COLORIR A VIDA

03 - GOSTAVA DE COLORIR A VIDA

Autor: Arthur Santos, do livro: "Um Poema Por Dia"

 

gostava de colorir a vida.

torná-la divertida,

naqueles momentos em que ela fica a preto e branco.

naqueles momentos em que o solavanco

da tristeza

me rouba todas as vontades

e me despeja adversidades...

mas não tenho tintas nem corantes

eficazes.

só tenho tintas baças

e queria tintas brilhantes,

audazes.

 

pensando melhor, deixo andar,

porque a vida a preto e branco

também tem o seu

encanto!

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02 - A RAIZ DA POESIA

A RAIZ DA POESIA

Autor: Arthur Santos, do livro: "Um Poema Por Dia"

 

o poeta construído sorri ao nascer,

qual Zaratrusta contemplando as estrelas.

nada o assusta,

mal se vê na escuridão,

ergue-se do nada e inventa a paixão.

é já um poeta desconstruído.

 

ninguém sabia como o poeta

se erguia.

ninguém percebia

como daquele humano vulcão,

brotavam palavras em forma de poesia.

 

uma estranha nuvem escurecia

os céus

e o poeta usava cada vez mais palavras

e mais palavras

e mais palavras.

 

como por encanto ou por magia,

daquela inédita tempestade de palavras,

surgiu uma raiz...

uma raiz encantadora,

inspiradora.

era a raiz da poesia.

 

gerou uma árvore do tamanho de todos os universos

e ali ficou para toda a eternidade.

ainda hoje se pode observar brotarem dela...

versos!

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01 - AS NOTÍCIAS JÁ NÃO SÃO NOTÍCIAS

AS NOTÍCIAS JÁ NÃO SÃO NOTÍCIAS

Autor: Arthur Santos do livro: "Um Poema Por Dia"

2 de Janeiro de 2018

 

as notícias já não são notícias.

são assim uma espécie de coisa nenhuma,

onde as palavras não têm a espuma

das palavras.

 

as notícias já não são notícias.

tudo é demasiado caricato.

soa a assassinato

das palavras.

 

o pior, é que as notícias são mesmo notícias.

com fundo de verdade, ou sem fundo de verdade,

fere-se de morte a credibilidade

e a falsidade torna-se um vírus imutável.

 

com o objectivo único de venda de papel

e de aumento de audiências,

movem-se influências.

 

as notícias,

já não valem como notícias.

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CPP