-Por que reconhecer faz bem João!
A gente não quer, mas acontece
-Nossas emoções são uma gangorra João
Bem quando sobe e mal quando desce

No alto todos te veneram
E somem ao te ver pelo chão
-Não se engane com os aplausos João

A decepção é um veneno que a gente cria
Ao confiar nas expectativas por demais
Tenha cautela e mente fria
Seja prudente e perspicaz

Porque no alto todos te exaltam
E na queda sozinho estarás
-Não se iluda não João

Dizem que você tem que ser forte
Eu digo seja equilibrado
Dizem que você tem que ser rico
Eu digo seja abençoado
Dizem que você tem que ter saúde
Eu digo tenha uma vida saudável
Dizem que temos que agradar
Eu digo não faça contra sua vontade
Dizem que você tem que ser sociável
Eu digo seja você mesmo
Dizem que você tem que sorrir
Eu digo seja espontâneo
Dizem que você não pode chorar
Eu digo que as lágrimas curam
Não importam o que dizem
Você sabe quando lhe convém

Num salto devagar da cama de sucupira
Ergo-me com uma "tremenda animação"
Mirando a saída, passo pela soleira
Embrenhado pela sala, limpo a visão

Uma olhadinha de relance pela janela
As nuvens escuras se dissipam no céu
Os raios tímidos do sol surgi singela
Os pássaros anunciando “amanheceu”

Um bocejo, esticando o esqueleto
Coçadinha no mamilo, arrepio na espinha
Cabelos ao leu, rosto torto

Antes da ducha fresquinha
Lentos passos de conforto
Agradece! - É o dia que se inicia

O nascer do dia vem me despertando
Não de hoje, desde a década de oitenta
Até aqui, corpo e alma vão seguindo
Completando neste ciclo meus quarenta

Logo cedo sem demora vou me indo
E o sonho noturno se afugenta
Relógio na mente piscando
Alertando; o meu “dever que apresenta”

Era a lida, do dia iniciando
Prelúdio do momento em adesão
Na cerâmica os meus pés que vão tocando

No telhado o galo não canta em vão
Mas a bateria incessante vai caminhando
E o alarme? Esse sim! Cumpre a missão

O sono
Outro dia o sono correu de mim
como um vampiro corre do sol.
A cama até abriu seus lençóis
parecia aconchegante
só não contava com o ladra
chamada ansiedade
que chegava sempre determinada
cavalgando em minha cabeça
roubando, o que eu chamo de repouso do corpo cansado.

Onde eu moro não é frio
É verão em todos os quartos
é proibido cala frio
e muito menos banho quente

Onde eu moro não é quente
É inverno em todos os quartos
O fogo não cai do céu
E muito menos banho frio

Logo, o café está servido
Na minha casa térmica

Reza a senhora aos pés da santa
Outra vez, e já são tantas vezes
Que a santa sentou
Sentou ao lado da senhora
Que hoje não conseguiu rezar

Menino cadê teu pai?
Teu pai aonde está?
Menino cadê teu pai?
Aonde está teu pai?
O pai do menino
O menino do pai
O pai sem menino
O menino sem pai
O menino sentado sem pai
Pois o pai não está
O menino não entendi agora
Mas já já entenderá

-Esse coração precisa saber! Tem que deixar de ser tão inocente
Se embriaga de emoções feitas por expectativas,
Sem correspondência.
Fica sempre tencionando um ais, uma estrelinha de elogios
Algo provindo de onde? Ele não quer saber.
-Esse coração é ingênuo!
Outro dia ele quis algo indeferido
Ficou ferido quase nas ultimas
-Esse coração está de olhos fechados
Vivi sempre enganado
-Não se iluda coração
Se não a vida te mata.
De coração pra coração
De sonhos para realidade
Uma luta travada no pulsar
No sístole e no diástole
No ritmo, no pico da batida
Sempre oscilando vividamente
Uma continua vicissitude.

Alguém me perguntou se tenho um amigo.
Eu relutei para responder.
Por fim, depois de procurar nos momentos indesejados,
e outros tão pouco felizes
Entendi que não seria fácil responder, de verdade.
Tentei questionar a mim mesmo,
Seria eu, amigo de alguém?
Me encontraria em algum momento na vida de alguém?
Talvez a questão não é ter amigos, e sim ter pessoas amigas
Pessoas que gostam da vida, gostam de amar o próximo
Pessoas de bom coração com boas intenções.
Pensando assim,
Logo respondo, sim eu tenho muitas pessoas
As vejo por toda parte.
Mas é certo, que existem pessoas, muito mais do que pessoas
São anjos de passagem

Chegará um tempo em nossa era
que sentiremos saudades da simplicidade
das coisas que traziam encanto
Dos contos que nasciam em noites
ao lado de uma lareira
Dos dedos correndo em livros
Do cheiro desses mesmos livros

Perfumes na penteadeira
Chegará um dia em nossa era
Que a prosa será novidade
Trazendo a simplicidade
Em qualquer canto da cidade
Sairão das suas linhas
histórias tão incabíveis do que hoje ainda não se fala.

A propagação da natureza no colar da realeza
Cegou os olhos naturais dos devotos da riqueza
Entrou pelas paredes celulares do coração
Que pulsava drasticamente com tamanha emoção
Deixou embasbacados seus súditos e servidores
Que babava suas mãos, enfeitadas de Anulus Piscatoris
Trato supremo erguido sob a justiça divina
Senhor da fé, porta voz oficial da divina trina
Misterioso, entre devotos majestoso
Artistas no plano terreno, pecaminoso
Ouro fino joia rara, cristais tão belos
Seda nobre, ornamentos sobre seu castelo
Ergue se ao centro elevado monumento
Serias errado questionar porque tal evento?
Obelisco interpretado, como um instrumento
Normalizado adorado sobre o templo
Ocultismo são as minhas indagações?
Sem respostas, logo não existem
Sem perguntas somos presos a escravidão.

Fui a feira fazer compra
Comprei sementes de palavras
Lindas sementes, comprei tantas!
Que logo fui, ao céu plantar
E quando lá no alto ela crescia
Caia como chuva á me molhar
Cultivei palavras de alegria
Pois bem sabia
Que o amor estava lá
Tinham sementes de todas as palavras
E todas que eu plantava
Logo retornava
Acompanhada de outras tantas
Todas juntas de mãos dadas
Essa semente é de fato poderosa
Não tem tempo ruim
Ela dá frutos, muitos frutos
Lindos versos muitos versos
Pra você e para mim.

 Energia Cosmológica
(Jorge Santoli)
Oh! Energia que rege o universo
Que faz girar o moinho do tempo
Tomai com gozo esses versos
Sacia-te como teu alimento
Flutua sob tal manifesto
Abundoso sejas meu unguento
Recebas de boa gratidão
Dessas mãos levantadas
Pedidos deste coração
De alma íntima, vinculada
Interna a minha aceitação
Da energia pronta, desejada
Do som da minha vibração
Do poder que lhe foi dada
Ao tocar-te, ei de obtê-la
Ao ouvir-me, ei de faze-la
A positividade junto a ação
Revelada o seu galardão
Confeitando o sonho que me deste
Abrasando energicamente minha contemplação

Vou sumir por um tempo indeterminado,
Posto que já não sou mais o mesmo
Fui ficando assim, desse jeito desajeitado,
Não ando mais devagar, nem corro mais depressa
Os olhos as vezes piscam sem querer
Mais no entanto ele pisca mesmo,
Quando pego aquela caixa
Sinto um ar penoso entrando em meu peito,
Até meu coração palpita de novo
Deveria deixar essa caixa longe dos meus olhos
Mas eu juro pra você, eles os perseguem
Já era hora dessa despedida
Vou sumir por algum tempo
Mas não se preocupe! Comigo vou levar a vida.
Há! Vou levar a caixa também. Adeus.
Essas foram as ultimas palavras, antes da saudade os consumir.

A consciência é de todos, brancos pardos e negros
Filhos e filhas dos filhos e das filhas desse chão
A consciência é serena, virtude do bom humano
É humano? Vale o respeito
A consciência é ato realizado em ação
Não uma mera projeção de pensamento,
Um discurso planejado.
A consciência é produto do seu submundo
Entender e festejar com alegria
Chorar se preciso for
Mas nunca, nunca poderá ser abstrato
De todos os opostos que esteja do seu lado
A consciência é bela, quando o amor opera
A consciência é ação, quando amo meu irmão
A consciência é resultado de todos os meus atos
A consciência é negra
É verde e amarela
É uma nação justa e sincera.
É o homem dos Palmares
É a mulher do meu bairro
É a pequena criança
Sou eu e você.

No monte das deusas
Rasguei minha veste sujas
Deitei-me sobre as pedras
Agradei-me da penumbra
Do regalo dessa transição.
Quem saberá o fim?
As pedras cobriram-me
De amor? De dor?
Não me interpreta mal!
-Disse a pedra.
Não sou feita para amar
Logo seu amor se acaba em mim
Tire-a do seu caminho se quiser.
As deusas, indiferentes, não te enxergas
Jamais enxergaras, quiçá elas existem
Mas eu, eu sou rocha
Sou batida, sou peso, sou real
Não, não, não...
Queres que eu seja mole?
Mas olha só você!
Quiseras que eu seja fraca?
Mas te cubro, de dou chão seguro.
Imóvel, te faço cair
Bate em mim, eu sei que estas zangado
Só um aviso; seus dedos não são de aço.
Agora sobre os meus pés
As vejo no lodo do tempo
Arrancadas da terra
Molhadas de orvalho
E as deusas? Elas, não as vejo
Sou um louco, conversando com a rocha
Um viajante perdido
Uma aspa suspensa na palavra
Um delírio incompreendido
Como um lago frio sem vida
Na lua de titã
Desprovido da beleza e da sorte
Do amor e das deusas desse monte
Caído no golfo de corinto
Restrito e fingido
Como um poeta que não sou.

O Ofício Poético: Martelando Versos e Plantando Mundos
(Jorge Santoli)
Põem a caneta nos dentes
Seu punho de osso, é martelo
Tira da mente as serpentes
As joga no fogo singelo
Completa com cores ardentes
Ideias de um mundo tão belo
Cheio de tantas sementes
Arrancadas por fios de cutelo
Se embrenha no brilho das lentes
Dos olhos de fronte amarelo
Fingindo tão sutilmente
Ser fruto do pé de marmelo
O poeta vindo do Oeste
Por aqui se fez paralelo.

Estranha sensação, sinto que não estou aqui
Me vejo mais distante, meus dias estão cinza
Solitário entre tantos, cercado me perdi
Perdi a noção do peso, de cansado estou ranzinza

Dias vazios, noites intermináveis se dão
De fracasso em fracasso vou contando os passos
E essa voz na minha cabeça, me puxa em exaustão
Estranha sensação, moídos estão meus ossos

Minhas dores, eu as escondi, muito bem guardadas
Assim como meus medos, mas esses foram expostos
Tive medo caminhado, muito medo das palavras
Que vinham alto como batidas de desgostos

Não ignore o grito silencioso dessa maldição
Pessoas boas estão suscetíveis a esse mal sofrer
As vezes não é cara feia, é a intrusa depressão
Identificar no início ajuda, a mais rápido combater

Falar sobre o assunto, procurar a solução
Reencontrar nos bons amigos a alegria de viver
E, se tiver um pouquinho de fé, que Deus te dê a benção
Que te dê a vitória e muita força para vencer.