Enquanto o coração cala e padece; Os canteiros, ornados com as flores; Unem-se aos passarinhos, qual a prece Curando da minha alma todas as dores.
E a estação — primavera — assim floresce. Flores entrelaçadas mostram fulgores. Qual estrela a brilhar com luz de messe Demonstrando ternura em suas cores.
Irrompe a primavera, doce e bela. Parecendo uma tela de cetim, Exalando o perfume do jasmim…
E tamanha doçura vejo nela. Tanto encanto ao olhar, ela revela. Minha alma, a suspirar, o amor espera.
É a poesia ao dizer das flores belas. Na fragrância que se sente distante, Tingindo a paisagem, tecendo em telas, Dando cores à vida e aos caminhantes.
Em versos, relata que a natureza: É revelação do amor que conduz; A sentir, de Deus, a imensa grandeza, Demonstrado com primor, que seduz!
É tanta beleza a ser grafitada, Que em versos florescem, nu e sem véu; Com luzes das estrelas que lhe são dadas; Para, na noite, abrilhantar o céu.
Flor, estrela e natureza: cartazes, Inspiração ao poeta e ao pintor. Com caneta ou pincel, deixam lilases: O sentimento mais puro, o amor!
No véu da noite, a alma entra em convulsão. Rejeita a mente que evoca saudade Enquanto o vento entoa uma canção. E o tempo passa, à luz da eternidade!
Mas a lembrança insiste em recordar Sem se importar se alma, entristece e chora. Mesmo que águas dos olhos vão rolar, lembrando instantes ao nascer da aurora.
Sob clarões, o amor da mocidade É um cenário belo, esplendoroso Com tons e luzes brilhando a saudade de horas boas...tempo maravilhoso!
Assim, eu varo toda a madrugada. E lentamente sinto a alma serena; Enquanto a noite, em véus toda enrolada Qual filme, vou revendo belas cenas.
Na primavera há histórias belas. Marcada com uma espécie preferida São marcas de doces momentos, E na mente são levados pelo tempo.
Podem passar as estações e ciclos, O perfume da dileta essência ainda exala Fazendo pulsar o coração com lembranças, De um sentimento sentido outrora.
Era primaveril é inesquecível! As floradas nos galhos pelo caminho, Trazem encanto aos olhos enamorados. Por onde quer se vá leva o querer Encravado na alma com satisfação.
Relembrar o botão que encantou o olhar Na primeira vez que sentiu o ensejo do amor Qual semente que se alastra no íntimo; É se soltar sem medo ao infinito.
Melhor de uma saudade, dentre as minhas, és chama que não cessa nem tem fim! Me acendes nas manhãs e me esquadrinhas, com dedos que deslizam sobre mim!
Acarinhas meu caos — quebrado e triste, na sombra densa e fria do poente Teus lábios são abismos onde existe, a febre mais audaz, mais contundente.
Rainha és do prazer que me redime, que em mim se faz desejo e se consagra! Teu toque é meu altar, meu doce crime, a pura da paixão que nunca apaga!
Melhor que o céu é ter-te em meu suor, — pior seria a paz sem tua estrada! Em ti, sou verbo nu, sou puro ardor, que em mim se faz amor — e mais que nada!
Nelson de Medeiros, 20/09/2025
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MAIS QUE TUDO...
A saudade que em mim é repartida é chama que incendeia o meu alvor. Arde em mim, me deixando aquecida, és a lenha que entregas ao meu calor.
Estás em meu silêncio mais profundo quando, entristecida, vejo o entardecer… Teu colo é meu refúgio neste mundo, na febre que me prende ao teu querer.
Entrego-me ao amor sem resistência; sou brisa que se curva ao teu ardor. Rendo-me sem peso na consciência, minha alma se consagra ao teu fulgor!
Melhor que o céu é ter-te em meu delírio, pior seria o mundo sem teu riso. Em ti sou verso ardente, sem martírio; és mais que tudo… és mais que o paraíso!
Vim até aqui de olho atento ao chão Caminhei de volta numa inquietude Sim eu sei que estou na contra mão Decerto não compreenda tal atitude
Verdade que perdi um sorriso na estrada Deixei em algum lugar enquanto sonhava Pode ter sido num barzinho de madrugada Quem sabe numa noite que eu desperdiçava
Seja onde for estou aqui para tentar resolver Devolver ao meu rosto aquela velha fotografia Pode ser que cansado ele não venha a querer Aquele sorriso infantil que antes ali já existia
Fiquei aqui sentado te olhando sem você ver Lembrei dos sonhos dos corações brincando De fantasias em rubros fios de sol ao entardecer Momentos ao teu lado em que passei te amando
E ali estava ele um sútil gesto de meus lábios .... Carlos Correa
& "Encontro no Retorno"
Vim pelo caminho, olhando o chão. Voltei para sanar minha ansiedade, Sentindo bater o meu coração; Andei pelas vias da eterna saudade.
Cada lágrima que fui derrubando Foi alagando toda minha estrada. Minha mente, lembranças foi roubando; Vi minha trilha ficar alongada.
Ao enxugar minha face tão tristonha, Sem um riso enfeitando minha boca, Senti um calafrio e uma vergonha... Quem sabe, por um tempo, estive louca.
Aos poucos, tua imagem trouxe à mente Tudo que vivemos — fui recordando. Os momentos felizes, lentamente, Um sorriso nos lábios foi retornando.
Ao ouvir o assovio do pássaro, notei que as árvores estão reflorindo belamente. Aquele ar gelado está mudando, eu sei; que bom! Virá a primavera novamente.
O inverno impiedoso secou as roseiras. A grama do jardim ficou toda queimada. Nas noites de inverno, a solidão veio inteira, me abraçou — foi companhia nas madrugadas.
Com traje de gala, a nova estação virá, e, toda faceira, entrará com galhardia, pincelando o céu com cores que emanará um encantamento ao raiar, cada dia.
Já estou pressentindo energia ao coração. Voltará aquele sentimento esquecido, tão forte qual a lava de um velho vulcão, que explode em festa, num renascer tão florido.