Posts de Samuel De Leonardo (84)

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VOO SILENCIOSO

 

VOO SILENCIOSO

 

Por vezes me calo, mas o meu silêncio não significa que nada sinto.

Nem sempre eu reclamo, isto não significa que eu esteja confortável.

Neste instante eu não choro, mas a dor se faz presente.

O meu sorriso é esporádico, mas espontâneo, não que eu seja infeliz, é que a dor não dá tréguas.

Eu não necessito a todo instante me lamentar, pois sei, o que eu sinto é menor que a dor de muita gente.

Preciso constantemente considerar, a minha situação é privilegiada quando olho ao meu o redor.

Hoje constatei que sou mais livre que um passarinho na gaiola.

Então aprendi que, mesmo enclausurado, sem poder voar, o pássaro canta para continuar vivendo.

Eu não canto como um passarinho no cativeiro, porquê não sei cantar.

Então escrevo poemas, que é a forma que encontrei para voar.

 

 

SAMUEL DE LEONARDO (TUTE)

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SEM TÍTULO

SEM TÍTULO

 

Nascera desprovido de tudo

Filho do acaso e dos descasos

Sem nada que fosse seu, desnudo

Uma vida vivida nos atrasos

 

Vida marcada em sua essência

Sem chance de ser criança

Uma vida plena de carência

Herdara apenas esperança

 

Pós-graduado na escola da vida

Educado na cartilha da brutalidade

Aprendera o ofício na lida

Só conhecia a sua realidade

 

Trabalhava noite e dia

Sem trégua desde criancinha

Um dia barriga vazia

Noutro, o que comer, nada tinha

 

Sustentava quatro crias suas

Mais cinco agregados

Todos filhos das ruas

Vivia na corda bamba, quebrado

 

Sempre pronto no batente

Pau pra toda obra

Homem honesto e valente

Sem um salário nada sobra

 

Seus caminhos mais penosos

Desconhecia o significado atalho

Mesmo jovem já era idoso

Sacrificando-se ao trabalho

 

Numa noite voltando da labuta

Uma bala perdida acertou o alvo

Atingiu em cheio a nuca

O pobre nunca está salvo

 

Perdera a única coisa que possuía

Nada do nada, pouco do pouco

O corpo estendido, em agonia

Um gemido melancólico, rouco

 

Autoridades acusam a milícia

A imprensa fazendo entrevistas

Testemunhas apontam a polícia

A justiça nunca encontra pistas

 

Cidadão simples e carente

Virou um número de estatística

Sobreviveu pobre miseravelmente

Desapareceu, é mais um na lista

 

A morte de um indigente

Não comove a sociedade

Fosse famoso, seria urgente

Descobrir toda a verdade

 

É fato, não há justiça na história

Quando se trata de pobres

São tratados como escórias

As leis são feitas para os nobres

 

Resta apenas um lamento

Dos frutos do regime capitalista

Impossível assistir tanto sofrimento

Enquanto uns padecem, outros são meros turistas.

 

SAMUEL DE LEONARDO (TUTE)

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UMA CANÇÃO, MUITAS SAUDADES

UMA CANÇÃO, MUITAS SAUDADES

(Crônica)

Quando a gente menos espera, surge bem lá do fundo da memória uma canção que mexe com a nossa emoção, nos remete àquele lugar, àquele instante, com alguém especial.

Tem-se até a sensação de que o perfume se faz presente impregnando o ambiente.

E de repente, do nada, vem lá das profundezas da alma uma sensação que vai crescendo, crescendo, dá um nó na garganta e um aperto no coração, transformando tudo em lembranças. Isto é saudade.

A música é mágica, ativa nossas recordações, nos leva para momentos que se perpetuaram no tempo e que não estão mais ao nosso alcance, estão muito além, mas que nos proporciona reviver instantes sublimes que nos marcaram profundamente.

Assim é a música, em uma canção aflora a emoção, transformando tudo em saudades.

 

Samuel De Leonardo (Tute)

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E se...

E se...



Se eu fosse um pintor
pintaria o seu retrato com emoção,
o seu retrato na palma da minha mão

Se eu fosse um cantor
uma canção eu cantaria,
uma  canção que só você ouviria

Se fosse um músico, meu Deus do céu,
sopraria a flauta doce
mais doce que o próprio mel

Se eu fosse um escritor
escreveria  uma linda história,
uma história cheia de amor

Se eu fosse um poeta
faria milhões de poesias,
poesias te venerando noites e dias

Se eu fosse um ator
interpretaria Romeu,
Romeu ao seu lado, que nunca morreu

Se eu fosse um mago
faria um feitiço,
um feitiço para ter o seu afago

Se eu fosse um sacerdote
faria uma oração,
uma oração para conquistar o seu coração

Se eu fosse um passarinho
voaria contigo sem demora,
sem demora para o nosso ninho
 
Como sou somente um sonhador,
sonho, sonhando em te conquistar,
mas todo sonho acaba, acaba quando acordar.

 

Samuel de Leonardo (Tute)

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"PARADOXIAS"

"PARADOXIAS"


Quando eu tudo queria

você  nada dizia


Quando eu nada dizia                                                                                                                           

você tudo queria



Quando eu tudo dizia                                                                                                                                               

você nada queria

 


Quando eu nada queria


você tudo dizia



Quando eu dizia tudo o que queria


você nada queria do que eu tudo dizia

 


Quando eu nada queria de tudo o que dizia


você tudo queria do que eu nada dizia.

 

 

Samuel de Leonardo (Tute)

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O PODER DA ESCRITA (Crônica)

O PODER DA ESCRITA

(Crônica)




Certa vez eu mencionei: "escrevo não por ofício, pela arte talvez, ou quem sabe pelo simples prazer em expressar na tela da vida a emoção do viver".

Partindo desse meu pensamento, repito que a cada dia mais e mais é prazeroso escrever e poder compartilhar com pessoas próximas, que me conhecem pessoalmente e sabem das minhas limitações que ora enfrento, como também com aqueles anônimos que casualmente leem os meus textos, que sequer têm ideia de quem seja este cidadão que assina com o seu nome próprio sempre mencionando o "Tute" entre parêntesis.

Explico, "Tute" é o apelido carinhoso concebido pelos avós paternos a um menino que incorporou ao nome Samuel, desde a tenra infância. Assim procedendo, é a forma que encontrei para  homenagear a todos que acompanham a minha trajetória de vida ao longo de décadas. Samuel é um ser comum, um tanto sisudo, um menino que se tornou adulto.  Tute é o moleque sapeca, ingênuo, porém esperto e criativo como toda crianca sadia.

A cada escrita que produzo, seja em prosa ou em verso, seja que tema for, sinto como se estivesse exorcizando os demônios que insistem em se apossar do meu cognitivo.

Quanto ao meu físico, tenho lutado para não me entregar antes do segundo tempo. É uma batalha  desafiadora, que exige muito da resiliência que até então eu acreditava não possuir, mas eu me surpreendo a cada momento.

A dificuldade em pronunciar algumas palavras tem limitado a minha fala e  a capacidade em dialogar. Recorri então à escrita para me expressar e me fazer entender. Contudo, confesso, escrever é uma tarefa por demais solitária. Melhor dizendo, é na verdade o pleno estado de solitude.

Se  por um lado escrever tem sido quase uma obrigação e uma tarefa árdua, por outro, é um livramento que  expurga os pensamentos ruins, alivia a alma, e faz com que escutem a minha fala, compensando a minha quase mudez.

Escrever é expor o sentimento, é reproduzir o pensamento, é preencher o vácuo da alma que clama por ser ouvida. É não se calar diante das dificuldades.

Escrever é romper o silêncio do vazio existente. Compartilhar então, é a certeza que serei ouvido.  Ainda preciso de muita energia para me  fazer ouvir antes que minhas palavras se percam no tempo e no espaço. Antes que os meus textos se calem para sempre.

Nos últimos anos, guiado pela necessidade em me expressar, venho produzindo muitos textos. Em 2016, graças ao patrocínio de um casal amigo, proprietários do Restaurante Rota do Acarajé, tive parte de um sonho realizado, publiquei o meu primeiro livro físico, "Hacasos".

Agora, estou em busca de concretizar mais sonhos, publicar outras obras que estão em meus arquivos. São 6 títulos praticamente prontos, a saber:

1) "A vez de cada um" - minha tentativa de escrever um romance filosófico que aborda a vida e a morte.

2)"'Ruídos" - versos e prosas

3) "Gatos, gatunos, gaiatos e outros bichos " -  Crônicas e contos do cotidiano

4) "Aprendiz de filósofo" - frases, pensamentos, reflexões.

5) "Pecados" - poesias e poemas, para adultos.

6) "Tute Brincadeiras de papel" - minhas memórias

Caso você queira ler um deles, eu ficaria muito agradecido, até para ter as suas considerações e se merecem ser publicados. Posso enviar no seu e-mail.

Serei sempre grato por me ouvir.


Samuel de Leonardo (Tute)

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PASSANDO DO PONTO

PASSANDO DO PONTO


(Crônica)


— Pelo jeito gosta de ler, hein senhor?
     Fez a indagação enquanto observava o vizinho absorto na leitura do livro.
— Sim, é um hábito adquirido desde a infância
— E qual o gênero preferido?
— Não tenho preferência, romance, conto, crônica, poema, enfim, várias obras.
— E como escolhe cada uma das obras para ler?
— Escolho pelo titulo,  pelo tema,  ou pelo autor. Por vezes por indicações.
Enquanto o outro falava, pediu licença e levantou-se do assento para não atrapalhar,                                                                                percebera que o passageiro ao lado prestava mais atenção ao livro que às suas perguntas.
Contudo, antes de seguir adiante, não suportou a curiosidade:
— Eu nunca li um livro. Como é que funciona?
— É uma troca entre o escritor e o leitor.
— Como assim? Não entendi.
— Está bem, explico. Ler é ouvir o que o autor desenhou em cada  linha,                                                                                                        o que ele escreveu toda à noite, até de manhãzinha..
O outro com a cara de espanto:
— E como é escrever?
— Escrever é falar ao ouvido do leitor, bem baixinho, fazendo com que ele entenda tudo,                                                                                tudo bem devagarinho.
— E este livro que o senhor está lendo, é sobre o que?
— É um livro de poesias. Poesias de amor.
— Poesias não são para declamar?
— Sao também.
— E do que se trata?
— Das dores do amor
— Mas amar dói?
— Amar não dói, não ser amado é que causa dor.
— Motorista, motorista, pare por favor! O meu ponto ficou para trás! 

 

 

Samuel de Leonardo (Tute)

 

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TRIBUTOS

 

 

TRIBUTOS

 

Hoje eu sei, não morri ontem

Vivo estou ainda agora

Amanhã, não me contem,

Ninguém sabe a nossa hora

 

O que vivi ainda é insuficiente

Não almejo louros e glórias

Muito tenho em minha mente

Quero ainda viver muitas histórias

 

Vivemos momentos absolutos

Você que me estima de verdade,

Quando morrer não quero tributos

Basta o silêncio, não quero alarde

 

Longe de receber homenagem

Não sofra, não sinta saudade

Afinal é apenas uma viagem

Da qual partiremos, cedo ou tarde

 

Estamos todos fadados ao óbito

Seja pobre, rico ou remediado

Todos se vão, do péssimo ao ótimo

Não escapam o certo e nem o errado

 

Serei mais uma estrela no universo

Habitando o mundo da eternidade

Transformado em rimas de um verso,

Sonhando sonhos de verdade

 

Não quero ser nome de avenida

Isso não tem a menor graça

Rogo dignidade após vida

Sem ser referência de uma praça

 

Vista-me e esqueça o luto

Não dispense o meu terno novo

O final aqui é certo, é resoluto

Mereço chegar lá bem garboso

 

Algo ainda eu te peço

Dispenso choro, flores e velas

Na cabeceira do meu leito

Um quadro com a foto dela

 

Ao lado do meu corpo inerte,

Enquanto o espírito dele se separa,

Antes que a alma do lado de lá desperte,

Ligue o som com as canções do Taiguara.

 

Samuel De Leonardo (Tute)

 

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UMA VISITA INESPERADA

 

UMA VISITA INESPERADA

 

 

De repente, chega a usurpadora

Uma síndrome de verdade

Indesejável, perturbadora

Invadiu minha intimidade

 

Limita os meus passos

Prejudica a musculatura

Força o meu cansaço

Mexe com minha estrutura

 

Dificulta minhas andanças

Apresenta caminhos com obstáculos

Multiplica as distâncias

Meu equilíbrio é digno de um espetáculo

 

Embaraça minha visão

Cala a minha voz

Faz-me perder o chão

É uma invasora, vilã e algoz

 

Boicota o meu paladar

Anula o meu olfato

Fadiga o meu pensar

Dia a dia me consome, é fato

 

Perturba o meu cognitivo

Domina tudo, ou quase

Como um amor antigo

Faz-me tremer na base

 

Bem sei do que se trata

É uma visita duradoura

Aos poucos minha vida ela mata

É uma forasteira opressora

 

Essa síndrome tem um nome

De pensar já causa frisson

Não poupa, só consome

Trata-se de um tal Parkinson

 

Me transformou num ser solitário

Esforço no meu otimismo

Nem sempre há solidários

Inevitável afastar o pessimismo

 

A expressão está congelada

Do que fui, pouco existe

Uma fotografia modificada,

Um sorriso agora triste

 

Então acredito, nunca estou só

Sempre estou comigo

Para ninguém eu rogo dó

Eu sou o meu melhor amigo;

 

Samuel de Leonardo (Tute)

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"PARADOXIAS"


   "PARADOXIAS"


   Quando eu tudo queria                                                                                                                                                                         você  nada dizia


   Quando eu nada dizia                                                                                                                                                                           você tudo queria

   Quando eu tudo dizia                                                                                                                                                                           você nada queria


   Quando eu nada queria
   você tudo dizia

   Quando eu dizia tudo o que queria
   você nada queria do que eu tudo dizia


   Quando eu nada queria de tudo o que dizia
   você tudo queria do que eu nada dizia.

 

   Samuel de Leonardo (Tute)

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E se...

E se...


Se eu fosse um pintor
pintaria o seu retrato com emoção,
o seu retrato na palma da minha mão


Se eu fosse um cantor
uma canção eu cantaria,
uma  canção que só você ouviria


Se fosse um músico, meu Deus do céu,
sopraria a flauta doce
mais doce que o próprio mel


Se eu fosse um escritor
escreveria  uma linda história,
uma história cheia de amor


Se eu fosse um poeta
faria milhões de poesias,
poesias te venerando noites e dias


Se eu fosse um ator
interpretaria Romeu,
Romeu ao seu lado, que nunca morreu

Se eu fosse um mago
faria um feitiço,
um feitiço para ter o seu afago

Se eu fosse um sacerdote
faria uma oração,
uma oração para conquistar o seu coração


Se eu fosse um passarinho
voaria contigo sem demora,
sem demora para o nosso ninho
 
Como sou somente um sonhador,
sonho, sonhando em te conquistar,
mas todo sonho acaba, acaba quando acordar.

 

Samuel de Leonardo (Tute)

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TRIBUTO AOS AMIGOS (incluindo as AMIGAS)

TRIBUTO AOS AMIGOS
(incluindo as AMIGAS)


Amigos tenho alguns
Tenho alguns Amigos
Amigos novos
Novos Amigos
Amigos antigos
Antigos Amigos
Amigos velhos
Velhos Amigos
Amigos verdadeiros
Verdadeiros Amigos .
Amigos presentes
Ausentes Amigos
Amigos de fé
Fé nos Amigos
Amigos irmãos
Irmãos Amigos
Irmãos de sangue
Sangue Amigo
Amigos de alma
Almas de Amigos
Amigos distantes
Distantes Amigos
Amigos que chegaram
Amigos que partiram
Amigos de Amigos
Amigos que somaram
Amigos que dividiram
Amigos reais
Até Amigos das redes sociais
Amigos que já me esqueceram
Amigos que não esqueço jamais
Amigos das minhas histórias
Histórias com os meus Amigos
Amigos de sempre
Serão sempre Amigos
São todos Amigos especiais
Especiais Amigos 
Trago todos comigo
Amigos de verdade
Verdadeiros Amigos
Amigos não desaparecem,
Amigos permanecem vivos na memória,
Uma grande verdade,
Amigos estão arquivados na pasta da saudade.
 

Samuel De Leonardo (Tute)

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HOUVE UM TEMPO

HOUVE UM TEMPO


Houve um tempo onde as manhãs eram mais radiantes
Houve um tempo onde as noites eram misteriosas                                                                                                                               Houve um tempo  onde tinham muitas estrelas no céu
Houve um tempo onde a brisa era mais suave
Houve um tempo onde tinham mais flores nos jardins
Houve um tempo onde andar na chuva era divertido
Houve um tempo onde os amigos estavam presentes                                                                                                                              Houve um tempo onde as canções tinham mais ternuras
Houve um tempo onde o fruto tinha mais sabor                                                                                                                              Houve um tempo onde o palhaço tinha mais graça                                                                                                                          Houve um tempo onde o mágico era magistral                                                                                                                                Houve um tempo onde a inocência era a nossa essência
Houve um tempo onde o futuro estava ano-luz à frente
Houve um tempo onde os ponteiros do relógio caminhavam lentamente
Houve um tempo onde éramos eternos
 

Samuel De Leonardo (Tute)

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NHEN-NHEN-NHEIM

NHEN-NHEN-NHEIM

 

Logo de manhã, o fanho, depois de ter sonhado um sonho repleto de emaranhados

e de coisas estranhas, molhando de suor a fronha, foi fazer a caminhada e,

após o banho, ficou acanhado ao ouvir a campainha.

Era a medonha vizinha oferecendo um cafezinho,

bolachinhas e manteiga no pãozinho quentinho,

deste tamanho.

 

Envergonhado, diante do ocorrido, enquanto o seu gatinho "minhava",

portou-se enfadonhamente, se escondendo para que ela

não visse sua cara toda amarfanhada,

 

Ficou bem quietinho no cantinho da cozinha, sequer acendeu a luz e,

no escurinho, falou baixinho: "Nhe-nhe-nhem, quem nhé?"

E o gatinho ao presentir a proximidade da vizinha engatinhou até a porta,

com suas patinhas arranhando-a, gastando suas unhas.

 

Mas a vizinha, coitadinha, era surdinha,

não escutou nadinha e deixou um recadinho escrito em duas linhas:

"Quando estiver sozinho toque a minha campainha ou deixe um bilhetinho,

prometo tratà-lo com muito carinho.

Assinado: Carminha, a vizinha".

 

Diante da façanha, o fanho assanhado que andava muito tristonho

se revelou um sujeito tacanho e safadinho, desta vez não fanhou,

mas pensou todo risonho: "terei um ganho, essa vizinha vai entrar na minha,

vai acabar no meu ninho. Ela aínda dá um bom caldo, um bom caldo de galinha."

 

Nota do autor : O texto não é tão bonzinho, mas também não é tão ruinzinho.

 

Samuel De Leonardo (Tute)
 
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APENAS

Uma singela homenagem à minha nora:

 

APENAS

 

Não é arrogante

Não é pedante

Nem faz dilema

É simplesmente

um belíssimo Tema

 

Não é miss

Não é artificial

Nem atriz de cinema

É simplesmente

de uma beleza Plena

 

Não é alta

Não é grande

Nem pequena

E simplesmente

elegância em Cena

 

Não é ventania

Não é vendaval

Nem brisa amena

É simplesmente Serena

 

Não é ruiva

Não é loira

Nem morena

É simplesmente Lorena

 

Samuel De Leonardo (Tute)
 
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TANTO

TANTO

 

O que é um tanto

de um sofrer

para verter em prantos?

 

O que são prantos

de um verter

para sofrer tanto?

 

De tanto sofrer

sobrou um tanto

do que verteu de prantos

 

Verteu tanto

de um viver em prantos

que já não se sabe o quanto

 

Um tanto pode ser muito 

também pode ser pouco, 

talvez nem tanto

 

Verter tantos prantos

purifica e deixa em paz

deixa em paz e purifica

A ordem, tanto faz

 

(Resgatado pela memória - primavera de 1976)

 

SAMUEL DE LEONARDO (TUTE)

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CANÇÃO DO VIVER

CANÇÃO DO VIVER


Viver é ótimo.
É tão bom viver
Acho que não tem coisa melhor
Se tem, ainda não tive o prazer de conhecer

Um dia, outro dia, mais um dia...
Sempre tem um dia pra começar
Deixe a vida caminhar

Depois de cada dia vem a noite
É bom saber
É só fechar os olhos
Para outro dia amanhecer

A noite no seu negro manto
traz sonhos pra sonhar
E, enquanto dormimos,
A vida nos oferece tanto
Temos que aproveitar

É bom viver um  dia de cada vez
Assim a gente não se cansa
Deixe a brisa soprar nosso rosto
Acredite, sempre existe esperança

Quando criança, o dia era mais longo
O futuro estava longe demais
Agora o amanhã chega logo
E o hoje logo se vai

Nada é para sempre
Deixemos que a vida flua
Não sejamos egoístas
Um dia seremos apenas lembranças
Para outros, ela continua

Vivamos então cada momento,
Pois momentos são nuvens no céu,
São flores no jardim
São águas nos rios
Tem começo, mas também tem fim
Na verdade, sempre foi assim.

Viver é ótimo.
É tão bom viver
Acho que não tem coisa melhor
Se tem, ainda não tive o prazer de conhecer



SAMUEL DE LEONARDO (TUTE)

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LETARGIA

LETARGIA

Quero me lembrar quando você surgiu em minha vida
Quero me lembrar da nossa primeira vez
Quero me lembrar dos seus abraços
Quero me lembrar do seu perfume.
Quero me lembrar do sabor dos seus  beijos
Quero me lembrar dos seus carinhos
Quero me lembrar  das primeiras juras
Quero me lembrar de tantas coisas.

Mas são tantas as coisas que quero me esquecer.

Quero não me lembrar da nossa despedida
Quero não  me lembrar quando fora  a última vez juntos
Quero não me lembrar em qual momento
Quero não me lembrar em qual instante
Quero não me lembrar em qual lugar
Quero não me lembrar das últimas palavras.
Quero não me lembrar de tantas coisas.

Mas são tantas as coisas que quero me lembrar.

Por vezes imagino que talvez você nem tenha existido
Que foram apenas frutos da minha imaginação
Quem sabe foram sonhos  impossíveis, ou possíveis pesadelos.
Talvez não tenha acontecido nada
Que nunca teve a sua chegada
Que a tal de despedida sequer fora proferida.
Na minha mente é como se tudo tivesse se apagado.

A única certeza, de verdade, é que eu só me lembro que ainda não a esqueci.

 

SAMUEL DE LEONARDO (TUTE)

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QUINTAL

QUINTAL 


 Manhã de puro esplendor
 Sol brilhante, calor escaldante
 De um  dia perdido no passado
 Imagem que marcou um instante
 Flagrante que ficou gravado
 Acontecido em algum lugar
 O bichano perturbando a passarada
 Pousados sobre os pés de goiaba, limão e sabugueiro
 São pardais, canários, sabiás,  todos pássaros passageiros
 O Lulu também dando o seu recado
 Espanta o gato e as galinhas foragidas do galinheiro
 Até o galo, senhor das rinhas, deixa de ser o rei do terreiro
 Maritacas sobre o telhad
 Fazem algazarras, tagarelando
 A dona de casa atarefada
 Acordou cedo, já trabalhando
 Roupas espalhadas pelo chão
 A mulher esfrega cada peça
 Uma a uma com a pedra de sabão
 Bate a roupa com força na beirada do tanque
 Bate forte, como nunca se viu
 Deposita tudo numa grande bacia
 Deixa de molho na mistura do anil
 Enxagua camisa, calça, anágua
 Torce com vigor, também como nunca se viu
 Não desperdiça uma gota d'água
 No varal as coloca para quarar
 Roupas estendidas simétricamente
 Lado a lado um mosaico a formar
 Satisfeita, a mulher se retira, finalmente
 Merece descansar
 Enquanto  isso, lá fora no quintal
 Maritacas agitadas conversam sem parar
 O bichano ameaça a passarinhada
 Enquanto eles permanecem no arvoredo
 Quietinhos no ninho, guardando segredo,
 Lulu persegue o gato, pura brincadeira, 
 Atormentando o animal
 Galinhas voam feitas loucas
 O galo nem aí, só no cocoricó
 É sabido, galináceos têm voos curtos,logo esbarram nas roupas
 Estas ficam sujas, sujas de dar dó
 De repente o gato esbarra  na madeira
 A barra que sustenta o varal
 Toda a roupa cai por terra
 É mais uma história, talvez banal                                                                                                                                                           Mas toda história, uma vez contada, se eterniza, nunca se encerra.

  SAMUEL DE LEONARDO (TUTE

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ESCOMBROS

ESCOMBROS

Hoje, pensando nela
decidi fazer uma  visita.
Faria uma surpresa,
desafiaria o acaso.
Fui ao encontro dela,
mesmo sabendo,
estava fora do prazo.

Percorri os mesmos caminhos.
Caminhei no mesmo ritmo de outrora,
subi ladeiras, desci escadas.
O coração bateu forte.
Contei cada um daqueles degraus,
treze, o número da sorte.

O jardim daquela casa,
onde com audácia roubei uma rosa
e entreguei a ela todo prosa,
lá não mais estava.

Aquela árvore, toda frondosa
onde numa tarde de verão
com o canivete gravei o nome dela
já não existia, não existia não.

Dobrei a esquina, atravessei a rua,
pisei as mesmas calçadas,
estavam bem diferentes
de quando felizes passeavamos de mãos dadas.

Contudo, na ilusão do reencontro
segui resoluto, segui em frente.
No endereço, onde houvera momentos felizes em vida,
hoje tem outra construção
Aquela casa fora demolida

Nada daquilo ficou,
sequer o portão azul, de madeira,
testemunha de nossos desejos,
que acobertava, de certa maneira, 
despedidas repletas de beijos,

São escombros sobre os sentimentos
Tudo passa, tudo termina
Despertei para a realidade
Fui ao encontro daquela menina
Encontrei apenas saudade.

SAMUEL DE LEONARDO (TUTE)

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CPP