Quando sentires um círio crepitando no peito
Um ardor esfuziante e inapelável
Talvez te perguntes ao teu jeito:
Que sucede? algo me queima de modo afável
Combalida dor me entorpece e me esmaga
Me entontece e me revalida
Dá sentido a minha vida
De sabor ora doce, ora amarga?
Meus olhos capturam um lago esfumando em um cerro
Gris de ovelhas tilintando seus chocalhos
Minha alma perece na clausura, em um desterro
Meus sentimentos pendidos em galhos?
Sou anfitriã de visitas entediantes qual a saudade
Sacode-me o espírito das veleidades o batel
Suscita-me rever com inenarrável ansiedade
O que de beijos me abarca, me cinge como um laurel?
Bebo da fonte que me sacia, do fel que há de me enojar
A correnteza de um rio abranda a dor que me castiga
A lua em meu quarto chega a se alojar
Uma vontade insana de colher estrelas me instiga?
Rui Paiva
Comentários
Poesia linda, versos líricos, belísisma.