O julgamento do amor
I
Eu vou contar uma estória
Que há muito se passou.
Nos anais do universo
( se não me falha a memória)
Foi o caso mais reverso
Que a estória contou
Que virou prosa e verso
O julgamento do amor.
II
O queixoso do processo
Era um coração ferido.
Por se sentir magoado
Ficou louco e possesso
Se transformou em malvado
Queria o amor julgado
Inquirido, condenado,
E dos sentimentos banido.
III
Isso causou reboliço
No reino sentimental.
Quase virou um ouriço
Um rebu, um carnaval.
O coração irritadiço
Queria dar chá de sumiço,
Queria fazer feitiço,
Mas ver do amor o final.
IV
Ao tribunal dos sentimentos
Todos foram convocados
Pra fazer o julgamento
Pra ver quem estava errado
Se o amor ou o coração
Qual dos dois tinha razão
Quem merecia perdão
Pelo corpo de jurados.
V
Promotor e assistente
Eram o ódio e o desespero.
O juiz, naturalmente,
Era a razão que, primeiro,
Agia imparcialmente,
E aos jurados presentes
Que achava competentes
Designou conselheiros.
VI
Pra fazer sua defesa
O amor chamou a humildade
Testemunhas, com certeza,
Eram o perdão e a liberdade
Os dois tinham destreza
Argumento e autenticidade
Para mostrar com clareza
Com quem estava a verdade.
VII
A promotoria primeiro
Fez a sua explanação
Acendendo o braseiro
Dando ênfase à discussão
Fez do amor um bandoleiro,
Que usando da encenação
Se fez de manso cordeiro
Pra enganar o coração.
VIII
E em sua eloquência
Mostrou um amor malvado
Que agiu com inconsequência
Com o coração que, coitado,
Amava com inocência
Entregando-se sem cuidado
A quem não tinha decência
Para ver que agia errado.
IX
Foi um logos muito extenso
Que a promotoria usou
Num tom pausado e intenso
Um a um enumerou
Defeitos horríveis, imensos,
Que o queixoso lhe contou
Ao que o réu era propenso
E quanto o feriu, maltratou.
X
A defesa entrou em cena
Na maior tranquilidade
Tinha certeza plena
De mostrar toda verdade.
E disse com voz serena:
-Pra este réu não há pena!
Quem condena a liberdade
E coloca o amor na arena?
XI
Quem quiser o amor prender
Deixe-o livre pra voar
Porque prender é perder
Preso ele não vai ficar,
E, se ficar vai morrer!
O queixoso quis matar
Aquilo que é viver
Porque nunca soube amar!
XII
Portanto, senhores jurados,
O amor é emoção.
Eu defendo um condenado
Que não conhece prisão.
O queixoso é o culpado,
Pois, nesta situação
Foi ele que agiu errado
Fez do amor e amar condenação.
XIII
O amor é um sentimento
Que conhece a eternidade
Que seja por um momento
Vivido com intensidade
Se, amado simplesmente,
Em completa liberdade
É síntese e argumento
De toda felicidade.
XIV
Quando a defesa encerrou
Um murmúrio foi ouvido
O cochicho circulou
E foi ganhando sentido,
Logo após se confirmou
E virou um alarido
Quando o Juiz decretou
- O amor foi absolvido!
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Marsoalex – 06/10/2015
CPP
CPP
Comentários
Sensacional poeta fantástico
JULGAMENTO-do-AMOR
Obrigado, menino Zeca! Fiquei emocionada em ver o meu poema em sua página. Você é demais! Bjs