Havia mais tristeza nos seus olhos
Do que toda a felicidade
Que eu pudesse sentir
Eu, só uma semente de abrolhos
A se espalhar pela cidade
Podado pela raiz
E pelos olhos tolos de criança
Guardei todas as lembranças
Daquele tempo (in)feliz
Quando, na mais pura inocência
Eu batia continência
Aos senhores tão gentis
Eram meus soldadinhos de chumbo
Sonhos que ainda deslumbro
Prostrados de sentinela
Hoje, apenas fardas sem soldados
Eram espinhos camuflados
Como flores de lapela
Sob as asas negras dos corvos
Pairados sobre o estorvo
Com os olhos fixos no chão
Eu, na minha insignificância
Em meio as circunstancias
Vivia minha opressão
Confesso, o quarto escuro me assusta
Cresci com medo de bruxas
Plugado à televisão
Assisto aqueles dias pelas frestas
Os corvos fazem promessas
E pousam sobre meu alçapão
E defecam resquícios do ontem
São eles, sim, aqueles monstros
A rugirem de suas celas
A despertar em mim
O que não ruge
De ferro só, pó de ferrugem
Guiado sou, pelos olhos da vela
Da vela, sim! Minha sentinela
Minha sentinela!
(Petronio)
Comentários