A COLHEITA DO AMOR NO MILHARAL

CONTO-SURREAL

A COLHEITA DO AMOR NO MILHARAL

 

Thaeêmily era uma adolescente alegre e de coração aberto. Também espirituosa, teimosa, e acima de tudo, personalista e graciosa. Ela e Júlio cresceram juntos num casarão, que parecia mais um convento antigo. Enquanto a adolescente rica estudava nas melhores escolas da cidade vizinha, o filho íntegro da serviçal que pertencia a uma família simples estudava em escola pública. Todavia, mediante a diferença social, eles tinham um bom relacionamento.

Certa manhã, Thaeêmilly ao descer as escadas do seu quarto, deparou-se com Júlio sentado no último degrau da escada. Logo que ele a viu, levantou-se, e enquanto ela se aproximava, sorriu entregando-lhe um bilhete, e em seguida saiu rapidamente.

Ela fez uma rápida leitura do escrito, em que Júlio pedia-lhe para que o acompanhasse até o milharal. Ainda parada, ela hesitou por alguns instantes, e antes que decidisse pensou falando consigo mesmo: perdoe-me mãe! Mas, mesmo sem sua permissão hoje sairei de dentro destas velhas paredes, e enfim, conhecerei a famosa floresta de milharal que tantos falam e admiram. Depois, saiu apressadamente ao encontro de Júlio, que já se encontrava a sua espera perto de sua casa..

Thaeêmilly e Júlio caminharam pelos os arredores do Açude que ficava nas redondezas da comunidade Gameleira no Ceará. Um lugar, onde todos que por ali passavam ficavam fascinados e atraídos pelo amplo espaço terral, úmido e fértil, que era acobertado por um manto verde de milharal fechado.

Entretanto, excessivamente impulsionados foram arrastados por uma força estranha que as levaram a adentrar-se naquelas incontáveis fileiras de pés de milho. A dupla admirada e eufórica com tamanho pomar frutífero não percebeu a aproximação de um senhor mal trajado, trazendo sobre seus ombros um pesado saco que os colocou no chão e seguidamente com voz arrastada, perguntou-lhes:

– O que fazem aqui, pombinhos?

Eles temerosos e espantados responderam:

– Estamos contemplando os encantos da natureza.

Pois só perceberam a presença do velho, quando este lhe falou.

No entanto, o homem aproximou-se deles, pegou-lhes suas mãos e colocou-as uma sobre a outra, e disse-lhes:

– Tudo o que Deus Criou, criou por amor. Então, Unem-se um ao outro no amor. Para que vocês ao amanhecer de um novo tempo possam, não tão distante, venham obter frutos extraídos deste vultoso campo abundoso na colheita do amor neste milharal.

Após as palavras fora do normal daquele ser desconhecido, que repentinamente surgiu do nada no milharal, Thaêêmily é tomada por uma percepção visionária, em que as imagens ao mesmo tempo são lídimas, e em tempo real ela vê nitidamente um casal andando de mãos dadas em meio aquela ala florestal, e assim, vão avançando e afastando as longas folhagens de milho para que eles pudessem passar e chegar ao destino desejado.

Quando em dado momento eles se entreolhavam e conversavam embreando olho no olho, em que seus corpos se grudavam, seus batimentos cardíacos se aceleravam, e os braços masculinos lhe abraçavam, apertando-a a figura feminina sobre seu tórax, que acariciava-lhe com desejos inefáveis.

Porém, instantes depois, ouviu-se um quebra-quebra no milharal, onde ele a pegou em seus braços e colocou-a sobre as folhas que tinha improvisado para escora e proteção, e em seguida a deitou. Depois se entregaram, unificando-se com amor e por amor um ao outro.

Entre os devaneios do irreal para o real, em que ela foi transportada; Thaeêmily se sobressalta-se aos efeitos de sentidos, quando reconhece a moça e o rapaz, isto é, ela e Júlio, e, foi nesse exato momento que a voz de Júlio a despertou do êxtase em que ela se encontrava, chamando-a, trazendo-a de volta a si, que posteriormente perguntou-lhe:

– Júlio, me diga, onde está aquele homem que ao chegarmos, ele falou com a gente?

_ Taeêmilly, ele já se foi. Você ficou parada olhando para a criatura, parecia até que estava vendo fantasma e quando olhei na direção que ele seguiu, simplesmente o indivíduo tinha desaparecido. Por quê?

– Porque precisamos encontrá-lo. Pois quando ele uniu nossas mãos, senti-me como se nós estivéssemos em outro lugar, ou seja, como se ele tivesse me transportado a outro espaço. Então, precisamos verificar, se o que aconteceu nesta manhã foi realmente real.

Os dois começaram a avançar na procura, mas não viram nem sinal do sujeito. Hora depois, eles tropeçaram em algo que lhes chamou atenção, que era muito parecido com o pesado fardo do velho. Imediatamente Thaeêmilly exclamou:

– Júlio! Este é o saco que o velho carregava nos ombros. Veja isto! São livros clássicos, usados.

Thaeêmilly curiosa abre as abas do saco, retira a primeira obra que é o romance “A Moreninha” e em seguida ela começa a folheá-lo, e logo percebeu que na página que antecede a introdução, está uma dedicatória com as iniciais J,M,M. Seu coração disparou, pois essa história era uma das suas favoritas.

E outra vez as imagens cênicas de algumas horas atrás, lhes voltam a permear mentalmente, as lembranças de um trecho marcante da história, em que ela traz a memória em paráfrase. ”Que um dia dois corações se encontraram, seus caminhos se separaram, duas vidas se entrelaçaram, mas o mito foi real, que premeditara, e se concretizara unidos no amor para sempre eles ficaram;”

E mais uma vez os pensamentos povoam-lhe e soam-lhe em alto e bom som perguntando-lhe: aonde estaria seu amor? Seria Júlio? Seu corpo logo se contraiu e seu coração reagiu; Foi então que ela entendeu a mensagem predita pelo o homem. Porém, ela continuou passando as páginas, quando em uma delas encontrou um envelope. Assim, ela continuou curiosa e ansiosa, agilmente ela abriu aquele ofício que dizia-lhe:

– Esse é um tesouro literário que tem sido conservado por vários anos, e agora essa missão não me é mais possível. Todavia, vocês acabam de encontrá-los, leia-os, reflita-os e conservem; para que em momentos precisos possam multiplicar os frutos que vocês colherão em um outro período. Em seguida Thaeêmilly fechou o livro e falou:

– Júlio me ajude, precisamos levar esse tesouro para casa, sem que a mamãe perceba.

Os dois se viraram abaixando-se ao mesmo tempo, e sem querer suas mãos se tocaram, eles se encararam, seus corpos como ima se grudaram, as carícias se alongaram, suas bocas se encontraram e com sussurros se declaravam e com beijos ardentes de amor, que por fim, o selaram.

Subsequente, Thaeêmilly falou-lhe:

– Júlio! Mediante a esse percurso de procura, é notável que esse homem desconhecido, é um ser sobrenatural. Pois, vejamos o que aconteceu: Ele premeditou a unificação do nosso amor e nos presenteou com frutos extraídos dessa premeditação, que ele parafraseou trazendo-nos daquele momento, em que ele uniu nossas mãos e disse-nos:

– Para que em um outro tempo não muito distante, fossemos colhidos como frutos germinados daquele amor que nasceu dentre a colheita do amor no milharal.

– Contudo Júlio, que vemos, ouvimos, e vivemos será um segredo só nosso. Agora temos que voltar para casa, pois minha mãe já deve ter percebido nossa ausência.

Então, é melhor nos preparar para o sermão que ela vai nos dar. Quanto ao nosso precioso tesouro literário, vamos guardá-lo no armazém onde fica toda a troçada.

Antes de chegarem ao velho casarão eles se despediram com beijos. Júlio seguiu para sua casa que ficava ao lado do casarão da família Alcântara. Consequentemente Thaeêmilly chegou, entrou e abriu o portão sutilmente sem ser vista. Porém, após ela entrar no quarto, escuta a voz de mãe lhe chamando.

– Taeêmilly, aonde a senhorita esteve durante toda manhã?

A mãe dela logo respondeu sem deixar-lhe explicar:

– Já sei, saiu com o filho da empregada.

Quando, de repente a mãe dela avançou bruscamente na sua direção e tacou-lhe uma tapa na cara, e disse-lhe:

– Olhe aqui garota, e escute bem! Você está proibida de sair com ele ou com qualquer outro, entendeu bem o que eu lhe disse? Daqui, você só poderá sair para escola. Para outros eventos ou lugares, só com minha permissão. E a partir deste momento, você está suspensa de qualquer saída, a não ser, que seja para escola.

Foi então, que surgiu uma ideia. Sair sorrateiramente pela porta da cozinha e subi a escada que dava para caixa d’água. Pois de lá dava para chegar até a janela do quarto de Thaeêmilly. E ao me aproximar, ouvia-se ela resmungando:

– Se mãe pensa que vai me prender neste mausoléu, está muito enganada.

Assim, resolvi chamar sua atenção. Tirei meu anel do dedo e joguei em sua direção; rapidamente ela veio ao meu encontro e disse-me:

– Cuidado Tereza, a mamãe está vindo!

Eu me encolhi toda entre as galhas do pé de castanhola. Pois neste exato momento ela passou gritando pelo meu nome para que fosse servir o almoço. Mas antes de descer lhe perguntei a Thaeêmilly o que tinha acontecido? Então, ela relatou:

Após o almoço e arrumação da cozinha, ela me procurou e comentou:

– Preciso urgentemente sair desta casa. Lembrando Teresa que até o final de semana, passarei a obter a maior idade. Daí já posso tomar minhas próprias decisões. Pois já não suporto mais esse aprisionamento!

– Thaeêmilly pode contar com minha ajuda.

– Então, venha comigo e ajude-me a fazer as malas.

Saímos dali e subimos para o seu quarto. Em seguida ela começou arrumar suas coisas, e falou-me:

– Teresa, nós temos que aproveitar o momento que mamãe dorme o sono do meio-dia.

Thaeêmilly foi rápida na sua arrumação. No entanto, tinha que decidir para onde ir. De repente ela lembrou-se de sua madrinha, que há alguns meses tinha perdido seu companheiro, ou seja, seu padrinho. Depois ligou para ela falando da sua decisão, que prontamente prazerosa, aceitou. Contudo, teria que pegar o seu tesouro. Depois de tudo pronto, desceram as escadas em total silêncio, passaram no velho quarto, onde estava o pesado saco do seu patrimônio literário, e depois seguiram para o ponto de ônibus.

Thaeêmilly se despediu e pediu para que só contasse para Júlio depois que ela se fosse, e que, também cuidasse de sua mãe. Mas, eu precisava falar com Júlio antes que ela partisse. Entretanto, resolvi passar em casa para contar sobre a decisão de Thaeêmilly. E Assim que ele soube, suplicou-me:

– Mãe preciso juntar-me a ela! Arranje-me suas economias, para que eu possa ir com Thaeêmilly! Prometo que vou trabalhar e depois te devolvo.

– Neste instante, meu coração de mãe se derramou em lágrimas e disse-lhe: Corra filho arrume sua bolsa, pegue este dinheiro, não é muito, mas dará para você se manter enquanto consegue um emprego. Depois abraçou e o beijou, desejando-lhe bons momentos. Então filho, apresse-se! Pegue sua bolsa que eu vou lhe deixar na parada.

Rapidamente Júlio preparou-se, pegou suas coisas e seguiu ao encontro de Thaeêmlly. Todavia, ela estava sentada num banco de cabeça baixa, quando Júlio colocou sua mão sobre seu ombro, a qual, ela se assustou, e Júlio logo perguntou-lhe:

– Me leva com Você?

– Ela sobressaltou-se com a surpresa, levantou-se de uma só vez e pulou em seus braços respondendo-lhe

feliz, gritava e beijava, dizendo-lhe: sim, sim, sim, Júlio.

Foi então, que o som da buzina do ônibus lembrou-me que havia chegado a hora da partida de Taeêmilly e Júlio, e que também era hora de voltar ao casarão para contar os fatos que tinha acontecido naquela manhã e tarde. Portanto, foi uma tarefa difícil, mas, cumpri com o que prometi. Porém a mãe de Thaeêmilly sentiu-se traída, mas depois a perdoou e os abençoou.

 

 

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