As Colchas e os Ovos - Humor
Causo Humor
Meu tio era um ser humano que agradava a gregos e troianos. Desde a juventude, contavam seus irmãos, ele era dado aos “causos” interessantes, às piadas. Divertia-se e divertia a todos com a sua criatividade, embutida no humor.
Proprietário de uma loja que vendia do tecido ao calçado, dos artigos de armarinho à perfumaria, atendia a todos que ali iam fazer suas compras durante todo o ano. Era o ponto certo para as famílias fazerem o enxoval de suas filhas. Lá se encontravam, também, artigos de cama, mesa e banho, com vendas a prazo e preços reduzidos porque, se algum cliente desse o “cano”, o prejuízo seria menor. Isso ele dizia, procurando tirar de assunto tão sério, alguma graça.
Era costume de as pessoas da zona rural, fazerem suas compras uma vez ao ano. Vinha sempre o casal e, às vezes, traziam as moças, principalmente as que estavam noivas. Hospedavam na sua casa, sempre no mês de junho ou dezembro. Pagavam a conta contraída há um ano atrás e deixava outra, sempre maior, para o ano vindouro. Esse tio era gêmeo do meu pai que procedia da mesma forma. Gêmeos univitelinos, eram como eles diziam, “cara de um, focinho do outro”. Sentiam os mesmos sintomas de doenças que apareciam em um, depois no outro. Casaram-se com duas irmãs e moravam na mesma rua, em casas contíguas.
Os casos de se confundirem os dois aconteciam a todo o momento. Uma vez, meu pai levou para casa um doce de umbu (fruta do umbuzeiro, nativa da caatinga), que na verdade era para meu tio. E muitos casos assim aconteciam, deixando-os satisfeitos, pois gostavam de promover o riso. Mas das piadas, quem gostava mesmo era o meu tio. Sua loja era ponto de bate-papo entre alguns amigos que por lá apareciam à tarde para tomar o famoso cafezinho com “avoador” (biscoito de tapioca escaldada com água e gordura e amassado com ovos). Uma delícia! E esse cafezinho era acompanhado também de piadas que esse anfitrião contava, saídas na hora, sempre envolvendo seus fregueses. Uma delas foi a seguinte: chegou um senhor para comprar colchas e meu tio mandou que a funcionária da loja subisse na escada e mostrasse “as colchas” para o freguês. Este envermelhou-se todo. Outro dia, chegou uma moça para comprar um sapato, mas não sabia o número que calçava. Ele, então, falou: deixe-me ver o pé. E a moça colocou o pé em cima do balcão! Prontamente, ele disse: pare, pare que eu só quero ver o pé! Certa vez, chegou uma senhora da roça para comprar colchas. Gostou muito da mercadoria, mas achou cara. Pechinchou... Pechinchou, mas não houve acordo. Comprou assim mesmo. Depois de alguns dias, meu tio vai à feira livre comprar frutas, verduras, ovos etc... Sabe quem ele encontra lá? A mulher das colchas... Ele se aproxima e pergunta o preço dos ovos. Acha caro e pechincha muito também. Mas D. Maria, com um sorriso que escondia uma vingança, disse categoricamente: Ah! Seu Gerôncio (esse era o nome dele), naquele dia o senhor me pegou nas “colchas”, hoje eu lhe pego nos “ovos”!
E ele contava esses casos, esbanjando felicidade. Eram momentos em que vivia feliz com os amigos e com a família.
Mena Azevedo