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KAGOME

KAGOME

Miguel Carqueija

 

Ele é muito poderoso

e arrogante, ele se acha;

mas pra mim ele é charmoso,

o meu querido Inuyasha!

 

Gostei dele quando o vi

numa árvore cravado;

eu o soltei e senti

meu coração agitado!

 

Desde então estamos juntos

em meio a toda esta guerra;

já vimos tantos defuntos,

tanto sangue nesta terra!

 

Mas se eu vim do futuro

foi para trazer a paz;

não te falharei, eu juro,

ajudarei meu rapaz! 

 

Inuyasha é um “hanyou”

meio youkai, meio humano;

mas com ele agora eu vou

sem tropeço e nem engano!

 

Eu sei que eu sou do futuro

e o homem já foi à Lua;

mas prometo não dar furo,

Inuyasha, eu serei tua!

 

E assim seguimos jornada

por este Japão feudal;

e bastante motivada

luto por um ideal!

 

Com a força de uma pantera

Inuyasha é um perigo;

Mas eu domei essa fera,

ele agora é meu amigo!

 

Sou poderosa também

e vejo o que ninguém vê;

e no meu tempo a ninguém

eu conto, pois ninguém crê!

A joia misteriosa

disputada por vilões

partiu-se e, misteriosa,

se espalhou pelos rincões!

 

Com Shippou e os demais

seguimos nossa missão;

eu nunca fico pra trás

pois sigo o meu coração!

 

Este amor que eu encontrei

não quero jamais deixar;

só Inuyasha amarei

até o mundo acabar!

 

Ao Naraku derrotar

disso fazemos questão;

quando isso vai acabar?

Qual será a ocasião?

 

Kaede orientou,

unimos nossos poderes;

a jornada começou,

nós encontraremos seres

de tal forma perigosos

que muitos teriam medo;

mas somos audaciosos,

a bravura é o meu segredo!

 

Sango, Miroku, Shippou,

são poderosos eu sei;

com eles também estou,

com Inuyasha eu irei!

 

Sou uma menina bondosa,

uma adolescente em flor,

sou meiga e religiosa,

eu só luto por amor!

 

 

Rio de Janeiro, 7 de março de 2018.

 

 

 NOTA: "Inuyasha" é um mangá criado em 1996 por Rumiko Takahashi e filmado em animação para a televisão japonesa pela Sunrise, a partir do ano 2000. A história passa-se num fantástico Japão feudal onde humanos e youkais (personagens do folclore japonês, geralmente hostis aos seres humanos) disputam a posse da "shikon no tama" (joia das quatro almas), uma pedra mística dotada de grandes poderes. Inuyasha, um meio-youkai, filho de uma mulher humana, com orelhas, garras e faro de cachorro mas aparência humana, também ambiciona a joia para tornar-se, pelo seu poder, um youkai completo. Entretanto há 50 anos ela estava desaparecida, quando inesperadamente surge, através do Poço Come-Ossos (que tinha uma ligação com o futuro, a Era Moderna), uma menina de nossos dias, Kagome Higurashi, que acabara de completar quinze anos. O outro lado do poço dava para o Santuário Shinto, no Japão do século XX; Kagome fôra puxada por um youkay em forma de centopeia que farejara a joia que, na verdade, misteriosamente estava dentro do corpo da garota, saindo dela pouco depois da chegada de Kagome à Era Sengoku. A joia acabou se fragmentando e seus pedaços espalharam-se pelo Japão, dando início a uma terrível disputa por parte dos seres mais cruéis existentes. Inicialmente Inuyasha hostiliza Kagome, e julga um absurdo gostar de uma garota humana, mas a firmeza e lealdade da jovem irão aos poucos cativá-lo (trata-se de uma versão de "A Bela e a Fera"). Com uma coragem e intrepidez inusitadas para uma adolescente, Kagome une-se a Inuyasha e outros personagens para reunir os fragmentos e impedir que o grande vilão, o Naraku, refaça a joia e se aposse dela, ou qualquer outro vilão, pois terríveis consequências adviriam se a mesma caísse em mãos de seres malvados. Kagome dispõe de poderes misteriosos e atira flechas místicas, além de enxergar os fragmentos da joia mesmo que estejam dentro do corpo de alguém. Dona de um coração puro, ela é uma personagem icônica.
O grande dilema da série é este: quando e se a joia de quatro almas for restaurada poderá dar a Inuyasha o poder de se tornar um youkai completo, deixando o seu lado humano, ou vice-versa, tornando-se humano e deixando de ser youkai. Embora seu objetivo inicial seja o primeiro, isto o afastaria de Kagome; tornando-se de todo humano poderia se unir a ela. Qual será a decisão final de Inuyasha? 

 

O destino os uniu: Kagome estará sempre com Inuyasha.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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A presença GRD

                                            A  PRESENÇA   GRD

 

 

                                               Miguel  Carqueija

 

 

     Quando eu tinha 17 anos comecei realmente a me interessar por comprar livros de ficção científica. Lembro-me perfeitamente que o primeiro que adquiri, por avistá-lo numa banca de jornais, foi o “Pânico na Terra” de R. Lionel Fanthorpe, obra da velha série Futurâmica das Edições de Ouro. Um livro que nem possuo mais, uma novela bastante indigesta, acompanhada pelo conto “space-opera” de Rod Patterson, mas que li com bastante atenção. Depois foi a vez de “Loucura na Galáxia” de B.R. Bruss, que inaugurava a Coleção Galáxia da Rio Gráfica. Eu ainda estava para descobrir os grandes autores como Ray Bradbury e Isaac Asimov.

     Nessa época, como eu andava buscando nas livrarias as fileiras de ficção científica – e isso existia – era inevitável esbarrar com a Coleção GRD, cujos volumes, embora não muito grandes, não eram de bolso como os supracitados. E na Livraria Eldorado, na Praça Saens Pena, vários volumes da Ficção Científica GRD estavam expostos. Eu os examinava, fascinado pelo capricho das capas, pelos comentários por vezes aliciantes das orelhas e contracapas. E na medida do possível fui comprando.

     O primeiro que me veio às mãos foi certamente o grande clássico “City”, “Cidade”, de Clifford D. Simak, um dos livros de mais bela apresentação que já folheei (e o Gumercindo Rocha Dorea, que vim a conhecer muitos anos depois, merece os parabéns pelo esmero das suas edições), com a figura do autômato Jenkins na capa, a cidade misteriosa avistada a distância, e na capa de trás um texto genial, que despertava a maior vontade de ler a obra: “A história fabulosa da família Webster, através de 10.000 anos de vida. A decadência e queda das grandes cidades, a civilização dual de Homens e Cães, a filosofia de Juwain e a presença de Jenkins, o autômato que atravessava os séculos e as fronteiras dos mundos dimensionais. A fuga para Júpiter, o planeta imenso que os Homens tentavam conquistar abdicando de sua forma humana e se convertendo nos Rastejadores.”

       Assim, em poucas palavras, Dorea sintetizou um mundo de encantamento, uma voragem avassaladora de conceitos extraordinários, retumbantes. Qualquer apreciador de fantasia fica com grande vontade de ler um texto assim apresentado. E, com franqueza, foi com esse genial Simak que comecei a penetrar mais fundo nas riquezas escondidas na ficção científica. Com a continuidade das leituras vamos percebendo que a FC é infinita em suas possibilidades.

        Pouco tempo depois adquiri o número 14 da coleção, “A nuvem negra”, do astrônomo inglês Fred Hoyle, outro livro que me impressionou deveras. E também aí o texto da contracapa estava à altura da grandiosidade do romance: “A Terra morria sufocada por um poder estranho vindo de mais longe que as estrelas e mais antigo que o tempo! Um só objetivo: atingir o sistema solar deslocando os planetas de suas órbitas e tudo extinguindo na caminhada dos séculos... Por que? A mortífera matéria galática era ela própria, a ambição suprema: QUEM SOMOS? Poderia o Homem responder a esta pergunta?”

     E aí comecei a tomar conhecimento também da ficção científica brasileira, da qual quase nada conhecia, afora o conto “O navegador” de Millor Fernandes. Pude ler “As noites marcianas”, de Fausto Cunha, “Fuga para parte alguma”, de Jeronymo Monteiro, e as duas antologias, “Antologia Brasileira de Ficção Científica” e “Histórias do Acontecerá”.                

      O romance de Monteiro – autor que eu desconhecia e que se revelou prolífico e especialista em FC e mistério – era especialmente marcante. O autor nacional desvendava um futuro extremamente longínquo onde a tecnologia avançadíssima não livrava a civilização de ser destruída pelo inimigo animal, inseto, por uma raça perigosíssima de formigas amazônicas, as “atas”, devoradoras e impiedosas. O enredo é extraordinariamente sombrio e deprimente; Monteiro parecia interessado em criticar o orgulho da raça humana, auto-proclamada rainha da criação, desafiada por uma criatura imensamente menor, desprovida de tecnologia e inteligência. 

      Também li por aquela época a coletânea “As negras crateras de Lua” (no original “The green hills of Earth”, isto é, “As verdes colinas da Terra”), onde descobri Robert Heinlein, um dos monstros sagrados da ficção científica do século XX, e de quem depois vim a ler vários outros livros. O estilo escorreito de Heinlein comprovava um autor respeitável e excepcionalmente talentoso.

     Em poucos anos foram rareando os títulos da GRD. A coleção foi suspensa e, já na época do fandom, nos anos 80, o editor ensaiou um retorno mas somente nos anos 90 a Ficção Científica GRD reapareceu com nova numeração, e dando chance a novos nomes nacionais como o médico José dos Santos Fernandes, que teve editada a sua coletânea “Do outro lado do tempo”. Infelizmente os tempos eram outros e os novos títulos não obtiveram grande divulgação, e vários livros anunciados não foram lançados. A coleção foi suspensa sem reavivar o clima dos anos 60.

     Mesmo assim, Gumercindo Rocha Dorea consolidou-se como uma lenda viva para o fandom brasileiro, uma referência inesquecível e com lugar garantido na história da FCB. E títulos como “Além do planeta silencioso” de C.S. Lewis (que inaugurou a série em 1958), “Eles herdarão a Terra”, de Dinah Silveira de Queiroz, “Um caso de consciência”, de James Blish, e a antologia brasileira “Dinossauria Tropicalia”, de 1994 (onde tive a honra de participar com outros autores patrícios como Roberto Causo, Finisia Fideli e Cesar Silva) são hoje preciosidades para qualquer colecionador e um grande legado para os futuros historiadores desta fascinante modalidade literária.  

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ADOLESCÊNCIA

ADOLESCÊNCIA

Miguel Carqueija

 

Estamos sempre aprontando

brincadeira e diversão,

porém jamais olvidando

ter amor no coração!

 

É sempre um tempo de festa

sem descuidar o estudo:

é passear na floresta

mas dar de nós muito e tudo!

 

Mamãe e papai, bem sei,

só querem o nosso bem;

por isso eu me aplicarei

pra só tirar nota 100!

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O épico Spartacus

O ÉPICO SPARTACUS

Miguel Carqueija

 

            O cinema e a literatura dos tempos modernos recriaram a figura lendária porém histórica de Spartacus, escravo e gladiador do Império Romano, que se rebelou e durante anos liderou um exército de ex-escravos que desafiou o poder de Roma.

            A novela de Howard fast serviu de base ao épico norte-americano lançado em 1960 e cujos bastidores ficaram bem conhecidos. Pelo que consta foi Edward Lewis, produtor de reputação, quem adquiriu os direitos de filmagem do livro original e obteve o apoio do ator Kirk Douglas, dono de uma pequena empresa produtora. Douglas quis interpretar o papel-título de “Ben-Hur”, o épico bíblico e romano de Sam Zimbalist, lançado em 1959. Ofereceram-lhe, porém, o de Messala. Douglas recusou. Como se sabe, Charlton Heston fez Ben-Hur e Jack Hawkins, Messala.

            Kirk Douglas quis fazer o seu próprio épico romano. Assim, da vaidade de um ator-produtor saiu esse filme grandioso, grandiloquente, mas algo perdido nos diálogos, por vezes bem fracos.

            Há difíceis cenas de batalha e uma meticulosa recriação de trajes, costumes, cenários e interiores daquela época anterior a Cristo. A história é romanceada e, claro, em grande parte inventada. O conhecido diretor Anthony Mann foi inicialmente contratado mas, tendo dirigido (ao que se diz) somente uns 15 ou 20 minutos da projeção, afastou-se ou foi afastado por alguma incompatibilidade; só então Stanley Kubrick entrou na jogada.

            Costuma existir, nos épicos passados na Antiguidade, alguma coisa de artificial, de inconvincente. Uma rápida pesquisa mostra que na história real de Spartacus há muito mais a ser dito, talvez por isso é focalizado também em seriados. Este trabalho aborda muito o romance entre Spartacus e Varínia (Jean Simmons). Júlio Cesar comparece na trama, interpretado por John Gavin, mas seu papel é secundário. Ele ainda não era imperador. Peter Ustinov, como o negociante de escravos Batiatus, está algo cômico. O veteranos Charles Laughton faz um balofo e relaxado Senador Gracchus. O grande inimigo de Spartacus, Crassus, é vivido por Laurence Olivier.

            O elenco é, de fato, maiúsculo. A trilha sonora me pareceu fraca. A mensagem libertária de Spartacus — ninguém deve ser escravo — é extraordinariamente válida e vigorosa. Como Spartacus dá a entender na derrota, só o fato de haver lutado valera a pena: a semente da liberdade estava plantada. Na vida real um herói não precisa vencer — precisa testemunhar.

            A assinalar ainda, os créditos de abertura são do grande Saul Bass e o roteiro de Dalton Trumbo, que durante anos , por razões políticas, esteve na “lista negra” de Hollywood e só podia assinar sob pseudônimo, sendo que Kirk Douglas teve a coragem de romper o tabu. Além dos nomes citados no elenco vale lembrar Woody Strode como o gladiador Draba e Herbert Lom como Tigranes, o pirata. “Spartacus” recebeu quatro Oscars: melhor ator coadjuvante (Peter Ustinov), melhor direção de arte colorida, melhor figurino colorido e melhor fotografia a cores.

 

Rio de Janeiro, 4/12/2017 – 18/2/2018.

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Chernobyl: a tragédia que não pode ser esquecida

CHERNOBYL: A TRAGÉDIA QUE NÃO PODE SER ESQUECIDA

Miguel Carqueija

 

Resenha do livro “Bonecos de neve e Chernobyl” editado no Brasil pela Academia de Ciências do Estado de São Paulo e Associação dos Amigos de Chernobyl no Brasil, São Paulo-SP, 1996. Coordenação da tradução: Keizo Tokuriki. Título original (traduzido): “Rastro do vento negro”, editado por Chernobyl – União Social Ecológica da Bielorússia (1995).

 

            Impressionante este livro de depoimentos que parece ter sido pouco divulgado no Brasil. Na madrugada de 26 de abril de 1986 ocorreu o terrível escapamento radioativo em Chernobyl, usina nuclear situada na Ucrânia, e pelos fatores locais, de geográfia e ventos, atingoi principalmente a vizinha Bielorússia — países que, na época, faziam parte do império comunista conhecido como União Soviética, dominado pela Rússia. Apresenta o livro pungentes depoimentos em forma de redações, de adolescentes com 13 a 17 anos, 25 ao todo, sobreviventes da tragédia, que vivenciaram quando ainda crianças. Os escritos são de 1994. Por aí se vê que adolescentes podem sim, saber se expressar e escrever coisas bonitas e profundas, apesar da ideia geralmente aceita no Brasil de que adolescente só fala gíria. Mais importante ainda, porém, é chamar a atenção para a tragédia cujos efeitos continuam a se fazer sentir; constatar a má fé com que o regime agiu, abafando a verdade dos próprios moradores das regiões circunvizinhas à explosão; concluir enfim que o que aconteceu naquele sombrio dia equivaleu a um ataque atômico, como se estivesse ocorrendo uma guerra nuclear. Daqui para a frente, quando se mencionar Hiroshima e Nagasáki será preciso acrescentar Chernobyl.

            Vamos agora pinçar fragmentos desses depoimentos:

NATÁLLIA IARMOLENKA (16 anos, 11ª série, Bráguinsk))

            “Logo após o acidente as pessoas ficaram caladas e evitavam fazer comentários sobre o assunto. A população não teve acesso às informações sobre o que realmente ocorreu. A verdade foi escondida e as pessoas não se deram conta da gravidade da situação. Sem orientação sobre os perigos da contaminação radioativa, foram abandonadas à própria sorte. Tempo precioso foi perdido sem que se tomassem as precauções que hoje sabemos serem necessárias.”

MIHAS VINNIK (aluno da nona série, Bábruisk)

            “Na “zona de Chernobyl” não se pode cultivar cereais, não se pode beber água, há perigo no ar que se respira e a casa do vovô tornou-se imprópria para se viver. Para a terra contaminada de Chernobyl, nem nossos filhos nem nossos netos poderão retornar.”

LIUDMILA LÁPTSEVITCH (aluna da décima série, Minsk)

            “As pessoas que moravam no raio de 30 km, ao serem evacuadas levaram alguns animais domésticos mas tiveram que abandonar os gatos e cachorros. Em pouco tempo, esses animais se tornaram selvagens e perigosos, obrigando a realização de operações de extermínio.”

GALINA POTEENKO (aluna da décima-primeira série, Rétchits)

            Galina transcreveu o relato que ouviu de um motorista convocado para operações de emergência... de extermínio de gado:

            “Já viram alguma vez cavalos chorar derramando lágrimas? É um acontecimento muito raro. Pois eles choravam. Choravam alto. Como se fossem crianças pequenas. Ao serem colocados na carroceria, eles deitavam suas cabeças sobre a cabine do motorista. Era como se estivessem querendo firmar seus corpos. O choro miserável dos cavalos machucou meu coração. Eles seriam atirados no precipício ficando com os ossos estraçalhados. Fiquei imóvel, cobri o rosto com as duas mãos e chorei em voz alta.”

E Galina escreveu este poema:

            “Chernobyl!

            Quanta tristeza e choro

            Você trouxe aos lares

            Alguém disse: — Foi uma falha.

            O coração de alguém se machuca, de alguém...

            Uma coisa dessas não pode se repetir jamais.”

VIKTOR TORÓPOV (30ª Escola Técnica Naval, Gómel)

            “Antes do acidente de Chernobyl, o egoísmo, o desinteresse e a irresponsabilidade eram intensos. Ao Governo faltava liderança; havia até pensamentos imorais como: “Os líderes sabem tudo. Nós precisamos apenas alcançar nossa meta dentro de um determinado prazo.” Chernobyl é o resultado final.”

VICTOR BISOV (15 anos, oitava série, Kritchiova)

            “Ninguém nos avisou que havia perigo em comer os morangos e cogumelos no bosque...”

GALINA RÓDITCH (décima série, Tchetchersk)

            “Na ocasião, ninguém sabia o que havia acontecido em Chernobyl. As asas negras de Chernobyl cobriram totalmente a Bielorússia. Ignorávamos que o pó da radioatividade caía no bosque, nos campos de trevos, nos pastos, nos rios Soj e Dniepr, nos parques coloridos de flores, nos telhados das casas. Como um furacão negro invaida nossas vidas. A radioatividade invisível se espalhava e as tireóides eram atingidas pelo iodo radioativo. Mas ninguém dera alerta.”

KIRA KÚTSOVA (15 anos, décima série, Pinsk)

            “Aquele horrível acidente de 1986 mudou o destino de muita gente.Mais doloroso ainda foi observar que muitos adultos, por demais egoístas, conseguiram enriquecer se aproveitando da infelicidade alheia.”

TATIANA AKUTSIONOK (nona série, Radáchko)

            “Chernobyl, banquete nuclear

            Um presente mortal para a minha terra natal

            O mapa de contaminação revela os vestígios de sua garra

            No mapa desenhado no caderno escolar

            Há inúmeras manchas nas páginas brancas

            Em qualquer páginas apenas rios extintos

            Em qualquer página só bosques destruídos

            Além da aldeia sem uma viva alma

            O triste lamento das velhinhas solitárias

            Isto pode continuar eternamente?

            Não há salvação para esta desventura?”

LIUDMILA TCHÚBTCHIK (14 anos, sétima série, Leltchits)

            “Oh! Deus misericordioso! Qual o sentido deste sofrimento? A minha terra natal, a minha Poléssie é uma terra farta de morangos e cogumelos. As uvas-do-bosque vermelhas também são famosas. E tudo isso foi totalmente envenenado num piscar de olhos.”

ÍGOR MAROZ (11ª série, cidade de Chklova)

            “Já estou sem vontade de lutar contra esta doença. As convulsões não param. O remédio não faz mais efeito. Tenho muito medo.”

EVGUÉNI PETRACHÉVITCH (décima série, município de Kolinkovitch)

            “Dizem que a vida humana é preciosa e nobre e, no entanto, as crianças na zona rural estão morrendo sufocadas pelo próprio sangue. Os meninos de Narovlia desmaiam durante a aula. Em Bráguinski, uma professora não consegue estancar a hemorragia das meninas. Por que desviarmos a vista destes fatos? O que será que podemos fazer para salvar estas crianças infelizes? (...) Na Bielorússia existem cinco milhões de alunos nesta condição. Nós comemos as maçãs envenenadas por estrôncio, tomamos o leite que contém césio, andamos e brincamos sobre a terra poluída por radioatividade com quantidade suficiente para matar. Chernobyl está continuamente corroendo a nossa saúde, a nossa alma e o nosso destino.”

OLGA DETINK (19 anos, 11ª série, Minsk)

            “Naquele momento não sabia o que estava acontecendo dentro do meu corpo. O césio se acumulava em meus músculos, irradiando-os. Só depois de alguns anos soube, através de mamãe que tinha ido ao médico, que eu estava na fase terminal de um câncer.”

ALIAKSEI KHILKO (aldeia Gýlitch, município de Kirausk)

            “Orientaram-me para consumir alimentos como noz, laranja, banana, abacaxi, a fim de diminuir o nível de radioatividade em meu corpo. Mas onde arranjar tais alimentos?”

OLGA ANTÓNOVITCH (oitava série, Gómel)

            “Mamãe! Eu não posso vê-la feliz de verdade. Tudo aconteceu a partir daquele dia, no Centro de Medicina da Radiatividade de Minsk, quando ela ficou sabendo que meu irmãozinho estava doente da tireóide. Mamãe desmoronou em prantos. Desde então uma terrível insegurança instalou-se no coração de meus pais. Daí em diante, para combater a doença de meu irmãozinho, experimentamos momentos de angústias infernais. Foi operado duas vezes. O tratamento foi horroroso e demorado, além de todos aqueles exames...

            Apesar de todo sacrifício, meu irmãozinho foi uma das primeiras vítimas de Chernobyl. Quantos serão em toda a Bielorússia?”

VOLGA GANTCHAROVA (16 anos, nona série, Barisava)

            “Os líderes do acidente de Chernobyl se esconderam na sombra. Ainda hoje não querem lembrar que impuseram enorme sofrimento a tantas pessoas, nem assumir essa responsabilidade.”

VOLGA SEMIANTCHUK (11ª série, Gómel)

            “Chernobyl é terror, é terror para todas as coisas do futuro.Nos faz desconfiar do bosque, da água límpida e até do céu. Agora tenho medo de ir ao médico. Não sei o que dirá após o exame.”

SVIATLANA SKAMARIKHAVA (DÉCIMA SÉRIE, Gómel)

            “Na escola, a quantidade de alunos não parava de diminuir. A professora responsável pela classe também acabou nos deixando e, assim, foi substituída.(...) Comprovou-se que eu estava doente e que elementos estruturais do meu sangue haviam mudado. O médico aconselhou-me a ficar pelo menos um ano fora do local onde morava, comer bastante caviar e beber suco de romã fresca. Conselhos impossíveis de serem cumpridos por minha família.”

NATÁLLIA IASKÉVITCH (10ª série, Lúlinets)

            “A minha terra foi conhecida como a aldeia dos cogumelos. Não me esqueci do sabor e do aroma de vários tipos de cogumelos. Agora tudo isso passou a ser uma simples lembrança.”

NATÁLIA NEVÍNNAIA (16 anos, décima série, Lulinets)

            “Em meio à tragédia não estamos sós, recebemos ajuda humanitária de todo o mundo. É muito valiosa tal ajuda, que nos aproxima de pessoas que compreendem a infelicidade alheia. Elas nos trazem não apenas palavras reconfortantes, mas buscam compartilhar a dor através de ações, enviando-nos remédios, alimentos e equipamentos.”

TATIANA AKÚLEVITCH (16 anos, décima série, Kalinkovitsk)

            “Ao invés de somar mais vítimas de Chernobyl entre meus amigos e conhecidos... gostaria que os pássaros voltassem a cantar como antes, que uma chuva sem radioatividade pudesse umedecer generosamente o solo, e que os nossos vizinhos aposentados cantassem novamente nas reuniões noturnas, ao redor daquele banco perto da casa de vovó.”

            “Senhor, eu prometo rezar todos os dias por todas as pessoas que admiro e amo. Por favor, ajudai minha alma que está suplicando e libertai a minha terra e a minha pátria.”

ELÉNA MÉLNITCHENKO (17 anos, Escola Técnica de Dzerjinski)

            “Alguns dias depois, tivemos que abandonar Pogónnoe. Meu coração dói quando me lembro das crianças que gritavam e choravam e dos idosos que não aceitavam a ideia de deixar sua vila para ir a um lugar desconhecido. Podíamos levar apenas o mínimo necessário. Só havia o desespero. Quantas lágrimas foram derramadas...”

MARIA GALÚBOVITCH (13 anos, 7ª série, Saligórsk)

            “Antigamente as pessoas, ao falarem de um acontecimento ou outro, tinham como referência a guerra: “antes da Segunda Guerra”, “depois da Segunda Guerra”. Hoje em dia a referência é: “antes de Chernobyl”, “depois de Chernobyl”.Isso se tornou um capítulo muito triste da História.”

ELENA JIGUNOVA (16 anos, Escola Técnica profissionalizante de Gómel)

            “Nós somos as vítimas de um aciedente ocorrido pela negligência de algumas pessoas. Atualmente estamos chocados e amargurados, sentindo a frieza dos que nos rodeiam.”

GALINA IÚRKINA (15 anos, vila Korótkovitch, município de Jlobin)

            “Era de manhã, estava com sede e saí de casa. Casas, árvores, terra, tudo fôra coberto por uma fina camada de poeira cor de cinza. Pensei que uma guerra havia começado. Eu, como as outras crianças do planeta, tinha medo da guerra (...)

            Pela primeira vez soube que meu fígado estava inchado. Após dois meses de internação, fui ao Casaquistão, por recomendação médica.

            Nem lá pude ser salva. Quando percebiam que eu era vítima da radiação e por isso meu cabelo começava a cair, ninguém se aproximava de mim num gesto de amizade. Inúmeras vezes chorei por ter sido chamada de “a estranha”.”

 

            Leitoras e leitores destes depoimentos. Primeiramente observo a profundidade, a sapiência muitas vezes, dos textos (redações mais ou menos compridas, aqui só pincei fragmentos significativos) de adolescentes, ou seja, daquelas pessoas que, conforme o preconceito muito em voga no Brasil, só sabem falar besteiras, obscenidades, gírias e palavrões. Precisamos pensar nos adolescentes como seres humanos sensíveis, dotados de raciocínio e por vezes de aguda inteligência, além de estudos razoáveis, e não como idiotas meio crescidos.

            Muitas lições se podem lucrar na leitura deste livro impressionante. Antes porém fixemos o seguinte: a tragédia não acabou. As vítimas de Chernobyl ainda existem. A radiação é uma coisa insidiosa e que demora muito a diminuir. Sabemos, embora pouco se fale nisso, das pessoas que ficaram deformadas pelo resto de suas vidas por causa das explosões atômicas de Hiroshima e Nagasáki., Agora, quando pensarem nesses dois locais, pensem também em Chernobyl, um trágico retrato da estupidez dos homens.

 

Rio de Janeiro, 26 de julho a 9 de agosto de 2017.

 

 

 

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Anjo da Justiça

 

ANJO DA JUSTIÇA

 

Miguel Carqueija

 

 

“A coisa mais fácil para mim, seria te matar.”

(Hayley Stark)

 

“Pelos caminhos do mundo

nenhum destino se perde:

há os grandes sonhos dos homens

e a surda força dos vermes.”

(Cecília Meireles, “Romanceiro da Inconfidência”)

 

 

 

         Na grande cidade norte-americana de Los Angeles, Jeff Kohlver, de 32 anos, é um fotógrafo de modelos e também ambientalista, de boa reputação e bem de vida, que mora numa agradável e isolada casa de subúrbio. É bonitão, alto, charmoso e bom de papo. No entanto, apesar da sua aparência de profissional educado e respeitável, Jeff possui também uma tortuosa existência oculta. Sem que os seus conhecidos e vizinhos saibam, ele é um pedófilo predador, que além de seduzir adolescentes as maltrata e assassina, sumindo com os seus corpos.

         Uma semana após o rumoroso desaparecimento da menina Dona Mauer, Jeff é abordado no bate-papo do MSG por uma garota de 14 anos, que se identifica como Hayley Stark. É simpática, inteligente e atirada e durante três semanas ambos conversam pela internet a respeito de bandas, fotos e outros assuntos. Afinal, marcam encontro numa lanchonete onde, como por acaso, acha-se afixada a fotografia de Dona Mauer com a legenda “missing” (desaparecida). Hayley, que é pequena, sorridente e encantadora, e Jeff Kohlver, de óculos, fala mansa, ligeiramente barbado, enfim se conhecem pessoalmente. A menina usa um casaco vermelho com capuz. É uma metáfora da Chapeuzinho Vermelho (ou Capuchinho Vermelho) diante do Lobo Mau e seus olhares gulosos. Hayley não perde tempo e se convida para ir à casa de Jeff e deixar-se fotografar por ele. Em seguida ela embarca sorrindo no carro do bonitão e logo ambos estão a caminho.

         O que Jeff, no entusiasmo da conquista, não sabe e está muito longe de imaginar, é que tem diante dele o seu Nêmesis e que Hayley Stark é muito diferente de todas as meninas que ele abusou e mesmo matou.

         Em pouco tempo Jeff, já em casa, se vê diante de uma situação inacreditável: amarrado solidamente a uma cadeira e tendo diante de si a adolescente Hayley Stark que, já sem sorrir nem brincar e com a expressão fria, séria e contida, inicia o julgamento do pedófilo.

         Estamos diante de uma preciosidade como raras vezes o cinema produziu. “Hard  candy” (“O doce amargo”), co-produção americano-canadense, cuja ficha técnica segue em apêndice, é um filme obsedante, inesquecível, carregado pela interpretação avassaladora de Ellen Page, no papel da heroína adolescente Hayley Stark. Ellen, na ocasião, tinha 17 anos mas podia passar por 14, com seu tamanho pequeno (1,55m) e seu rostinho cheio de frescor e encanto. Patrick Wilson também está ótimo no difícil papel do tortuoso personagem Jeff Kohlver.

         Todo o tratamento dado à película pelos produtores e pelo diretor britânico David Slade é de cinema de arte. Desde a apresentação com figuras geométricas como velada alusão aos cômodos da casa isolada onde se passa a maior parte da ação, até os créditos finais ao som de “Elephant woman” — excelente canção composta e interpretada pela banda Blonde Redhead — tudo é feito de maneira artística, minimalista. No entanto, é uma história de suspense e terror psicológico. A trama é de tirar o fôlego, principalmente se o espectador optar por torcer pela justiceira, pois é evidente que ela está no fio da navalha, diante de um inimigo mortal, e que vai à casa do fotógrafo, disposta a tudo.

         Existe, em torno da personagem Hayley Stark, uma “pergunta que não quer calar”: quem é ela de fato? Hayley é a típica figura misteriosa que vem do nada e retorna para o nada após cumprir a sua missão: como a “Little Rita” de “Rita no Oeste” (Rita Pavone), como a Mary Poppins (Julie Andrews, no filme de Walt Disney, personagem dos livros de P.L. Travers). É claro, “Hard candy” é um gênero muito diferente, a história é tensa e sufocante. Há cenas antológicas do princípio ao fim, desde a descompostura que Hayley, tendo colocado óculos e assumido os ares de uma professora lidando com um aluno relapso, passa no fotógrafo, até as ocasiões em que Jeff contra-ataca. Destaca-se a furiosa luta que ambos travam na banheira, quando Jeff, tendo se libertado das cordas e pego um bisturi, tenta matar a garota, que se defende com unhas e dentes, utilizando um aparelho de dar choque elétrico.

         Seria Hayley Stark um anjo? Esta hipótese pode parecer estrambótica, mas a enigmática construção da personagem deixa em aberto esta possibilidade, já que ela parece saber tudo sobre o caso e dispor do poder de conduzir os acontecimentos. Aliás, nos créditos finais a banda Blonde Redhead executa “Elephant woman”, de autoria própria, e cuja letra repete várias vezes a palavra “angel”.    

 

HARD CANDY – Co-produção canadense-americana de 2005. Idéia original do produtor David Higgins. Roteiro de Brian Nelson. Direção de David Slade. Com Ellen Page (como Hayley Stark), Patrick Wilson (como Jeff Kohlver) e Sandra Oh (Sra. Tokuda).  

Lançado no Brasil com o título desvirtuado de “Meninama.com”, que dá uma idéia errada da personagem Hayley Stark, na verdade uma heroína.

 

(Rio de Janeiro, 17 a 20 de maio de 2012)

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DAS TREVAS DO PASSADO

DAS TREVAS DO PASSADO

Miguel Carqueija

 

            Bentinho sempre quis ter a última palavra e acredito que ele julgou tê-la quando escreveu o seu infamante memorial, no qual me condenou implacavelmente ao opróbrio das gerações futuras, quando o texto fosse conhecido. Condenou-me sem direito a defesa, numa sociedade em que a mulher ainda sofre sérias restrições, onde não existe a igualdade entre os sexos. Difamou-me e a Escobar; este porém, já tendo partido para o Além, com certeza não se importou muito.

            Parti para a Europa humilhada e ofendida, buscando em países mais adiantados remédio e consolo para a injúria sofrida. Soube mais tarde que, não contente em matar-me em seu coração, ele ainda fez constar que eu morrera fisicamente, e é isso que consta em seu livro doentio, fruto de uma mente doentia, corroída pelo germe do ciúme.

            Revendo o passado distante pasmo em lembrar o quanto ele e eu nos amávamos! Era um amor lindo de adolescentes e que prosseguiu pelos anos afora: confesso que não captei em que ponto exato as coisas começaram a mudar, pois antes de me acusar frontalmente Bentinho já se roía em ciúmes secretos. E eu, iludida pelas juras de amor eterno, não imaginava que entrara uma serpente na alma do meu amado.

            Bento com certeza não previa que eu, reles e desprezível como me tornara a seus olhos, pudesse sobrevivê-lo. Entretanto, embora regulássemos a mesma idade, a verdade é que, sofrendo de obsessão mórbida, ele já não era saudável. Durante anos, por respeito ao que nós fomos, preferi silenciar a verdade, apesar dele ter posto nosso filho contra mim e, no final da vida, se fechasse na deplorável misantropia que lhe grangeou o ridículo apelido com que nomeou sua autobiografia.

            O que Bentinho nunca ficou sabendo é que, ao partir para nunca mais vê-lo, eu levava a sua semente em meu seio, e que a filha que eu gerei ficou comigo e tornou-se o meu consolo e esteio. E a sua presença me deu forças para continuar viva e decidir-me, enfim, a narrar a minha experiência pessoal, na esperança de que a mesma sirva de alerta a tantas mulheres em situação semelhante, mal-amadas por homens que não as merecem.

 

 

                                                   CAPITU

NOTA: esta história é baseada no romance "Dom Casmurro" de Machado de Assis . Faz parte do planejado romance "A vingança de Capitu".

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JESUS CRISTO É DEUS

JESUS CRISTO É DEUS
Miguel Carqueija


“Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.”
(Mt 28, 20)

“Ele é o único Mestre e Guia.”

(Frei Sandro Grimani OCD, “A exposição dos retratos de Jesus na galeria da Fé”)

“Ao redor delas não há lugar nem tempo, falar delas é embaraçoso.”
(Dr. Fritz Kahn, “O átomo”)



Com certeza, a existência de Deus é a maior certeza que pode existir, pois a própria Ciência, a partir da Radiologia, com a Relatividade, Quanta, Princípio da Incerteza e tudo o mais que veio depois, demonstrou que o universo – se descartamos um Criador, Ordenador e Mantenedor onipotente – é fantasmagórico, inconsistente – inclusive, é claro, tudo aquilo que nos parece sólido e que, à luz da Atomística, revela não possuir consistência (pois se tudo é feito de partículas sub-atômicas e o que são elas, e onde estão?).
Entretanto não podemos ficar somente na existência de Deus. Lembro que, faz muitos anos, eu me encontrava no Mosteiro de São Bento, aqui no Rio de Janeiro, e travei uma ligeira conversa com certa senhora que visitava o local e sua igreja barroca, e estava acompanhada pelo filho. Ela comentou que o rapaz não seguia a religião, alegando que “basta crer em Deus”. Naquela ocasião eu tive presença de espírito – o que nem sempre me acontece – e observei: “Não basta não. O diabo também crê em Deus.”
Sei que ele não gostou muito da minha observação mas quem sabe se não serviu para alguma coisa depois?
De fato, o diabo crê que Deus existe, ou melhor sabe por conhecimento direto. Em todo o caso esse clichê de que “basta crer em Deus” não pode ser aceito, pois afinal, adianta acreditar na existência do Criador mas viver como se Ele não existisse?
Assim as pessoas se eximem inclusive pronunciando chavões que ouviram ou que leram em algum lugar, tipo “religião é invenção do homem”. E com isso, mesmo dizendo que crem em Deus, isentam-se de seguir uma Fé.
Mas reflitamos: Deus existe (ponto pacífico) e nos criou, tirando-nos do nada; criou este vasto e maravilhoso universo; este planeta cheio de vida em que habitamos; deu-nos tudo e ainda por cima uma alma imortal. Deus é perfeito em grau infinito, misericordioso, sábio e justo; infinitamente santo. A Ele devemos tudo e portanto é nossa obrigação amá-lo e prestar-lhe culto de adoração.
Deixaria este Deus infinitamente bom e sábio de nos fornecer uma revelação e portanto um culto, uma Igreja?
Não vamos à igreja somente para rezar, mas para ouvir a Palavra, e participar do culto e dos sacramentos. Um texto idiota que andou circulando na internet, atribuído (falsamente, acredito) a um escritor conhecido, dizia que basta entrar num bosque e sentir lá a presença de Deus. Ora, isso é muito bonito mas não substitui o contato dos fiéis, o culto, a audição da palavra, e principalmente a recepção dos sacramentos como o Batismo, a Confissão e a Eucaristia.
É por isso que Jesus Cristo é tão importante e fundamental. Uma religião revelada já existia com Adão e Eva; mas a queda da humanidade no pecado foi respondida por Deus com um ato de extrema generosidade, ao conceder que o Verbo, isto é, a Palavra Divina (Segunda Pessoa da Trindade Divina, o próprio Deus indivisível, pois a Palavra de Deus é o próprio Deus), encarnasse entre nós para nos trazer a orientação necessária e ainda nos legasse uma Igreja (preparada de antemão pela revelação patriarcal e mosaica) guiada pelo Espírito de Amor que também é o próprio Deus Infinito.
E há mais de dois mil anos a Igreja permanece e ficará até o fim do mundo, conforme promessa solene de Cristo.
Toda a salvação passa por Jesus Cristo, que veio ao mundo, pregou, operou milagres, sofreu, foi crucificado e ressuscitou dentre os mortos. Ficar portanto devaneando nos bosques, embora seja uma atividade saudável e recomendável, não substitui o culto cristão.
É importante que os católicos saibam defender sua Fé e sua adesão incondicional a Jesus Cristo, nosso Redentor. Bento XVI queixou-se da “ignorância religiosa” como um grande problema do povo católico. Não sejamos ignorantes das verdades religiosas.

Rio de Janeiro, 16 de março de 2015.

imagem do Santo Sudário de Turim

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As Gêmeas

PERSONAGENS:
PATRÍCIA - sextetos ímpares
ANA PAULA - sextetos pares






Maninha, é livre a tarde,
então vamos ao cinema?
Faz tempo nós não saímos.
Vamos então sem alarde,
escolhemos um bom tema
e um filme que nós não vimos!
 
Menina, hoje não dá:
não te lembras que eu falei
do homem que eu conheci?
Hoje ele me esperará
pra noite que eu sonhei
e que ainda não vivi!


 
Estás assim saltitante,
só por teres compromisso?
Tu és uma cabeça oca!
Esse rapaz tão galante
não te falou dele "isso"
e já te beijou na boca!
 
Peço, não sejas careta
pois nas nuvens eu estou,
meu peito cheio de ardor!
Não se trata de veneta,
pois a convite hoje eu vou
pra uma noite de amor!
 
Não sabes o endereço,
nem sequer o sobrenome,
não conheces a família;
e isso é só o começo,
o tipo já vem com fome
e está me botando pilha!
 
Só sei o primeiro nome,
mas também não perguntei,
nem se mora em apartamento;
depois vejo o sobrenome,
mas eu de fato o amei
desde o primeiro momento!

Querida, tens que lembrar
que não existe o Cupido;
onde vai ser afinal
a noite que vais passar
com esse cara tão sabido,
que pensas vai ser legal?
 
Maninha, tu não entendes?
É com a mãe que ele mora!
Na casa dele eu não vou,
pois o que é que tu pretendes?
Ainda não chegou a hora
nem meu espírito ousou!
  
Na casa dele não é
e até entendo a razão,
mas isso causa temor.
Posso ser uma chata até
mas sou tua gêmea, então
conta pra mim, por favor!

 
Puxa, maninha, deveras,
por que estás tão zangada?
ele é doce como mel!
Tu não vens das outras eras,
deves estar informada,
pois nós vamos pro motel!


Tu mal conheces o cara
e já vais para o motel?
É sempre bom ser prudente!
A coisa não está bem clara,
motel não é lua-de-mel,
não deves seguir em frente!
 
Mas ele é gente tão fina
que me deixou encantada,
é cortês e cavalheiro;
o conheci na cantina
do clube, tinha balada,
meu amor é verdadeiro!


Mas dele não sabes nada,
sobrenome e endereço;
estás te precipitando!
Ficaste baratinada,
tua honra não tem preço,
no ar estás flutuando!
 
Minha irmã, estás querendo
de mim seres a mãezona?
Ele tem educação!
Precisavas estar vendo,
pôs-me na boca a azeitona
e uma rosa na mão!  



Mas se ele não vem aqui
e em casa dele não vais
onde é que vão se encontrar?
Não tens boca de siri
e eu fico aflita demais,
tens que me tranquilizar. 
 
 
É em frente ao restaurante
na praça da igrejinha,
o motel é ali pertinho;
nós comemos num instante;
mas não me sigas, maninha,
não flagres nosso beijinho!
 
Não te seguirei, prometo,
porque não sou fofoqueira;
mas prefiro que não vás!
Tudo isso é um espeto,
estás fazendo besteira,
depois te arrependerás!
 
Ainda estás insistindo?
Ficaste muito careta!
Tu és tão desconfiada...
Desculpa, mas já vou indo,
me beija e não  sê xereta,
não quero ir amuada!
 
O teu novo namorado
a meu ver é uma cilada,
muito dá pra suspeitar!
Pra ficar tudo aclarado
te deixarei amarrada
e vou lá em teu lugar!
 
Maninha, mas que doideira,
vais até me amordaçar?
Mas que bicho te mordeu?
Me prendeste na cadeira,
ao menos deixa eu ficar
com a rosa que ele me deu!

Deixo em teu colo então,
que os pontos eu vou ligar,
a verdade buscarei:
enquanto tens ilusão
espera aqui a sonhar
mas despertarás, eu sei!
 
Sou pequena vaga-lume
que vive mesmo a sonhar
e tu és bastante crua;
mas se for pra me dar lume
vais a verdade buscar,
mesmo a verdade bem nua! 
 
Até mais, reza por mim,
espero não demorar,
vou tirar tudinho a limpo:
esse é meu jeito enfim,
se o negócio é investigar
sei fazer um bom garimpo! 

Isso é loucura demais,
tu vais bancar que sou eu,
não temes dar um vexame?
Eu sei que somos iguais
mas afinal não és eu,
será que passas no exame?
 
Isso é problema só meu,
pois sou atriz sabes bem,
sei muito bem te imitar;
portanto quem vai sou eu,
fica quietinha meu bem
que é pra mordaça eu botar!

A mana pôs a colher,
mostrou ser tão corajosa,
nunca pude imaginar!
Ela é uma grande mulher
mas fico triste e chorosa,
e levou-me o celular!
 
E lá vou no elevador,
fico com pena, tadinha,
mas cumpro com o meu dever;
pois eu tenho um grande amor
pela querida maninha,
e ela vai me agradecer!

Eu aqui fico pensando
na diferença de cena,
que esta vida é uma charada:
podia estar namorando
ou ter ido no cinema,
em vez disso estou amarrada!

Afinal na rua estou,
vou cumprir minha missão
e irei até o fim;
ele a mana perturbou,
sei que é um espertalhão,
mas isso não fica assim!
 
Cansei de ficar à toa
presa há horas nesses nós;
tô com sono e sem ação...
a mana me fez da boa
mas sabem, cá entre nós...
acho que ela tem razão. 

Cheguei, já vou te soltar
e venho muito feliz,
e dando graças ao Céu:
sei que vais me perdoar
pela peça que eu te fiz,
trago provas a granel!

Que bom chegaste, maninha,
me solta, vou no banheiro,
prometo bem rapidinha;
depois me conta, irmãzinha,
quero tudo verdadeiro,
fiquei muito intrigadinha!

Vem cá, vou massagear
teu pulso e teu tornozelo,
coitada, te fiz sofrer;
mas foi pra te alertar,
perdoa pelo meu zelo,
tudo vou te esclarecer!

Então é mesmo verdade
que ele estava me enrolando,
mentindo para valer?
Desse eu não vou ter saudade
e nem vou ficar chorando
tristinha a mais não poder! 
 

Fazes muito bem, maninha
pois tudo o que ele queria
era abusar de você;
o cara é um almofadinha
que explora a mãe e a tia,
tem nome no SPC! 
 
Maninha, eu te agradeço
por tua dedicação:
tu trouxeste a mim a cura;
demonstraste muito apreço,
me amarraste pé e mão
e foste ver a figura!

Maninha, sabes que eu faço
de tudo para o teu bem
e faço de coração;
livrei-te de um embaraço,
pois eu sou mulher também,
salvei-te desta paixão!
 
Nunca pude imaginar
que pessoa tão gentil
pudesse ser um canalha;
ele soube me enganar,
mas que sujeitinho vil,
e tem tantos dessa igualha!

Tem muito homem malvado
e que gosta de mentir
pra iludir a garota;
pois o fraque era emprestado,
e a grande herança por vir
era mentira bem rota!

E esse homem me beijou
e tanto me garantiu
e seu carro era bacana;
interesseira não sou
mas possuo orgulho, viu;
não gosto de quem me engana! 
 
Minha univitelina,
tolinha não deves ser;
não vás em papo furado!
Ser ingênua é uma sina,
tu precisas aprender,
e o tal carro era alugado!
 
Me levou no restaurante
e deixou gorda gorjeta;
falava com voz de mel;
tinha dinheiro bastante,
no entanto tudo era peta,
e chamou-me pro motel!
 
É isso que ele queria,
e ia ser essa noite;
ias cair no alçapão!
Salvei-te bem de uma fria,
tu merecias açoite,
e o dinheiro era do irmão! 
 
 Maninha, eu peço perdão
por ter sido descuidada
e acreditar no engano;
não fui ver o tal ladrão
só por ter sido amarrada,
eu ia entrar pelo cano!

Nosso priminho do banco
já tudo me forneceu,
o cara é um vigarista;
tu te livraste de um tranco
pois ao encontro fui eu
conhecer o tal artista!

Que esperta que tu és,
não te deixas enganar,
tua inteligência é mil;
és a mulher nota dez,
eu quero a ti imitar,
sou tua fanzoca, viu!

Tu não tens culpa de nada,
tais tipos são atraentes:
a mulher é que é uma tola!
És bonita como fada
e muita emoção tu sentes
com inocência de rola!
 
É de custar tanto a crer
toda essa canalhice
saber que ele é casado,
complicado pra valer;
como tive essa burrice
de acreditar num tarado?
 
Mas eles são mestres nisso,
transformam vinagre em mel,
convencem sem mostrar prova!
Mas comigo não tem disso,
levou-me para o motel
e lá eu dei-lhe uma sova!
  
Ah eu fico aqui pensando,
minha irmã, tu és genial,
maninha melhor não há:
a cena tô imaginando,
mandaste-o pro hospital,
que ele não esquecerá!

Maninha, sabes, te amo,

por ti eu viro uma fera

não importa o que aconteça;
de ti eu nada reclamo,
só peço, com calma espera
um homem que te mereça!
 
És mana tão boazinha
que a quem eu venha a contar
provavelmente nem crê;
já fui bem castigadinha,
e agora pra relaxar
vamos comer o pavê!


Um pavê? Tu tá brincando,
uma “pizza” é melhor,
não vês que é de madrugada?
Minha pança tá roncando,
tu deves estar pior,
pois não se come amarrada!
 
Maninha, tu bem mereces
teu estômago forrar,
vou até fritar um ovo!
E agora não esqueces:
se eu outra vez aprontar
podes me amarrar de novo!


 
 
(19 a 22/3/2017)




(19 a 22/3/2017)

imagem pixabay
 

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"A luneta mágica", resenha

 

                                A  LUNETA  MÁGICA, resenha

 

 

 

 

                                                           Miguel  Carqueija

 

 

Autor: JOAQUIM MANUEL DE MACEDO. Editora Ática (S. Paulo), Série Bom Livro, Quarta edição, 1977. Romance publicado originalmente em 1969.

 

 

 

     Fruto da pena de um dos mais célebres romancistas brasileiros, “A luneta mágica” é uma história densa, fechada sobre si mesma, num esquema completo. Com uma tessitura filosófica que a perpassa do princípio ao fim, a novela é fantástica, metafórica, poética, lembrando um pouco a ficção científica quando a magia se configura em instrumentos de precisão: as lunetas utilizadas por Simplício.

     A trama só poderia ocorrer com alguém como Simplício: um rapaz absurdamente míope, e mais absurdamente ainda crédulo, que narra detalhadamente as suas desventuras. Aprendiz de feiticeiro, ao desencadear forças que não saberá controlar, Simplício passa a enxergar normalmente ao receber de um misterioso armênio – cujo nome não é mencionado uma única vez – a luneta mágica, onde foi aprisionada uma salamandra (não o anfíbio, mas uma criatura de fábula). O mágico adverte o rapaz:

     “Além do número de três minutos está a visão do mal, que o meu poder de mágico não te pode impedir; porque a visão do mal é a vingança da salamandra escrava; mas a fixidade dessa luneta além do número de treze minutos é a visão do futuro, e essa eu ta impeço.” E acrescenta que a luneta se quebrará nas mãos de Simplício, se ele tentar a experiência.

     Simplício, claro, se deixa levar pela mórbida curiosidade de conhecer a terrível VISÃO DO MAL, e fixa a luneta (monóculo) por mais de três minutos. Resultado: tudo, mas tudo mesmo, se lhe afigura perverso, maléfico, traiçoeiro. Detalhista, o autor entra em minúcias curiosíssimas, espalhadas por uma infinidade de capítulos curtos. Vejam algumas amostras:

     “O beija-flor é como a serpente pela extensibilidade da língua, e esta ainda nele se duplica, estendendo dois filetes, que lhe servem como as garras às aves de rapina. Finalmente assassino e destruidor, ele mata e devora em cada dia dezenas e dezenas de insetos inocentes, fracos e incapazes de defender-se, ousando sem continência, nem respeito ir arrancá-los do mais doce asilo, do seio mimoso das flores!...”

     Após essa diatribe contra o colibri, que a visão do mal lhe revela ser um ente malvado e sádico, Simplício prossegue em suas decepções com a Natureza: “Vi uma pulga. A perversa estava cheia de sangue, talvez meu, com que se havia regalado (...) Inimiga declarada do homem e da senhora, ousa devassar o leito da honestidade e do recato, morder sem piedade a menina, a donzela, a esposa, a matrona (...) Vi o mosquito: outro monstro sanguinário dez vezes mais bárbaro que a pulga; porque a pulga farta-se do sangue em silêncio, e não zomba das vítimas, e o mosquito, à semelhança dos selvagens e dos bárbaros que dançavam festivos em roda dos cadáveres de suas vítimas, o mosquito, digo, bebe sangue ao som da musica, ou antes e depois de bebê-lo em nossos corpos, canta enfadonho, insuportável, desatinador, insistente como o grilo.”  

     E assim por diante: o cupim é “implacável”, um “inseto-monstro”, a aranha é “assassina, terrível”. Se simples animais irracionais, inocentes, causaram tanto horror desvendados à “visão do mal”, imaginem o que Simplício não vê nas pessoas! Para início de conversa perde a confiança nos parentes com quem mora: o irmão Américo, a tia Domingas e a prima Anica. Todos eles se transformam, a seus olhos, sanguessugas exploradoras.

     A visão do mal arrasta Simplício ao ceticismo, ao desespero, ao ponto de admitir: “Achei-me na terra sem um parente amado, sem um parente possível, sem uma noiva possível, sem sociedade possível...” O curioso é que quando Simplício troca de luneta e passa a ver o bem em todos e em tudo, sua situação não melhora. De certa forma até piora porque, confiando em todos, acaba vítima dos mais descarados vigaristas, emprestando dinheiro e assinando documentos, até colocar a família em pânico e ser ameaçado de interdição.

     É incrível a credulidade do Simplício: com a visão do bem eis o que ele vê, quando visita a penitenciária: “Será incrível, mas é verdade: não há um só daqueles infelizes condenados que não seja inocente dos crimes que lhes imputam.”

     Essa credulidade pode até ser irritante para o leitor: será Simplício um completo imbecil? Será possível que ele não questione nem por um momento o que lhe mostram as lentes mágicas? Aliás em nenhum lugar do livro se explica como funciona a visão mágica, de que maneira o personagem percebe as qualidades morais que descreve. Isso deve ter sido embaraçoso para Macedo, e ele preferiu contornar a questão (ou não teve outro jeito). Simplício admite a sua miopia moral; mas na verdade se ele não fosse assim o livro não poderia ser escrito. J. M. Macedo levou o assunto à exacerbação, com o protagonista à beira da loucura sob o efeito da luneta, e só assim a mensagem pôde ser passada com todo o seu vigor. Assim, se a luneta mostra o mal, Simplício crê no mal; se mostra o bem, ele crê no bem.

     Será maniqueísta a visão do livro? Não; é o anti-maniqueísmo. Nesse mundo, e principalmente noas seres humanos, as coisas boas e más estão misturadas. Por isso não se espera que as pessoas sejam inteiramente boas ou más. Por não compreender isso Simplício caminha para a autodestruição, que só o armênio sem nome, o único que controla os acontecimentos, irá impedir na hora certa.

     Há uma riqueza filosófica nessa novela cuja posição é singular na ficção brasileira; riqueza essa disfarçada, de certo modo, pela ingenuidade do estilo, estribado na ingenuidade do personagem central. É livro cuja leitura eu recomendo.

     A edição que utilizei possui um anexo para exercício escolar em torno da história, e um comentário de Marisa Philbert Lajolo.      

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

    

 

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