(PELO CÉU DA BAHIA)
Era noitinha quando eu cheguei
A casa estava em silencio
E meus irmãos, quase todos, dormiam…
Ao entrar na cozinha, percebi que a porta
Que dava para a varanda estava entreaberta
E na varanda, deitado na rede, meu pai…
Haviam passados 2 anos sem nos vermos
Para mim, pareciam 10, 20, sei lá…
- E ai meu velho, estaria o senhor contando estrelas
Ou apenas conversando com elas?
Ele sorriu, me beijou e abraçando-me
Apontou para uma delas e disse
- Esta vendo aquela estrela ali
À direita do Cruzeiro do Sul?
- Petronio, aquela ali é sua mãe
E todas as noites, onde quer que eu esteja
Ela esta ali, conversando comigo e às vezes
Até me chamando a atenção, pela pouca atenção
Que dou a vocês… Ela sabe da labuta e como
Foi difícil para mim, reorganizar a vida
E dar a sustentação que fizeram de vocês
Pessoas de bem… Unidos e presentes!
E ficamos ali, eu e meu velho, até altas horas conversando
E eu ouvindo meu pai, de fala pausada, às vezes
Com um sorriso nos lábios, querendo saber de mim
De São Paulo, do trabalho e da tia que deixei sozinha
Para vir para cá, para ver os parentes e amigos, alguns
Chegando com sorriso no rosto e um abraço.
Ah, meu velho…
Hoje, a varanda, a rede e o senhor
Estão nas minhas lembranças
E quando fico aqui, esperando ansioso
Pelo retorno de meu filho
Sentindo, como o senhor sentia
A dor da minha ausência
Eu fico aqui, na varanda de casa, olhando para vocês
E pedindo que zelem por ele
Sim! Meu pai e minha mãe
 direita do Cruzeiro do Sul
Zelando, também por mim…
Ate que meu sono chegue
E eu possa, assim, adormecer… E acordar
Ao lado de meu pai e minha mãe
Caminhando, os três, de mãos dadas…
Pela Rua Direita, pelo Viaduto do Chá
Até o Mappin…
Cantarolando baixinho, como fizemos um dia
Eu e meu velho…
A nossa musiquinha preferida…
“Eu não posso mais ficar aqui, a esperar
Que um dia, de repente você volte, para mim”
(Petronio)